terça-feira, 8 de março de 2022

Dos conflitos que dividem e dilaceram as pessoas e sociedades. Com um sábio poema ( ای بیخ) de Hafez Shirazi -

Estes dois últimos conflitos que tomaram conta das almas humanas e as dividiram, e fizeram mesmo enfrentar-se ou até sub-animalizar-se, o Covid  e suas políticas sanitárias e a luta da Rússia contra a Ucrânia e o Ocidente, indicarão que os factores ideológicos são nas pessoas bem mais importantes que pensámos, já que separam pessoas, amizades e famílias, umas erguendo-se contra as outras, e não discutindo já apenas a bola, os partidos e o preço certo, ou será que deparamos antes posicionamentos fundamentalmente emocionais, em grande parte manipulados pelos "media" e arregimentados, sem haver nas almas verdadeiro discernimento do que está por dentro e detrás de tais acontecimentos e actores, ou o que está em causa nas encruzilhadas e qual é a melhor ou mais justa via, pois tal como Fernando Pessoa dizia no final da Mensagem:  «Ninguém sabe que coisa quer. Ninguém conhece que alma tem, Nem o que é mal nem o que é bem?»?

O Y pitagórico, discernir e intuir bem o caminho. Não sermos marionetas, mas antes seres do caminho do meio. Já com outro artigo no blogue, o bívio ou Y.

Quatro vantagens ou aspectos positivos vejo nestes conflitos, apesar dos muitos trágicos sofrimentos e escombros. Primeiro, caminharmos para sociedades mais justas e sóbrias e para o fim duma ordem internacional demasiado unilateralmente dirigida pelos que detêm o dólar norte-americano e manipulam pelos media em grande parte o mundo. Segundo, aceitar o dilacerar de antigas amizades ou, vamos lá, aparentes conhecimentos tidos como aceitáveis, pois ficamos a ver os outros sob aspectos que apenas suspeitávamos ou nem sequer, e portanto ficamos com mais discernimento quanto ao que eles são ou valem em certos aspectos. Terceiro, é  que reduzem a nossa convivialidade dialogante, nomeadamente se queremos evitar discussões e conflitos desnecessários. E assim tanto vamos eliminando de seguir no Facebook pessoas, e haverá quem as remova, para que já não nos incomodem ou os incomodemos na página inicial, como também deixamos praticamente de falar ao telefone,  para  não termos que discutir, criar sofrimento e desilusão nos outros, ou ouvir então insultos soezes e ordinários a quem quer que seja. Deste modo libertamo-nos de exacerbar tolices e teimosias, lutas e ódios que só densificam o labiríntico ou pantanoso astral do mal na humanidade, ao serem amplificados, esperando que o bom senso e o amadurecimento pelo sofrimento tornem as pessoas mais sábias, fraternas e menos sujeitas a tantas fobias desgraçantes...

O astral labiríntico que atrai e prende as almas, numa pintura de Bô Yin Râ.
A quarta vantagem, com duas vertentes, é podermos termos mais tempo para irmos trabalhando e dançando, lendo e escrevendo, aprofundando e ouvindo o que mais gostamos e bem faz ao mundo, seja por exemplo, como está no vídeo final, as belas vozes da cultura poética iraniana, mesmo sem as percebermos  senão pela tradução, no caso um iluminante poema de Hafiz de Shiraz, e a esta sua cidade natal e de libertação fui eu peregrinar e conferenciar há uns anos, e por isso talvez mais a rosa da cavalaria do Amor no meu coração brilhe, abrindo-me mais a valorizar, e entramos na segunda vertente, da escarpada subida à montanha de Meru, Albornoz ou Himavat,  certamente muito importante, a relação polar, nomeadamente quando com uma ou outra alma mais afim, subtil, valiosa dialogamos ou mesmo vivemos, comungando do Graal  ou Jam-e Jam da gnose, do amor e da realização e assim peregrinando juntos às caravanserai do mundo espiritual e divino....  
Possa  da lama de tanto ódio e violência, insensibilidade e arrogância, a flor de lótus do Amor despontar em mais seres e uma paz mais verdadeira, divina mesma, permear-nos a todos...

Dara Shikoh e sua alma polar Nadira Banu Begum, mártires no caminho do Espírito... Mil pétalas do lótus da Divindade em vós e unindo-nos...

Oiçamos então Hafiz, de Shiraz, terra natal de outro mestre da  religião do Amor persa ou iraniana, Saadi (e ambos apreciados por Antero de Quental e Fernando Pessoa), com uma poema de grande sabedoria e belas imagens, que nos falam do Caminho do aperfeiçoamento e da humildade, da libertação dos desejos e da realização do amor e luz Divina. E possa "a Luz fulgurante da Verdade chegar ao nosso coração", tal como ele ora ou reza poetizando...

                         

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