sábado, 14 de outubro de 2023

Acerca da arte de sonhar. Breve ensaio. A aprofundar, cada noite...

 Os sonhos, diz-se, "valem o que valem", ou seja, cada um dar-lhes-á o valor que quiser ou que poder, já que não sendo claros e antes rápidos ou fugazes e frequentemente estranhos e misteriosos, as suas causas e significados escapam quase sempre a quem os vivencia ou  os tenta interpretar posteriormente, dada a multidimensionalidade em que são causados, ocorrem ou se situam, embora alguns deles possam ser bastante claros nos actos e ambientes, ou mesmo configurarem-se como encontros com outros seres geradores de actos, palavras, informações ou  diálogos compreensíveis e instrutivos, em ambientes ora normais  ora mais invulgares, aumentando o seu impacto em nós e portanto o valor que lhes poderemos dar.

Os sonhos com encontros dialogantes são na realidade os que mais podem substanciar a hipótese de o sonhar não ser apenas uma actividade individual (seja cerebral seja anímica) mas resultarem de encontros ou interações entre formas de pensamento diferentes ou mesmo de mentes diferentes, ou seja, serem sonhos compartilhados por pessoas que por certos motivos conseguem psiquicamente relacionarem-se entre si nos níveis subtis ou internos em que ocorrem esses encontros energéticos que se condensam nas imagens dos sonhos, ainda que na maioria das vezes apenas uma pessoa  sonha com a outra ou se lembra desse interagir subtil, que certamente muitas vezes também se passa apenas na memória associativa e dinâmica de uma das pessoas, que pacatamente dorme no seu corpo, sem de modo algum haver qualquer indício que sugira a sua alma ter saído, viajado ou mesmo se relacionado apenas telepaticamente com a outra...


Os sonhos valem pelo seu valor intrínseco, seja reordenador de memórias e harmonizador de emoções, seja catártico, seja criativo e  pelo que nós, de algum modo, conseguimos merecer ou receber da sua vivência e interpretação em termos de harmonização e clarificação interior. Este valor abrange ainda o que nós discernimos, o que pomos neles, seja semiconscientemente enquanto os sonhamos, já que não sabemos ainda muito da organização da memória dos sonhos e das causalidades que lhes estão inerentes, seja já conscientemente no momento de acordarmos quando ocorrido o sonho se despoleta uma possível interpretação-razão-mensagem, seja depois ao tentarmos compreendê-la e equacioná-la, uns gravando, outros escrevendo, outros refletindo-o ou meditando-o.

É pena  que na valorização e compreensão dos sonhos seja ainda pequeno o contributo da memória comparativa dos sonhos vivenciados ao longo da vida  pois tal memória está quase ausente ou muito pouco conservada ou apurada na maioria das pessoas, embora se saiba já laboratorialmente  que o hipotálamo desempenha um papel preponderante nessa conservação de memórias cerebralmente,  mas animicamente, no corpo subtil espiritual, sabe-se muito pouco...

                                                      Hipófise e Hipotálamo: o que são, localização e para que servem - Sanar  Medicina

Se perguntarmos: como está a sua memória dos sonhos. as pessoas fecham os olhos, fazem algumas interrogações sobre eles, e descobrem que há uma leve memória ordenada, arrumada, catalogada ou recuperável, seja pelas pessoas com que se sonhou, seja pela importância sentida quanto aos sonhos serem transmissores de informações novas, valiosas, invulgares ou suprafísicas, seja pela temática, seja eventualmente pela presença maior de um dos cinco elementos da Natureza, a água, a terra, o vento, o fogo, o éter, ou mesmo influências planetárias, daí algumas espécies de teatros ou anfiteatros de memória que desde o Renascimento se desenharam e especularam...

                                                   Représentation du Théâtre de la Mémoire @Anonyme | Download Scientific  Diagram

Quando acordamos ou pouco depois, podemos não ter guardado no consciente qualquer aspecto dos sonhos e embora saibamos que tenhamos sonhado de nada nos conseguimos lembrar. Mas por vezes há algumas vibrações ou linhas de força que estão ainda palpitantes na memória de curto prazo onírica, e então pode-se fazer um esforço para nos lembrarmos dele. Por vezes a resposta vem e por certas linhas de recuperação ou associação: caras, faces invulgares ou ligação delas com os 5 ou 7 elementos e de repente recuperado uma pessoa e a sua face, o novelo desenrola-se e o sonho perdido é encontrado, recuperado, parcialmente certamente.

Deveríamos nós regularmente cultivar mais uma observação ou anamnese deles? Talvez, pois provavelmente fortificam-se capacidades psíquicas, sobretudo se consideramos que certos sonhos visam fortificar a nossa alma (pensamentos e sentimentos), bem como clarificar e dar novas impulsões na personalidade, e também porque se estimularão reaberturas e religações  com os mundos subtis e espirituais, se tal fora o teor do sonho...

Como cerca de 1/3 ou 1/4 da vida passa-se a dormir e sempre que dormimos sonhamos, mesmo que tal vivência psíquica não se conserve bem  na consciência de vigília, ou pouco se consiga interpretar, há pois que reconhecer múltiplas razões psico-somáticas para diariamente eles acontecerem e portanto valorizarmos tais fenómenos, que aliás sempre geraram muitos adivinhadores dos seus sentidos, tanto mais que em todas as tradições e religiões alguns sonhos foram considerados ou reconhecidos como meios de seres espirituais ou mesmo a Divindade comunicar com os humanos ou, se quisermos, de estes acederem a tais níveis mais suprafísicos.

Mas é difícil conseguir discernir o que é mera reordenação de conteúdos recebidos, ou simples imaginação, com seus desejos ou receios, e que, não provindo do córtex frontal que está inactivado, nascerá mesmo de uma interacção nos planos da alma com outros seres, ou com  núcleos de ideias-forças planetárias (o tal inconsciente colectivo de Carl G. Jung), ou níveis superiores celestiais, gerando imagens e conteúdos oníricos por vezes bastante originais ou mesmo sublimes, se a nossa alma consegue sintonizar ou entrar neles.

Quanto aos influxos da Divindade certamente devemos ser modestos e admitir mais em geral e quanto muito a intervenção de espíritos não incarnados ou mesmo seres angélicos no que se nos afigura de intuitivo, tão belo ou divino, embora certamente a Divindade seja a fonte primordial do Bem, do Belo, do Verdadeiro e dos muito mais atributos que conseguimos conceptualizar, discernir e receber do oceano da sua Luz Sábia e Amorosa e que de algum modo estão potenciais na nossa dimensão espiritual mais profunda e elevada ou reflectidos nos planos subtis a que temos acesso...

                                     

Acerca dos dicionários de sonhos, ou livros sobre os sonhos,  que há aos milhares e milhões, certamente  podem conter  aspectos ou informações que melhoram tanto a nossa capacidade de compreender os sonhos, de talharmos o ego e melhorarmos, como até de sonharmos melhor e mais compreensivelmente, embora na realidade cada sonhador é único, e cada sonho é também único (ainda que se possa repetir) na sua contextualização causal e consequencial.

                                      

Único e imprevisível, pois quando adormecemos nunca sabemos em que iremos sonhar, embora se tivessem inventado receitas ou métodos que pretensamente fariam sonhar naquela pessoa, questão ou lugar, ou então mais lúcida e voluntariamente, pois sempre se acreditou que a vontade, a fé, a esperança, o amor e certos exercícios afectam a alma, as capacidades psíquicas e logo os sonhos e a nossa capacidade de  atrairmos, influenciarmos ou dirigirmo-los, o que de certo modo é verdade, mas não com a simplicidade do quero e obtenho, aplicado mais até nos sonhos denominados lúcidos ou conscientes.

Na realidade somos todos simultanemaente realizadores e espectadores de cinema com os conteúdos dos sonhos e das associações de memórias, expectativas ou mesmo encontros que os podem causar, embora estejamos em geral bastante inconscientes da causalidade de tais cenas imprevisíveis  projectadas na nossa consciência onírica. Todavia, o objectivo da auto-conservação ou sobrevivência deve ser o básico, ora apenas reordenando ou revivenciando impressões psico-sensoriais, apreensões e desejos, ora formulando indicações ou gerando antevisões para que nos vamos preparando ou fortalecendo.

Face a sonhos desagradáveis, tais os pesadelos (por vezes decorrentes de mal estar do corpo), e em que somos forçados e oprimidos, para além de devermos discernir se não estaremos a oprimir ou reprimir certos sectores do nosso ser e de que não estamos bem conscientes, também podemos ser vítimas de ataques de forças psíquicas, nem que seja pelo facto de também sermos  espectadores  enquanto  sofremos do que outros directores mais ou menos conscientes sonham e nos causam. 

Por vezes nesses sonhos mais difíceis, se por vezes há confronto directo com alguém já noutros há uma interaçção de múltiplos factores, e até seres, na nossa mente-alma e na qual imagens de memórias e associações, nossas e de outros no inconsciente colectivo e também no campo unificado de energia e informação em que mergulhamos e astralmente vivenciamos, são percepcionados subjectivamente por  nós numa interatividade inteligente e plurifuncional anímica, pois tanto escoam pela vivência o que devia sair, como fazem-nos desenvolver mais vontade superadora de tais ataques e geram um renascimento,  novas sensações, informação, compreensão e sabedoria. 

E tal enriquecimento acontece também em diálogos gestuais, mentais e vocais valiosos com outras pessoas, conhecidas ou desconhecidas e que nos surgem no mundo dos sonhos, com toda a naturalidade. E se algumas dessas pessoas conhecemos mesmo da realidade física, podemos lamentar-nos que não surjam com a repetibilidade ou assiduidade que gostaríamos como confirmação de uma amizade que continua dialogante ou apoiante no mundo subtil dos sonhos...

                                          

Para finalizar esta breve incursão às possibilidades e potencialidades do mundo onírico, refira-se a oração-meditação, e a contemplação, antes de adormecermos, por serem importantes quanto aos sonhos, como intensificadora seja da nossa elevação seja da claridade deles, seja da preservação da memória deles. seja ainda para sermos mais nós próprios seres espirituais os realizadores cinematográficos dos sonhos,

Daí que  em certas escolas iniciáticas, começando na pitagórica, se tenha recomendado ao deitar uma rememorização do que se fez no dia, para que assim a alma tenha mais integrados os conflitos,  informações, emoções, impactos e possa portanto mergulhar numa psique relativamente mais ordenada, e logo tanto compreender as profundidades como elevar-se  a  níveis mais luminosos e elevados do cosmos subtil a que se pode ter acesso pela aspiração, a sensação, as visões e os sonhos. 

Bons sonhos, bons acessos a planos e seres luminosos, e sábios e harmoniosos recomeçar dos dias!

1 comentário:

chauve-souris disse...

Obrigado! Bons sonhos também para si!