O que permanece vivo da luminosa aspiração e tradição do Humanismo dos séculos XV e XVI é uma questão debatida por muitos seres debatido e sem dúvida cabe a cada um de nós tanto investigá-la como mantê-la viva no que podermos e soubermos nestes tempos mentais cada vez mais manipulados, opressivos e desumanos...
José Vitorino de Pina Martins foi inegavelmente um humanista e um dos melhores conhecedores de vários aspectos do Renascimento europeu e português, ao nível de Marcel Bataillon, Eugenio Asensio, Jean Claude Margolin, André Chastel, etc., dedicando-se em especial a algumas das grandes almas da época, como Giovanni Pico della Mirandola, Erasmo, Thomas More, Sá de Miranda, Damião de Goes, para destacar apenas alguns de vários outros também estudados e partilhados, como Dante, Petrarca, Marsilio Ficino, Reuchlin, João de Barros, Camões, ao longo dos anos exercendo ainda um magistério e até mecenato em relação às investigações e publicações humanísticas em Portugal ou sobre Portugal, nomeadamente ao exercer funções na Fundação Calouste Gulbenkian desde 1972 quando foi convidado a dirigir o Centro Cultural Português em Paris, que cumpriu admirável e frutuosamente até 1983, ano em que passou a director dos Serviços de Educação, da mesma fundação, já em Lisboa.
É deste período da sua vida que nasceu este texto Ce qui est vivant dans la tradition de l'Humanisme, e que resolvemos traduzir lendo-o, com alguns comentários, nestes dias que rodeiam a data do seu centenário do nascimento, ocorrida em Penalva de Alva, em 18 de Janeiro de 1920, e como forma de lhe prestar homenagem e manter viva a sua irradiação humanista, tão necessária nos nossos dias em que a qualidade ética e cultural, que não a científica e tecnológica, parece baixar, diminuir, toldar-se, submergida pela luta sobrevivência, as modas tecnológicas, a manipulação dos meios de informação e tantos espectáculos, desportos, canais e terrorismos e imperialismos, etc, etc.
I Trionfi de Petrarca: Que carro ou fama triunfa na nossa alma, vida e mundo? |
Dividimo a leitura em duas partes, e nesta 1ª ele explica como a palavra Renascimento indica que o Humanismo dessa época é um tipo de ressurreição das Letras clássicas, ou da literatura e filosofia greco-romana, que estava perdida em algumas bibliotecas monásticas e é trazida à luz graças a sucessivos investigadores e escritores, e multiplicada nos seus efeitos graças à descoberta da tipografia.
Dividindo o texto em três alíneas ou partes, na 1ª Humanismo e Ciência, José Pina Martins discerne lucidamente os aspectos positivos e inovadores, bem como os aspectos negativos e bloqueadores, no aspecto das Humanidades, ou seja, na retórica, dialéctica e gramática, e mesmo na didáctica filosófica, já que se exagerou ou se acantonaram demasiado no microcosmos humano.
Será o Renascentismo tardio ou segundo Renascimento que desenvolverá fortemente as metodologias científicas capazes de apreender a realidade do Macrocosmos, e dá vários nomes dos pioneiros, mostrando o que devemos a Galileu, a Giordanno Bruno ou a Descartes...
Na 2ª parte, Humanismo e Sociedade, Pina Martins valoriza sobretudo a reflexão crítica sobre os diversos ramos da ciência, da linguística à sociologia, que receberam impulsões e contributos de metodologias, aproximações e criações dos Humanistas, destacando ainda como algumas facetas então trabalhadas, mas sendo discutíveis ou demasiado subjectivas, como a Astrologia, a Cabala e o Hermetismo, têm tido sucesso público modernamente, sobretudo devido a pessoas mais susceptíveis de "soluções míticas".
Valoriza já mais as propostas de irenismo, ou pacifismo, então apresentadas por Thomas More, na sua Utopia, e sobretudo por Erasmo, um homem de grande cultura e bom senso, apelando sempre ao diálogo e ao entendimento, com respeito e amando os outros, pois "a guerra só é boa para quem a desconhece"...
Conclui esta 2ª parte, considerando muito valiosa e actual a proposta dos humanistas, como Thomas More, F. T. Bacon, Campanella e sobretudo Erasmo, com a de «uma religião do puro espírito, a philosophia Christi, até a uma ordem do Estado, axializada sobre a paz e assegurando a felicidade dos membros da comunidade». Na 3ª e última parte, não incluída nesta gravação, O Humanismo como retorno às fontes e o pensamento irenista, Pina Martins afirmará com força a necessidade de o Estado deixar de ser opressor e explorador dos cidadãos, como vemos hoje tanto no mundo.
Valoriza já mais as propostas de irenismo, ou pacifismo, então apresentadas por Thomas More, na sua Utopia, e sobretudo por Erasmo, um homem de grande cultura e bom senso, apelando sempre ao diálogo e ao entendimento, com respeito e amando os outros, pois "a guerra só é boa para quem a desconhece"...
Conclui esta 2ª parte, considerando muito valiosa e actual a proposta dos humanistas, como Thomas More, F. T. Bacon, Campanella e sobretudo Erasmo, com a de «uma religião do puro espírito, a philosophia Christi, até a uma ordem do Estado, axializada sobre a paz e assegurando a felicidade dos membros da comunidade». Na 3ª e última parte, não incluída nesta gravação, O Humanismo como retorno às fontes e o pensamento irenista, Pina Martins afirmará com força a necessidade de o Estado deixar de ser opressor e explorador dos cidadãos, como vemos hoje tanto no mundo.
S quiser oiça a gravação desta última parte, no próximo artigo do blogue, da exposição bem lúcida e valiosa do ilustre e querido amigo e professor José V. de Pina Martins.
Muita luz e amor na sua alma e caminho ascensional!
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