domingo, 31 de maio de 2020

Do Espírito individual e do Espírito Santo... Aproximações amplas...

Alguns de nós sabem, por tradição religiosa ou filosófica, estudo ou vivência, que somos um espírito, ou que temos um espírito em nós, mas em geral temos muito pouca ou mesmo nenhuma percepção dele, aliás confundindo alma e espírito...
Admitimos alguns, mais na sua demanda, que tal espírito seja uma centelha espiritual vivendo numa dimensão superior às nossas quatro dimensões e às suas leis do espaço e do tempo e que portanto possa até manifestar-se ora como partícula-centelha, ora como onda-corpo, dentro e fora do nosso corpo físico...
 É lícito então interrogar-nos, como nos podemos tornar mais conscientes do espírito, como o sentirmos mais?
A resposta mais comum e de quase todas as tradições e povos é pela meditação, a contemplação, a oração, ou mesmo a acção.
Por estas actividades concentramos a nossa energia psíquica e conseguimos nessa unificação torná-lo mais mais visível ou perceptível para nós e por vezes até para os outros.
Por exemplo,  o entusiasmo, que etimologicamente significa  estar possuído por Deus, estar em Theos, pode ser visto ou sentido como uma manifestação maior do espírito. 
E seja do espírito apenas individual nosso seja do misterioso Espírito divino, ou Espírito Santo, ou Espírito de Deus, do qual uma das imagens-eventos mais conhecidos é a sua descida sobre um grupo de discípulos ou seguidores de Jesus recolhidos em oração, no que se tipificou como o Pentecostes.
Não é fácil discernirmos quando eles, espírito individual e espírito supra individual e cósmico, estão mesmo em acção tanto mais que os entusiasmos religiosos, que têm no dito dom de falar línguas, uma das suas pseudo-manifestações mais espectaculares e em geral aldrabonas, apenas exigem uma personalidade que se excita e que pode estar só a dizer asneiras, de tal modo que o espírito divino de modo algum pode ser o inspirador antes devemos crer que é inacessível a essa pessoa, ainda que o tenha mesmo invocado.
Admitamos que quando estamos mais ardentes, entusiasmados, amando o que fazemos, com fé,  irradiamos mais energias, galvanizamos os outros, temos mais impacto neles e nisso está mais presente o espírito.
Assim esse carisma que algumas pessoas têm, nomeadamente de poderem mais facilmente se entusiasmarem e inspirarem, foi considerado um sinal espiritual, algo do qual se dizia que era a estrela dessa pessoa, tal como o grande poeta persa Saadi o poetiza no seu Gulistan, estrela do espírito que vai perpassar por muitas tradições e legendas, como a de Belém, hoje tão tingida de sangue...
 Poderemos então perguntar como e por onde pode o espírito realizar-se, manifestar-se ou irradiar mais?
Trabalhando, vivendo e meditando bem, realizando-o portanto mais permanentemente, deveremos reconhecer que as mãos, os chakras e os olhos se tornam meios, janelas ou portais de passagem de energias das dimensões psico-espirituais para a humana corporal física...
Pelo Amor que emana do centro (chakra) de forças subtis  do coração as pessoas sentem sentimentos-energias beatíficas ou benfazejas tanto a estarem, entrarem ou a irradiarem, tal como pelos olhos também algo do espírito, e da transparência maior ou menor nossa à luz divina, passa e se transmite em bons olhados...
 Depois os gestos e posturas também são melhores ou piores na transmissão de energias e forças, e lembremo-nos da imposição das mãos que Jesus recomendou e como muitas curas e de reikis se podem tornar uma complicação, desvirtualização e comercialice de tal dom natural e simples. Mãos que tecem, escrevem e enviam os lenços e as cartas de Amor, tão valiosas na nossa Tradição...
E, finalmente, pelas palavras de oração, de comunicação, palavras que têm força espiritual, que transmitem impulsões, que evocam o que se fala ou diz, que são eco da Palavra Primordial, do Verbo, da Sonora intenção divina amorosa e mágica ou psico-mórfica, isto é, modeladoras, transformadoras, transmutadoras das configurações psíquicas e físicas dos elementos do Cosmos.
Uma acção, grupal, ritual, teatral, performativa ou sacralizadora, que ponha todos estes níveis em harmoniosa interacção, certamente terá bastantes efeitos na irradiação do espírito, e sabemos como as religiões e tradições desde os mistérios gregos ao cristianismo trabalharam bem estes factores para tornar mais possível a intensificação da percepção da alma em relação ao espírito e também da manifestação qualidades mais elevadas do ser humano, consideradas dons divinos, tais como a fortaleza, a sabedoria, a piedade, a pietas, esta nuance de amor íntimo, tão valorizada por Erasmo, como mostrei nos comentários ao seu Modo de Orar a Deus, que publiquei entre nós.
Neste dia do Espírito Santo, cujo culto em Portugal foi acalentado com simbologias luminosas e potencialmente operativas desde o séc. XIII, nomeadamente com franciscanos, a Rainha santa Isabel e os templários, sobretudo em aspectos de solidariedade e fraternidade humana ou mesmo utópica, como tanto gostava de realçar e aprofundar o Agostinho da Silva, em 2020 sem grandes celebrações públicas devidas à misteriosa pandemia coronal, talvez possamos ficar, para concluir, com uma maior consciência dos dois níveis do Espírito (santo ou plenificante) que podemos trabalhar e inserindo-nos na Tradição Espiritual Portuguesa e seu Graal:
1º Ser mais o espírito imortal e eterno, um eu único, sem se deixar enredar em vazios budistas, hipnoses e regressões (por se pôr de parte do eu e deixar-se outro eu sugestionar, e por se atribuir a vidas passadas o que em geral são apenas conteúdos e associações psíquicas), mundos subterrâneos, espiritismos (em geral fantasias do próprio ou de entidades invisíveis) e fantasiosas reincarnações, canalizações e iniciações (das quais um dos fundadores foi o teósofo Leadbeater, o qual abriu as portas ou precedentes a Elizabeth Prophet e outros).
E tentar mesmo ver o espírito nas meditações, sermos alinhados, inspirados e fortificados por ele e logo irmos desenvolvendo criativamente as qualidades ou dons do espírito na horizontalidade do mundo e do quotidiano, onde tanta ignorância, violência, opressão e manipulação (liderada pelo eixo do mal norte-americano e dos seus aliados e médias vendidos mundiais),  exigem de nós resistência sábia e  criatividade de alternativas, nomeadamente biológicas, comunitárias, não-violentas, solidárias, artísticas, culturais e espirituais.
2º Com regularidade, ou mesmo por consciencialização mais constante, invocarmos e abrir-nos mais à Divindade, ao Espírito Divino, ou Santo ou Unificador, ou Feminino, e aos seus grandes seres, mestres, anjos e arcanjos (saudações ao da Guarda de cada um e ao Arcanjo de Portugal, que não é Mikael), que transmitem  as suas forças, correntes e bênçãos de Luz e de Amor para nós e e o planeta Gaia, no corpo místico da Humanidade e da Terra ou noutra linguagem no Campo unificado de energia, consciência e informação em que estamos todos interligados...
Luz - Amor - Verdade - Liberdade. 
Spiritus, Jivatman...
Spiritus Dei, Aum...
Lisboa, escrito em grande parte no dia de Pentecostes, 31.5.2020.

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Aurora canora, na sacra Lisboa. Com 36 segundos de vídeo final.

                             
                                                  Aurora
                                          Pingos Fluídos.


Os jardins da Lisboa recatada e sagrada
são despertados pelas odisseias e laudes
desferidas pelos anónimos cantores
que na linguagem subtil das aves
se inebriam nos píncaros das suas visões
do resplendor da aurora solar e divina.

Quando tentamos com eles vibrar
sentimos o pesar do nosso intelecto,
incapaz de destilar do cérebro e voz
uma tão bela canção de amar e louvar.

Fremem de alegria esfuziantes as aves,
transmissoras de ocultas mensagens
que silfos e elementais do ar e do éter
lhes fabricam na invisível alma do mundo.

Nós, semi-adormecidos ainda os corpos,
temos de despertar, batalhar e sorrir
para que a circulação irrompa de novo
e sejamos cavaleiros do Graal do Amor.

De braços bem abertos ao astro divino,
mora no nosso peito o oculto resplendor,
saibamos  vencer no dia todas as limitações
e gerar mais belas e divinas manifestações.

                            

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Dos Diários, de 1994. Amor, Livros, Cruz e Barroco.

Mais recolhas de diários antigos, este de 1994, quando vivia  à vista do convento barroco de Mafra:
Amor é um forno ou vaso alquímico onde se fundem corpos, almas, espíritos.
Fundem, fusionam, sublimam ou desintegram-se.
Saber preservar a energia central, elevar as potências sensitivas, intelectivas e voluntárias a pontos ou níveis superiores, eis a obra.
Um despertar interior, um domar as serpentes, a vara de Hermes.
*-*
Livros - Quando são tocados pelas mãos, arrumados e interiormente sintetizados pela nossa visão actual eles ganham nova vida, força, verticalidade. Nas prateleiras onde estão ganham brilho e permitem uma maior nitidez ou irradiação do seu valor para connosco, e talvez mesmo para um visitante que chegue.
Os livros enviam-nos das suas lombadas comprimidas algumas emanações dos seus conteúdos, como mensagens subtis ou ténues, que em geral não nos apercebemos. Mas deveríamos com alguma regularidade fitar uma ou outra estante e sentir que livro nos chama e quer nas nossas mãos transmitir-nos algo.
Os livros são como peões, ou por vezes peças mais importantes, no tabuleiro do nosso jogo de xadrez da vida e da morte, do bem e do mal.
Cada dia há jogadas negras e brancas e nem sempre são só as nossas as brancas, nem sempre são as melhores as que vencem e devemos saber aceitar desprendidamente o que se vai passando ainda que lutando para chegarmos aos objectivos e missões que nos vão sendo oferecidos no desenrolar do jogo da vida. Bons livros auxiliam-nos a jogarmos bem.
*-*
Cruz – O seu significado principal é o de sinalizar-nos que no centro do nosso ser, da nossa cruz, está o espírito, o Divino em nós e que esta descoberta e vivência é a missão principal da nossa vida. Tudo o mais será dado por acréscimo.
                       
Barroco – Uma época marcada pelas reformas e lutas religiosas, os progressos de enriquecimento e da burguesia, produzia uma movimentação tremenda de novidades, de engenho, de esforço, de sensualidade, de individualidade, bem patente na arte, arquitectura e na literatura.
Majestade, Império no topo da hierarquia, mas também florescimento, desejo de libertação, iluminação, ascensão, triunfo em todos os actores do grande teatro da vida. Democratização pois, com a arte a tratar cada vez mais do quotidiano e do corriqueiro com foros de sagrado, com uma mística a tornar-se cada vez mais a estrada estreita mas para todos, nomeadamente pelo culto apaixonado dos intermediários, santos e santas, Anjos, Jesus e Maria, cada vez mais ao alcance de qualquer freira ou devoto, em livros, exercícios, pinturas e estampas
Lágrimas e risos, Demócrito e Heraclito, tensões de opostos e dos paradoxos, assumidos e bem cultivados mentalmente, argutamente mesmo, o ser humano encaminhava-se sob muitos condicionamentos e artifícios para o alargamento da consciência, a liberdade, para o amor mais universal, para a emancipação da religião e do despotismo absoluto.
Os escritores mais iniciados, no Barroco, são os que vêm mais longe, para trás e para a frente e chegam a uma gnose mais profunda de si mesmos e da realidade que observam, intuindo os níveis subtis em que se manifesta a essência humana, a alma do mundo e a previdência divina e apoiados nessas correspondências e analogias, nessas leituras das simbólicas substanciais do Universo se projectam em sonhos, obras e aspirações para uma Humanidade e um futuro melhor, agindo como criadores, cientistas, democratas, livres pensadores, humanistas, universalistas, ecuménicos.
Entre nós, Rafael Bluteau, Manuel Faria e Sousa, o P. António Vieira, D. Francisco Manuel de Melo e soror Violante do Céu foram alguns deles. E a soror Josefa de Óbidos, representada com esta imagem final, do trânsito feliz da amorosa Maria Madalena, tão consciente ou acompanhada dos Anjos na sua entrega libertadora final.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Poema a Joaquim Agostinho, ciclista, na sua morte. Do diário de 1984, no Porto, no meio das aulas de Yoga..

Na minha adolescência Joaquim Agostinho foi um dos pequenos heróis, que nos Verões nos animava nas suas batalhas contra si próprio, os elementos e os outros ciclistas, estradas e montanhas empinadas e de descidas perigosas. 
Um pouco antes de ele morrer tão precocemente (1943-1984), quando estava na Índia e numa viagem de bicicleta mais difícil de alguns quilómetros de Auroville, a cidade do futuro que então nascia do sonho de Sri Aurobindo e da Mãe, e à qual me enviara o meu mestre de então, o Kavi Yogi Shudhananda Bharati), para Pondichery e volta, foi com o seu nome como mantra que consegui esforçar-me mais e fazer a tempo tais trajectos. 
Por isso, quando ele teve um acidente que se antevia fatal, estando eu a orientar aulas de Agni Raj Yoga no restaurante dietético e espaço alternativo Suribachi (ainda hoje a funcionar à rua do Bonfim, Porto), registei-o numa folha de diário de 1984. E, nestes tempos de relativo confinamento, veio ao de cima e transcrevo o que senti, pois é uma homenagem poética e espiritual, qual oração, a Joaquim Agostinho. 
Muita luz, amor e ligação divina para o seu ser, onde estiver.
«1 de Maio. 
Trovoada e granizo na cidade. 
Meditações, escritos, movimentação, refeição, ida ao cemitério e conversa com adventistas (um pouco fanatizados). Choro com um filme na TV, e há invocação do [mestre] Morya por não o estar a acompanhar.
 Oro por Joaquim Agostinho, um companheiro em coma.
 Sinto gratidão pelo que o Porto me tem dado de coisas e de pessoas.
Foi uma estadia passageira mas com alguns ensinamentos feitos a pessoas nas aulas de Yoga:
Maria Emília e João Aidós, despertaram.
Maria Elisa e Manuela.
Maria Augusta, [as duas professoras] Manuela e Eugénia e [a enfermeira] Fernanda.
Conversas frequentes com Sant'Anna Dionísio e Dalila Pereira da Costa.
Textos que dei para as aulas
Escritos para jornal.
Preparar melhor os alunos.
(...)
Próximo ano vou dar só seminários intensivos em fins de semana, procurando antes estabilizar e trabalhar a terra e o céu. Preciso de trabalho físico, contacto com espíritos da natureza. Aqui na cidade asfixia-se. Depois preciso de independência, de criar o ambiente e os horários naturais. É certo que ainda sou apenas um discípulo, um indivíduo a disciplinar o seu eu inferior. Por isso mais ainda preciso de fortificar este estado, para poder mais tarde veicular as transmissões divinas.
Começar a dar mais coisas e estados às pessoas...
*-*-*
  «Joaquim Agostinho, um dos maiores heróis portugueses dos últimos tempos, morre lentamente. Minha alma está triste. A própria natureza chora em raiva impotente. É um campeão que se esvai. Um descuido, um pequeno esforço a mais e eis uma vida desfeita.

Salvé Agostinho, valente escalador das montanhas,
destemido aventureiro de músculos rijos
e decisões fortes e firmes.

Salvé Joaquim Agostinho, 
que os Anjos e os Mestres estejam contigo,
que as bênçãos de Deus te iluminem,
que a Luz e Amor te guiem, amigo.

Rotas cruzadas na terra, agora eleva-te no éter,
transforma a tua força em aspiração a Deus.»
 
Pintura de Bô Yin Râ. O caminho para a montanha divina, Himavat. Que Joaquim Agostinho a possa contemplar ou mesmo subir, tal como nós. Aum...

domingo, 24 de maio de 2020

Às Musas, Tágides e almas afins, no Graal da Poesia e do Amor...

 Mais uma recolha de um poema, escrito há uns 4 anos antes de ir participar numa tertúlia poética, de certo modo invocando a inspiração, o mistério da poesia, da musa, do fogo do espírito e do entusiasmo, e entregue às Tágides nossas e almas afins...

A poesia é uma musa
Que cada ser tem em si
Mas como pouco a sintoniza
Dispersa-a sem a Luz sua.

Quis então rasgar o peito
e encontrar-te no coração
Desconhecia que me envolvias
e que tua alma é uma com a minha. 

Musas somos todos uns dos outros,
caminhamos espargindo clarões
na noite escura da indiferença,
e que felicidade há na comunhão.

Perguntei ao Espírito
que me inspirasse mais
e ele mandou-me
a ti me dirigir.

Assim tracei esta poesia
e num barco de papel
entreguei-a às Tágides
e ela aí vai rumo ao Oceano.

Comungar de uma tertúlia
é sempre muito auspicioso.
Quem sabe que musa ou graça
Desce dos céus e nos ilumina.

Assim dediquei esta poesia
às almas luminosas e afins
que neste Graal da Poesia
fazem o milagre da Unidade
e cultivam o Fogo do Amor
que a todos os intensifica
e em todos quer arder mais.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Um poema de ensinamento espiritual, de Pedro Teixeira da Mota.

                                              
Diz-me, persistes tu no ritmo certo
que te leva às profundezas e às altitudes
que desvendam as potências do ser na vida
e te abrem as portas do mundo espiritual?

Tens de persistir na subida da montanha,
tens de bater repetidas vezes no portão
que se abre para dentro do teu coração
se queres ver mesmo amanhecer a Verdade.

Tens de humildemente orar e silenciar,
Invocar e contemplar em aspiração,
até o mundo espiritual te poder abençoar
e ficares feliz com a desejada unitiva visão. 

Comungar com o anjo da Guarda subtil,
contemplar a mística estrela pentagonal
e por fim comunicares com os mestres,
eis as etapas no caminho para o divinal,
para que vivendo tu em verdade e a amar
Deus possa renascer em ti e te plenificar.
Vale!
Escrito. 0o:04 de 22.V.2020. E corrigido às 21:33.

Um poema espiritual à Divindade, por Pedro Teixeira da Mota.

   Mais recolhas de poesia, esta de 5.X. 2019:


«Meu Deus, eu te amo dentro de mim,
Dentro dos MadreDeuses que te cantam,
Dentro dos que visito em doenças.

Como gostaria de onde chegar,
Com quem estivesse a conversar,
Transmitir a tua irradiação viva,
Acima de obstáculos e intrigas.

Meu fundo e centro ignoto,
Dá-me forças para a ti me doar,
Dia e noite a ti consagrado,
Capaz de arrancar pessoas das trevas
E pô-las em melhor sintonia contigo.

Centro íntimo de cada alma viva,
Sim, eu te adoro servindo-te
Nesta rutilante aventura da vida
Em que ora sofremos ora rimos.

Danças, gemidos e paralisias,
Partos e rasgares do peito,
Amor a sair pelas janelas do peito,
Fogo ardendo pelos céus acima,
Queimando distâncias e limitações,
Unindo almas e solidões.

Chegar ao fim do dia
E o coração ser um vulcão.»

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Ensinamentos do Amor, em postais.

                             Abrirmos as portas do coração, da alma, da confiança, do amor...
Oh tu, alma amada,
 distante no espaço
embora possamos comungar na telepatia, 
que liga quem se ama.

Gostar é já o começo da possibilidade
 do amor se intensificar,
do virtual desabrochamento do centro do coração
que se abre e derrama a essência do nosso ser para o outro,
tingindo-nos dele. 
 
O Amor é assim estarmos em unidade sacrificial e graciosa.
Parte de vários níveis, os principais sendo
o coração como sede do afecto
e da irradiação subtil do enlaçamento
ou harmonia desejada com os outros,
sendo a aspiração a Deus, ou Amor a Ele,
fonte de Amor, a sua base e o seu pináculo.

O amor humano é uma tentativa 
de se alcançar a comunhão do Supremo Bem com outro ser,
o que é então uma tentativa de dois seres
assumirem a Divindade neles.
O Amor une então dois seres à Divindade,
ao Amor Primordial.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Da demanda espiritual por entre o espólio de Fernando Pessoa: um poema espiritual e rosicruciano, de Pedro Teixeira da Mota.

A minha peregrinação no espólio de Fernando Pessoa, na Biblioteca Nacional de Lisboa,  começou no ano de 1986 e foram três anos de muitas horas dedicadas a decifrar e a ler os seus papéis dispostos em pastas e que ia transcrevendo para um e depois dois cadernos, a que se juntavam fotocópias de numerosos documentos, em especial os mais difíceis e valiosos, resultando disso após moroso e amoroso trabalho a impressão de quatro livros de inéditos e vários textos e conferências. 
No ano de 2020, graças ao confinamento, pude ordenar melhor o imenso arquivo de escritos soltos, ou de diários. Ou então de cadernos temáticos, como esses dois dos documentos de Fernando Pessoa.
Ora por entre as transcrições de poemas ou sobretudo textos ocultistas, ia escrevendo algumas reflexões ensaísticas ou mesmo poéticas, de algum modo lançando as minhas flechas semi-poéticas e tentando sondar os mistérios do ser e da espiritualidade, em geral, em Fernando Pessoa, em mim, na Tradição Espiritual Portuguesa. 
No meio da tarefa de decifração e entendimento da opus pessoana, tais momentos auto-criativos eram como um súbito respirar por mim próprio, na elevação vertical que as minhas forças geravam em diálogo com a demanda de Fernando Pessoa e a Tradição Perene,  muito certamente sinais da comunhão no fogo comum que alimenta, inspira ou intensifica os peregrinos e espirituais. 
Eis um deles, embora a transcrição fiel de 2020 deu lugar a uma melhorada em 2021, como pode discernir pelas diferenças efectuadas:

«Participando da mensagem de Pessoa
somos então emissários dum Oriente oculto,
mistério traçado nas linhas invisíveis do futuro.
Acreditamos então na vida, este jogo sem fim de se erguerem
histórias contadas das dores e alegrias
sem fim do mundo,
Em nós então recuperando tábuas de salvação de comunhão.
Remos traçando rotas nos desertos das multidões de pensamentos,
Solitários  cavaleiros esquadrinhando horizontes infinitos,
sob a calma abóbada divina ora silenciosa ora esfuziante de sons.
Assim participamos nesta vida invocando a sagrada consciência,
esta chama que em nós relampeja e dá calor ao corpo e luz à vida,
e ousamos então ressuscitar nossas almas, séculos oprimidas,
levantá-las em comunhão com o que Pessoa revelou na intuição
de que afinal a demanda do santo Graal é aceitar de Deus o sinal
 da descida da luz poderosa, em nós subindo a gratidão amorosa.
Assim vivemos a Rosa da cruz, o Amor vencendo o sofrimento
Olhos irradiante para que os males sejam dissipados pela Luz,
Elevando-se o nosso ser à irradiação da Glória e do Amor Divinal.»


terça-feira, 19 de maio de 2020

Poesia da Natureza e do Espírito, com desenhos simbólicos. De Pedro Teixeira da Mota.

Nestes tempos de maior recolhimento, e logo de arrumações e ordenações de milhares de escritos, em papéis soltos por vezes com desenhos, gerados ao longo dos anos, alguns vêm ao de cima e pedem-me para os salvar do anonimato ou mesmo da destruição e lançá-los antes ao graal de almas amigas (e da posterioridade...), as quais poderão talvez recebê-los com algum benefício, tal como o de lerem (palavras e símbolos, estes algo subtis...) e contemplarem ou comungarem a mensagem poética, depositada tão fragilmente em papel azul leve mas contudo invocadora das potencialidades e perenidades de cada alma, na Unidade e no Infinito... 
                                        Aum... 1 à UM.....



«As poesias
Cantigas,
árvores e o vento
Lamentos da chuva.

Em cima da mesa a uva
E do tanque a frescura.

Passa a hora
na planície
E só o viajante passa
Está só de si mesmo
É parte do todo.»


"1 à Um"    "Viajantes serenos na Unidade de tudo"   *

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Uma oração espiritual ao Anjo da Guarda. Por Pedro Teixeira da Mota.

Santo Anjo da Guarda,
minha querida companhia,
dai-me firme a tua mão
para te sentir no coração.

Faz com que as tuas asas
e as infinitas de Deus
influam na minha alma
e a façam em paz brilhar
na aureola profunda
da comunhão constante
com a essência espiritual.

Ajuda-me a caminhar
com o bordão das virtudes
e no eixo dos mundos,
que tu conheces e mostras,
para que Deus esteja
mais presente em nós
e nos livre de desgraças,
pelo Amor invencível
do Bem e da Verdade real.

Saibamos erguer-nos da horizontalidade e comodismos, e erguermo-nos na espada ou vontade angélica, de abertura à comunhão com a Divindade!

quarta-feira, 13 de maio de 2020

"Réquiem", na editora Tartaruga. Poesia de Manuela Morais sobre os tempos actuais.

Acabou hoje de me chegar pelo abnegado carteiro mais um presente da Tartaruga, ou seja, foi dado à luz o último livrinho (in-8º de 38 p.) da apreciada editora alternativa Tartaruga, sempre com o seu grafismo e qualidade de papel de grande qualidade. 
E se muitos têm sido os autores publicados nos mais de oitenta títulos em carteira, este é mais um da autoria da própria fundadora da editora, a transmontana Manuela Morais, uma vida muito completa, licenciada em Literatura comparada, tendo acompanhado prolongadamente, ou vivido em amor e dedicação, dois grandes artistas Fernão de Magalhães Gonçalves, professor de literatura, leitor de português e grande amigo de Torga (sobre quem escreveu dos melhores ensaios) e, depois da sua precoce morte na Coreia do Sul, o escultor, pintor, medalhista e sábio da geometria sagrada Espiga Pinto, que passou a ser o ilustrador das capas e não só.
Este último livro tem ainda a actualidade de ter a sua génese na famigerada pandemia que tem perturbado bastante a vida e a morte de muita gente. É um canto da sua alma, simples mas sentido, de angústia e amor, de morte  e renascimento, e por isso foi gerado em verso e reverso: Réquiem e Canto da Alegria.
Tendo-me pedido umas palavrinhas para a contracapa, eis o que lhe enviei, e que ficou no meio das palavras de Cláudio Lima, Júlia Serra, e nas de dois amigos antigos e grandes Afonso Cautela, um jornalista pioneiro da ecologia e da saúde natural já a pendular nos outros mundos (e ver o artigo que lhe dediquei  https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2018/07/afonso-cautela-vida-e-obra-com-um-video.html, e, a fechar o canto laudatório, o Rão Kyao, sempre soprando a sua flauta tão religiosa como pacificante...
 «Requiem e Canto de Alegria. Estes curtos mas incisivos poemas reflectem uma viagem sensível da autora tanto no inferno das vidas abruptamente cortadas e para o mundo do além atiradas sem qualquer preparação e celebração, como no purgatório dos que vivos sofrem a doença, os confinamentos, os receios, as angústias. É um pequeno filme de uma cidade ocidental em quarentena perante um misterioso e muito destrutivo vírus. E contudo, com o passar do tempo, com as forças da primavera, com as vitórias de muitos, começa a soprar uma outra viragem na alma pela qual a autora passa a sentir o amor subtil e imortal que parecia para sempre desterrado, morto. Os últimos poemas são um canto à esperança e renascimento, à vida e ao amor, em especial à comunhão amorosa com o amado, mesmo que já partido para o além. Através destes poemas somos convidados a comungar no corpo místico da humanidade, pois onde há amor ai está Deus, a Unidade, e esta infunde paz e esperança em cada individualidade e em toda a Humanidade.» 
Por fim, fiquemos com o 17º poema dos vinte e um, e inspirações e realizações de Saúde e Força, Discernimento e Destemor, Luz, Amor e Paz!

segunda-feira, 11 de maio de 2020

O "imenso olhar" de Antero de Quental, nos sonetos de Carlos Eugénio Corrêa da Silva (Paço d'Arcos).

É na Visão imperfeita dum Parnaso cristão, dada à luz postumamente em 1932, prefaciada por Vieira de Almeida e dedicada a Ladislau Patrício (entre outros destinatários dos sonetos), que as primícias poéticas do malogrado Carlos Eugénio Corrêa da Silva (Paço d'Arcos) chegaram até nós, presenteando-nos com sonetos de profunda erudição e sensibilidade, embora talvez sem a fluidez musical que lhes poderia corresponder. 
 Era Carlos Eugénio um espiritual cristão, com algo de um místico medieval ou humanista mas com os anseios apropriados da modernidade, mormente na unidade entre o catolicismo e o paganismo, entre a civilização greco-romana e a ocidental cristã. 
Os 33 títulos dos sonetos dividem-se em 3 partes:
A I - Medalhas, subdividida em 3 capítulos, intitulados: De Delos ao Baixo Império (com 6 sonetos), Do Monte Cassino  a Versailles (com 4) e No Limiar do Mundo Moderno (com 11). Algumas grandes almas greco-romanas são invocadas e homenageadas, tais como Eneias, Cícero e Marco Aurélio, mas também locais, tais como Beja, onde uma jovem grega Nike recebeu versos exarados no seu epitáfio e que anunciam os de Camões a Inês de Castro.
A II - Impressões de Viagem contem sete sonetos, sobre S. Tomé e Príncipe, Barcelona, Lago de Lugano, Alentejo (2) e castelo de Marvão.
A parte III e última, Folhas da árvore da vida, tem quatro conjuntos sonetos, com títulos bem significativos, o último A uma rapariga linda e doente, composto no sanatório Sousa Martins na Guarda, contendo três sonetos, belíssimos, trágico, pois narra, já condenado pela tuberculose (o mal do século, sobretudo nos poetas) o enamoramento breve pelo seu "anjo de caridade",  e como a mão da Maria Celeste F. apoiou-o e com bálsamo precioso ungiu seu corpo e  alma, preparando-o para o Morrer é ser iniciado, que a Antologia Palatina dos gregos, Antero de Quental e Fernando Pessoa tinham afirmado e escrito. 
 Fotografemos a página intervencionada do terceiro e último soneto e transcrevamos os dois tercetos finais dessa dedicatória final, e com votos que no mundo espiritual se tenham reencontrado : 
«Deus há de coroar tua fronte formosa
Pois bálsamo trouxeste ao pobre Prometeu
Agrilhoado ao leito, à noite dolorosa.
 
 Onde vou? Ninguém sabe. À Morte? À vida? Ao céu?
Quiseste ser p'ra mim a aurora luminosa
De um dia mais feliz que nunca amanheceu.»

Depois desta contextualização, bem pequena para a imensa sensibilidade e erudição de Carlos Eugénio, depois de anotarmos que em 1931 a imprensa da Universidade de Coimbra dava à luz a antologia dos seu textos em prosa, de doutrina ou sensibilidade católicos, a Jornada de Um Crente, vindo a publicar-se depois ainda a Vita Brevis, com prefácio de Joaquim de Carvalho, transcrevamos, dessa II parte onde Antero ombreia com as outras referências de Carlos Eugénio, tais como Schiller, Bethoven, Chateubriand, Vigny, Psichari, Teresa de Brunswick,   o belo e sábio soneto dedicado a Antero de Quental:
«O Divino Platão disse a um filho errante:
Hoje reina a Matéria! O Espírito morreu!
Mas quem pode esquecer que eu transportei ao céu
A subsistente ideia em seu fulgor brilhante?

Na Grécia rica em luz em meu poema distante
Um pensamento eterno ao jovem mundo deu.
«Vai tu lampeão acesso em denso véu
Falar no Pensamento ao mundo agonizante!»

Assim falou Platão... E Antero do Quental
(Era ele o filho errante) ao mundo gasto trouxe
Um pensamento expresso em estilo de cristal.

Ébrio de soluções, no Oceano embrenhou-se...
A dúvida afogou-o. Em parte o mal.
Ergueu o imenso olhar. Faltou-lhe a fé. Matou-se.»
 Muito belo esta ligação, muito evidente, entre Antero de Quental e Platão, e implicitamente com Sócrates, com quem aliás Antero até se comparou no sentido de ser mais um dialogante que um escritor e, quanto a mim, por terem sido dois mártires do conhecimento e do amor, Logos. Na Grécia eles tinham elevado o pensamento até ao mundo arquétipo ou das Ideias, mas como agora a matéria triunfava cada vez mais sobre o espírito, era preciso um novo cavaleiro andante (ou "filho errante") e por isso Antero de Quental enviado à Terra com missão elevada.
Todavia, com mil hipóteses diante de si, ébrio do vinho do conhecimento das grandes questões e soluções, as dúvidas, o mal e a falta de fé acabariam por o fazer sucumbir e mata-se.
Este diagnóstico é correcto, em parte ou na totalidade?
Parte de um observador imparcial e conhecedor dos problemas em causa, ou há algum tingimento da sua religiosidade católica.
Que se inebriou, sobretudo em Coimbra, das mil soluções filosóficas sociais e religiosas que se agitavam nos ares europeus, certamente. Que tenha perdido algum tempo nisso, mais do que seria desejável, bem possível. Que tenha enfraquecido e adoecido, em parte também por isso, certamente possível também, pois desgatara-se ao não estar a cumprir a sua vocação mais alta, que no caso seria a de que o mestre Platão lhe destinara...
As dúvidas e a falta de fé, enfraquecem-no? Em parte, certamente, embora elas possam ser estímulo a trabalho mais intenso, como Antero exprime na sua evolução de cosmovisão nos Sonetos e como compreensão filosófica espiritualizante que se confirma nas Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX, dada à luz uns meses antes de morrer.
Quanto ao mal, eis uma acusação quase, complexa, pois como um dos sucessores de Antero de Quental, Fernando Pessoa, se afirmava no último poema da Mensagem na mesma época de Carlos Eugénio Paço d'Arcos, ninguém sabe o que é o bem e o mal. Mas admitamos que Antero tenha namorado ou cultivado demasiado tempo o pessimismo, o niilismo, a morte e por isso se tenha deixado enfraquecer na sua solaridade espiritual, contribuindo para uma diminuição de forças psico-somáticas e até de fé e vontade de prosseguir a sua demanda.
Mal por oposição ao Bem, não. Antero foi nesse aspecto um santo, sempre lutando pelo bem do próximo, pelo bem da humanidade, crente nas forças positivas e de uma humanidade melhor. A sua ampla correspondência é um testemunho notável disso e constante ao longo de toda a sua vida.
Mal físico? Esse, provavelmente sim. O desarranjo psico-somático enfraqueceu-o demasiado e sentiu-se sem forças ou já sem missão para continuar na terra. E logo, "samuraicamente", matou-se.  
Ficaram a sua poesia amorosa e revolucionária inicial, e, como Carlos Eugénio realça os seus sonetos cristalinos, numa sua dura e sentida pesada travessia do das correntes do pensamento da época, que culminam em cinco ou seis sonetos, tais como o Mor-Amor, Com os Mortos, Comunhão, Solemnia Verba e Na Mão de Deus, pois, como diz bem Carlos Eugénio Corrêa da Silva, Antero de Quental era um "lampeão acesso",  dotado de um "imenso olhar"
Todavia, talvez, apesar de tudo, Platão e Sócrates estivessem ao seu lado quando acabando de se matar se viu num além diferente do que pensara. E a própria mão de Deus, na sua luz dourada, recebesse o seu puro e atribulado coração-alma em sangue, quem sabe se até pouco depois com as suas crianças adoptivas, tragicamente atingidas, chorando e rezando por ele com capacidades intercessoras. 
E depois, a sua legenda dourada, com tantos anterianos tecendo considerações valiosas sobre a sua vida, obra e morte, com o decorrer do tempo no além, ele próprio já não apenas como coração cansado descansando nas mãos de Deus, se tornasse o espírito, filho de Deus, mais consciente desta verdade e das realidades correspondentes, lá no céu das Ideias, onde certamente sorrirá, lampeão de olhar imenso, a estes pensamentos e sentimentos tanto do Carlos Eugénio Correia Marques como meus e  seus, leitora ou leitor.
Foram dois seres unidos  numa comum aspiração amorosa e gnóstica, em ambos mais ou menos meteórica e um pouco infausta, mas certamente ao nível de alma de grande luz e perenidade.
Muita luz e amor em Antero de Quental, e em Carlos Eugénio Corrêa da Silva e sua Maria Celeste, e para nós, nesta comunhão no corpo místico da Humanidade.

domingo, 10 de maio de 2020

Yoga e a Índia em Portugal. Ensinamentos na década de 1980.

Ños anos 80, depois de ter estado dois meses e em seguida um ano na Índia, praticando os vários yogas e aprendendo com mestres e em ashrams, ensinei yoga esporadicamente em Gilde (S. Torcato, Guimarães) e Braga, com regularidade em Lisboa, Évora e Covilhã e sobretudo no Porto, no restaurante macrobiótico e centro alternativo Suribachi, à rua do Bonfim, ainda hoje em actividade, e onde antes de mim estivera a ensinar o Carlos Hargraves. Além das aulas, meditações, diálogos ou satsangas e idas à Natureza, dava umas folhinhas com ensinamentos tradicionais e dos mestres que conhecera, com  o esquema da sequência das posturas e práticas nas aulas e com explicações de espiritualidade e yoga.  
A Manuela, o Miguel Canelas e eu, na muralha do castelo de Guimarães.
As aulas continham uma síntese, um graal, de Raja Yoga, na linha de Yoga Vedanta e do que aprendera na Índia com mestres e instrutores, e dos ensinamentos dos livros de Agni Yoga, mais o que ia descobrindo.  Ensinava sob a denominação Agni Raj Yoga.
Na quarentena de 2020, pondo os milhares de livros, imagens e papéis em ordem, encontrei  algumas folhas e vou transcrever uma, com acrescentos ou explicações entre colchetes:
                                      Textos sobre Yoga.
Das Upanishad (2.000. A.C.) [Embora os Vedas tenham começado a ser compostos oralmente nesse período, as Upanishads, que fazem parte dos quatro Vedas,  começam a surgir por volta do séc. VIII, a.C.]
- Conduz-nos do irreal ao Real [Verdade], da escuridão à Luz, da morte à Imortalidade. [Asatoma sadgamaya, Tamasoma jyothirgamaya, Mrithyorma amritangamaya.   Proveniente da Bṛhadāraṇyaka Upaniṣad (1.3.28.), recentemente traduzida por António Barahona, e que é muito utilizada como oração yogi.

- O Conhecedor [o que adquiriu o conhecimento verdadeiro] é feito de fé, de verdade, de exactidão recta de majestade - e de Yoga (a sua alma).
- O corpo humano é um carro puxado por cavalos indisciplinados (os sentidos), que o cocheiro (o pensamento) não consegue dirigir. A alma - atman - embarcada nesta corrida para o precipício sofre, a menos que o Yogi abra a sua inteligência intuitiva do coração à luz de Atman...
- Aquele que sente em si a necessidade de saber, o desejo de salvar-se (mumuksa) possui já em si o sagrado Atman a agir para a sua libertação. 
- Diz-se que o Espírito humano pode ter dois aspectos, o puro e o impuro. Este quando se é escravo do desejo, puro quando está livre do desejo. É o pensamento a causa do cativeiro ou da liberdade dos humanos. Se apegado aos bens deste mundo conduz ao sofrimento, mas livre desta ligação conduz à libertação. É só quando o espírito humano está livre de todo o apego que conquista o auto-domínio e que extinguindo [silenciando] o pensamento atinge o estado supremo [Ou uma certa comunhão com o Espírito]. Mas enquanto a instabilidade reinar no seu coração longos serão os esforços para a realização. Conhecimento (Jnana) e Meditação são estes esforços. É preciso portanto combinar  a prática atenta de Yoga com a enunciação da sílaba secreta OM, cujo silêncio final se dirige para o Ser. Quando o adepto reconhece que ele próprio é  Brahman, ele realizou-o para sempre. 
[Esta identidade de atman (espírito, ou o ser em nós com Brahman, pois haverá só este Brahman, Divindade, Espírito Abslouto, ou Eu, é a visão e realização Advaita (ou não dual), de muitos yogis e filósofos. Já outros, onde me incluo, são Dvaita, dualistas, sentindo ou realizando que são duas realidades verdadeiras  mas diferentes, o espírito individual (atman ou jivatman) e o Espírito Absoluto, Atman ou Brahman]. [Assim hoje a afirmação final seria assim redigida por mim:  Quando o praticante toma consciência da sua ligação com o Espírito (atmam) ou com a Divindade (Brahman), obtém uma certa realização luminosa, mais ou menos profunda e duradoura.]
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[Citações de Mestres] Contemporâneos:
Sri Yogi Jnana Sidha (mestre do Kavi Yogi Shudhanana Bharati): -Yoga é sentir na alma a unidade embraçante [envolvente] de Deus.
                                   
Sri Yoga Shudhananda Bharati (um dos mestres com quem vivi mais tempo e me iniciou, em Ram Nagar, Madras): - Procurai a companhia dos grandes seres (satsanga) mas sede vós mesmos.
- Elevai-vos acima das personalidades até ao Eu impessoal que está no vosso coração. Sede sempre centrados em Deus.
- O Yoga estabelece-te dentro de ti mesmo, independente dos outros. 
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Sri Yogi Vidwans (um dos mestres que me iniciou, sendo yogaterapeuta em Wardha): Através das cinco Yamas [As cinco observâncias de Raja Yoga: Satyam, a Verdade, Ahimsa, a não-violência, Astheya, o não roubar, Aparigraham, o desapêgo e Brahmacharya, o controle da energia sexual],  reduzem-se as tensões sociais e a cooperação e simplicidade generalizam-se. A dedicação de tudo ao Divino  (Iswara pranidhana) é habilidade de estarmos conscientes da sua Presença.
O Guru (Mestre) é o que destrói as trevas. O que vira as almas para a luz.
 O Yoga ajuda a despir-nos das malhas que nos puseram em crianças e torna-nos seres livres.
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Sri Morya: Agni Yoga [O mestre que teria inspirado o ensinamento de Agni Yoga ao casal russo Helena e Nicholai Roerich, este um fabuloso pintor, como vemos na imagem. Estive no local onde ele viveu em Naggar, Kulu Valey, e correspondi-me com o filho Svetoslav.] 
Hagia Sophia e a bandeira da Paz: a religião, a ciência e a arte em triangulação no círculo da cultura
- «Eu proteger-te-ei com um capacete de fé, uma armadilha de devoção e um escudo de vitória. Mas na bandeira estará inscrito: Amor - O Conquistador. 
- A transmutação da consciência é a substituição da memória pela compreensão do Espírito, envolvendo todo o ser como um chama.
- Notai o efeito do pensamento de matar e acção de matar no espectro da aura. Os resultados serão idênticos.
- O Mundo inteiro está dividido por uma linha de fronteira dentre o bem pessoal e o bem geral. Quando agimos na esfera do bem geral e temos motivos sinceros, então por detrás de nós acha-se toda a reserva das acumulações cósmicas.
-A Fé em si próprio e a procura da Verdade criam a Harmonia.»
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Saudações aos que buscam.
Ligação para esclarecimentos: Sri Pedro
Quinta do Gilde. S. Torcato, Guimarães. T: 42875 (de Braga).»