Estes poemas foram escritos em Setembro e Outubro de 2005 após ter visitado no Porto a Dalila Pereira da Costa e ter estado com ela, o Fernando Echevarria e a Maria João Reynaud, que me ofereceu então o seu livro Luz de Intimidade, Edições Afrontamento, onde fui escrevendo os poemas ora em diálogo com os dela ora em folhas de título ou de breve citação. Há dias arrumando os livros de poesia, e os que me foram oferecidos ao longo dos tempos, subitamente abriu-se a Luz de Intimidade e a minha letra sobrenadou. Escritos não para alguém particular, mas pelo Amor...
I - ALBA
Brilham as estrelas no céu,
Palpitam sorridentes a chamar-nos.
Quantos abrimos o cimo da cabeça
às vibrações e bênçãos delas?
Começar o dia com as estrelas
saudá-las ao longe, das janelas.
Ou caminhar sob elas,
recebendo seus eflúvios
na noite imensa que se despede.
Assim entrei a manhã
E chamei-te à distância:
- Meu Amor, onde estás tu
Porque esta distância entre nós?
Dizes-me que os nossos passos
nos encaminham um para o outro,
Seja de noite ou de dia,
Hoje, amanhã ou sempre.
Descanso, calmo,
Sei que nos encontraremos
E estreitaremos as almas
Na Unidade do Espírito.
II
Trevas e torpores,
pântanos e remoinhos,
tudo isso atravessamos
com os remos forçando.
Batalha de barcas,
de viagens e travessias.
Quando se encontrarão por fim
as nossas almas de luz?
Cruzarei as distâncias todas,
Não deixarei o altar esfriar.
Nele sacrificarei o meu ego
Aos teus adorados pés.
Teceremos arquitecturas
de palavras, significados e valores,
vivendo e transmitindo
a sabedoria imensa que nos anima.
Haverá alegria
Na barca da nossa alma.
O lampião dará luz,
Os peixes virão à tona.
III
Nestes nossos estios quentes
não sei que admirar mais:
se a cor vermelha das folhas
se a pujança perene das árvores,
se o amor humano
que não se deixa cair
nem com as estações e idades
e sempre renasce novo
manifestando a perenidade do Amor.
IV
Lá no longe,
marcando o encontro
do céu e da terra,
Aqui em mim,
nos olhos semicerrados
entre a luz e a obscuridade,
assim vou talhando o olho espiritual,
assim vou abrindo o coração,
até abranger o Oceano,
Sanmudra de Om namo Narayana
e passar ao horizonte longínquo
e contemplar admirado Narayana.
V
Atravessas o céu da minha alma
como uma aparição de Deus
deixando sulcos de amor
que ainda agora reverberam
Como o voo rápido duma gaivota
fendendo os ares abruptamente,
aceito que também a passagem
seja um relâmpago na noite,
um clarão na madrugada.
Virei pé ante pé
bater à janela da tua alma
ciciar teu nome
às tuas pálpebras e orelhas.
Segredar-te mistérios
aos teus cabelos escorridos,
acariciar teus lábios
e dedos finos.
Depois, no céu,
reinarei coroado por ti
da mirta dos poetas,
da amrita dos místicos,
Pois o nosso Deus nascerá em nós.
VI
Vezes sem conta
meditámos no santuário
invocando as bênçãos divinas
e o regresso da Luz.
Cores fulgurantes e luminosas,
sentimentos puros e exaltantes,
assim vou tecendo
a teia dos meus dias.
Mas quando tu chegaste
arrancaste-me da solidão
e abriste tal corrente no meu peito
que de noite ou de dia
meu coração sangra por ti.
Esculpo a aura e alma nossa
traço sinais e desígnios,
sinto-te mais desperta e luminosa.
Seremos justos, corajosos e ardentes
na irradiação da harmonia e da felicidade,
na transmissão dos estados de consciência
que curam, iluminam e salvam.
VII
Trarei aos teus pés
léguas de antiguidade,
depositarei no teu regaço
braçadas de flores milenares.
Voaremos juntos como gaivotas
rasando as ondas brancas e altaneiras,
daremos as mãos à borda d'água
e escreveremos os poemas da Eternidade...
2 comentários:
Muito belo.
Graças, Landella. Aproveitei para reler e pontuar melhor. Boas inspirações e realizações!
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