segunda-feira, 2 de outubro de 2023

"Dia do Anjo da Guarda". Quem são os Anjos e Arcanjos? Que relação podemos ter com eles?

Quem são os Anjos?  Seres espirituais, entidades subtis, que se consideram estar acima do ser humano pela sua subtileza e maior proximidade da Divindade e que são conhecidos pelas descrições dos que os viram, dos que os descreveram, dos que os teorizaram e dos que os desenharam, pintaram e esculpiram, desde há milénios em quase todos os povos.

Geralmente representados com asas, corporização terrena das irradiações dos seus raios luminosos e flamejantes, das correntes energéticas que deles emanam, podemos por vezes vê-los pelo olho espiritual nas nossas meditações ou recebermos símbolos e sinais, ou ainda vê-los indirectamente nas formas de nuvens por eles modeladas ou assumidas, ou noutras formas e coisas.

São chamados e considerados  mensageiros de Deus, tal como a etimologia da palavra angelos, pela maioria dos que lhes dedicaram amor, estudos, páginas ou meditações, pois estando mais próximos do mundo divino podem sentir e ver mais claramente os merecimentos e necessidades dos seres humanos e ajudá-los. Daí até a utilidade das orações à Divindade e simultaneamente aos Anjos, seus auxiliares no Cosmos  e no planeta. 

Cada ser tem um génio, um anjo da guarda (ou dois na tradição islâmica) e a eles se referiram muitos autores pagãos e cristãos, destacando-se entre nós desde o P. Diogo de Vasconcelos com o seu livro do Anjo da Guarda, em 2 volumes, uma obra seiscentista bem volumosa e erudita, até Fernando Pessoa que os refere várias vezes e os poetizou mesmo, para além de ter repetido uma frase do seu amigo e iniciador Alesteir Crowley: "a conversação com o santo anjo da guarda é a mais alta obra de magia", pela qual afirma que tal abertura aos níveis espirituais mais elevados de nós próprios é realmente a mais importante obra de magia ou de domínio das nossas forças instintivas e anímicas.

Admitindo-se que as pessoas desde que incarnam na Terra têm o seu génio ou anjo custódio, é natural que  a perda da consciência da ligação angélica resulte de não serem  educadas nesse sentido, de não acreditarem, porque não apelam a ela ou porque se densificaram e cousificaram muito, cegando para eles. Há contudo pensadores ocultistas, como Rudolf Steiner, que pensam que logo aos sete anos, quando teoricamente começamos a ser educados para compreender o que é bem e mal, o anjo da guarda despede-se da pessoa, deixa de lhe dar consciência e protecção, e retira-se para planos mais elevados, a criança começando a assumir-se a si própria. 

Creio porém que é algo artificial a divisão-cisão, certamente criada em termos funcionais por acabar o 1º septenário, pois muitíssimas crianças tem amadurecimentos bem mais tardios ou até difíceis, para além de que nada parece indicar a existência de maior protecção apenas até tal idade.  Outros dizem, e com razão, que mesmo que o anjo se retirasse de uma proximidade maior ele não deixaria de estar no interior ou sobre a pessoa, pois ele próprio, pode-se dizer, é um dos níveis dela, o anjo nela, um anjo solar segundo alguns.

São mistérios grandes estes níveis e investigá-los deveria ser apanágio de muitos, mas não sucede e são poucos os que conseguem sair da luta pela sobrevivência ou das múltiplas preocupações e lutas, distrações e alienações sociais. Um deles foi sem dúvida Fernando Pessoa que se interrogou mesmo por escrito se o santo anjo da guarda  seria ele o Mestre, ou até o Eu superior da pessoa?

Há quem pense que na evolução do ser humano, tal como deixaremos o corpo físico ao morrermos carnalmente, assim também um dia deixaremos o anjo que seria como que a nossa alma ou corpo causal e angélico protector, porque construíramos um outro para nós durante a vida. Mas provavelmente ambos subsistem, embora quem sabe, como antigos seres íntimos tornados apenas amigos.

Na realidade, quanto ao anjo ser abandonado, e depois de nos ter abandonado aos sete, como se fosse a  nossa vez de lhe aplicar a reciprocidade, parece ser uma teorização exagerada, tal como a de que ele seja apenas o correspondente a um corpo subtil elevado, o causal, pois como nós ele é um espírito, embora de outra ordem ou categoria na imensa escala de seres que liga os reinos vegetais e animais, a Humanidade e a Divindade.

                                         

Quando se admite que o Anjo está em nós e que é um nível interno mais elevado na nossa consciência ou da nossa identidade, deduz-se naturalmente que ele só pode ser consciencializado por nós quando os níveis inferiores do corpo, sentimentos e pensamentos estão aquietados, quando a personalidade está harmoniosamente integrada com a vida na terra, e portanto o nível unitivo da consciência, o que nos liga à Divindade, com quem os anjos tem sempre relação, pode funcionar ou manifestar-se e assim permitir ao Anjo ocupar o campo ou ecrã da nossa consciência, de forma directa ou indirecta, em visão ou intuições. 

Em geral são momentos fugazes, tal ao acordarmos ou ao meditarmos, nos quais a paz, o silêncio e  a luz do nível em que ele vive ou que ele próprio emana chega até nós, por vezes ocorrendo mesmo alguma intuição ou visão de formas angélicas.

Estes momentos de chegada de luz são como que a construção duma ponte ou de um canal ou de um fio de ligação com ele, o que se vai repetindo e fortificando nas meditações, de modo a que  a presença angélica ou do mestre interno, ou a da própria estrela do nosso espírito, se vá desvendando mais, sob a graça Divina.

Entre nós várias igrejas mostram o Anjo seja em retábulos num dos altares laterais, seja no pórtico, lembrando que a cada uma deles estaria associada um Anjo, ou que os Anjos e Arcanjos existem e que a este nosso companheiro subtil pouco ligamos, mesmo que ainda saibamos de cor ou coração alguma oraçãozinha infantil, mas bem eficaz se perseverada. Tal como:  «Anjo da Guarda, minha companhia, inspirai a minha alma, de noite e de dia». Ou, «Anjo da Guarda, minha subtil companhia, ajuda-me a abrir mais o coração à luz Divina». Ou «Anjos e Arcanjos, invoco-vos. Ajudai-me a estar mais ligado com Deus.» Mas também o virar-nos para o Oriente e invocar as correntes luminosas ou bênçãos dos mestres e espíritos celestiais, é outra oração simples e que podemos realizar com criatividade espontânea.

Um exemplo: no ígneo convento da Ordem de Cristo em Tomar, na sua charola, face ao seu altar no centro octogonal, está um espírito celestial  apenas com a cabeça e as asas, preside à direcção do nascente, Ex Oriens Lux, relembrando-nos da nossa solaridade, dos mestres do Oriente e que na nossa vida devemos orientar-nos pelas intuições e visões que o ser angélico em nós nos possa lançar, segredar ou lembrar, e que devemos com perseverança trabalhar, orara, invocar.

Como se sabe, acima dos Anjos existem os Arcanjos, não só os três, quatro ou sete mais famosos, mas os das nações, entre os quais o de Portugal, cultuado oficialmente desde o tempo de el-rei D. Manuel  e que está igualmente representado numa bela e popular escultura quinhentista  dentro da charola, na capela octogonal aberta.

Da Leitura Nova (dos forais portugueses), de Dom Manuel.

Se invocamos nas orações matinais e nocturnas o Anjo da Guarda,  tentando sintonizar com a sua alma tão sábia quão amorosa e bela, que nos protege e inspira do alto, também deveríamos de quando em quando sintonizar com o Arcanjo de Portugal, e com as suas frutificações potenciais que em geral os nossos governantes destroem ou contrariam já que estão tão vendidos aos regentes e fabricantes do dólar e ao euro que lhes pagam e permitem as suas vidas e funções tantas vezes daninhas em relação aos povos e à justiça e harmonia do planeta.

Saibamos então tanto por uma vida justa, bela, ordenada e consciente angelicamente, como nos momentos diários mais concentrados, elevar-nos a tais seres e níveis, conscientes de que eles estão em contacto com os raios, bênçãos e Seidade divina e que eles são, como alguns de nós, portadores do Graal, do cálice que recebe a sabedoria e o Amor divino, ou as forças e símbolos adequados auspiciosamente, e o partilham para os que aspiram ou merecem tal bebida de sabedoria e imortalidade, noutros canais ou veios da Tradiçãou ou Espiritualidade Perene denominada de ambrósia e de amrita.

2 comentários:

Anónimo disse...

Viva Pedro. Excelente texto e interessantísdima análise. Obrigado e forte abraço!

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Graças muitas. Votos de boas inspirações do Anjo, e abraço luminoso.