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Camões, flor da sua idade, peito radiando ao mundo seu amor infinito. Pintura de José Malhoa, hoje no Museu Militar de Lisboa.
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Pensamentos, conceitos e mantras de Luís Camões, selecionados, entre muitos outros valiosos, dos versos d' Os Lusíadas.
Porque a grande experiência e engenho, sabedoria e amor de Luís de Camões geraram muitas afirmações merecedoras de serem perenemente lidas, meditadas e vividas, resolvemos partilhar algumas, com sublinhados, para a pequena satsanga ou companhia da verdade que lê estes escritos.
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Portada ou frontispício da 1ª edição dos Lusíadas, reutilizada para a edição de 1934.
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«Da determinação que tens tomada
Não tornes por detrás, pois é fraqueza
Desistir-se da coisa começada.
(I,40)
Deste Deus-Homem, alto e infinito,
Os livros que tu pedes não trazia,
Que bem posso escusar trazer escrito
Em papel o que na alma andar devia.
(I,66)
Porque sempre por via irá direita
Quem do oportuno tempo se aproveita.
(I,76)
Quem poderá do mal aparelhado
Livrar-se sem perigo, sabiamente,
Se lá de cima a Guarda Soberana
Não acudir à fraca força humana?
(II, 30)
Mas pois saber humano, nem prudência,
Enganos tão fingidos não alcança;
Oh tu, Guarda Divina, tem cuidado,
De quem sem ti não pode ser guardado!
(II, 31)
Porque mui pouco vale esforço e arte
Contra infernais vontades enganosas;
Pouco vale coração, astúcia e siso,
Se lá dos Céus não vem celeste aviso.
(II, 59)
Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa
E onde Febo repousa no Oceano
(III, 20)
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Heinrich Bünting, Itinerarium Sacrae Scripturae, 1581. |
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As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoram,
E por memória eterna, em fonte pura,
As lágrimas choradas transformaram;
O nome lhe puseram, que ainda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome amores.
(III-135)
Que um fraco Rei faz fraca a forte gente.
(III, 138)
Depois de procelosa tempestade,
Nocturna sombra e sibilante vento,
Traz a manhã serena claridade,
Esperança de porto e salvamento;
Aparta o sol a negra escuridade,
Removendo o temor ao pensamento.
(IV, 1)
E com rogo e palavras amorosas,
Que é um mando nos Reis que a mais obriga,
Me disse: As coisas árduas e lustrosas,
Se alcançam com trabalho, e com fadiga;
Faz as pessoas altas e famosas,
A vida que se perde, e que periga,
Que, quanto ao medo infame não se rende,
Então, se menos dura, mais se estende.
(IV, 78)
Que a virtude louvada vive e cresce,
E o louvor altos casos persuade.
(IV, 81)
Os casos vi que os rudes marinheiros
Que têm por mestra a longa experiência,
Contam por certos sempre e verdadeiros,
Julgando as coisas só pela aparência:
E os que têm juízos mais inteiros,
Que só por puro engenho, e por ciência,
Veem do Mundo os segredos escondidos,
Julgam por falsos ou mal entendidos.
(V, 17)
Porque quem não sabe arte, não na estima.
(V, 97)
Via estar todo o céu determinado
De fazer Lisboa nova Roma;
Não no pode estorvar, que destinado
Está doutro poder que tudo doma.
(VI,7)
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Lisboa, por Francisco de Holanda, Da Fabrica que falece à cidade de Lisboa, 1571.
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Por meio destes hórridos perigos,
Destes trabalhos graves e temores,
Alcançam os que são de fama amigos
As honras imortais e graus maiores:
Não encostados sempre nos antigos
Troncos nobres dos seus antecessores.
(VI, 95)
Em vendo o mensageiro, com jucundo
Rosto, como quem sabe a língua Hispana.
Lhe disse: Quem te trouxe a est'outro mundo,
tão longe da tua pátria Lusitana?
Abrindo, lhe responde, o mar profundo
Por onde nunca veio gente humana;
Vimos buscar do Indo a grão corrente,
Por onde a Lei divina se acrescente.
(VII, 25)
Enquanto é fraca a força desta gente,
Ordena como em tudo se resiste;
Porque quando o Sol sai, facilmente
Se pode nele pôr a aguda vista:
Porém, depois que sobe claro e ardente,
Se agudeza dos olhos o conquista,
Tão cega fica, quanto ficareis
Se raízes criar lhe não tolheis.
(VIII, 50)
Oh! quanto deve o Rei que bem governa,
De olhar que os conselheiros, ou privados,
De consciência e de virtude interna,
E de sincero amor sejam dotados!
(VIII, 54)
Mas, porque nenhum grande bem se alcança -,
Sem grandes opressões, e em todo o feito
Segue o temor os passos da esperança,
Que em suor vive sempre de seu peito,
(VIII, 66)
O coração sublime, o régio peito,
Nenhum caso possível tem por grande.
Bem parece que o nobre e grão conceito
Do Lusitano espírito demande
Maior crédito e fé de mais alteza
Que creia dele tanta fortaleza.
(VIII, 69)
Sabe que há muitos anos que os antigos
Reis nossos firmemente propuseram
De vencer os trabalhos, e perigos,
Que sempre às grandes coisas se opuseram.
(VIII, 70)
Tal há-de ser, quem quer com o dom de Marte
Imitar os ilustres, e igualá-los:
Voar com o pensamento a toda parte,
Adivinhar perigos e evitá-los:
Com militar engenho e subtil arte,
Entender os inimigos, e enganá-los,
Crer tudo, enfim; que nunca louvarei
O Capitão que diga: Não cuidei.
(VIII, 89)
O prazer de chegar à pátria cara,
A seus penates caros e parentes,
Para contar a peregrina, e rara
Navegação, os vários céus, e gentes;
Vir a lograr o prémio que ganhara,
Por tão longos trabalhos, e acidentes,
Cada um, tem por gosto tão perfeito
Que o coração para ele é vaso estreito.
(IX,17) (Odisseia, IX, 34: "Nada é mais doce do que a pátria e os pais.")
Vê aqueles que devem à pobreza
Amor divino, e ao povo caridade,
Amam somente mandos, e riqueza,
Simulando justiça e integridade.
Da feia tirania e de aspereza,
Fazem direito e vã severidade:
Leis em favor do Rei se estabelecem;
As em favor do povo só perecem.
(IX, 28)
Vê, enfim, que ninguém ama o que deve,
senão somente o que mal deseja.
Não quer que tanto tempo se releve
O castigo que duro e justo seja.
(IX, 29)
Tomando-o pela mão, o leva e guia
Para o cume dum alto monte e divino,
No qual uma rica fábrica se erguia
De cristal toda e de ouro puro e fina.
(IX, 87)
Porque dos feitos grandes, da ousadia
Forte e famosa, o mundo está guardando
O prémio lá no fim, bem merecido,
Com fama grande e nome alto e subido.
(IX, 88)
Vês aqui a grande máquina do mundo,
Etérea e elemental, que fabricada
Assim foi do Saber, alto e profundo
Que é sem princípio e meta limitado.
Quem cerca em derredor este rotundo
Globo, e sua superfície tão limada
É Deus: mas o que é Deus ninguém o entende,
Que a tanto o engenho humano não se estende.
(X, 80)
Este orbe que, primeiro, vai cercando
Os outros mais pequenos, que em si tem,
Que está com luz tão clara radiando,
Que a vista cega, e a mente vil também,
Empíreo se nomeia; onde logrando
Puras almas estão daquele Bem
Tamanho, que ele só se estende e alacança,
De quem não há no mundo semelhança.
(X, 81)
Os que são bons, guiando favorecem,
Os maus, enquanto podem, nos empeçem.
(X, 83)
Enfim que o Sumo Deus, que por segundas
Causas obra no Mundo, tudo manda.
(X, 84)
Sabia bem que se com fé formada
Mandar a um monte surdo, que se mova,
Que obedecerá logo à voz sagrada,
Que assim lho ensinou Cristo, e ele o prova.
(X, 112)
Nem me falta na vida honesto estudo,
Com longa experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Coisas que juntas se acham raramente.
(X-154)
Saibamos, muito gratos à sua grande alma, meditar, aprofundar e vivenciar algumas destas flechas de amor e sabedoria lançadas no céu da tradição cultural e espiritual lusitana há tantos anos por Luís de Camões e que ainda hoje vivem no mundo das ideias ou espiritual pois podem ajudar a diminuir as trevas da ignorância e opressão e fortalecer o lume claro do entendimento, a chama do amor e a determinação vitoriosa da vontade, aberta à Divindade e à sua Santa Guarda.
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