Nas representações mais antigas do Tarot, tal como nesta imagem proveneiente do baralho Visconti Sforza, contemplamos uma mulher que segura uma Lua em quarto crescente numa mão e, na outra, uma corda ou rédeas, provavelmente sugerindo ser Diana, a controladora dos animais selvagens e da seiva da natureza, tal como podemos ver noutra versão antiga, talvez para impulsionar a mulher a ser mesmo anima, alma animada e com ânimo, o animus do espírito...
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Em verdade a Lua, sendo um satélite da Terra, embora à distância de 384.400 km, com o ciclo de rotação de 28, 29 dias e a sua esfera de influência gravitacional, exerce influências fortes em especial sobre a água, os líquidos, os ritmos de crescimento, a fecundidade, a vitalidade, a emotividade, a criatividade e a religiosidade, gerando por exemplo a inspiração exaltante da Lua Cheia, quando o máximo de luz solar-lunar chega por ela à terra e aos seus seres...
Mas também é símbolo da Mulher em si mesma (o Sol, que virá na carta seguinte XIX, sendo o Homem), e também da Deusa, a Face Feminina da Divindade sentida próxima, adorável e epifanizada numa série de Deusas ao longo dos tempo, das quais, nomearemos apenas, e cada uma com as suas especificidades, Ísis, Cibele, Selene, Artémis, Hécate, Diana, Luna ou ainda a Chandra, indiana e a Atégina nossa, lusitana, e a Ceridween e a Arianrhod, celtas.
Como a acção do Sol e da Lua na Natureza foi sentida desde cedo pelos agricultores, e os astrónomos e astrólogos assinalaram as suas influências possíveis, um saber arcaico chegou até aos tempos do começo da impressão tipográfica, surgindo de modos simples em vários almanaques, tais como os famosos Calendários dos Pastores franceses, e entrando também em algumas versões do Tarot. A capacidade da Lua influenciar a Terra nos processos naturais era reconhecida e tida em conta não só para as sementeiras e diversas actividades agrícolas e rurais mas também pelas pessoas quanto à inspiração, menstruação, tratamentos e cura de doenças, crescimento, projectos e começos de viagens.
Também os poetas e poetizas, trovadores, artistas, amantes e Fiéis do Amor - que todos nós somos, já que somos dele (Amor Divino) provenientes e à sua maior plenitude aspiramos - souberam fazer sair as suas águas-energias das estagnações e incandesceram-nas e elevaram-nas, nomeadamente na Lua cheia, em criatividades, dialogantes amores e busca da Unidade mítica e íntima do homem e da mulher, do Sol e da Lua, da alma individual e da Anima Mundi, e do ser humano com as influências espirituais e divinas...
Nos aspectos mais subtis sentiu-se a sua influência nos sonhos, e até nas possíveis viagens astrais, quando a consciência energético-espiritual se expande ou sai e, mais ou menos desperta em relação ao corpo físico adormecido, interage com impressões, memórias, energias, campos de forças e outros seres, o que pode acontecer nas noites mais intensas, movimentadas ou profundas da Lua Cheia, em especial para as pessoas mais sensíveis ou mesmo as femininas. Mas está pouco estudada e divulgada a influência das fases da lua nos sonhos...
Esta relação da Lua com o inconsciente e subconsciente (até por contraposição ao Sol racional do consciente), ou seja, com a sensibilidade mais íntima, com as energias e águas do passado, que podem ser vistas como movidas por pás de moinho subtis e lentas e pouco consciencializadas, se for mais trabalhada pela atenção e o culto dos sonhos, a meditação, estudos e diálogos convergentes, pode permitir a emergência de informações ou conteúdos psíquicos que desconhecíamos e que afloram então em sonhos ou visões. Sabemos como Carl G. Jung deu bastante importância a essa via de exploração do inconsciente, com um objectivo terapêutico e de individuação pessoal. Algo disto foi assinalado na imagem deste arcano XVIII do Tarot que foi até denominado "Vidas Passadas", uma afirmação que devemos tomar com cautela pois quase sempre são apenas forças anímicas a que temos acesso e que, tendo estado presentes noutras épocas da Humanidade, estão agora em nós, e não sendo portanto vidas passadas individuais nossas, como muitas mistificadoras e dispendiosas regressões tendem a fazer crer...
Nesta versão antiga dos Tarot de Marselha, o que se tornou o mais clássico e de certo modo arquétipo no inconsciente colectivo da Humanidade e dos estudiosos e consultantes do Tarot, vemos os raios do Sol, partículas, gotas ou lágrimas (até interpretadas como de Ísis), ou ainda pérolas, da Lua a derramarem-se e a estimularem a Natureza a movimentar-se e a comunicar, influxos que penetram nas águas, e está representado um lago com água de cor azul e nela um caranguejo a nadar ou com as patas para a Lua. Estas águas são também as do interior e profundezas do seres, e os raios lunares podem trazer ao de cima aspectos instintivos intensos ou ainda conteúdos menos agradáveis, conhecidos, reprimidos ou controlados, tais como traumatismos, medos e identificações limitadoras, mas que devemos enfrentar e ultrapassar sentindo-os nos sonhos e clarificando-os ainda pelas meditações, catarses e consciencializações adequadas.
A progressão dos planos na carta é significativa: no mais baixo e fundo, a água azulada, com o caranguejo, depois a terra com dois tipos de animais próximos dos cães e que tem a boca aberta, com as línguas esticadas para captar certamente algumas das gotas pintadas em três cores (e estão 19 desenhadas talvez em relação ao arcano 19, o Sol), emanadas da Lua. No horizonte da terra, erguem-se duas torres, que podem ter também relação com a torre do arcano XVI, e sugerindo que os ritmos e ondulações naturais são verdadeiramente a melhor forma de harmonização e de reconstrução. E estes ritmos estão patentes na parte superior e celestial, com as gotas raios e a Lua cheia, com uma face humana no interior saindo de uma lua crescente...
Houve alguns exegetas do Tarot que pensaram serem as gotas mais das energias vitais que a Lua absorveria de nós, atribuindo assim a este arcano XVIII qualidades negativas, ilusivas e maléficas, associando-a por exemplo à deusa grega Hécate, uma filha dos Titans, que com o tempo, a partir da sua participação no mito de Perséfone, teve múltiplas associações com a noite, os mundos dos mortos, o psiquismo semiconsciente e sombrio, os caminhos nocturnos, algo que esta carta de certo modo poderia aludir. Este Tarot apresenta a Lua trifronte, imagem tradicional na Antiguidade e na sua mitologia, nomeadamente pelas suas fases de crescimento, plenitude e diminuição ou envelhecimento,
O
possível aluamento do ser, o andar algo aluado por entre o quotidiano
dispersivo ou opressivo, esta osmose maior de quem contempla a Lua e
cultiva a sua poesis, a sua dicção sentida e profunda, órfica nos
efeitos interiores e nos céus dos sentimentos e sonhos, surge então bem retratado nesta imagem
da nossa Dona Lua voadora, seja ela própria, seja algum de nós mais
"lunificado"...
A Lua no Tarot de Ercole I d'Este |
Esta
atenção maior às fases e progressões da Lua nos quadrantes celestiais
foi então cultivada, pois, após estudos aturados e já antigos,
verificavam-se influências na Terra, que podemos registar
inconscientemente na alma ou mais conscientemente, como nesta versão dos
Tarot primordiais do séc. XV, em que o receptáculo ou reflector da Lua é já o astrólogo-astrónomo.
Foram-se
desvendando então melhor os efeitos das fases da Lua nos processos
orgânicos da Natureza, nas plantas e nos seres humanos, cabendo destacar
neste sentido os contributos enriquecedores já no séc. XX da
medicina antroposófica e da agricultura biodinâmica, desenvolvidas por Rudolfo Steiner e seus companheiros, tais Wilhelm Pelikan, autor de um importantíssimo livro sobre as plantas e seus aspectos subtis, L'Homme et les Plantes, ilustrado, ou ainda Franz Lippert.
Estes
efeitos intercomunicantes entre todos os corpos e seres terrenos e
celestiais podem ser vistos de facto subtilmente ainda no reino dos espíritos da Natureza, das fadas, gnomos, duendes, elfos, sílfides e
ondinas, os seres elementais, e com quem pouco conseguimos interrelacionar-nos
conscientemente, certamente por razões da Ordem evolutiva...
O
reconhecimento da natureza reflexiva da Lua perante o Sol, ou ainda o
do cérebro humano perante o mundo subtil e espiritual, convida-nos a
meditar e contemplar as amplas esferas ou orbes celestiais, interna ou
externamente, onde Dona Lua é a mais próxima da Terra e simpatizável, embora pela
sua mobilidade, dentro dessa correspondência psico-cósmica, nos possa iludir nos sentimentos e crenças que
geramos já que quase sempre não sentimos ou vemos o interior, a verdade, a essência mas apenas
reflexos mutáveis...
Quem não sentiu já o amor por Dona Luna, aqui assinalada na sua tradicional ligação ao maternal, sentimental e doméstico signo de Água, o Caranguejo, abrindo-se à sua aura nas noites mais planetárias, ou seja quando brilha plena e belamente?
Ou já nesta versão, tanto mais que na tradição popular espiritual Portuguesa o animal que mais se avistava imaginativa e popularmente na Lua era o prolífero e pacífico Coelho ou Lebre, com ela em simpatia...
Ou já nesta versão, tanto mais que na tradição popular espiritual Portuguesa o animal que mais se avistava imaginativa e popularmente na Lua era o prolífero e pacífico Coelho ou Lebre, com ela em simpatia...
Terminemos esta nossa aproximação menos detalhada e alongada (já que fizemos uma gravação, audível no Youtube: http://pedroteixeiradamota.blogspot.pt/2016/10/tarot-arcano-xviii-lua-breve-satsang.html) a uma série de imagens e sentidos do arcano XVIII da Lua, com duas lâminas e imagens, uma que apela a mantermos a nossa aura sempre em conexões sensíveis, artísticas e luminosas com Dona Luna, tanto no alto como no fundo potencial da nossa alma-aura, na sua capacidade de brancura e pureza, reflectora do Sol do Espírito e espelho transparente e comungante com os outros seres e a realidade.
Esta outra versão estimula-nos a avançarmos desprendidos de tudo, nus como o vento (tais como os antiquíssimos shramanas e os digambaras na Índia), por entre as sombras e crepúsculos (e lembrarei, com este título http://pedroteixeiradamota.blogspot.pt/2017/07/o-mais-belo-poema-de-amor-de-antero-de.html:), e a tentarmos estar e ser conscientes do nosso Ser na sua identidade de Espírito, seja em si mesmo seja já nas ligações superiores, no caminho ascendente, tal o de Dante guiado por sua mestra e amada Beatriz até ao centro do sistema solar e do Amor Divino...
Avance então por entre as mutabilidades, ilusões e desilusões, firme na aspiração à Luz, reflectida ou directa, cultivando os fios e ligações superiores e certamente a Dona Luna, Face Feminina com mil Faces (entre as quais por vezes até por momentos a sua...) da Divindade, a inspirará e fortificará sempre, pela Natureza ou pelo seu mundo anímico interno...
E para quem gosta de consultar o Tarot com tiragens, tente aumentar o grau de probabilidade de fiabilidade da consulta, sintonia, intuição ou recebimento tirando poucas cartas, uma ou quatro (a tradicional, em cruz) no máximo, não em superficial "comercialice" mas após certa concentração e oração, sagradamente, amorosamente, capaz de atingir uma certa abrangência consciencial do passado-presente e futuro, ou seja, uma entrada maior no Campo unificado de consciência energia informação, numa aspiração a conhecermos e a fazermos melhor a Vontade do Bem Comum e da Divindade...
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