No seu pioneiro e imenso (in-folio de 4 vols, cerca de 2800 páginas e seis milhões de palavras) Dictionaire Historique et Critique, dado à luz em Amesterdão e que teve a 1ª edição em 1692, e a 2ª revista, corrigida e aumentada em 1702, gerador ainda publicações de justificação e defesa das ideias e afirmações em que fora criticado ou atacado, o historiador e filósofo francês Pierre Bayle (1647–1706), numa das entradas da letra E, biografa Desidério Erasmo, através da sua típica metodologia duma entrada sucinta e sincopada, apoiada depois em várias notas factuais detalhadas, prolixas mesmo.
Por ser uma visão concentrada por um dos mais independentes e lúcidos filósofos do começo do Iluminismo, altamente influente
pelas suas obras e em especial pelo seu dicionário, percursor da Enciclopédia d'Alembert e Diderot (e Voltaire chamar-lhe-á o Arsenal do Iluminismo), valerá a pena relê-la, tanto mais que, tendo sido forçado a emigrar de França por perseguições religiosas, quando iam encerrar em 1681 a Universidade Protestante de Sedan onde ensinava, foi em Roterdão, cidade de nascimento de Erasmo (1466-1536), que ele se estabeleceu e exerceu o magistério filosófico e, por fim, demitido por invejas, afadigou-se no seu riquíssimo Dicionário biográfico de mais de duas mil pessoas valiosas na História do pensamento humano, tentando libertar o conhecimento histórico, filosófico e religioso acerca delas de muitos erros e calúnias. O seu projecto inicial tinha sido mesmo um Dicionário de Erros, visando ainda corrigir e substituir o Le Grand Dictionaire Historique do teólogo católico Louis Moreri, bastante mais abrangente geográfica e historicamente mas muito limitado em termos críticos, científicos e de não subordinação religiosa.
Pierre Bayle recebera uma educação protestante, pois nascera numa família francesa em que o pai era um pastor calvinista e, embora se convertesse ao Catolicismo durante cerca de dezassete meses, voltou depois ao protestantismo, mas sempre com uma grande tolerância e independência, o que não agradava aos protestantes mais ortodoxos, tal o seu colega Pierre Jurieu e mais tarde os que se viram biografados criticamente no seu Dicionário. Como tanto em livros como no Dicionário criticou muito da Igreja Católica, foi considerado um céptico, um livre pensador, por vezes mesmo um ateu, mas será mais correcto considerá-lo um fino demolidor de erros e lugares comuns, um inquiridor da verdade e logo irónico quanto a muita matéria mitológica e religiosa proveniente em grande parte da antiguidade greco-romana e da Bíblia, mas crendo em Deus, e logo um fideísta, ou seja, quem tem fé ou aceita a existência de Deus mas que sente insuficientes as racionalizações e dogmatizações de tal Mistério supremo, não aceitando o que as religiões tentam impor aos crentes sem discernir bem o que será certo. Uma posição coerente, para quem não sendo um místico valorizava muito o discernimento da Verdade verdadeira.
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Erasmo a escrever, visto por Quentin Massys, em 1517, com alguns dos seus livros por detrás. Pintura executada e enviada para animar Thomas More, futuro mártir e santo, tal como John Fisher. Já Erasmo foi santo à sua maneira...
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Pierre Bayle teve em Erasmo um dos seus principais exemplos ou mestres, já que era igualmente um esforçado investigador da verdade e um crítico de muito erro e superstição religiosa (e por isso foi tão atacado pelos mais fanáticos da ortodoxia cristã e protestante), e leu muito da sua vasta obra, escrevendo sobre ele e citando-o frequentemente nos seus livros. Assim, respeitando e admirando o seu grande valor, no artigo do Dicionário Histórico e Crítico tenta sobretudo dissipar várias calúnias e erros quanto à sua vida, maneira de ser, pensamento e obras.
Na transcrição da tradução do artigo, entre parênteses vêm em maiúsculas as letras (A, B, C...) das sucessivas Notas de rodapé, que se podem ler na íntegra no 2º volume do Dicionário Histórico e Crítico, mas que eu apenas transcreverei ou resumirei algumas, inserindo-as logo a seguir à letra em maiúscula da Nota, e num corpo de letra menor. Utilizei a edição de 1702 e uma versão policopiada (pelas edições Gamma, Belizet) da entrada Erasmo, na quarta edição de 1730, esta de mais prática leitura do texto corrido e as notas apenas no fim dele.
«Erasmo (Desidério,em latim
Desiderius), nasceu em Roterdão a 28 de Outubro de 1467(A). Não se
pode negar que foi um bastardo (B): era um escrúpulo mal fundado não
ousar publicar-se tal no começo de século XVII (C), pois tal era já
demasiado conhecido; mas não se podem negar algumas circunstâncias
odiosas que os inimigos de Erasmo publicaram no tocante ao seu
nascimento (D).
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Terceira página do artigo sobre Erasmo, com as anotações enormes.
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Com a idade de nove anos foi enviado para Deventer, onde
fez óptimos progressos nos seus estudos; pois não é verdadeiro,
como muitas pessoas acreditam, que ele tenha sido um espírito tardio
(E: e cita as apreciações que os seus professores e pioneiros humanistas fizeram, 1º Rudolfo Agricola, que ensinava também na escola de Hegius, e que vendo as composições tão perfeitas do jovenzinho Erasmo o chamou e segurando-o pela cabeça e olhando-o bem nos olhos, disse-lhe: "Serás um dia um grande homem" e, 2º, Jean Sintheimus, outro regente da escola, que ficou tão feliz com a sua rápida capacidade de compreensão e retenção, que um dia o abraçou e beijou, dizendo: "Coragem, chegarás um dia ao mais alto grau da erudição").
Aos quatorze anos já não tinha pai nem mãe, e foi posto sob a
condução de certos tutores que a exerceram muito mal, pois
constrangiram-no a entrar no estado eclesiástico. Ele defendeu-se
durante muito tempo; mas por fim foi obrigado a tomar o hábito nos
Cónegos Regulares do mosteiro [Agostiniano] de Stein, próximo de Tergou. Algum
tempo depois entrou ao serviço do Arcebispo de Cambraia, com a
permissão dos seus Superiores e sob o hábito da sua Ordem; e não
vendo nele um protector com quem poderia contar, fez por ser ser enviado para Paris.
Tendo estudado nessa famosa cidade no colégio de Montaigu passou
a Inglaterra: encontrou aí muitas pessoas que lhe prestaram justiça,
e acomodou-se maravilhosamente com a Erudição e outras
vantagens do país (F); mas não vendo que poderia esperar por tudo aquilo
que o tinha feito esperar, viajou para Itália. Viveu
mais dum ano na cidade de Bolonha, depois foi para Veneza, onde
publicou os seus Adágios, em seguida Pádua e por fim Roma, onde
a sua reputação era grande. Poder-se-ia ter estabelecido lá com
vantagem, se as promessas magníficas dos seus amigos de Inglaterra
não o tivessem feito voltar a esse país, no começo do reinado de
Henrique VIII. Ter-se-ia fixado lá para toda a vida, se ele
tivesse encontrado o que lhe tinham prometido; mas não encontrando o
que lhe tinham prometido, fez-se receber como Doutor em Teologia na
Universidade de Turin.
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A casa onde Erasmo viveu em Basileia, desde 1800 metamorfoseada numa notável livraria antiquária: Erasmushaus...
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Passou muitos anos em Basileia, e aí publicou
muitos livros; saiu quando a Missa foi abolida lá [ou seja quando a Reforma Protestante se instalou] e retirou-se para
Friburgo em Breisgau, donde saiu por razões de saúde e retornou a
Basileia (G- Maria, Rainha da Hungria e Governante dos Países Baixos queria fazê-lo regressar ao Brabante, e tal foi a causa de ele se transportar para Basileia, tanto para a´fazer imprimir o seu Ecclesiastes, no qual ainda não tinha posto a sua última mão, que para dissipar os restos dum longa doença. Ele alojou-se na casa de Jerónimo Frobénio seu velho amigo e o seu desígnio era de se pôr no rio Reno para regressar aos Países Baixos logo que a sua saúde estivesse restabelecida e que a obra que tinha em mão fosse impressa. Esperando isto foi atacado de uma doença mortal») onde morreu a 12 de Julho de 1536. Foi aí enterrado
honradamente, e prestam ainda muita honra à sua memória. Veremos
noutra parte (no artigo sobre Roterdão) como ele é homenageado na
sua pátria; e se pode contestar-se a Roterdão a glória de ser o
local onde ele nasceu.
Seria supérfluo realçar-se que ele foi um
dos maiores homens que jamais foram vistos na República das Letras: é
uma verdade pouco contestada. Ele teve muitos inimigos, e entre
outros Júlio Cesar Scaliger, que publicou contra ele as injúrias
mais chocantes, mas não a de bastardo (I- «Em duas invectivas que escreveu contra ele e que encheu das mais atrozes injúrias que um declamador possuído pode juntar para a batalha. Não é que Erasmo lhe tenha feito o mínimo de mal; ele tinha apenas lamentado a prevenção excessiva dos que eram então chamados Ciceronianos que acreditavam que não havia salvação para o Latim fora dos escritos de Cícero; e ao mesmo tempo tinha visto algumas manchas no Sol da Eloquência Romana [Cícero]. Scaliger berrou que isso era morte, parricídio e triplo parricida. Atirou todo o tipo de sujidades sobre a cabeça de Erasmo, e chamou-o cem vezes bêbado. Sustentou que Erasmo ganhando a sua vida como corrector na tipografia de Aldo Manuzio deixava escapar muitos erros, pois a embriaguez impedia-o de as notar». Pierre Bayle prova depois em dezenas de linhas como Júlio César Scaliger, nas suas duas invectivas ou querelas, e o seu filho José Scaliger mentiram e injuriaram desmedidamente, e que Erasmo fizera muito bem em não reconhecer a autoria da primeira invectiva atribuindo-a ao cardeal Aleandro, nem em responder-lhe.) A causa desta Querela
não foi bem contada na Scaligerana (K- escrita pelo filho para sustentar a abalada memória do exaltado e invejoso pai). Isto é um pouco
surpreendente, pois quem deveria saber melhor a verdade deste assunto
que o filho do Agressor? Erasmo pareceu muito sensível a esta
Invectiva, e tentou fazer perecer os exemplares (L.- Anotemos que a baixeza de Scaliger foi tão grande contra Erasmo, nomeadamente numa série de poemas que escreveu invejoso contra ele, que Pierre Daniel Huet (1630-1721, um cientista e bispo, considerou que pelas suas poesias brutas e informes Scaliger tinha profanado o Parnasso.) Durante algum tempo desconheceu quem era o verdadeiro Autor (M) e atribuiu-o muito
confiado a outra pessoa, o que merece ser observado.
Aqueles
que negam, que tenha havido inveja de [o Papa de] Roma o querer fazer um Cardeal,
erram. (N- Alguns riam-se de ele ter sido convidado para Cardeal, mas por inveja, já que na realidade tanto Adriano VI, condiscípulo e amigo de Erasmo, como Paulo III quiseram e expressaram-no por cartas que Erasmo aceitasse o barrete cardinalício, o que ele recusou sempre por espírito de independência e para não dizerem que era um interesseiro). O boato que correu em Paris, que se trabalhava em Roterdão
por uma nova edição das suas Obras foi infundado (O- «Segundo Guy Patin, os de Roterdão pela honra que testemunham à memória daquele que foi a honra do seu país, vão fazer à sua custa uma nova impressão de todas as obras de Erasmo. Eis uma notícia que me alegra. Ainda há virtude no mundo e pessoas honestas que têm coragem. Rezo a Deus que seja verdadeiro»). Esperava-se a
sua Vida (P- No final das cerca de 70 linhas, Pierre Bayle regista: »Corre o barulho que o Monsr. Joly pôs a sua Vida de Erasmo entre as mãos dos Censores de Livros, afim de receber a Aprovação deles, e obter em seguida o privilégio de o imprimir. Desejamos que esta notícia seja verdadeira, e que esses senhores não tenham a dureza que obriga tantos escritores a queixarem.se que guardam muito tempo o manuscritos e que apagam nesse tempo muitas coisas. Vede as Nouvelles de la Republique des Lettres, artigo III de Fevereiro de 1685» Anote-se que esta publicação de notícias respeitantes aos escritores e seus livros foi outra pioneira e útil obra de Pierre Bayle que lhe granjeou muito sucesso, fortificando a República das Letras), mas não vimos ainda a realização dessa promessa. De
todas as obras as que foram frequentemente mais impressas foram os
Colóquios (Q- Nesta extensa nota Pierre Bayle conta como surgiram impressos os Colóquios sem a autorização de Erasmo, quase apontamentos para estudantes de latim e ainda não aperfeiçoados, e como alguns inimigos declarados de Erasmo, tal o síndico da universidade de Paris, a Sorbonne, Beda, horrorizado com o sucesso que uma edição de Colinet obtivera, conseguira que eles fossem proibidos o que ainda veio a gerar mais procura, tanto mais que Colinet ao editar os 24.000 anunciara que iria ser provavelmente proibida. E tece considerações valiosas sobre a responsabilidade dos autores.) e o seu Elogio da Loucura (R). Ele teve dificuldade em aceitar
que o pintassem (S) mas enfim ele deu as mãos a isso e Holbein,
famoso pintor e seu amigo particular fez o seu Retrato, que Theodore Bezes
ornou dum Epigrama que foi muito louvado [Mas que Pierre Bayle considera falso ou errado].
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A pintura de Erasmo por Hans Holbein, numa fotografia num altar lisboeta.
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Porque Erasmo não abraçou
a Reforma de Lutero, e porque ele condenou contudo muitas das coisas
que se praticavam no Papismo, ele atraiu mil injúrias tanto dos
católicos como da parte dos Protestantes (T- «Não se trata aqui de examinarmos se a conduta de Erasmo em relação à religião é boa. Direi somente que ele foi, parece-me, uma dessas testemunhas de Verdade que suspiravam pela Reforma da Igreja, mas que não acreditavam que fosse necessário chegar a ela através da ereção de um nova sociedade [ou Igreja, protestante], que se apoiou primeiro em ligas e que passou prontamente a verbis ad verbera, de palavras para golpes)».
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Uma das veras efígies de Erasmo, por Holbein, numa gravura oferecida por José V. de Pina Martins, entre nós um elo muito valioso do Humanismo, da Sabedoria perene e da Utopia. Lux, Amor!
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Jamais houve alguém que
fosse mais afastado do que ele dum humor impetuoso de certos teólogos
que aprovam as vias de facto e que gostam de marcar a guerra. Erasmo amava a Paz, e sabia da sua importância (U- Uma das mais belas dissertações que se pode ler é a de Erasmo sobre o provérbio, Dulce bellum expertum. Ela mostra-nos que ele meditara profundamente os mais importantes princípios da Razão e do Evangelho, e as causas mais correntes das guerras. Ele mostra que a maldade de alguns particulares, e a parvoíce dos povos, produzem quase todas as guerras; e que uma coisa da qual as causas são tão reprováveis, é sempre seguida de um efeito muito pernicioso. E sugere que aqueles que pela sua profissão deveriam ser os mais empenhados em desaconselhar as guerras, são os instigadores...)
Era um
pouco sensível aos libelos que se faziam contra ele. Parece isto por
causa das suas queixas aos impressores desses Libelos (x).
Acreditou-se que era o autor de vários livros que não correspondem
ao seu estilo (Y). Conta-se que a leitura das Cartas dos Homens Obscuros
fez nele um grande impacto (Z- Sobre este livro anónimo crítico-irónico dos escolásticos ou ultra-ortodoxos repressores do livre pensamento e imprensa dos Humanistas, e de alguns dominicanos, como Johannes Pfferkorn, judeu convertido que perseguia o sábio Reuchlin, que queriam a queima dos Talmudes e de outros livros heréticos, fabuloso na sua capacidade de fazer rir por vezes por modos pouco decentes, ainda não traduzido entre nós, e cujo autores principais foram Johan Crotus e Ulrich von Huten, em forma de cartas, diz-nos Pierre Bayle: «Fizeram-no tanto rir, que um abcesso
que ele tinha na cara, rebentou. Já não foi necessário furá-lo
como o médicos tinham ordenado. (...) Simler, que leu isto na vida escrita por
Bullinger, observa que foi Jean Jacques Amien, nativo de Zurique,
quem emprestou o livro que tanto fez rir Erasmo e com tanta utilidade.
Não deveremos inserir isto entre os exemplos dos benefícios da
leitura?»).
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Ulrich von Hutten (1488-1523), um cavaleiro humanista, poeta e satírico, que aderiu ao protestantismo e era violento opositor da Santa Sé e do poder papal na Alemanha. Tentou atrair Erasmo para o seio da Reforma luterana, mas em vão, este recusando mesmo vê-lo quando Huten, derrotado numa batalha decisiva, o procurou em Basileia.
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Haverá agora uma nota sobre os erros de Moreri (AA,
cometidos acerca da vida dos pais de Erasmo e da sua entrada para a ordem
religiosa de S. Agostinho) e ainda acerca de outros que me limitarei a apontar. (BB, indica
que foi em 1529 que a facção protestante em Basileia encheu doze carroças com imagens religiosas de várias igrejas e, empilhadas em nove filas
diante da Câmara Municipal, foram queimadas para acabar "com a ideia do
pequeno povo aproveitá-las para usos ou cultos domésticos". E que
o caixão com o corpo de Erasmo foi levado apenas por estudantes da
Universidade de Basileia, e não por todos os sábios do país, ainda
que vários estivessem no enterro).
Não penso que tenham razão em
dizer que Caelius Rodhiginus acusou Erasmo de ser um plagiário (CC,
pois Erasmo começou a coligir e publicar os seus Adágios antes de Caelius Rhodiginus
publicar a sua recolha em 1516 nas Lições Antiquárias, e estas conteriam apenas alguns provérbios greco-romanos que Erasmo poderia ter utilizado nas suas edições posteriores, sempre maiores, dos Adágios.)
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Caelius Rodhiginus (1469-1525), outro pesquisador da sabedoria antiga.
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Teriam mais razão se tivessem dito que ele foi acusado de ter apenas um conhecimento limitado
da língua grega (DD), e de ter escrito demasiado à pressa o que
fazia imprimir (f).
Nós vimos a crítica que lhe fizeram de ter
gostado demasiado da bebida: não duvido que seja uma calúnia, pois
[o próprio Erasmo] na mesma passagem em que confessa que não viveu sempre castamente,
afirma que foi sempre muito sóbrio (EE- pois alimentava-se por necessidade, tomando o alimento quase como um remédio e entregue aos seus estudos não tinha tempo para se distrair em prazeres) e que se entristecia com o facto
de ser preciso comer e beber para se viver.
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Caspar
Barlaeus (1584-1648), um sábio defensor do valor de Erasmo, refutando e dissolvendo as mentiras propagadas contra ele.
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O que Mateus Sladus, reitor do Colégio de Amesterdão, e grande adversário dos Arminíos, declamou
violentamente contra ele (FF. Armínio foi um teólogo protestante que combateu a visão mais intransigente ou mesmo fanática de Calvino quanto a uma predestinação divina da salvação de cada ser, pois considerava que cada um tinha a capacidade de resistir ou de seguir a vontade divina. O Arminianismo foi muito perseguido pelos calvinistas, e era-o Mateus Sladus e naturalmente como Erasmo era pelo livre-arbítrio do ser humano e não pelo fatalismo da predestinação, foi atacado por vários protestantes. O próprio Pierre Bayle foi também vítima de tal fanatismo calvinista, nomeadamente por Pierre Jurieu) foi solidamente refutado por Caspar
Barlaeus no ano de 1615, numa obra que tem por título Elenchomenos (...) Bogermannus in quo etiam crimina a Matthaeo Slado impacta Erasmo Roterodamo diluuntur (...).
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De Erasmo, a Obra Toda, menos as traduções, dada à luz entre 1700-1703, em Leiden.
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Correu o boato que vai começar em Leiden uma edição de todas as obras de Erasmo, e que será dirigida pelo Sr. Le Clerc. Este
iniciativa é muito louvável, e todos os amadores das belas Letras
devem desejar que ela seja executada. Pretendem que esta nova edição
conterá alguns escritos que nunca foram impressos. Ela será sem
dúvida mais bela que a realizada em Basileia em 1540 em nove volumes in
folio, e que foi dedicado ao imperador Carlos Quinto. A epístola
dedicatória foi feita por Beatus Rhenanus.»
E assim termina o artigo, aqui transcrito sem muito das extensas notas, embora as mais valiosas tenham sido preservadas ou resumidas, tudo para honra e glória (isto é, a bênção divina no corpo espiritual) de Erasmo, de Pierre Bayle e dos cidadãos da República das Letras, na demanda e comunhão da Verdade, no dia do seu 557º aniversário, no ano da Graça (bem precisa...) de 2023.
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