Este Álbum desenhado há mais de 170 anos sobreviveu às
vicissitudes do tempo e chegou aos nossos dias com oito desenhos cheios
de ingenuidade, força e frescura, que caracterizariam o seu autor José
de Beires Júnior, que se poderá admitir ter seguido a carreira militar.
Pela intercomunicação das coisas e dos seres veio parar-me às mãos e
suscitou-me a ideia de o dar a conhecer e simultaneamente fazer chegar
até à sua alma alguma luz e amor. Uma música do grupo Madredeus, com a voz sublime da extraordinária Teresa Salgueiro, Ao Longe o Mar, que encontra no fim do artigo, poderá ouvir desde já, até no sentido de recuperarmos mais a perenidade consciencial de tudo o que vale ou que amamos...
Possa muito da arte deste Álbum, já patente nas letras
que assim o intitulam, miniaturizadas e esmeradas beneditanamente, e
depois nos ingénuos desenhos, estimular-nos a sermos mais criadores e
cultores, com amor despertante, da beleza e da harmonia e, portanto, da
justiça e da fraternidade humana tão necessárias face a tanta
iniquidade e sofrimento que o imperialismo norte-americano e o neo-liberalismo
ocidental desencadeado no mundo. E assim a desenvolver mais a vontade ou a aspiração do amor, pois é
ela que nos arranca à mediana e tão perecível horizontalidade, tão manipulada ou mesmo opressiva...
De que nos falam os desenhos tão naifs senão do
caminho do ser humano, e assim no 1º par de desenhos deparamo-nos com a
face de um oficial garboso de capacete emplumado diante de uma criança
tímida segurando uma maçã nas suas mãos, qual prece de gratidão,ou
símbolo da busca do conhecimento e do amor, que se abre ou desafia a
todos. O 2º leva-nos numa fragata com um "P", talvez de Portugal, na vela,
rumo à travessia do Oceano, a que todos somos lançados nesta Terra, só
aparentemente terra e física pois bem mais vasta e subtil ela é. Na 3ª folha José de Beires Júnior apresenta duas imagens de animus, da alma masculina, a que o seu peito
aspirava e no qual se dilatava. Segue-se na 4ª folha a sua materialização
conquistadora no cavaleiro, no corredor ou jokey, aquele que sabe
dominar os seus instintos e chegar às suas metas, qual arcano VII no Tarot. Ei-los:
Assim se passa tantas vezes na vida, quando dois seres se podiam constituir em duas páginas seguidas de um livro mas por diversas causas se rasga tal contiguidade de almas afins. Talvez por isso o desenho que se segue é um monumento com um vaso de cinzas, ou como lhe chama José Beires Júnior, um túmulo, ao estilo grego. Quem se memoriza e resgata da Eternidade? Foi alguém que conseguiu realizar que o morrer é ser iniciado, ou seja, que é apenas iniciar-se um novo caminho nos mundos subtis e espirituais?
Para o seu último desenho (e porque não desenhou mais?) José Beires Júnior escreve com a sua letrinha de jovem: "Um eclesiástico considerando as reformas de 1870", ou seja, lendo o jornal Diário Popular.
Por fim, deixando para atrás a súbita descoberta (já aqui com as fotografias no blogue) de uma possível referência a Antero de Quental e às Conferências do Casino, entramos no último desenho, já não de Beires Júnior mas de um desenhador Marques no qual vemos um homem bem vestido, pujante de vitalidade e empunhando nas mãos dois vasos plenos de flores garridas, qual homenagem ao seu predecessor José Beires Júnior, seja antes a uma amada. Ou será que queria apenas estimular a consciência de termos as flores da nossa alma, bem coloridas e desabrochadas e de oferecermos mais flores a quem nos rodeia ou quem mais merece ou precisa?
Demos graças a José Beires Júnior, a Marques, a Antero de
Quental, a Teresa Salgueiro e aos Madredeus (nesta sua música que
nunca mais findará...) e que a Luz e o Amor brilhem nas suas almas de Fiéis do Amor e da Tradição Espiritual Portuguesa...
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