quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Tarot, arcano XIX, o Sol. Iconografia, psicomorfismos, significados, iluminações...


O Sol, XIX arcano, embora já presente em várias cartas de modo indirecto, emerge finalmente, após o arcano da Lua, na sua plenitude, dardejando raios, ritmos e frequências, gotas, partículas e prana  não tanto na Natureza mas sobre dois seres, parecidos ou gémeos, que estão interligados num campo de maior incidência do influxo solar, qual alambique alquímico, recinto ou jardim delimitado ou murado, sacralizante.
É natural a relação com a constelação do signo dos Gémeos, por onde o Sol visto da Terra passa no mês de Junho, época anual em que a luz e o calor, com todas as suas funções intensificadoras e vitalizadoras são maiores. As poucas roupas, apenas um pano azul à volta da cintura, do par de jovens, quais crianças, parecem indicar não só a exaltação do calor como também a nudez e um estado de pureza, fraternidade e desprendimento. Ou ainda de inocência e graça irradiante: seres com o Sol vivo neles irradiante.
Poderá simbolizar ainda este par a nossa essência polarizada ou dual (masculina-feminina), impulsionando-nos a estarmos mais conscientes dos estados de religação e união, e donde poderemos ter vindo primordialmente e a que podemos chegar, tanto interiormente como na vivência em sociedade  do amor inteligente, não-violento, fraterno e mais cooperativo do que o competitivo.
Nas numerosas versões do Tarot que foram surgindo este par, embora representado em geral por gémeos, também o é por um jovem e uma jovem bem diferenciados, esta com os dois seios à vista, na linha do arcano da Estrela e antecipando o arcano final, a mulher nua do arcano do Mundo, mostrando mais claramente a necessidade e importância da harmonia ou mesmo unidade entre as duas polaridades, feminina masculina, tanto interna como externamente. Ora se a externa quase toda a gente procura, com maior ou menor empenho e logo fortuna,  já a interna, e nos seus níveis mais elevados, pouquíssimas pessoas chegam a demandar, intuir e realizar, algo que a própria relação amorosa com outrem deveria facilitar.
                                        
Nas versões do Tarot de Marselha, as que mais tempo vigoraran no imaginário europeu com pequenas diferenças, como as que já apontamos, vemos então quase sempre um ser com a mão direita sobre o ombro do outro, o qual tem a mão esquerda sobre o significativamente denominado plexo (ou chakra) solar, numa troca de energias e numa caracterização eventual de um ser mais activo e emissor e outro mais receptivo, embora tal não seja a única leitura possível do fluir das energias entre eles e dentro deles. Podemos ver tal contacto entre os dois como um toque e circuito de cura prânica, de prana, em sânscrito, a energia vital do Sol e cósmica, considerando-se nas darshanas indianas e no Raja yoga de Patanjali haver cinco diferenciações ou vayus no organismo humano: prana, apana, samana, udana e vyana
 Em termos da linguagem alquímica, representava o equilíbrio do volátil mercúrio feminino com o seco e fixo enxofre masculino. Ou, mais simples e directamente, o amor solar e divino que une o homem e a mulher, e nessa irradiação cardíaca e solar nos pode intensificar animicamente de modo  e a uma possível percepção-intuição interna do  espírito ou mesmo da Divindade.
No culminar do avanço da alma por uma sucessão de dezoito arquétipos,  de certo modo num percurso heróico de individuação ou iniciático,  após a Lua, que já expressava  dualidades mais instintivas e inconscientes, chegamos ao Sol que nos mostra de novo a dualidade, embora os dois seres já não sejam os animais que uivam mas seres humanos fraternos, numa dualidade mais unida, complementarizada, iluminada, seja exterior seja interiormente.
Indica a necessidade de meditarmos mais a questão da polaridade e até da polaridade divina inicial, de contemplarmos  os dois seres ou aspectos do Ser: masculino e  feminino,  yin e yang, activo e passivo, anima e animus, dentro de nós e fora de nós, para serem harmonizados, intensificadosalquimizados pelo Sol Divino e seu fogo de Amor, o que exige de nós aspiração ou luta, esforço ou suor...
Também podemos ver neste arcano a metamorfose do sucessivo par ou dupla de polaridades, a que seguia ou obedecia ao Papa ou à Religião (arcano V), a dos Namorados ou da opção a fazer-se (arcano VI), a dualidade que era controlada pelo dinamismo  do Conquistador (VII), os opostos  presos pelo Diabo (XV), enquanto que agora no Sol (XIX) o par ou dupla finalmente despe-se de todas as roupagens, máscaras e seguidismos e reencontra e unifica-se seja consigo mesmo seja com outro, tal como o ser  amado, a alma-gémea ou mais afim, o Anjo, o Mestre, a Divindade interna...
Certamente que o Tarot não foi desenhado e formulado para dar indicações ou significações taxativas, definitivas, como algumas pessoas pensam ou abusam na suas consultas, que complicam ainda pelas numerosas cartas que tiram,  mas sim para  transmitir símbolos, arquétipos e ensinamentos psico-espirituais que deveremos estudar, sentir, contemplar, meditar e vivenciar melhor. 
Quem quer aprofundar a riqueza ou as potencialidades do Tarot reveladoras de dinamismos psíquicos evolutivos  deve comparar as versões actuais com as mais antigas, para compreender melhor como é que o Sol ou o Espírito e as suas forças, funções e essência, foram assinalados e evocados na suas relações com a dualidade, com dois seres abraçados ou que se tocam e fortalecem, desejam ou amam.
Esta representação, quase que primordial em termos da genealogia dos arcanos, do Tarocchi Visconti-Sforza, mostra-nos um jovem anjo ou um génio sem vestes, apenas um lenço grinalda o envolve, sobre as nuvens e levando em cima da cabeça uma face flamejante, ou seja, o disco solar em forma de face Divina, remetendo-nos tanto para o espírito como sobretudo para a ideia de que o Sol é um Ser Divino, ou que o Sol é uma perfeita imagem da Divindade, como vemos nos cultos através de diferentes seres e nomes divinos do Sol ao longo dos tempos: Surya, Aton, Apollon, Helios, Febo, Mitra, Sol Invicto, Baco, ou no Japão, Amaterasu, certamente a divindade solar ainda hoje mais viva e cultuada...
Não encontramos nesta antiga versão do arcano do Sol a noção da dualidade ou do par de seres; ou a haver é apenas no ser representado,  enquanto corporal e celestial, já que a pessoa-anjo tem duas asas.  Todavia também na sua  relação com o Sol, podemos ver a dualidade do ser humano para com o Espírito,  o Sol, o Divino, com o qual se deverá unificar.
Outro ensinamento possível é: o teu anjo da Guarda é o teu Sol interior, se olhares com amor para Deus e para ele poderás contemplar o resplendor solar divino.
Com o Tarot de Marselha, e depois com os posteriores, passou a representar-se quase sempre (já que nas modernices actuais tudo se inventa) dois seres que se tocam sob o Sol, expostos às suas energias. Para além da harmonização da polaridade interior, deveremos  realçar  que o par de jovens diz-nos que qualquer encontro entre pessoas deve estar ligado à Luz e Amor do Sol e, para pessoas com consciência espiritual mais desenvolvida ou irradiante, tal conversa convergente ou relação unitiva luminosa é importante  de ser consciencializada e assumida.
Mas talvez o mais importante encontro (ou a aspiração iniciática a ele) seja de facto entre a alma humana e o Sol Divino, o Espírito Divino Solar Primordial... 
                                                                 
No Tarot de Estensi, muito próximo do paradigma usado nas representações lunares da Idade Média e iniciais, é uma mulher que fia, que está sob o Sol. Fia lã ou linho, ou fia o fino fio seja da sua veste nupcial seja do destino da alma, o que se designava na Índia como sutratma, o tal fio ou cordão que liga e une os nossos veículos subtis através dos vários planos, tal como o mítico fio de Ariane no labirinto da vida, os mundos e níveis de Ser, os humanos e os Anjos, Mestres e a Divindade...
Noutra das versões mais antigas do Tarot, a de Ercole d'Este, encontramos um par,  um ancião e um jovem, em diálogo, numa clara imagem de ensinamento ou iniciação. Pode ser que a fonte seja o encontro de Alexandre com Diógenes, tão valorizado e trabalhado na Antiguidade e posterioridade, mas claramente assinala-se uma transmissão, unificação e circulação energético-consciencial que abrange o nível ético, psíquico e o espiritual, a qual apela ou atrai o Sol do Bem e da Verdade, ou que o manifesta e se realiza sob os seus auspícios.
A frase de Jesus, "onde dois ou três se reunirem em meu nome, eu estarei no meio deles", pode sentir-se fortemente nesta versão, o Sol da Verdade, do Espírito, da Divindade podendo ser invocado pelo diálogo ou abraço filosófico e iniciático de Fiéis do Amor, dos Cavaleiros do Amor, que entre nós na Tradição Espiritual Portuguesa, por exemplo, escritores como Damião de Góis, Jorge Ferreira de Vasconcelos, Manuel Faria e Sousa, Bocage, Antero de Quental, Jaime de Magalhães Lima, Leonardo Coimbra, Fernando Pessoa, Miguel Torga, Armando Martins Janeira Agostinho da Silva, Natália Correia e Dalila Pereira da Costa e outros e outras, de algum modo mais substancialmente foram e referiram.
Encontramos ainda outro paradigma da representação do arcano XIX, o mais simples e directo: o Sol, só, com oito raios...
     
                             Uma transmissão seca ou flamejante e directa: sê ou adora o Espírito solar.
Mas também vamos encontrar o Sol só, mas dardejando ou irradiando mais visivelmente sobre a Natureza, as árvores vivas. Com uma face solar, qual Apolo, Mitra ou Febo, derramando os seus raios e influxos luminosos sobre um jardim de quatro árvores, símbolo talvez dos seus efeitos benéficos na Natureza e da completude dos quatro elementos e quatro direcções, ou seja, o quaternário da matéria vivificado pelo Sol Divino...

                                                                

Imagem que nos relembra a importância da Natureza, toda ela dependente do Sol e transmitindo-nos as forças solares que recebeu e transmutou como alimentos, mezinhas, tão necessários de serem harmoniosos para fortalecerem o nosso sistema imunitário face   a industrialização exagerada, os mísseis e guerras, os combustíveis fósseis, o aquecimento global e  o covid e as suas vacinas, na sua maioria muito pouco fiáveis quanto a inexistência de efeitos adversos, como tanto se pode ver em relatórios científicos publicados nos sites independentes do apertado e opressivo senão mesmo criminoso controle dos media e redes sociais, em que se destacam twitter e facebook...
Esta consciência é  muito importante nestes nossos dias da segunda década do séc. XXI, quando vemos várias autarquias municipais, começando na de Lisboa, e indo até à de Ansião, passando por Viana do Castelo, Figueira da Foz, Sintra, numa senha insensível de mata-árvores, por vezes centenárias. Ou os incêndios fatais (dado o desleixo no cuidar da floresta e a crónica falta de meios de prevenção, vigilância e combate, para além da mortífera eucaliptização do país, que deveria ser muito controlada),  e em que morreram já demasiadas pessoas. Outrora não era assim e os guardas florestais tinham um papel bem importante. Mas hoje parece que a prioridade são quase só urbanas e as polícias municipais dos grandes centros servem mais para proteger as obras, os parquímetros e as multas.
                                     
         Celebrações, de há cem anos, de Festa da Árvore: eram a primeira página nos principais jornais. 
A nossa demanda de esclarecimentos sobre o par de seres que se enlaça, comunica ou une sob os raios e glóbulos vivificantes do Sol e do Amor, as partículas e raios unitivos que o Sol do Amor Divino irradia permanentemente (ainda que tão pouco reconhecido) é um arcano que deve  fazer a sua Aurora (a deusa Ushas, védica) em nós, lembrando-nos, por exemplo, como os momentos do nascer do-Sol oriental e do pôr-do-Sol ocidental (ou os solstícios e equinócios, com as suas danças e cantos) são ocasiões de culto,  e comunhão energética e intelectual, espiritual  e divina, por vezes tão magnificadas pelas nuvens. No Japão, Kurozumi Munetada, um fundador de uma variante ou seita de Shinto, como na Europa os mestres búlgaros Peter Deunov e Omraam Mikael Aivanhov, foram seres que desenvolveram  muito o culto solar espiritual, e transmitiram exercícios ligados ao Sol.
Uma versão do Tarot (na seguinte imagem, do Tarot parisiense de Noblet, de meados do séc. XVII) parece testemunhar bem a energetização poderosa do Sol no ser humano, pois vemos um jovem nu montando um cavalo branco, qual Kalki avatar da tradição Indiana, quem sabe se já uma das fontes de ideias ressoantes ou psicomorfismos que circulavam no começo do Renascimento na bacia do Mediterrâneo, já então bastante mundializada desde a época de Alexandria, as quais foram recolhidas e sintetizadas no Tarot e suas versões.
                                                              
A face mais guerreira e por vezes "façanhuda" do Sol, reflectida iconograficamente diremos até  no S. Jorge e na Cavalaria Andante, tão cultuada na Tradição Espiritual Portuguesa, nomeadamente por Jorge de Montemor e Jorge Ferreira de Vasconcelos e muitos heróis,  permite-nos equacionar diferentes níveis, frequências, qualidades e seres que se encontram simbolizados ou contidos potencialmente dentro da mesma imagem do arcano XIX do disco Solar e dos que sob ela estão expostos às suas influências e que nós, pelas nossas observações, assimilações e acções, poderemos então assimilar e coalescer.... 
O Tarot do ocultista, de final do séc. XIX, Arthur E. Waite, cuja desenhadora teve acesso ao Sola Busca italiano renascentista,vê no no Sol, e bem, a Luz supernal do Oriente Espiritual que guia a humanidade, e segue a linha do cavalo da alma natural guiado pela pureza da criança, numa imagem próxima da Tradição Espiritual Portuguesa, com a criança imperatriz do Mundo, tão desenvolvida por exemplo por Agostinho da Silva, no seu visionarismo utópico. Empunha a criança uma espécie de bandeira do Amor ou do Espírito Santo, a qual ainda, na versão acoriana, recentemente no Congresso do Espírito Santo de Setembro 2016, presidiu às sessões em Alenquer no auditório do Damião de Goes, sábio humanista e erasmiano.
Em diálogo em tal colóquio soube mesmo que em algumas das localidades do culto no Brasil, para onde ele foi levado em força, a tradição das Cavalhadas ou do cavalo "avatárico" está ainda viva e que é ainda a bandeira um objecto muito sacro e a chave de transmissão dos eflúvios espirituais aos devotos, que a beijam ou se envolvem nela. E, provavelmente, alguns levá-la-ão depois ao vento do Espírito em si....
Sendo o Sol o centro do Sistema solar, numa mandala perfeita, e reflectindo-se tanto no microcosmos terrestre e humano, tal como vemos nesta versão do girassol heliotrópico, é bom ver, desenhar e contemplar tais mandalas solares.  E podemos adivinhar que algumas versões do Tarot mais modernas, e não tão tradicionais, terão desenhado e descrito ou intuído mais a riqueza imensa do Sol.
Procuremos então alguns desenhos ou pinturas recentes de arcanos atentos a tal e também aos destinatários ou recipientes, seja um par ou não, dos seus raios ou energias. 
Observemos o Tarot de Aleister Crowley, um mago inglês de extremos e bastante complexo ou violento na gestão das energias, muitas vezes sem referência ou alinhamento voluntário ao "bem" e "mal" («ninguém sabe que coisa quer, ninguém conhece que alma tem, nem o que é o mal nem o que é o bem», tangia em lamento Fernando Pessoa,  nos versos finais da Mensagem) e à Divindade, mas senhor de muita força e ironia, inteligência e conhecimento, e que bem impressionou e influenciou Fernando Pessoa aquando da sua passagem e estadia em 1932 por Lisboa.
O arcano do Tarot desenhado segundo os ensinamentos de Alesteir Crowley, um inteligente e audacioso mistificador, e um tântrico da via esquerda e sem submissão à Divindade senão aos seus deuses (ou espíritos) mágicos e à sua própria vontade, conforme o seu voto Do what thou will shall be whole of the Law. Love is the law, love under will, está cheio de brilho e dinamismo e as duas crianças mais tradicionais estão  substituídas por duas jovens, quiçá em função dele próprio como sol-profeta-aeon dos grupos e ordens que animava. 
Mas a ideia das duas mulheres surge também noutros Tarots, até como reacção ao machismo e à dependência de representações de gémeos ou afinidades apenas sob forma masculina, algo que não tinha tanto sentido, tanto mais que na antiguidade as sacerdotisas existiam e que certamente no culto ainda mais antigo da Grande Deusa predominavam. 
Mais simples e directa esta versão moderna do Sol do Amor recebido em Graal por dois seres (e as faces poderiam estar melhor...) que se amam plenamente e que, na interioridade de um e do outro conseguem, mergulhar através dos seus vários chakras e olhos, numa solaridade unitiva sacralizante.
Esta versão moderna do Tarot  é das melhores quanto à apresentação do Sol de um modo mandálico e, portanto, mais pronto a propiciar na contemplação  efeitos valiosos dentro de nós. Escrevi sobre tal um artigo numa boa revista brasileira online, a Transdisciplinar, a pedido da terapeuta de arte e de mandalas Celeste Carneiro. E mais recentemente a artista Luama Sócio redigiu também um bom texto na sua revista digital Katawixi.
Os vários raios e cores do Sol, a sugestão que o Sol é um ser divino, aliás tão cultuado na Índia com tantos nomes e orações, em mantras, ritos e mudras, tais como os nomes solares de Surya, Ravi e Sundari,  e a oração Gayatri, e ainda a famosa Suryaya namaskar, a saudação ao Sol do Hatha Yoga, são outros meios de trabalharmos o arcano XIX podendo vermos a flor de lótus, tanto como  alma individual ou como os vários chakras ou centros de força abertos ao Sol espiritual.
Todo este conjunto de simbolizações tornam esta versão uma das melhores representações modernas mas seguindo linhas tradicionais.
Quem gosta da Astrologia,  trabalha com o Sol no horóscopo e suas casas, no Leão, e no fundo e meio do céu, certamente que sentirá também boas inspirações na contemplação e meditação deste versão, em que o Sol, como centro, irradia através das doze constelações. 
Assinala-se ainda a Árvore Cósmica e microcósmica como eixo do mundo (axis mundi), atingida e trabalhada pelos Gémeos, par ou casal. Uma boa imagem, arcânica,  para os seres em alquimia interior, em amor ou casados, meditarem e assimilarem e, ao longo dos meses, irem sintonizando e trabalhando, no interior e no exterior.
A versão designada como Sacred India Tarot é também luminosa, na sua simplicidade e inocência, com as crianças da polaridades brincando em espirais complementares, emergindo a relação tradicional do Sol com o ouro e sobretudo o ouro filosofal do Amor Divino, bem irradiado pelo fulgor sereno da face divina do astro-rei.
O Sol físico, subtil, espiritual e divino, e que é em nós tanto o Amor no coração como a Inteligência divina, nesta versão de muito difícil leitura, convida-nos a meditarmos e a aprofundarmos os enigmas dos sonhos, dos símbolos e do interior das pessoas, e é a esta procura da Verdade, bem como ao despertar desta luz dissipadora das trevas, dos medos e das ignorâncias que o Sol do Espírito, santo ou universalizante, apela e realiza em nós, por vezes mesmo como daimon ou  voz de consciência  que Antero de Quental tanto valorizava e recomendava a seus amigos mais espirituais, tais como Fernando Leal e Jaime de Magalhães Lima, numa tradição pitagórica  e socrática a inserir-nos, pois o mundo anda bastante ameaçado por obra e desgraça de muitos seres e governos egoístas e insensíveis, mentirosos e destrutivos, cujo paradigma são os Estados Unidos da América.
Lutar pelo Verdade, pela Justiça, pelo Bem é então dever, Dharma nosso, quando assumimos mais a ligação e natureza solar e espiritual, algo que todas estes trunfos ou imagens querem, ainda que nos avisem que o devemos fazer com conta peso e medida e por isso algumas versões do Sol, nomeadamente a bela de Andrea Mantegna. mostravam Ícaro caindo do carro do Sol conduzido por Febo.
Terminemos com a nossa profunda reverência ao Logos Solar, à Divindade do Sol, sem podermos acercar-nos (pelas limitações de linhas do texto...) das iconografias solares masculinas de Apolo, Hélios, Baco e Mitra, tão belas, ou as egípcias e cristãs, mas partilhando uma rara, a da Divindade feminina do Sol, Amaterasu Omikami, do Japão. Que ela possa enriquecer os psicomorfismos solares das mulheres portuguesas e outras, e dos homens, na busca da unidade...
Certamente que uma das melhores forma de terminarmos esta nossa demanda-oração-meditação-escrito sobre o Sol do Tarot será ainda apresentá-lo tal como ele é fisicamente embora não o vejamos assim, para que tenhamos, com humildade, mais aspiração de contemplar os seus níveis espirituais e divinos, nas suas energias e seres celestiais, que de novo saudamos e cultuamos com nosso coração e ser...
Mas se quisermos ainda ir um pouco mais em sintonia com o Sol, o Espírito, a Divindade e a Tradição Espiritual Portuguesa,  porque não interrogar-nos sobre o sempre e misterioso e arcano do Espírito Santo, do qual foi dito que era ou é o Amor que une a Fonte e a manifestação, o Pai-Mãe e os Filhos e as Filhas, espíritos celestiais e espíritos humanos, mas que é também o Espírito, divino, em nós?
Talvez então sintamos e reconheçamos mais o Sol como Fonte de Vida (e da vitamina D, tão essencial) e de Amor, e um meio e  sacramento (qual arquétipo da hóstia ou do sopro)  a ser comungado ou sintonizado  diariamente para nos fortificarmos ou harmonizarmos nas forças químicas, vitais e espirituais que dele descem sobre o corpo, alma, Espírito e ambiente ou campo...
Seja mais o Sol, face a todas as oposições à luz, ao amor e à harmonia justa!
Seja hoje mesmo, muito, um Sol da verdade corajosa e amorosa!
Chave: Quantas vezes irradiará o sol do espírito no dia de hoje? 

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