quinta-feira, 2 de novembro de 2023

O Espírito Lusitano ou o Saudosismo, de Teixeira de Pascoaes, e a demanda do espírito e do dharma de Portugal. No seu 146º aniversário

Em Junho de 1912, há 111 anos, Teixeira de Pascoaes (1877-1952), em plena pujança do seu idealismo português e nortenho, proferia no Ateneu do Porto uma conferência publicada logo em brochura do movimento da Renascença Portuguesa, acerca do Espírito Lusitano ou o Saudosismo

Publicara já nove dos seus 59 livros, talvez os principais em termos de poesia, e nesses anos após a Revolução do 5 de Outubro abriam-se grandes potenciais de transformação e sorriam ardentes esperanças de ressurreição. O movimento da Renascença da Portuguesa e mais concretamente a sua revista Águia (1910-1932) foram o principal dínamo e até ela afluíram de Lisboa, entre outros, Fernando Pessoa, Augusto de Santa Rita e Mário de Sá Carneiro, mas por pouco tempo e em breve Lisboa geraria o Modernismo, com a revista Orpheu, e o Futurismo, sintonizando com certas tendências europeias, e o sonho da Renascença Portuguesa dum Portugal tradicional, ligado às suas raízes cristãs e pagãs, e não dominado nem pelo catolicismo nem pelo europeísmo e francesismo iria apenas continuar em algumas individualidades que receberam o magistério dos seus fundadores Teixeira de Pascoaes, Leonardo Coimbra e Jaime Cortesão, e que chegaram até aos nossos dias, e destacaremos Álvaro Ribeiro, Sant'Anna Dionísio, Agostinho da Silva e Dalila Pereira da Costa, os quais naturalmente geraram outros elos, sobretudo o primeiro em tertúlias lisboetas.
Celebrando-se hoje 2 de Novembro (embora tenha sido na realidade a 8 de Novembro) o 147º aniversário de Teixeira de Pascoaes, aliás Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, e para o homenagear como elo importante da Tradição Espiritual Portuguesa, decidimos revisitá-lo lendo e comentando a sua conferência pois, nos nossos dias em que já fomos tão engolidos e descaracterizados pela entrada na União Europeia e tão manipulados  e desnacionalizados pelos meios de informação ao serviço do globalismo massificante da Nova Ordem Mundial transhumanista-infrahumanista-animalista, é sempre útil qualquer reflexão que aborde questões como a alma portuguesa, ou o espírito de Portugal, pois os dois termos embora diferentes, são utilizados como referindo-se ao mesmo, no sentido de podermos discernir melhor onde está, como está constituída, como se caracteriza nos seus níveis e estados dinâmicos (o que foi bem especulado por Fernando Pessoa na sua carta ao conde Keyserling, por mim comentada já há alguns anos), e qual é a relação actual ou possível entre nós e ela.
                              
        Leonardo Coimbra e Teixeira de Pascoaes, seis anos mais velho. Luz e Amor!
Pujante da sua genialidade, e inserido numa dinâmica de grupo tão poderosa, nada menos que uma sinergia com valiosos seres como Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão e outros, Teixeira Pascoaes ousou pensar  que poderia na época «em breves palavras dizer o que é o nosso espírito, na sua vida original e criadora dum alto critério religioso e filosófico», e ao que se poderia acrescentar até o critério iniciático ou espiritual, se até ele se conseguir chegar ou merecer...
Todavia, ao dizer o nosso espírito ele não está a referir-se ao espírito ou arcanjo de Portugal, à entidade celestial de Portugal mas mais a uma espécie de alma colectiva, a um conjunto de forças, tradições, modos de sentir, pensar, ver e ser que nos especificariam, e que ele depois em sucessivas conferências e escritos aprofundará.
Não está a vê-la apenas como um inconsciente colectivo, pois atribui-lhe (ou aos que a souberem sintonizar ou dar-lhes formas e altas ideias) uma missão no domínio dos valores e logo das escolhas voluntárias e esforçadas e assim se criar, estabelecer um alto critério psico-espiritual pelo qual sabemos discernir melhor o que devemos valorizar, apoiar, realizar...
Teixeira Pascoaes
vê então como caminho para tal uma reconquista de independência moral, o vivermos não pela matéria mas "pelo  espírito", e acrescenta "nosso", pois certamente que a sua palestra e mensagem é de recusa das opressões e influências alheias, e de assumir o espírito que é vida e não a matéria, que ele classifica de morte.
Haverá talvez
um dualismo entre espírito e matéria algo exagerado, já que estão tão imbrincados, e que ele próprio e ao longo da sua vida e obra irá perdendo ou amenizando em parte, pois  ao espectrizar, eterizar e espiritualizar tanto a matéria este dualismo inicial dissolver-se-á a certos níveis de sensitivo poeta e escritor, mas não tanto filosófica e religiosamente em que a luta polar, supremamente entre o bem e o mal, estará sempre presente...

A conferência é feita, diz-nos, em nome da Renascença Portuguesa e da sua revista Águia que trabalham para o renascimento do espírito da raça, ou alma, ou povo português, para ele se reconectar com as fontes originárias da vida, para manifestar as qualidades primordiais do seu espírito activo e criador.
Distinguindo três aspectos no estrangeirismo desnacionalizador, o 1º religioso, entrado em nós com a Inquisição e o Jesuitismo, o 2º literário, com os livros em francês e depois em inglês, e o 3º o político, com o contitucionalismo e bipartidarismo, considera que em consequência a alma pátria está soterrada e adormecida sobre tais influências, mas não desanimando adianta: «Eu afirmei que existe uma alma lusitana. Vejamos o que ela é na sua transcendente aspiração filosófica, no seu instinto interpretador da Vida, na sua intimidade religiosa».
Pascoaes n
ão vai contudo falar dum Arcanjo de Portugal, nem num campo unificado específico psicomórfico de Portugal, mas mais na génese étnica dual e nas qualidades e aspirações que alguns seres ou o povo conseguiram e conseguem desenvolver e manifestar.
Se está a exagerar ou a mitificar quanto à aspiração transcendente em Portugal, única, especial, ligada à Saudade, já que tal se verifica noutros povos, nomeadamente com o idealismo e messianismo de que se reveste, cada um sentirá ou investigará...
Iludiu-se claramente todavia ao pensar que a República nascente e para qual a Renascença Portuguesa tanto trabalhou e esperou, iria subordinar a sua obra política e social a tal orientação axiológica elevada, por ele entrevista e partilhada. Não só a República foi muito dividida ou ocupada por diferentes tendências e mentalidades nos seus governantes e políticos mais influentes, como a breve trecho o movimento da Renascença Portuguesa iria perder forças, embora Leonardo Coimbra ainda fosse ministro da Instrução Pública duas vezes, e criasse mesmo a Faculdade de Letras e uma Universidade popular no Porto e, finalmente, claudicasse já em pleno despontar do salazarismo, quando a revista Águia foi perseguida por uma crítica de Sant'Anna Dionísio a Cordeiro Ramos, um protegido ministro de Salazar, e acabou, tanto mais que Leonardo Coimbra partiria da Terra dramática e abruptamente três anos depois, e após uns meses da desincarnação de Fernando Pessoa, que no começo da sua vida de escritor reconhecera expressamente o alto espírito que animava genialmente, embora por vezes prolixamente, Leonardo Coimbra.
Ora é depois de dizer: «Eu afirmei que existe um alma lusitana. Vejamos agora o que ela é na sua transcendente aspiração filosófica, no seu instinto interpretador da Vida, na sua intimidade religiosa» que entra na sua original visão da alma lusitana como fruto da fusão entre a ária e a semita, introduzidas pelos povos que aqui passaram e caracterizando-as em polarizações, certamente algo limitadoras e nunca perfeitas: a ária representaria a forma, a beleza, a civilização grega, o desejo, o paganismo, enquanto que a semita criara «a civilização judaica, o Velho Testamento, o culto do Espírito, a Unidade divina, o Cristianismo que é suprema afirmação da vida espiritual.» E esquece aqui, por exemplo, tanto o Islão, produto semita, como do ramo ária as civilizações bem espirituais persa e indiana, e esquece-se que não são tanto as religiões mas os seus poetas videntes (rishis), místicos e iniciados que vivenciam e afirmam mais ou supremamente a vida espiritual
Estes tipo de dualidades-dualizações, acrescidas de absolutizações, são aliás frequentemente superficiais e enganadoras, pois tanto um como o outro polo na sua pluridimensionalidade e variabilidade não se pode restringir ou forçar demasiado para enquadrar-se em tais fórmulas de correspondência, e têm sempre limitações, e assim Pascoaes, embora não errando no discernir dessas duas fontes étnicas e civilizacionais principais, a ariana e a semita, falha nas caracterizações, e sofre, por exemplo, influências das entidades que nomeara, nomeadamente do Catolicismo e da Bíblia, pese o seu paganismo telúrico, aldeão e espectral que soube manter e cultivar, acabando por valorizar demasiado a Bíblia, ou mesmo Jehova como uma concepção de Deus válida.
Para ele, da fusão do desejo ária e da lembrança semita nascera a Saudade, e ela seria desenvolvida por alguns poetas, escritores, heróis e o povo ao longo dos séculos, manifestando-se num especial sentimento perante a beleza, ou seja, numa sensibilidade simultaneamente forte perante a alma e o corpo,  a forma e o espírito, donde uma grande simpatia dos portugueses sobre as coisas e os seres. Nisto não se pode recusar certa razão a Teixeira de Pascoaes.


 Mas para ele só nesse dealbar promissor da República se estaria  atingir o  renascimento e a maturação consciente da Saudade-Saudosismo, apontando para vários poemas e autores, tais «as Orações, de Junqueiro, as Tentações de S. Frei Gil, Alma Religiosa, Parábolas, Cantigas, Auto das Quatro Estações, Dizeres do Povo de António Correia de Oliveira; Ar Livre, Pão e Rosas, Canções do Vento e do Sol de Afonso Lopes Vieira, com a sua edição de Gil Vicente. São os poemas de Jaime Cortesão, Mário Beirão, Augusto Casimiro, Afonso Duarte».
Antero de Quental visto pelo profundo intimista António Carneiro.

E anuncia depois que «o Saudosismo tem ainda um admirável filósofo: Leonardo Coimbra com a sua teoria do criacionista» (consagrando-lhe um bem esclarecedor parágrafo), depois passando a António Carneiro e Cervantes Haro na pintura, e Soares dos Reis, na escultura, concluindo: «Eis os artistas e os Poetas a quem a Saudade falou, eis a lírica falange libertadora da alma portuguesa, desde séculos no cativeiro, desde séculos no esquecimento...
O Saudosismo encontrará, estou certo, a sua forma
musical no Orfeon do Porto e de Coimbra, dirigidos por António Joyce e Fernando Moutinho. Só no seio da Harmonia se poderá realizar o perfeito casamento da luz e da sombra, da alegria e da tristeza, do beijo e da lágrima, da vida e da morte. A própria harmonia não é a combinação dos contrastes? Não é ela a irmã-gémea da Saudade?»

Passa em seguida à sua teoria da nossa originalidade criativa, muito bem talhada (e apta a ser meditada) neste parágrafo: «Nós somos, na verdade, o único povo que pode dizer que na sua língua existe uma palavra intraduzível nos outros idiomas, a qual encerra todo o sentido da sua alma colectiva. A alma lusitana concentrou-se numa só palavra, e nela existe e vive, como na pequena gota de orvalho a imagem do sol imenso. Sim, a palavra saudade é intraduzível. O único povo que sente a Saudade é o povo português, incluindo talvez o galego, porque a Galiza é um bocado de Portugal sob as patas do leão de Castela. A Galiza é a nossa Alsácia.»

Admitindo contudo que haja noutras línguas uma espécie de Saudade, realçará como ela se espargiu no léxico luso: «sendo a Saudade a própria essência do espírito lusitano, ela existe ainda esparsa e difundida em outras palavras do nosso vocabulário, igualmente intraduzíveis» e dará como exemplo nevoeiro, e que «todas as palavras da nossa língua que têm além, isto é, um segundo oculto e transcendente sentido, encerram em si, embora em formas vagas, a Saudade, como, ainda, por ex., as palavras remoto, ermo, luar, etc.» 

Culminará esta breve mas incisiva passagem pela magia e força operativa espiritual do sermo-verbo-logos e dos mantras,  meditações e encantamentos possíveis, sugerindo: «Seria um estudo interessante a análise psicológica de tantos vocábulos da nossa língua, nos quais a ideia ou sentimento que significam, se tornam infinitos e indefinidos, esfumando-se em íntimas nebulosas de sonho [ou, diríamos, em formas subtis e imagens intuitivas na visão espiritual interior], e revelando assim a tendência da alma portuguesa para o mistério [e nesta linha andaram muito Augusto de Santa Rita e Fernando Pessoa], para a religiosidade [ou para as dimensões energéticas, subtis e espirituais dos sons e dos seres], - tendência que criou a geração de Poetas a que me referi e que não é mais do que uma forma da Saudade.»

Concluirá apontando os momentos mais valiosos da nossa história em que foi a Saudade, «transfigurada em acção e Vitória no corpo de Afonso Henriques, que riscou  na Ibéria as fronteiras de Portugal», ou como «zéfiro remoto que enfunou as velas das nossas naus descobridoras», ou foi vencedora em Aljubarrota, cantora nos Lusíadas,  transmutadora do Adamastor, criadora nos tempos de luto do Encoberto e, por fim, «despedaçou as nossas grilhetas em 1640, e, com um relâmpago dos seus olhos, fulminou o leão castelhano. Foi ainda ela que animou a alma popular no ia 5 de Outubro (...) essa última esperança que não devemos deixar de morrer.»

Se sempre houve muita gente que discordou desta excessiva valorização da Saudade, não podemos negar que nesses momentos o amor da Pátria, ou da Honra, ou de se cumprir o seu dever ou dharma esteve fortemente dinamizante em alguns seres. Logo, se virmos a Saudade enquanto força da lembrança das raízes e do possível fim glorioso, unido ao desejo, aspiração e vontade de o realizar, já conseguiremos compreender melhor esta hipérbole da Saudade e não ficaremos limitados pelo saudosismo passadiço e doloroso com que tantos seres apegados se deixaram enredar e entristecer na ausência do passado ou do presente desejado e amado.

E depois de relembrar que «a alma popular e alguns (bem poucos) livros sagrados da nossa literatura são hoje os únicos depositários da alma pátria» (e quais veria ele, nos últimos tempos? Alguns da Dalila Pereira da Costa, tanto mais que foi talvez quem realizou mais a saudade da origem espiritual e Divina?) Pascoaes clamará para não deixarmos morrer a esperança do 5 de Outubro, numa república não portuguesa, mas afrancesada, constitucionalista. Para não nos deixarmos governar por bacharéis desnacionalizados  hoje burocratas ou peões de brega dos partidos submetidos à direcção da União Europeia ou a grupos de pressão transnacionais). Para não nos deixarmos enfeudar as leis e sistemas de ensino estrangeiros, perdendo tanto o nosso municipalismo como uma instrução que conduza à alma própria e portuguesa de cada um. 

Anote-se que no mesmo ano de 1912, uns meses depois da publicação da conferência de Pascoaes, certamente com o imprimatum dele e de Leonardo, saía também, num opúsculo da Renascença Portuguesa, uma conferência do catalão Ribera y Rovida (1880-1942), pronunciada em 1907 no Real Instituto de Lisboa e intitulada A Educação dos Povos Peninsulares, a qual levava na 1ª página um passo dessa conferência de Pascoaes, por sinal um dos que transcrevemos, quanto à intraduzível palavra Saudade e à nossa ligação à Galiza. A obra é porém mais uma história da Catalunha, ou como ele chama, "a escola de educação política dos catalães", e a proposta dum Federalismo democrático, e só nas duas últimas páginas se dirige aos portugueses: «Vivificai o patriotismo pelo são e romântico entusiasmo, que não exclui a ponderação reflexiva e serena, longe da impulsividade doentia» e acrescenta:«Educar pelo Patriotismo, pelo Entusiasmo, pelo Civismo! Levando à entranha das democracias a convicção dos seus direitos sacratíssimos e dos seus deveres indeclináveis».
Ora se os prin
cípios de sã formação individual e organização social e política propostos por Pascoaes, embora ou porque muito ideais, acabaram por soçobrar em grande parte, mesmo com a publicação da sua obra, três anos depois, a Arte de ser Português (antecedida até pelas duas conferências  de 1914, inseridas na Era Lusíada), em que os desenvolveu mais sistematicamente, embora sempre com as limitações próprias do seu ambiental nacionalismo rural e católico, embora aberto ao mais espiritual da Europa e até à Índia de Tagore, face ao crescimento constante das urbes citadinas, da burguesia e do proletariado e do internacionalismo, talvez a parte mais revolucionária da sua proposta, segundo «a nossa Verdade e a nossa Redenção» de revitalização ou de reassumir-se a Alma Lusitana fosse a seguinte, compreensível até como moderada na contextualização da época, em que havia radicalismos muito mais iconoclastas e anti-clericais, já que tal visão transmutadora, se na prática era praticamente impossível, na justificação psico-espiritual e logo interior e iniciática tinha bastante logos em si, ainda que de novo, e numa linha em que Fernando Pessoa e outros se deixaram ainda enlear, nacionalisticamente,  numa dimensão que teórica e operativamente deveria  ser já também a universal da religião do Espírito, realizada interiormente antes de missionada exteriormente, algo de que Fernando Pessoa se deu também conta referindo o valor das formas de representação mais frustes da Divindade mas que têm o seu valor para os que as criaram e a elas se afeiçoaram utilmente. Aqui Teixeira de Pascoaes valorizará um dinamismo maior de uma Religião portuguesa provalmente liderada por filósofos, poetas, artistas, espirituais: 

«É necessária a fundação definitiva da Igreja Lusitana, devendo ela ficar integrada no Estado, e por ele superiormente dirigida, sendo o Estado representado, é claro, por autênticos portugueses de inteligência e coração [sublinhado nosso. Onde os encontramos, em que conselhos ou níveis?] Eu ligo uma grande importância à fundação da Igreja Lusitana porque entendo que o sentimento religioso é próprio do homem, faz parte do seu ser moral, como por exemplo, as orelhas e o nariz fazem parte do seu ser corpóreo. É mesmo o que de mais alto há na alma do homem; é força que o eleva acima da sua animalidade e que, em dados momentos, produz as grandes obras de heroísmo e as grandes virtudes. O sentimento religioso é a única força criadora do homem: o sinal que o homem vive moralmente (...) As teorias materialistas  e negativistas já caíram lá fora, com William James, Jaurés, Bergson, e outros grandes Filósofos. Um novo mundo espiritual está a aparecer ao olhar ansioso do homem. E bom seria que fosse Portugal a mostrá-lo.»

O último parágrafo segue nessa linha de intensa aspiração e expectativa, algo mitificante na dimensão missionária que deseja ou culmina (e relembre-se como Teixeira Pascoaes foi então muito traduzido), talvez advertindo-nos ainda que nos dias de hoje não devemos envolver-nos e encerrar-nos em grupos mais ou menos religiosos ou esotéricos apenas por serem estrangeiros, poderosos, de muitos aderentes ou grandes segredos mas que, a partir da nossa Tradição Espiritual e estudando alguns dos seus elos, como os fundadores da Renascença Portuguesa Teixeira de Pascoaes, Leonardo Coimbra e Jaime Cortesão, ou os seus continuadores, deveremos saber alcançar tanto o íntimo como incluir ou mesmo abraçar o universal, em que pela gesta dos Descobrimentos do Oriente fomos aliás já por certos seres e modos iniciados:
«Que a gente moça se penetre do
espírito lusitano original e belo, e se enamore dele, e lhe dê todo o entusiasmo dos verdes anos e da saúde, e o implante na terra portuguesa, a fim de que ela viva uma vida própria e superior, e ilumine para além das fronteiras. - Disse.»

A última obrazinha de Pascoaes, permitindo-nos discernir melhor o estágio final da sua evolução psico-religiosa, e os seus ensinamentos ora mais limitados ora mais perenes, e que comentei em nove textos, alguns com vídeos, neste blogue, o 1º sendo https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2020/04/a-cartilha-de-teixeira-de-pascoaes-um.html

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