quinta-feira, 17 de março de 2022

Amizades e conflitos. Guerras distantes e próximas. Da manipulação e dilaceramento actual. Dialogar e pacificar....

Nestes tempos em que tantas amizades perdem a sua coesão e se esfiapam, parecendo perdidas as razões de ser, até então válidas e sobretudo suficientes para manterem um statu quo sem atritos...

Nestes tempos em que mesmo pessoas amigas de longa data se surpreendem em campos opostos e ora conseguem dialogar e fazer luz, raro, ou se afastam ou silenciam para não terem de discutir demasiado...

                    

Nestes tempos em que mesmo amizades familiares enfraquecem ou mesmo fenecem, caindo por terra o à vontade, a franqueza e o amor que tinham raízes sanguíneas centenárias, milenárias mesmo...

Nestes tempos em que tantas pessoas conhecidas, nomeadamente nas redes sociais, se digladiam ou mesmo repudiam mutuamente, e mais ou menos, na circunstancialidade em que estão envolvidas, justificadamente...

Nestes tempos de insultos soezes e ordinários, com transbordamentos do diabólico ódio e até incitamentos à morte, e que nos desvendam o que ia e vai dentro de cada um...

Nestes tempos de raríssimos seres de grande desprendimento e em que quase todos, ao tomarmos partidos por actos, sentimentos pensamentos, palavras ou escritos, entramos em lutas e afectivamente desiludimos ou desiludimo-nos, ou mesmo fazemos sofrer e sofremos...

Nestes tempos de progressivo isolamento dos mais lúcidos face a tantos outros, aos media, aos partidos, aos Estados, aos grupos de pressão da nova Ordem mundial, subsistindo apenas aqui e acolá alguns núcleos de almas, famílias, grupos, satsangas, comunidades e zonas mais afins e luminosamente coesas, algo que devemos sempre demandar ou perseverar...

Resumindo e concluindo, nestes tempos de tanta manipulação e opressão, corrupção e violência, só podemos desejar e querer que as pessoas se mantenham íntegras e serenas, alinhando-se verticalmente, e não se deixem expor, influenciar e subjugar tanto pelos media, os meios de informação tão vendidos e alinhados com quem lhes paga, assim partidários fanaticamente e desinformantemente aumentando a ignorância e o medo, os ódios e as doenças...

Assim, nestes tempos de tanta morte e sofrimento,  só podemos desejar que terminem os vírus e as medidas sanitárias opressivas,   embora saibamos que não será tão rápido pois, aberta, seja por quem foi - se a Natureza, se um laboratório de guerra biológica - a caixinha da Pandora viral e depois a vacinal, com os biliões de lucros das farmacêuticas, ela não se fechará tão facilmente, pelo que teremos de aprender a sobreviver com modos de vida mais biológicos, alternativos, prudentes, sábios,amorosos e espirituais....

Nestes tempos em que, para além dos múltiplos conflitos em África e no Médio Oriente, tal a Síria, a Palestina e o Yemen, tão ocultados e manipulados nos noticiários e artigos dos media ocidentais,  desabrochou menos larvarmente o confronto entre a Rússia e a Ucrânia, entre o Ocidente norte-americanizado e a Rússia, no qual muito e tanto está ainda em aberto, com os mais fanáticos, e os gananciosos dos armamentos, desejando a 3ª grande Guerra, só podemos agir, meditar e orar para que rapidamente diálogos e negociações obtenham o consenso justo e necessário e assim findem as mortes, sofrimentos e destruições...


Pelo que, nestes tempos dilacerantes que correm, só podemos orar pedindo as bênçãos do Alto e do Divindade para a Humanidade e sobretudo para todos os que procuram viver na luz, na sabedoria, justiça, amor e paz, de modo a que os mais sub-animais, insensíveis e extremistas, capazes de crueldade e ódio, sejam enfraquecidos, vencidos e reeducados...

Nestes tempos de tantos conflitos e divisões, guerras e separações, aspiremos e oremos para que muitos seres possam encontrar de novo as suas terras e lares, as suas almas amigas ou afins, as suas famílias, os seus grupos e com eles, e em interdependência fraterna mundial, gerar mais paz, beleza, prosperidade, sabedoria, arte e amor para a Humanidade e o Planeta...

domingo, 13 de março de 2022

Luzes e sombras, dos desejos e aspirações à estrela. Fotografias por Pedro Teixeira da Mota. Manhã de 13.III.2022.

A Luz solar é tão multidimensional, tão divina...

    

Nas manhãs de cada dia, os raios do Sol entram pelas casas a dentro e deixam, sugerem e inspiram mensagens
para as almas que as sabem acolher com o coração aberto...
O alimento de cada dia solarizado nos é dado...
A maçã vermelha dos nossos desejos e aspirações pode dourar-se aos raios do Sol Divino da Verdade e do Amor, até a estrela do Espírito despontar e a paz se irradiar...
Os encontros e uniões transfigurantes e imortalizantes...
Sejamos as estrelas (jivatman), de Luz e de Amor, emanadas da Divindade...
Lux   Pax

terça-feira, 8 de março de 2022

Dos conflitos que dividem e dilaceram as pessoas e sociedades. Com um sábio poema ( ای بیخ) de Hafez Shirazi em vídeo.

Estes dois últimos conflitos que tomaram conta das almas humanas e as dividiram, e fizeram mesmo enfrentar-se ou até sub-animalizar-se, o Covid  e suas políticas sanitárias e a luta da Rússia contra a Ucrânia e o Ocidente, indicarão que os factores ideológicos são nas pessoas bem mais importantes que pensámos, já que separam pessoas, amizades e famílias, umas erguendo-se contra as outras, e não discutindo já apenas a bola, os partidos e o preço certo, ou será que deparamos antes posicionamentos fundamentalmente emocionais, em grande parte manipulados pelos "media" e arregimentados, sem haver nas almas verdadeiro discernimento do que está por dentro e detrás de tais acontecimentos e actores, ou o que está em causa nas encruzilhadas e qual é a melhor ou mais justa via, pois tal como Fernando Pessoa dizia no final da Mensagem:  «Ninguém sabe que coisa quer. Ninguém conhece que alma tem, Nem o que é mal nem o que é bem?»?

O Y pitagórico, discernir e intuir bem o caminho. Não sermos marionetas, mas antes seres do caminho do meio. Já com outro artigo no blogue, o bívio ou Y.

Quatro vantagens ou aspectos positivos vejo nestes conflitos, apesar dos muitos trágicos sofrimentos e escombros. Primeiro, caminharmos para sociedades mais justas e sóbrias e para o fim duma ordem internacional demasiado unilateralmente dirigida pelos que detêm o dólar norte-americano e manipulam pelos media em grande parte o mundo. Segundo, aceitar o dilacerar de antigas amizades ou, vamos lá, aparentes conhecimentos tidos como aceitáveis, pois ficamos a ver os outros sob aspectos que apenas suspeitávamos ou nem sequer, e portanto ficamos com mais discernimento quanto ao que eles são ou valem em certos aspectos. Terceiro, é  que reduzem a nossa convivialidade dialogante, nomeadamente se queremos evitar discussões e conflitos desnecessários. E assim tanto vamos eliminando de seguir no Facebook pessoas, e haverá quem as remova, para que já não nos incomodem ou os incomodemos na página inicial, como também deixamos praticamente de falar ao telefone,  para  não termos que discutir, criar sofrimento e desilusão nos outros, ou ouvir então insultos soezes e ordinários a quem quer que seja. Deste modo libertamo-nos de exacerbar tolices e teimosias, lutas e ódios que só densificam o labiríntico ou pantanoso astral do mal na humanidade, ao serem amplificados, esperando que o bom senso e o amadurecimento pelo sofrimento tornem as pessoas mais sábias, fraternas e menos sujeitas a tantas fobias desgraçantes...

O astral labiríntico que atrai e prende as almas, numa pintura de Bô Yin Râ.
A quarta vantagem, com duas vertentes, é podermos termos mais tempo para irmos trabalhando e dançando, lendo e escrevendo, aprofundando e ouvindo o que mais gostamos e bem faz ao mundo, seja por exemplo, como está no vídeo final, as belas vozes da cultura poética iraniana, mesmo sem as percebermos  senão pela tradução, no caso um iluminante poema de Hafiz de Shiraz, e a esta sua cidade natal e de libertação fui eu peregrinar e conferenciar há uns anos, e por isso talvez mais a rosa da cavalaria do Amor no meu coração brilhe, abrindo-me mais a valorizar, e entramos na segunda vertente, da escarpada subida à montanha de Meru, Albornoz ou Himavat,  certamente muito importante, a relação polar, nomeadamente quando com uma ou outra alma mais afim, subtil, valiosa dialogamos ou mesmo vivemos, comungando do Graal  ou Jam-e Jam da gnose, do amor e da realização e assim peregrinando juntos às caravanserai do mundo espiritual e divino....  
Possa  da lama de tanto ódio e violência, insensibilidade e arrogância, a flor de lótus do Amor despontar em mais seres e uma paz mais verdadeira, divina mesma, permear-nos a todos...

Dara Shikoh (20-III-1615 a 30-VIII-1659)e sua alma polar Nadira Banu Begum (14-X-1618 a 6-VI-1659), mártires no caminho do Espírito... Mil pétalas do lótus da Divindade em vós e unindo-nos...

Oiçamos então Hafiz, de Shiraz, terra natal de outro mestre da  religião do Amor persa ou iraniana, Saadi (e ambos apreciados por Antero de Quental e Fernando Pessoa), com uma poema de grande sabedoria e belas imagens, que nos falam do Caminho do aperfeiçoamento e da humildade, da libertação dos desejos e da realização do amor e luz Divina. E possa "a Luz fulgurante da Verdade chegar ao nosso coração", tal como ele ora ou reza poetizando...

                         

sábado, 5 de março de 2022

Acerca da Oração nestes tempos do ano do Tigre. Com texto de Bô Yin Râ e música do Dead Can Dance - Sanvean.

Pintura de Bô Yin Râ, na queda d'água de Cela Cavalos, Gerês.

Nestes tempos em que estamos tão envoltos por conflitos externos, mais do que nunca se torna necessário trabalhamos por preservar a alma lúcida e luminosa não a deixando ao alcance perturbante de qualquer acontecimento ou imagem, político, comentador ou pessoa pronta a distorcer o discernimento calmo da verdade, e a nossa capacidade para sermos fiéis do Amor e, para tal, a oração, a meditação, a contemplação, o diálogo sereno, o canto, a dança sagrada, o banho consciente e a comunhão profunda com a natureza ou com alguém são meios fundamentais de recriarmos a harmonia em nós, pois tanta força, impacto, impressão, palavra ou intenção negativas que entram ou tentam afectar a nossa psique ou alma obrigam-nos constantemente a limpar-nos, purificar-nos, alinhar-nos, recarregar-nos.
Salientarei hoje e agora apenas a oração, uma prática que todos
aprendemos desde crianças numa ou outra oração que em geral ainda sabemos de cor e que, se pronunciada conscientemente e sentidamente no nosso interior, vai-nos tornando capazes de verdadeiramente acalmar, interiorizar, orar e logo descobrir-nos enquanto seres espirituais e podermos estabilizar, operar e irradiar luminosamente pelo Bem, a Luz e o Amor no Universo e no planeta.
O ensinamento que junto ou acrescento agora é de um dos mestres
mais valiosos dos últimos séculos XX, Bô Yin Râ, do seu livro A Oração, que brevemente espero publicar na tradução a que laboriosamente cheguei,  onde no capítulo quarto, depois de nos anteriores ter explicado o que significam os princípios da oração transmitidos por Jesus: "procurar e encontrar, pedir e receber, bater e ser aberto", e como se enganam os que pensam que falam com Deus, um deus da sua imaginação, diz-nos: 

«O ser humano que “ora” então da maneira certa, tal como deve pedir-se, - atingirá uma verdadeira renovação espiritual, e esta renovação é necessária sempre que a vida exterior entorpece insensibilizantemente os sentidos da alma. -
A “renovação espiritual” não reside portanto num renovamento da centelha viva espiritual do ser humano, mas numa renovação da receptividade da alma a todos influxos que, emanando do mundo do Espírito puro, podem e querem atingi-la pelas “antenas” do núcleo da sua essência espiritual. -»
Meditarmos na diferença entre a alma e o espírito é bem importante e compreendermos que na oração profunda, que certamente pode passar antes por uma certa confissão humilde e logo de abertura às bênção do alto, as forças anímicas são renovadas e fortificadas pelo influxo que a centelha vital consegue então receber do mundo espiritual, com os seus guias, mestres e anjos, e do mundo e ser Divino e primordial...
Segue-se o original alemão do extracto de Bô Yin Râ e uma tradução inglesa deste importante  ensinamento...


Ein Wichtig Lehre...
Vom "Das Gebet": «Der Mensch, der dann auf rechte Weise also
"betet" wie gebetet werden muß, wird wahrlich geistige Erneuerung erlangen, und diese Erneuerung ist immerfort wieder vonnöten, wenn das Außenleben die Fühler der Seele taub geschlagen hat. –

"Geistige Erneuerung" ist aber nicht etwa eine Erneuerung des geistigen Lebensfunkens im Menschen, sondern Erneuerung der Aufnahmefähigkeit der Seele für alle Einflüsse, die sie aus dem Reiche des reinen Geistes,über die "Antenne" ihres eigenen geistigen Wesenskernes, erreichen können und erreichen wollen. –»
*****
«The person who then ‘prays’ in the right way, as the prayer should be prayed, will truly attain spiritual renewal, and this renewal is always necessary again whenever external life has insensibilized the soul’s antenns. –
But "spiritual renewal" is surely not a renewal of the spiritual spark of life in the human being, but renewal of the receptivity of the soul to all influences which can and want to reach it from the realm of pure spirit, via the "antenns" of its own spiritual core of Being. –»

                        

quinta-feira, 3 de março de 2022

Sabedoria Persa (20 e última). Um poema de Hafiz e outro de Christophe Plantin, ecoando a "aurea mediocritas" de Horácio, ou uma vida simples e feliz.


Eis o poema final da antologia Fontes da Sabedoria Persa, do mais amado poeta do Irão, de Shiraz, Hafiz (1320-1390). Simples, poderá infelizmente parecer nos nossos dias uma utopia pois a convivialidade humana, as relações amistosas e a tranquilidade no mundo têm sido muito afectadas por múltiplas circunstâncias. Talvez uma razão mais para o escutarmos e apreciarmos, tentando criar possibilidades de sentirmos e vivenciarmos a amizade pura que escorre das imagens dos poemas com as pessoas que possamos encontrar afins ou ressoantes...
«Alguns amigos, uma garrafa de vinho, tempo livre,
Um livro, um recanto entre flores...
Eu não trocaria jamais tal felicidade
por nada deste mundo ou de outro.»
Comentário:
Eis-nos com um dia, ou um tempo, ou um estado ideal de paz e  felicidade, no qual estamos em amor, em irradiação de alma e espírito, em comunhão com a Natureza, os livros, a beleza, os amigos, o ser amado...
Poder criar, construir, cultivar, curar, ajudar, vencer defeitos e limitações, intensificar ou aprofundar o conhecimento e as ligações subtis e espirituais entre os seres, a Natureza e a Divindade, eis o que criativamente e não manipulada e comercialmente nos faz feliz, ou seja, faz vir até nós essa Ananda ou Felicidade, que é certamente uma graça...
Em verdade, vivermos ou termos um recanto, uma casa, na Natureza, pode ser uma fonte de grande felicidade, nomeadamente quando podemos ler e dialogar com os bons amigos que são os livros e seus autores, mortos ou vivos, e as pessoas afins, em convívios de refeições, trabalhos comuns, caminhadas ou meditações.
É a tão valorizada, pelos romanos antigos, os estóicos e em especial Horácio, na suas Odes, e entre nós por Antero e Pessoa,  aurea mediocritas, um estado dourado de felicidade atingido por desapego em relação aos bens, posições e famas no mundo e por um certo minimalismo ou mediocridade de meios de consumo e subsistência, ainda que certamente ter uma casa na natureza seja hoje ora uma carga de trabalhos, ora um luxo. Mas esqueçamos as circunstâncias concretas actuais adversas a tal desabrochar de felicidade campestre e mergulhemos na valorização de tal estado de simplicidade: amigos, livros, disponibilidade para dialogar e aprofundar o que seja. E claro, para muitos, o vinho, seja o tangível, seja o da sabedoria ou do amor, que a estalajadeira derrama dos seus olhos, coração, palavras e ânfora, como a tradição persa tão magistralmente desenvolveu em poemas de circulação entre o eros ou amor humano e o divino.
                                                          illustratie
Para terminarmos este pequeno ciclo de comentários a fontes da Sabedoria Persa, algumas medianas outras boas, e espero apresentar a minha própria antologia e não só comentar (em viagens de autocarro), eis um dedilhar da mesma aurea mediocritas mas já na Europa humanista: oiçamos o famoso soneto, tão reproduzido, do notável impressor Christophe Plantin (1514 ? -1589), francês mas que trabalhou mais em Antuérpia, da geração posterior aos fabulosos que trabalharam com Erasmo, tais como Aldo Manuzio e Joahnn Froben, e que chegou a ter a honra de ver a sua Bíblia Poliglota, dirigida e excepcionalmente anotada pelo notável humanista espanhol Benito Arias Montano, ser enviada pelos portugueses para os missionários jesuítas de Goa participantes nos diálogos inter-religiosos em Fatehpur Sikri e que assim a puderam oferecer, ao sábio imperador Akbar, filho de Humayun e de uma persa shia, Ḥamida Banu Begum exactamente hoje há 442 anos, como me deparei agora, numa sincronia bem valiosa, nas Efemérides do Encontro de Portugal com a Índia e do Oriente e Ocidente, para o dia 3 deste mês de Março e que encontra mais detalhada no blogue. 
                                               
«Os padres Aquaviva e Monserrate oferecem ao imperador mogol Akbar (1542-1605) a erudita e magnífica Bíblia Poliglota da oficina  de Christophe Plantin, preparada pelo sábio humanista Benito Arias Montano, neste dia 3 de Março de 1580, em Fatehpur Sikri, Índia numa encadernação fechada em ouro, com as belas gravuras da escola flamenga de Quentin Matsijs que, copiadas e adaptadas, entrarão imediatamente na simbólica artística imperial mogol. O imperador Akbar, na demanda da religião universal, recebe este Livro sagrado, com a devoção dum discípulo ardente: tira o turbante e coloca-o sobre a cabeça, depois aperta-o contra o peito e por fim beija-o.» Advirta-se que a imagem que se segue algo seca é provavelmente fruto da visão narrativa ocidental diminuidora do Oriente, e já então manipuladora como nos dias de hoje se vê tão exagerada e opressivamente nos últimos tempos:
Vamos então ao soneto, não de Akbar, que era analfabeto mas profundamente sábio e pioneiro na sua busca de uma unidade supra-religiosa e nacional (com a Din-i Ilai, a Religião Divina que fundou), sendo o seu neto, Dara Shikoh, esse sim um mestre da poesia e do comparativismo religioso, mas de Christophe Plantin, e transcrevemos primeiro em francês e depois na minha rápida tradução portuguesa, com duas ou três palavras melhoráveis...
 
    Le Bonheur de Ce monde
 
Avoir une maison commode, propre et belle,
Un jardin tapissé d'espaliers odorans,
Des fruits, d'excellent vin, peu de train, peu d'enfans,
Posseder seul sans bruit une femme fidèle,

N'avoir dettes, amour, ni procès, ni querelle,
Ni de partage à faire avecque ses parens,
Se contenter de peu, n'espérer rien des Grands,
Régler tous ses desseins sur un juste modèle,

Vivre avecque franchise et sans ambition,
S'adonner sans scrupule à la dévotion,
Dompter ses passions, les rendre obéissantes,

Conserver l'esprit libre, et le jugement fort,
Dire son chapelet en cultivant ses entes,
C'est attendre chez soi bien doucement la mort. 

A Felicidade neste mundo 

Ter uma casa cómoda, limpa e bela,
Um jardim atapetado de socalcos fragrantes,
Frutos, excelente vinho,pouca pressa, poucas crianças,
Possuir só, silenciosamente, uma mulher fiel.

Não ter dívidas, amores, nem processo nem querelas,
Nem partilhas a fazer com parentes,
Contentar-se com pouco, não esperar nada dos Grandes,
Regrar todos os seus desígnios por um modelo justo.

Viver só com franqueza e sem ambição,
Dar-se sem escrúpulos à devoção,
Dominar as suas paixões, torná-las obedientes.
 
Conservar a alma livre e o julgamento forte,
Recitar o seu rosário cultivando os seus entes,
É esperar em sua casa muito docemente a morte.»

Saibamos viver os mais felizes possível, e fazendo os outros felizes, evitando falsidades e confrontos, traições  e opressões  pois cada ser, cada grupo, é uma caravana que passa rumo ao seu Oriente, ao seu Além,  e a caravanserai hospitaleira ou satsanga dos amigas e amigas de Deus de cada um de nós é necessariamente para poucos seres afins. Aprofundemos então com eles os mistérios da existência e não deixemos dispersar e polemizar, manipular e subanimalizar... Seres livres e lúcidos no Caminho Divino...
Nestes dias em que o Caminho e a realização espiritual são tão desfigurados  por tanto comercialismo do esoterismo, da new age, da cura, dos satguruss e visvhagurus, dos anjos e das seitas e religiões, tentemos discernir bem o que se nos oferece ou vende. E espero conseguir  avançar um dia com mais sabedoria persa ou iraniana elevada,  comentada... Nur...

quarta-feira, 2 de março de 2022

Dalila Pereira da Costa: homenagem de coração, no dez anos da sua partida para a Terra Lúcida. E acrescentado.

Este texto foi escrito após a saída do corpo físico da Dalila Pereira da Costa, já só em corpo espiritual rumo aos mundos mais luminosos que sempre sentiu e intuiu, demandou e amou. Não fora ainda publicado, pois pensava completá-lo, o que faço hoje, 2.III.2022, levemente ampliado, quando se comemoram exactamente dez anos da sua entrada nos maravilhosos mundos subtis e espirituais, onde ela merecidamente estará certamente muito bem. No seu 105º aniversário, a 4-III-23, foi de novo relido e melhorado...

                                                

Dalila Pereira da Costa, uma das últimas grandes vates portuguesas, partiu...
Dalila Pereira da Costa, notável escritora, poetisa, ensaísta, jardineira, celtista, católica, mística e gnóstica, acaba de deixar a Terra e a sua bela casa ajardinada na Av. 5 de Outubro, no Porto, palco de tantas
conversas, lanches, visitas ao jardim e à sua estufa e plantas, e algumas meditações...
As suas múltiplas obras
espirituais, a sua clariaudiência nocturna, a sua bondade, o seu acrisolado amor a Maria mãe de Jesus, aos Anjos e Arcanjos e a Portugal, à Sabedoria perene e a uma melhor união entre o Ocidente e o Oriente, certamente perpetuar-se-ão em alguns dos seus leitores e amigos...
Nascida a 4 de Março de 1918 no Porto, de ramos de família com raízes durienses e irlandeses, licenciou-se em Letras na Universidade de Coimbra em 1944, onde recebeu o magistério de Joaquim de Carvalho, Damião de Peres e Torquato de Sousa Soares (este tendo-o eu ainda visitado em sua casa a conselho de Dalila), e manteve uma ligação forte com os ideais e os homens da Renascença Portuguesa, fundada no dealbar da República por Leonardo Coimbra, Teixeira de Pascoaes e Jaime Cortesão, grandes almas que cultivaram não só os bens e valores portugueses pelo amor, a saudade, a arte, a ciência, o tradicionalismo e patriotismo, como genialmente se lançaram em voos de criatividade literária e investigação filosófica e mesmo espiritual, em especial  Leonardo Coimbra, Teixeira de Pascoaes e Jaime Cortesão. Discípulos destes, e muito amigos de Dalila, foram alguns valiosos pensadores, e destacarei dois com quem convivi mais amistosamente ao longo de alguns anos:  Sant'Anna Dionísio (1902-1991) e Agostinho da Silva (1906-1994).

Sant'Anna Dionísio, Dalila Pereira da Costa e Pedro Teixeira da Mota. Capela de Rio Mau.

A valorização da mitologia, da poesia, da filosofia e da mística como vias de salvação ou de iniciação foi uma das suas ideias forças  vectorizantes da sua vida e obra, e num dos seus bons livros sobre a Tradição Espiritual Portuguesa, A Nau e o Graal, e pioneiro pois de 1978, defende o conhecimento como acto total de um ser total: «Em alma, corpo e espírito. Onde a realidade será conhecida partilhadamente pelo pensamento e sentimento. Onde o coração é o órgão eminente do conhecimento. Em participação com a Realidade». Vivermos mais conscientes do coração espiritual e da sua irradiação de Amor, diremos nós hoje, no seu aniversário de 2023, relendo-a, invocando-a...

Na realidade podemos dizer acertadamente que Dalila Pereira da Costa era um ser que levava consigo  intima, discreta e como que curvadamente o coração feito graal, ou caminho para o Graal, pela sensibilidade e capacidade de empatia e de sintonização subtil grandes.
Estudiosa, atenta e sensível aos símbolos e forças manifestados na saga dos Descobrimentos, destacou a Cruz de Cristo, o Escudo real, a Esfera armilar e o Graal como símbolos vivos e criadores agindo sobre os seres "com a força de verdadeiros mandalas. Ideogramas do homem e do cosmos, sem cessar em todos os instantes e ubiquamente, durante sua obra no mundo - mostrando-lhe e repetindo-lhe o modelo
do Todo organizado, para essa sua obra: como integração última".
Para esta aspiração e crença no regresso à Divindade, à Pátria-Mátria original, ao
Paraíso, a mundo espiritual primevo, contribuía a sua forte capacidade de recuperar memória subtil, que lhe permitia recolher imagens contidas ou ressoantes como memórias nos locais que visitava ou mais amava (tal o seu Porto) ou mesmo recuar ao mundo espiritual antes da queda no corpo físico de origem animal, ou mesmo ainda como ela acreditava, a vidas passadas. 

Uma visão da maior parte dos livros da Dalila por ordem cronológica
Na sua vasta obra de cerca de trinta livros Dalila Pereira da Costa fez uma revisitação erudita, espiritual e imaginativa das grandes linhas de força, temas, autores, mitos e realidades do território português ao longo dos séculos, destacando-se as aproximações bastante pioneiras à espiritualidade de Fernando Pessoa (O Esoterismo de Fernando Pessoa, 1977), ou ainda a Camões, Gil Vicente, Antero de Quental,  místicos e místicas portuguesas, participantes do movimento da Renascença Portuguesa, dos povos e grandes seres que aqui passaram e as influências que trouxeram, integrando tal na vasta tapeçaria dos movimentos europeus e planetários tanto históricos como míticos e espirituais.
Algumas dessas obras, como dissemos, são incursões no mundo
imaginal, em que Dalila inspirada por captações em modos subtis de imagens, palavras, diálogos, partilha tal em forma poética, sendo por isso de difícil hermenêutica,  de leitura compreendida na sua pluridimensionalidade, já que convergiam memória fundíssima, sonhos, desejos, imaginação, receios e visões. Levam títulos como Jardim de Alvorada (1981), A Cidade e o Rio (1982), Hora de Prima (1983), Mensagem do Anjo da Guarda (1993), Portugal Renascido (2000).
De conteúdo mais íntimo, vivencial e espiritual, em que tenta
compreender os seus quatro grandes momentos visionários e  extáticos são A Força do Mundo, de 1972, que publicara aliás antes em 1970 em francês sob o título L' Experience de l'Extase na revista Esprit, e os Instantes nas estações da Vida, de 1999, momentos que ela em geral, muito discreta, não falava interessando-se mais sobre os nossos trabalhos e realizações, e partilhando as suas angustias pela destruição da terra e alma portuguesa.

As últimas obras de Dalila Pereira da Costa destacam-se pela sua crescente mestria do comparativismo religioso e espiritual, a par dum aprofundamento das suas próprias capacidade de compreensão interior e algumas delas são incursões valiosas nos domínios subtis da alma, do espírito e da alma mundi. Destacaremos a Corografia Sagrada, Temas Portugueses, 1993, dedicada às raízes antigas, à sacralidade das serras, a tradições e festas  de portugueses, e a seres como Gil Vicente, Fernão Mendes Pinto, Antero de Quental, Raul Brandão, Camilo Pessanha, tendo um dos capítulos "Tripla peregrinação por Terras da Beira Alta e Trás os Montes" a particularidade de eu ter participado com ela e o sr. Acácio, seu caseiro no Douro, em Outubro de 1981, em  visitações de S. Pedro de Balsemão, Panóias, Cárquere.  
Também bem valiosos são Entre  Desengano e Esperança. Ensaios Portugueses, 1996, e Dos Mundos Contíguos, 1999, que já abordámos neste blogue, particularmente este último pelas suas interrogações face à fenomenologia das dimensões subtis e espirituais dos seres e do universo e pelo seu conhecimento das tradições não só portuguesas e cristãs mas também celtas (e houve nela com o decorrer do tempo um crescimento da apreciação das fontes pagãs),  indianas  e iranianas; e mesmo de certas noções da física moderna se soube apropriar, algo bem necessário de se verificar mas raro.

Já os seus dois últimos livros, quase in folios  de 139 e 105 páginas  Contemplação dos Painéis, 2004, e As Margens sacralizadas do Douro através de vários cultos, 2206, são notáveis tanto pelo pioneirismo das abordagens tingidas de certa clarividência  como pelo facto de que os escreve e publica com mais de oitenta anos de idade e ainda com uma alma  controlando e utilizando harmoniosamente o cérebro e o corpo, fruto de um modo de vida amante da Natureza, sóbrio, recolhido, estudioso, devoto, espiritual, o que nos deve impulsionar em tal e sua senda, bem característica da Tradição Espiritual Portuguesa...

Transcrevemos o índice desta sua última obra, sem dúvida altamente recomendável: I Parte: A Mitologia da Água. O Poder Oracular da Água. Dois Santuários do Douro, Cachão da Rapa e Pala Pinta. O Sol e a Serpente. A Vinha e os Cultos Mistéricos.  O Xamã nas margens do Côa e Douro. O Eremita. As Núpcias da Terra e do Céu. Uma reintegração Realizada. História e Trans-História. Tótem. Tribo e Genealogia. O Primeiro Santuário Português do Douro. E a Primeira e Última Cidade do Douro, A Fronteira, As Muralhas. II Parte. À Irmã Galiza com saudades: A Lua e a Serpente.  Duas Fatais Heranças. Os Filhos da Deusa Lusina. Arqueologia e Filosofia Portuguesas. A Saudade na Filosofia Galaico-Portuguesa.
Gerou ainda da sua alma tão luminosa e serena uma correspondência imensa, já que conservava cópias das cartas enviadas mais importantes, a qual está a ser devidamente tratada para brevemente sair a público. Conservo uma dezenas de cartas e postais dela, que espero partilhar também. 

A Dalila a ser entrevistada pela Sandra Pinheiro...
 No ano de 2018 comemorou-se na Universidade Católica do Porto os 100 anos do seu nascimento e em 2020 saíram as actas: Dalila Pereira da Costa. No centenário do nascimento, 1918-2018,  440 páginas de numerosas contribuições onde encontra a minha, aliás transcrita levemente melhorada neste blogue...                                                                   

Fotografia na sua biblioteca, na sala térrea, onde se encontravam os seus dois ou três mil livros e  em geral recebia as pessoas amigas, adornada com bastantes fotografias dos seus mestres e amigos, objectos oferecidos e, às vezes, com o seu cãozito a saltitar esfuziantemente, numa imagem bela e significativa, durante um diálogo entrevista com Sandra Pinheiro, realizado em 21-VII-2009, três anos antes  de ela nos deixar fisicamente, mas não subtilmente pois está connosco na comunhão do corpo místico da Humanidade, uma realidade da qual deveríamos estar mais cientes e, logo, espiritualmente mais alargadamente conscientes.
Que o Graal divino arda poderosamente na sua alma e os mestres e
Anjos estejam com ela, e que como sibila de Portugal, da Natureza como manifestação divina e da espiritualidade unitiva, possa ela inspirar ainda muitos seres. Muita luz e amor na Dalila e, através dela e suas obras, em nós e no mundo...

terça-feira, 1 de março de 2022

O conflito entre a Ucrânia e a Rússia visto como o campo de batalha de Kurukshetra. Qual é o dharma que nos compete, conforme os ensinamentos da Bhagavad Gita?

"A guerra é agradável para os que a desconhecem" é um admirável dito de Erasmo, um dos pais da verdadeira Europa, a humanista, ética, religiosa ou espiritual,  em latim, a língua franca de então, dulce bellum  inexpertis (e que ele ao longo da sua vida foi ampliando nos Adágios com imensa divulgação, adesão e sucesso) e por isso, após tanta história e guerra (e alguma recente como a da Jugoslávia)  não se esperava que ela se manifestasse tão claramente, e não insidiosa e disfarçadamente, na civilizada e industrializada Europa, ainda bastante combalida dos efeitos pandémicos e sistémicos opressivos e destrutivos do Covid. Mas aconteceu e isso tem provocado naturalmente grande agitação ou mesmo furor nos "media" e logo comoção, indignação e furor-temor nas pessoas, talvez até desproporcionadamente já que a guerra continua a acontecer em várias partes do globo e em geral graças ao fornecimento de armas e apoio anglo-saxónico e europeu, quando não há mesmo ocupação indesejada, tal como sucede impunemente na Síria e de certo modo no Iraque.  

Ora tal como o mais importante texto da religião e da espiritualidade indiana, comparável entre nós aos Evangelhos, mas bem mais elevado ou profundo em vários aspectos, a Bhagavad Gita, nasce no começo da imensa batalha de Kurukshetra, entre parentes, ao ser dado por Sri Krishna em forma de diálogo a Arjuna   para o impulsionar a cumprir o seu dever de lutar pelo Dharma, o Dever, a Ordem e Harmonia Cósmica, lembrando-lhe até que as almas são imortais e que portanto quando as forças "asuricas" ou do mal querem prevalecer, então há que lutar, Ele próprio, avatar, descendo à Terra, ou às pessoas, para enfrentar tais forças ignorantes e destrutivas, assim também nós vemos hoje nos dois lados em conflito razões suficientes para em ambos haver muitas pessoas a pensar que estão a lutar pela verdade, a justiça e a liberdade e, logo a cumprir o seu dharma ou dever.  

A nós, não ucranianos nem russos, algo distantes geograficamente, embora os nacionalismo, europeísmos e Natos sejam frequentemente imperialistas ou globalistas (e daí que estejam a atiçar o conflito fornecendo armamento e provocando certamente mais mortes de ambos os lados), apenas  competir-nos-á esforçar-nos por mantermo-nos serenos, alinhados verticalmente, e estimular as possibilidades de diálogo, para que as negociações levem ao entendimento e ao fim da guerra, tanto mais que os pontos em questão são poucos e devem ser solucionados pela razão, o bom senso, o pragmatismo ou mesmo o amor compaixão, já que Humanidade é una e a Europa é una, de Portugal à Rússia...
Sabemos porém que será difícil porque há uma guerra cada
vez maior do império norte-americano ou anglo-saxónico, e da sua NATO, mais da submetida direcção da União Europeia,  contra a Rússia e a China, seus principais rivais no poderio geo-estratégico, económico e ideológico. 

                                                Nenhuma descrição disponível.

 E também porque a violência e a morte  se tornaram banais, seja virtualmente em filmes (tal a manipuladora indústria hollywoodesca) e vídeos, seja realmente em conflitos e assassínios,  nas prisões ou cidades (como recentemente vimos perpetrado cobardemente sobre o heróico vencedor dos terroristas do ISIL  e mártir Qasem Soleimani, em cima na fotografia), pelo que a vida humana cada vez conta menos para a generalidade dos governos e até para o público. E é mais quando  um cidadão norte-americano ou inglês é molestado algures, ou então os seus interesses são ameaçados, que se fazem logo levantar vozes e ameaças dos que são empáticos ou arregimentados com os que até há pouco eram os senhores únicos do mundo, com um palmarés invejável de guerras começadas e vencidas, e em que morreram e ficaram feridos e traumatizados milhões de seres e a terra adoentada e cancerizada. Daí que no Ocidente anglo-saxonizado, mas não só, haja quem esteja a querer fazer uma espécie de nova guerra civil espanhola, com os mais explosivos ou mesmo fanáticos alistando-se já em armadas para irem lutar por um ou outro lado.

                                             

O ensinamento de Sri Krishna, uma das faces divinas mais adorada no planeta, é ainda hoje uma fonte fundamental de clarificação, harmonização  e aprofundamento psicológico e espiritual pelo que a leitura educativa da Bhagavad Gita  seria muito recomendada a todos, e em especial aos políticos warmongers ou belicosos, tanto mais que existem muitas edições no mercado (entre nós as Publicações Maitreya tem duas), para que diminua a sua ignorância e violência incorrecta, pois a verdadeira guerra santa ou jihad, tal como Henry Corbin, Louis Massignon ou o nosso amigo Agostinho da Silva nos explicaram com sabedoria, é contra os nossos instintos e ego, vaidades e ambições, arrogâncias e egoísmos, preguiças, invejas e infidelidades, e visa o objectivo mais elevado de todo o ser humano na Terra, conforme a maioria das vias religiosas e espirituais: controle ou unificação das nossas forças instintivas e psíquicas e  a religação a Deus. E logo uma vida mais harmoniosa, luminosa, criativa, solidária e em amor.

E abrindo agora uma das versões que possuo da tão valiosa Bhagavad Gita, fazendo assim o istixara persa, pelo qual os iranianos, após breve oração, abrem à sorte as páginas não só do Alcorão mas sobretudo dos diwans de Saadi e Hafiz, como fiz e vi fazer in loco,  leio da tradução do sábio Jean Herbert da versão do famoso Sri Aurobindo (e que o meu irmão Luís traduziu há algumas décadas e mais recentemente o amigo Rui Fazenda dactilografou), na página 97, o  versículo 11 do cap. X, no qual Sri Krishna promete aos seres que o verdadeiramente amarem e merecerem que «por amor-compaixão a eles, habito no seu eu  e destruo pela lâmpada resplandecente do conhecimento as trevas nascidas da ignorância». 

É pois sobretudo através desta religação do ser humano com o espírito, com o Ser Divino, ou, se quisermos, apenas o Bem, a Justiça e a Paz,  que a fraternidade humana mais pacífica, solidária e harmoniosa vencerá a necessidade férrea das explorações e violências, egoísmos e ódios, conflitos e guerras.
Possa tal acontecer rapidamente na Ucrânia e que a paz justa
que a maioria dos russos e ucranianos tanto desejam se concretize, mesmo que os senhores financeiros do mundo e os "media", não satisfeitos com os lucros e razias psicológicas da covinagem, continuem a estimular manifestações inúteis ou a propagandear por si, ou por comentadores alinhados-vendidos, o slogan do mata e esfola, ou a demonização da Rússia, muito menos desequilibrada e bem mais europeia que a USA, a NATO, e de certo modo até que o Reino Unido desde que este saiu da União Europeia e a vê como uma concorrente.

Saibamos ver o menos possível, ou não ver mesmo televisão, nem perder demasiado tempo com as notícias sempre distorcidas do que brevemente passará, e para o qual pouco podemos fazer, a não ser intensificarmos o nosso despertar individual e imortal e avançarmos persistentemente no caminho da harmonia, do bem e da realização espiritual, tal como Sri Krishna ou o sábio indiano que escreveu ou intuiu a incomparavelmente preciosa Bhagavad Gita nos ensinam, com conselhos simples mas tão verdadeiros, eficazes e perenes, tal este colhido de novo por istixara, e numa tradução que espero ainda vir a melhorar por mim próprio:

Cap. XIII. 11.12: «Uma alma meditativa virada para a solidão e que se afasta do barulho vão das multidões e das assembleias de homens, uma percepção filosófica do verdadeiro sentido e dos vastos princípios da existência, uma continuidade tranquila de conhecimento e de luz interiores espirituais, o yoga de uma devoção sem desfalecimento, o amor de Deus, a adoração constante e profunda da Presença universal e eterna - tal é declarado o Conhecimento; tudo o que é oposto a tal é ignorância»....