Fernando Leal (1846-1910), no final do seu livro Relâmpagos, Porto, 1888, numa das cinco Notas para o leitor francês, a dedicada a Antero, as outras sendo sobre Gomes Leal, João de Deus, Baudelaire e Byron, Auguste Vacquerie, escrevendo em francês e para os leitores
franceses, exprime a sua tristeza por a poesia portuguesa ser pouco
conhecida na Europa e oferece-se, se o Destino lhe permitir, traduzir
poemas de João de Deus e de outros poetas vivos e mortos para uma
Antologia, apresentando então em seguida, segundo a sua sensibilidade e visão, o seu amigo Antero de Quental e os Sonetos.
«Darei algumas traduções de um poeta fora de série, Antero de Quental, autor das Odes Modernas e de um livro de Sonetos.
Este último livro, do qual se poderia dizer que foi sonhado numa
montanha ideal, é de facto excepcional pelo poder de visão psíquica,
pela perfeição serena, austera, sóbria, da ideia e da forma, pela
resignação e a sinceridade, pela emoção dolorosa, pela inefável beleza e
pela bondade suprema de que ele está impregnado.
Um dos melhores amigos do poeta, o eminente historiador Sr. Oliveira
Martins, fez preceder o livro de um prefácio onde a obra e o autor são
bastante bem estudados, ele bem mais do que ela. Os estrangeiros poderão
de resto fazer uma ideia dos Sonetos de Antero de Quental, pela
tradução alemã que acabou de publicar o professor Storck, tradutor das
obras completas de Camões. Por outro lado, o crítico inglês Sr. Burton
anunciou um estudo sobre os Sonetos e sobre o seu autor. Quanto a
mim, no meu desespero de condensar em algumas linhas, (o que eu não
saberia fazer mesmo em algumas páginas), a poesia e a filosofia deste
livro complexo, que reflecte diversas fases do coração e da mente [du
coeur et de l'esprit] do poeta, tento
transmitir as impressões predominantes em mim dizendo que se
revela ali frequentemente como um Job, sentado não sobre o monturo, mas
sobre uma nuvem, e por vezes como um Bouddha, tremendo e fazendo-nos
estremecer sobre o sopro desesperante do nosso fim do século...» (...)
Fernando Leal em Velha Goa, no fim da sua vida na Terra. |
Quanto à carta que oito anos antes, em 2 de Junho de 1880, Antero de Quental endereçou da lisboeta rua da Fé nº 12 a Fernando Leal, agradecendo o livro Reflexos e Penumbras, que este lhe enviara, e que pelo teor mostra-nos que já lera algumas das suas traduções francesas, ei-la nas suas linhas mais valiosas para este artigo:
«Ex. Sr.Oiçamos então Fernando Leal sobre Antero e traduzido por mim do francês, e Antero de Quental com a leitura final do seu soneto Mors-Amor na tradução em francês de Fernando Leal, inserida que estava no mesmo livro Relâmpagos. Tela de fundo, Antero, por Maria de Fátima Silva, a quem agradecemos.
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