Os Filósofos (Sergei Bulgakov and Pavel Florensky). Pintura de Mikhail Vasilyevich Nesterov (1862-1942) |
A espiritualidade russa pode ser apreciada, estudada e comungada por áreas ou subcampos, como o paganismo pré-cristão, o cristianismo ortodoxo, a música, as artes plásticas, a literatura (por exemplo, em Gogol, Dostoievsky, Tolstoi), a filosofia (bem notável em Soloviev, Berdiaef, Florensky, Bulgakov), o orientalismo (muitos estudiosos, e Nicholai, Helena e Svestolav Roerich) e a espiritualidade e gnoses fora da Igreja ortodoxa. Em todos estes campos houve e há grandes seres e obras.
Se aproximar-nos da espiritualidade mais conhecida e forte, a da Igreja Ortodoxa russa, vemo-la tanto nos fiéis e monges como sobretudo em alguns dos mestres, ou starets, como são chamados, os seres que por vida e características especiais alcançaram uma ligação espiritual ou divina mais viva, mais evidente, e que foram reconhecidos como santos pela comunidade dos fiéis e canonizados pela hierarquia eclesial, alguns tendo sido autores de obras, teólogos.
Pode-se reconhecer, denominar ou apontar em tais seres a acção do Espírito, a de Jesus Cristo, de Maria, da Santa Sabedoria ou Mãe Divina, do Pai, e ainda dos Anjos, Arcanjos e espíritos mais santificados mas, basicamente, na Igreja Ortodoxa o que se sente e reconhece principalmente é a acção do Espírito que espiritualiza, ilumina e aperfeiçoa o ser humano e lhe dá a luz, amor e glória, considerando-se tal como uma deificação. E que poderemos ver como uma radiação crescente do espírito divino na sua alma, seguindo o arquétipo do Cristo em corpo de glória, e que se manifesta na sua vida verdadeira ou verdade vivida (pravda), chegando a haver casos de tal intensificação do espírito que a transfiguração interna se torna visível, tal como aconteceu com um dos mais famosos starets, S. Serafim de Sarov, e que o livro do seu discípulo Motilol, narrando a iluminação, ainda mais popularizou, sendo muito cultuado em belos ícones em várias partes do mundo.
Se aproximar-nos da espiritualidade mais conhecida e forte, a da Igreja Ortodoxa russa, vemo-la tanto nos fiéis e monges como sobretudo em alguns dos mestres, ou starets, como são chamados, os seres que por vida e características especiais alcançaram uma ligação espiritual ou divina mais viva, mais evidente, e que foram reconhecidos como santos pela comunidade dos fiéis e canonizados pela hierarquia eclesial, alguns tendo sido autores de obras, teólogos.
Pode-se reconhecer, denominar ou apontar em tais seres a acção do Espírito, a de Jesus Cristo, de Maria, da Santa Sabedoria ou Mãe Divina, do Pai, e ainda dos Anjos, Arcanjos e espíritos mais santificados mas, basicamente, na Igreja Ortodoxa o que se sente e reconhece principalmente é a acção do Espírito que espiritualiza, ilumina e aperfeiçoa o ser humano e lhe dá a luz, amor e glória, considerando-se tal como uma deificação. E que poderemos ver como uma radiação crescente do espírito divino na sua alma, seguindo o arquétipo do Cristo em corpo de glória, e que se manifesta na sua vida verdadeira ou verdade vivida (pravda), chegando a haver casos de tal intensificação do espírito que a transfiguração interna se torna visível, tal como aconteceu com um dos mais famosos starets, S. Serafim de Sarov, e que o livro do seu discípulo Motilol, narrando a iluminação, ainda mais popularizou, sendo muito cultuado em belos ícones em várias partes do mundo.
Pode dizer-se que a canonização dos santos, que por vezes nasceu do povo, dos fiéis, que a reconhecem e veneram independentemente da hierarquia religiosa, é causada ou justificada pela verdade vivida (pravda), ou seja, a vontade Divina que é discernida e cumprida, e pela união do seu corpo ou natureza corporal com a natureza espiritual, e ainda com a Luz espiritual Incriada, sendo este o factor de canonização essencial a partir de S. Simeão (949-1022), o Novo Teólogo, havendo só três com este título na Igreja Ortodoxa: o apóstolo S. João, o patriarca Gregório de Constantinopla e S. Simão.
Natural da Galácia (e logo de origem celta provavelmente) na Anatólia, depois de ter sido educado em Constantinopla, só aos 27 anos se tornou um monge e praticante do hesicasmo, da oração do coração, e foi um ser de mente e gnose profunda, como podemos deduzir da sua ascética, sofrida e iluminada vida, e da sua obra, tal como podemos apreciar na primeira sentença do seu Tratado sobre a santa Eucaristia: «A Palavra ou Verbo inacessível, o pão que desce do céu, não é contido sensualmente, mas antes contém e toca e, sem mistura une-se aos merecedores e bem preparados para o receber.»
Segundo Elizabeth Behr-Sigel, na sua valiosa obra Oração e Santidade na Igreja Russa, três critérios entram na canonização dos santos: 1º os feitos espirituais ou seja o carácter heróico das suas virtudes, chamando-se podvig, ao acto heróico, tal como o de se vencerem tentações, pecados, medos. A ascese é considerada o meio principal, mas também a fé e a caridade são outros meios para as pessoas se abrirem ao Espírito Santo, permitindo-lhe habitar nelas. A graça desce assim para quem a invoca e a merece e será depois a açcão, o sopro ou a inspiração do Espírito que faz com que a pessoa aja bem, ou mesmo heroicamente.
O segundo critério de canonização são os milagres que a pessoa realizou na vida, ou que se atribuem à sua intercessão, e que resultam da sua religação ao Espírito, ou da sua amizade com o Divino, que lhe permite pedir ou agir na, ou como intermediário da, Vontade salutar ou salvífica Divina.
E, finalmente, o terceiro critério é o estado do seu corpo depois da morte, em geral sendo a incorruptibilidade no todo, ou em parte do corpo, porque a espiritualização em vida acabou por impregnar o corpo.
Estes critérios são naturalmente muito parecidos com o da Igreja Católica, com pequenas diferenças, tal o valorizar-se o estado do corpo no momento da morte, a sua flexibilidade, o sangue que circula ainda, os perfumes que emana, como deparamos bastante nas místicas portuguesas dos séc. XVI a XIX.
Devemos considerar estes critérios de santificação, mais humildemente, ou sendo mais humildes e sem pretensões a sermos santos, como meios de aperfeiçoamento, ou de espiritualização ou ainda de religação espiritual e divina, e assim de quando em quando devemos realizar algum acto mais difícil, mais heróico, mais sacrificial, na escala que podermos ou que nos surgir ou desafiar. Podem ser actos de abster-nos, tal de comida, ou bebida, ou descanso, ou conversa, ou desanimo. Ou actos de dinamismo, de coragem, de perseverança, seja na acção, nomeadamente de abnegação ou sacrifício, seja na oração ou meditação, seja na inspiração da escrita ou criatividade artística.
Somos todos chamados a desenvolver o corpo de glória, ou de luz, a partir dos nossos esforços ou feitos mais ou menos heroicos.
Somos todos chamados de quando em quando a segurar a cruz e a fazer desabrochar nela a rosa e, portanto, no sofrimento, intensificarmos a compaixão e o amor, ou a aspiração à luz e ao Espírito santo.
Saibamos morrer e, com paciência e perseverança ressuscitar constantemente, na esperança de mais ligação à Luz incriada espiritual.
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