quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Três orações poemas, manuscritos verticalmente, rumo à Divindade.

 

Escritos em sucessivos dias, os dois últimos em Fevereiro de 2024. O primeiro já fora publicado. Vocabulário estrangeiro: Dharma, dever ou missão. Rita, Ordem do Universo, Logos, Inteligência, Razão, Palavra, Verbo. Tao, o princípio e ordem imanente da manifestação. Satsanga, companhia, associação, discurso, na Verdade. Sampradaya, comunidade que segue uma tradição. Umma, a comunidade dos fiéis, vivos e mortos, do Islão. Houve pequenas alterações ao transcrevê-los.

                                                      I

DEUS,
só Ele
sabe plenamente

na luz 
sábia
e dinâmica

quem é.

 E nós?
Nós somos o Ser
e o não-Ser
e, portanto,
ora somos
ora não somos,
mas aspiramos a ser
mais plenamente;
e eis as religiões
e espiritualidades.

A busca da entrada
na nossa intimidade
onde está a Divindade
é altamente valiosa
e harmonizadora,
em tudo e todos.

Eis o que inscrevemos
aqui e agora:
- Aspira a que Deus
desça mais em ti,
nasça mais em ti!

    Aum, Amen, Hum.

                                 
                                                      II
A Divindade desce sobre nós
quando muito a invocamos.
Desce do Alto,
por níveis e elos,
e pela cabeça até aos pés,
unindo o Céu e a Terra,
num eixo dos mundos
vivo em nós e nas árvores,
nas colunas e na Natureza.

Escreve, pensa, medita,
ora e fala com o coração
e o olho espiritual abertos,
e gratos, à sua Luz,
e comunga pela
    justa liberdade multipolar
com o corpo místico 
da vera Humanidade,
  que nos religa 
à íntima Divindade!

III


Ó Brilhante Luz
que nos geraste e iluminas,
Ó Divindade
íntima e subtil,
que em nós habitas,
Ó fonte do Amor,
e da Sabedoria,
torna-nos mais abertos
ao Teu Projecto,
Plano, Ordem,
Plenitude,
Dharma e Rita,
Logos e Tao!

Saibamos fluir
criativamente
com os Anjos, Mestres
e seres afins
na Tua imanente companhia,
em satsangas, sampradayas
e ummas brilhantes,
gerando amor e paz,
justiça e fraternidade,
entre todos os seres,
na multipolaridade
que deve triunfar,
para estabilizar no bem
a reunida Humanidade,
sob a tua Luz, ó Divindade!
 

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Agostinho da Silva: nascimento, vida e morte, e dos projectos, realizações e ensinamentos. No seu aniversário, em 2024.

O ciclo de vida e morte é inelutável na Terra; nada dura eternamente, tudo passa, tudo se transforma. Ontem nasceu-se e amanhã morre-se e nesse interim entre o não ainda e o mais não, temos nós de Ser e logo de agir o mais sábia e plenamente possível, sem nunca sabermos bem a fortuna da duração viva do fio de prata que nos liga ao corpo espiritual, e que as Moiras, Karmas e Parcas (Cloto, Láquesis e Átropos), ou ainda as Fúrias, Diabos e diabólicos, podem deixar cortar, ou cortar, a qualquer momento.
Onde tal se torna mais impressionante é quando os seres morrem  precocemente para o que poderia ter sido o seu projecto de vida natural, embora certamente seja difícil deslindarmos quanto tempo cada pessoa teria, ou então deveria ter, para cumprir seja os seus projectos de vida, seja os que a Vida quereria que ele realizasse, e Vida entenda-se aqui a Providência Divina, a Alma do Mundo, a Santa Sabedoria e suas Musas e Parcas...
Não é fácil e discernirmos claramente o projecto de vida de uma pessoa, com as suas sucessivas fases, objectivos, metas e que frequentemente são atacadas, abortadas, não alcançadas pois as pessoas podem não conseguir realizar várias hipóteses criativas que lhe eram possíveis e que seriam convenientes tanto para si ou como para o Todo, face aos ambientes e circunstancialidades adversas.
Outras pessoas conseguem viver muito longamente, ultrapassarem os 80 anos, por exemplo, e realizarem os seus projectos ou missões, ou mesmo a maior parte das suas potencialidades mais valiosas e úteis aos outros, conseguindo terminar até os últimos anos de vida com sabedoria e serenidade.
Sabermos então discernir em que ponto da nossa jornada estamos, quais os objectivos, metas ou frutificações mais adequados, é então fundamental mas respeitando-se de preferência sempre aquela obrigação de todo o ser  praticar o auto-conhecimento e a religação espiritual ou mesmo divina.
Os seres que conseguem isto mais plenamente são poucos e naturalmente irradiam energias dinâmicas de maior completude e, além de poderem intensificar mais o desenvolvimento de relações e criatividades humanas benéficas e frutuosas, são o que se chamam polos, eixos, centros de ligação entre a terra e o céu, o mundo dos factos e o das ideias, entre a matéria e o espírito, entre a horizontalidade humana e a verticalidade supra-humana, a imanência e a transcendência e em algumas tradições reconhecidos como mestres espirituais, qutb, imam.
É natural que tais seres ao longo da sua vida desenvolvam ora estados interiores mais elevados, que ensinam ou transmitem a alguns discípulos, ou então, no mundo ocidental, onde gerem inúmeros alunos, diálogos, actos, publicações, criações luminosas, sendo reconhecidos e acolhidos no que de mais sábio e útil à humanidade têm e podem dar.
Entre nós Agostinho da Silva foi um pensador, escritor e pedagogo  que ao longo da vida teve sempre uma boa aceitação ambiental e profissional, ou na leitura das suas publicações culturais e ensaios, e atingiu uma merecida e mais reconhecida aceitação nas últimas décadas da sua vida, atingindo uma notoriedade maior através da amizade com alguns governantes e sobretudo de conversas televisivas, entrevistas jornalísticas e diálogos para livros, brilhando ou cativando pela sua sabedoria, espontaneidade, independência, graça e animada convivialidade... 
                                              
Todavia a sua visão de um movimento de harmonização e espiritualização das pessoas e da sociedade, num projecto de reactualização das festas e do culto do Espírito do Santo, iniciado no tempo de D. Dinis e da rainha Santa Isabel e que ele ainda encontrara sobrevivendo em alguns aspectos em núcleos de luso-descendentes ou em povos da língua portuguesa espalhados pelo mundo, não conseguiram ser implementados, não desabrocharam, goraram-se com o enfraquecimento da sua idade, pela dificuldade de juntar as pessoas mais afins e aderentes às suas ideias visionárias e de conseguir-se organizarem-se por assuntos ou departamentos e,  sobretudo ainda, por obstáculos dos seus amigos políticos, nomeadamente Roberto Carneiro ao impedir que o dinheiro que Agostinho da Silva tinha numa conta bancária em nome do Fundo D. Dinis, chegasse a projectos alternativos, rurais e comunitários na linha do Espírito Santo.
Mas talvez devamos reconhecer que para várias dos seus amigos, e nelas me incluo, face a esses projectos mais utópicos, o mais valioso era ainda ele, no que era, sabia e propulsionava individualmente, numa teia de relações de amizade que nascia de pessoa para pessoa, assente ora de boca a ouvido, ora em cartas, ora em conversas que eram frequentemente socráticas, maiêuticas, tanto despertantes das nossas possibilidades e confiança como também clarificadoras de múltiplos aspectos do ser humano, da história, da espiritualidade, contemporaneidade e que se pragmatizavam ou enraizavam no real através das sugestões de autores e livros, de pessoas, de telefones e moradas, de relações, viagens, projectos, dinamismos... 
                             
Quando um tal ser parte da Terra (e muita luz e amor para ele, Maria Violante Vieira, sua vizinha e companheira, e Pedro Agostinho, seu filho), embora fiquem os livros, as gravações e as memórias, e se comemore a data da sua morte e nascimento, como hoje estou a fazer, muito da impulsão viva, da confiança e coragem clarificadora deixam de operar a partir dele diante de nós e, ou nós a conseguimos ressuscitar bem por meditação, leitura, reflexão, meditação e escrita ou então frequentemente as palestras em que se fala (e falou-se tanto...) dele ou dos seus ensinamentos acabam por enfastiar ou tornarem-se letra algo morta, sobretudo quando o orador, escritor ou palestrante não tem a sua identidade espiritual mais assumida, desperta e irradiante, se o seu fogo interior não foi acesso ou comungou no de Agostinho, se nada de original ou de aprofundamento nos pensamentos de Agostinhos  realizaram, e assim quase que acabam  por matar ou diminuir a potencialidade impactante e transformante do encontro das pessoas com as melhores ideias forças do seu magistério, amplo e tão variado, que exige ser bem investigado, para que encontramos o que nos diga mais, ou nos pareça o mais certeiro e elevado e não o sintamos demasiado no ar ou contraditório...
Este último aspecto é importante de se reflectir pois Agostinho da Silva tanto foi um ser que viajou, peregrinou, amadureceu, evoluindo portanto, como também foi e muito um ser de conversa, de diálogo a dois ou em pequenos grupos, o que levava que as suas palavras fossem frequentemente específicas para cada pessoa, momento ou situação, ainda que certamente o núcleo das suas ideias e valores pouco mudasse, formado na base provavelmente na infância junto ao rio Douro com pais sérios e abnegados e depois desenvolvido nos anos universitários na Faculdade de Letras do Porto, com professores ou mestres como Leonardo Coimbra, Teixeira Rego, Hernâni Cidade, os quais mais de uma vez elogiou e na companhia de amigos ou condiscípulos como Sant'Anna Dionísio, José Marinho, Delfim Santos, com quem coordenou até a revista portuense A Águia, seguindo-se depois a sua passagem pela revista Seara Nova, mais racionalista, de António Sérgio, Raul Proença, Câmara Reis, Aquilino Ribeiro mas também Sant'Anna Dionísio.
A sua missão de semeador cultural, de divulgador de noções básicas ou conhecimentos mais complexos e por fim dos mais abstractos, subtis e espirituais, é bem visível pela quantidade de publicações culturais divulgativas que deu à luz (por sua iniciativa e a baixo preço), para além dos ensaios ou reflexões mais históricos, filosóficos, axiológicos e éticos, onde contudo desde cedo alguns aspectos de uma revisitação da tradição cultural e espiritual portuguesa o fizeram aperceber-se de núcleos bem importantes e perenes, alguns dos quais já bem discernidos e desenvolvidos por Jaime Cortesão, seu mestre e amigo na sua longa passagem e estadia no Brasil, casando-se mesmo com a sua filha, ou outros em que foi pioneiro na abordagem, tal Fernando Pessoa.
Serão estes núcleos que Agostinho da Silva potenciará com múltiplas aproximações e congregando no círculo das suas amizades e influências uma série de outros pensadores que vibravam nas mesmas linhas culturais-espirituais, mais velhos e mais novos e que entre si se encontraram, dialogaram e frutificaram e poderemos mencionar, depois da experiência longa de duas décadas no Brasil e onde conviveu com valiosos políticos e pensadores brasileiros,  Dalila Pereira da Costa e Aldegice Machado de Rosa, António Quadros e Lima de Freitas, António Telmo e José Florido, Raul Traveira e muita gente nova, dos tais 500 e depois 700 que na décadas de 80 e 90 recebiam as suas cartas várias e folhinhas onde ia lançando as suas ideias e intuições, ora como reflexões, propostas, ora já como quadras aforísticas de alta condensação de sabedoria, na sua linha de valorização da liberdade, da criatividade, da fraternidade, da solidariedade e de uma espiritualidade universal que conseguisse abordar e mostrar o que de comum há entre as várias religiões e tradições, a física moderna e uma vida simples e natural.  
Antero de Quental, um dos elos importantes para Leonardo Coimbra e em certos aspectos inspirador de Agostinho da Silva
Talvez possamos dizer que a sua última floração desiderativa, expressa nos últimos anos da sua vida, foi a da criação de centros de estudo, de comunidades, e conventos de vida comum, algo na linha da Ordem dos Mateiros de Antero de Quental (sobre a qual já escrevi neste blogue), investigando e implementando a tradição do Espírito Santo, a qual é de certo modo a harmonia do seres com os outros e com Natureza bem como um auto-conhecimento do divino espírito, manifestado socialmente numa vida que torne imperantes a criança, a poesia, a dádiva, a criatividade, a solidariedade, o amor, e daí a sua reflexão reiterada sobre a Ilha dos Amores em Camões, e o que caracterizava as festas do Espírito Santo, considerando tais valores e realizações os que norteariam não só os povos de língua portuguesa, para os quais sempre mais trabalhou na sua missão dialogante, pacificadora e universalista, mas para o mundo inteiro, numa certa utopia impossível, evidente para os amigos mais realistas e que ele tinha também de reconhecer face à crescente absorção da tradição nacional pela burocrática e oligárquica União Europeia.E o que diria ele hoje desta última degradação da União Europeia de Ursula von der Leyen e seus acólitos que tanto destruíram a alma e a vida de milhões de europeus...
                                                  
Já passando três décadas depois da sua morte, e parece que foi há tão pouco tempo dada a magnitude do que com ele sentimos ou ouvimos, ou mesmo dada a semi-abertura da porta do coração-memória,  há que reconhecer que a luta continua, e que o seu ideário, enquanto veio de uma Tradição fraterna e espiritual universal continua vivo em numerosos seres, unidos sobretudo na lusofonia, os quais o vão ainda trabalhando, por diversos modos nos nossos dias, em certos casos aprofundando-o mesmo, e abrindo assim realizações 
mais completas, nesta incessante corrente que denominamos Tradição cultural e espiritual, não só portuguesa e da língua portuguesa, como perene e vasta, já que o Graal é universal e multipolar e implica um "optimismo escatológico", na bela frase da  sábia Daria Dugina Platonova, e que muito vivo sempre esteve e está em Agostinho da Silva. Aum...
                                   

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Um conto espiritual: O fim do mundo, os cavalos apocalípticos dos medos e das seitas. E o cavalo ou o dragão do discernimento libertador.

O Kalki avatar (de Vishnu Narayana), do Sanatana Dharma ou tradição indiana, montado no seu cavalo branco do discernimento libertador.

Já há muitos séculos que tanto as datas como os sinais dos fins dos tempos eram profetizados, anunciados ou imaginados. Para a entrada no ano de 2000 tal intensificou-se e já não apenas a um nível popular, de seitas religiosas ou de pastores evangélicos norte-americanos e brasileiros, mas até de alguns tidos como gurus modernos e mais cultos. Uns citavam, de origem popular ou bíblica, o dito: “aos mil chegarás, dos dois mil não passarás”; outros acreditavam nas Centúrias do astrólogo francês Nostradamus, nas quais, segundo certas interpretações, o ano de 1999 estaria apontado como o começo do fim; e outros baseavam-se em "canalizações" de espíritos ou de extra-terrestres. 
Não foram portanto poucos os que começaram a perscrutar o famoso Apocalipse, um dos falsos ou fakes do Novo Testamento, atribuído ao apóstolo S. João mas escrito já depois dele e num estilo e escopo bem próprio do visionarismo zelota e messiânico da época e que nada tem a ver com o helenismo ambiental dos escritos joaninos, embora ao longo dos séculos tenha tido, pelo seu visionarismo, uma fortuna grande na arte e literatura religiosa, tal como podemos ver em Albrecht Dürer.
Alguns recorriam aos sinais dos céus nesse mesmo ano de 1999, guiando-se pelas tabelinhas astrológicas ou pelas previsões de reputados astrólogos, mais ou menos estudiosos, imaginativos ou exploradores.
E como os satélites
, as televisões, os jornais os rádios e a internet levam a toda a parte o que se passa no mundo, muitos começaram a destacar os desastres e cataclismos que estavam a acontecer, para comprovarem o crescimento de tragédias que anunciavam o fim dos tempos. 
É claro que numa questão destas a mistura de superstição e medos pode engendrar imagens com tal poder energético, emotivo e logo de contágio no invisível das almas das pessoas que grupos ou mesmo populações podem vir a reagir violentamente, irracionalmente.

Ora precisamente em finais de 1999 assisti eu numa cidade, do interior, indiana, a uma cena verdadeiramente fantástica. Encontrava-me na praça central, que era também o local donde partiam as  camionetas em todas as direcções do distrito, quando repentinamente uma azáfama e excitação tremenda deflagrou impelindo todas as pessoas  a quererem fugir nos autocarros ou a pé, porque já não longe subindo em direcção à cidade e à praça ouvia-se  e era visível uma grande nuvem de
poeira, um estrépito  prolongado e crescente e que se desvendava como uma profusão de cavalos pretos à desfilada suscitando o medo e logo o pânico.
Tudo se pôs a fugir mas os que se
atrasaram na debandada viram-se a breve trecho envolvidos por dezenas de cavalos que na sua cavalgada e saltos os podiam ferir. Foi então que eu berrei: - Não se assustem, não se atirem pelas estradas, não receais os cavalos negros, entrem ou encostem-se às casas. Mas a atmosfera, exterior e interior, estava já tão poeirenta e conturbada que muitos continuaram a ferir-se escusadamente.
No meio da cavalgada e fuga geral, enveredei por uma rua estreita, e junto a uma casa branca
ouvi duma porta sair um som de orações, que me fez pensar: é aqui que eu devo entrar Bati, ouvi um Om, empurrei a porta e entrei.  Um mestre  indiano estava sentado em cima duma cama-estrado de madeira  junto a uma bela estátua de Krishna e Radha abraçados.  Ele respondeu ao meu juntar das mãos e inclinar-me e indicou-me  que arrancasse duma planta uma folha. Era o sagrado tulsi ou manjericão, e assim o fiz cheirando-o, passando-o pelo terceiro olho e mastigando-o. 
Indicou-me que me sentasse em  meditação, pronunciou algumas orações, das quais conhecia algumas, o que me possibilitou acompanhá-lo e entramos em silêncio. Não demorou muito o meu olho espiritual a abrir-se e pude contemplar a explicação do fenómeno que se passara: eram os medos das pessoas, os cavalos negros, os receios de se morrer com o fim do mundo, mais os de se adoecer, de se perderem as forças intelectuais ou as possibilidades de se sobreviver condignamente, pavores que são enxames no inconsciente das pessoas e que em determinados momentos da vida, duma pessoa ou de muitas, ao dominarem-nas, se tornam suficientemente fortes para se materializarem mesmo aos olhos físicos e logo a amedrontá-las, enfraquecê-las, adoentá-las, forçando-as por vezes a comportamentos selvagens, irracionais, violentos, impulsivos ou então a estados crédulos, hipnotizáveis, submissos. 
 Compreendia agora como, ao contrário  das pragas dos cavaleiros e cavalos do Apocalipse, os profetizados cavalos brancos do Kalki avatar da tradição indiana, ou o do Imam Madhi da tradição islâmica Shiaa, viriam para os seus fiéis em majestade, pureza e justiça e trazendo em cima de si a Divindade mais manifestada, seja neles seja num mestre reconhecido pelos  que aspiram à Divindade e à ligação com Ela, seja como a comunhão com um estado de justiça e de firmeza na ligação ao espírito no interior da comunidade (satsanga, sampradaya ou ummah) dos fiéis ou adeptos.
São mesmo daninhos os cavalos negros das ameaças e desgraças que relincham em nós e à nossa volta e que as televisões e as redes sociais nos transmitem de forma manipulada eficaz, obrigando constantemente a nossa alma a adaptar-se, a insensibilizar-se ou a resguardar-se, pois pensa-se que basta carregar num botão para acabar com tal, quando no fim de contas muito fica registado no interior, de tal modo que mesmo quando não ligamos nem acreditamos no que ouvimos ou vimos, tais energias de violência, mentira e medo podem envolver-nos e germinarem em associações subconscientes nós, com múltiplos efeitos adversos.
Por exemplo, agressividade na condução automobílistica, rispidez e sem tempo de escuta para os outros, tensões a subirem facilmente nos contrastes ideológicos que se tornam confrontos, indiferença ou insensibilidade para apreciar o ritmo e a beleza das manifestações da natureza, diminuição do estado de devoção e amor para os seres que amamos e a Divindade, tudo isso fazendo com que a nossa alma estiole ou se torne um canavial seco nos nervos e seivas, facilmente agitado por qualquer rumor, irritado por discórdias ou dificuldades, ou fendido e desnorteado ou desligado do Oriente luminoso...
Estaremos disposto a valorizar e a dar-nos mais pela harmonia da nossa trindade de corpo, alma e espírito, mais do que a deixar-nos conduzir pela vulgaridade das emoções que a sociedade moderna e os seus media arregimentados, mais do que informando desinformando e desimunizando, tendem a produzir em nós? Para quê continuar a encher-nos e a carregar com tanta ignorância, arrogância, selvajaria, ambição, exibicionismo, cupidez e vaidade de tantas figuras da cena política mundial e nacional, ao recebê-la nas televisões, jornais, internets, livros ou conversas?
E o mundo espiritual, os sábios eternos, as ideias e valores que eles contemplaram, intuíram ou deduziram e nos deixaram para continuarmos a melhorar a nossa acção e compreensão do Universo, da Divindade, da comunhão das almas-espíritos? Quais lemos e reflectimos, e o que queremos fazer deles, ou com eles? Porque oramos e meditamos tão pouco, e tanto nos dispersamos e enfraquecemos?
Com quantos seres nos relacionamos, com quantos continuamos os seus testamentos anímicos, com quantos estabelecemos relações que atravessam as distâncias e barreiras que há entre a vida e a morte, e asseguram-nos a continuidade da amizade e criatividade nos planos subtis da imortalidade da alma espiritual?
As portas daquela casa branca e templo íntimo estavam fechadas e só o rame rame subtil de litania me tocara, mas dentro dela vivi uma grande clarificação da minha compreensão das sombras do inconsciente e do universo,  recebendo mesmo no fim da meditação a sublime luz divina a abençoar-me. Despedi-me do mestre bem grato e ele sorrindo fez-me sentir como ele comungara comigo na meditação e fortuito encontro. Definitivamente, o mundo não acabará senão daqui a milhares ou milhões de anos, e outros mundos e planos existem mas as nossas ignorâncias, violências, injustiças e asneiras essas devem terminar, antes que arrastemos mais seres para tantas situações de sofrimento e de animalidade desnecessárias, frequentemente passando mesmo pelos fins dos seus mundos, ao serem mortas pelo egoísmo, nacionalismo ou imperialismo de alguns grupos e governos mais conflituosos e insensíveis aos valores humanos, éticos e espirituais, como tanto vemos nos nossos tempos..
Decididamente não devemos deixar-nos influenciar ou afectar senão dentro de certos limites pelo que se passa no mundo político e social, embora devamos agir com justiça e sabedoria face a qualquer situação que se possa tornar uma ameaça de fim de mundo, mesmo que seja apenas da justiça, paz e calma de alguém próximo, ou duma zona de Gaia e da sua terra santa.
Há então que trabalharmos criativamente por criar locais, famílias, relações e grupos onde predominem as vibrações da auto-consciência espiritual e cooperação, não-violência, equanimidade e espiritualidade, harmonia sábia e amorosa.
E em que os cavalos, tigres ou dragões do nosso interior ou mesmo do misterioso poder dinâmico não consciente sejam bem domados e guiados por cavaleiros e cavaleiras com discernimento e coragem, abnegação e fraternidade...
Acompanhe, guie ou comungue bem e luminosamente o Dragão azul em 2024! Aum Loong! Om!

domingo, 11 de fevereiro de 2024

Um conto espiritual: O sopro do vento e do espírito impulsiona-nos montanha acima.

                                    

Admirava pela janela o vento forte a abanar o grande carvalho na linha do pôr do sol mas foi a porta que se abriu subitamente, fazendo-me sentir algo surpreendido um vento mensageiro e animado a entrar.
Quedei espantado e interiormente interroguei-me: O que quererá, o que será?
E intuí ser um convite a sair de casa e a caminhar.
Soprava forte lá fora, mas gostava de desafios, de caminhar de noite sob as estrelas, e decidi-me a sair do abrigo da casa. 

                                              
Uma calma grande parecia cair do céu estrelado e pairar, enquanto o caminho íngreme para a montanha parecia cintilar no meio do lusco-fusco do crepúsculo.
As folhas eram arrastadas pelo vento junto ao chão e empurravam-me e fui embrenhando-me pelos carvalhos e castanheiros e os penedos graníticos. Parecia uma estranha marcha aquela em que me encontrava, guiado pelo vento invisível e as folhas do chão que volteavam, e pensei mesmo numa marcha entre o fúnebre e o nupcial. Senti porém que tudo dependia da minha alma, da sua visão e por isso procurava só descortinar vultos simpáticos enquanto avançava para a clareira.

Ao chegar a ela, observei destacar-se num dos topos um grupo de  carvalhos e castanheiros maiores e com mais idade, com os troncos muito esculpidos, carregados de mistérios. Saudei-os psiquicamente, sem saber se eram habitados por espíritos da natureza, se por devas ou anjos das árvores mais individualizados e dispostos a comunicarem connosco.
O vento criara um remoinho com as folhas numa zona da clareira e para aí senti que me devia dirigir por ser o sítio de maior poder e, ao entrar nele, senti-o como um círculo mágico, intensificando por conjunções subtis, telúricas e celestiais as minhas energias interiores e gerando um calor forte sentido pelo meu corpo e ser, talvez correspondente à minha aspiração ao sagrado e ao divino intensificada naquele momento.
Subitamente senti a clareira tornar-se um cimo, uma rampa de lançamento ou aterragem e tudo à volta parecia arder numa cintilação vibratória especial. Os meus braços lentamente abriram-se, esticaram-se e o coração e os pulmões começaram a respirar em comunicação com todos os seres subtis que eu pressentia encontrarem-se naquele local e momento. Era o aqui e agora.
Uma estrela cadente sulcou o céu, vinda das proximidades do brilhante planeta Júpiter e, repentinamente, o meu corpo espiritual começou a alargar-se pela clareira e a expandir-se para o céu estrelado,  que estremecia num cintilar
sincopado ou sincrónico do cântico das cigarras. A minha consciência sentia-a já pouco limitada ao corpo e o coração subtil estava mais quente, como  um sol espiritual.
Os meus ouvidos desentupiram-se num estalido e percepcionei uma espécie de acorde sinfónico provindo das estrelas e planetas misturando-se
com o das cigarras e com os sons conhecidos do arvoredo soprado pelo vento.
Quando desci de novo à consciência de clareira e do corpo na Terra, pareceu-me que passos misteriosos se acercavam de vários lados, e logo os meus sentidos se intensificaram, como se fosse um solitário na noite imensa, qual lobo sem alcateia nas faldas da serra.
Rajadas de vento batiam na minha face e nas carvalhos e castanheiros à volta e por momentos o animal em mim, selvagem e solitário, sentiu todos os medos e desejos possíveis da sua natureza.
Uma ave piou na clareira, i
nesperadamente, e fez-me abrir de novo as janelas do olhar para a copa das árvores e o céu. Eram duas corujas grandes que pareciam troçar de mim, ou apenas brincar e enriquecer a musicalidade do momento.
O anoitecer estava a tornar-se ricamente povoada de sons, pois de repente uma voz humana chegou até ao meu ser e ouvidos, e tocou-me com uma tal qualidade interior que houve como que um embargar da garganta ou o começo dum choro de alegria, de criança.
Intuía quem vinha lá, em resposta a tantas orações e meditações, e vi então um ser, com o sorriso que emanava e que como um braço do rio da Via Láctea me envolvia.
 O Mestre
desvendou-se então numa das entradas da clareira. Era mesmo ele. Vinha só e os seus olhos eram duas estrelas faiscantes, misericordiosas, amorosas, capazes de limpar qualquer negatividade da alma em que tocassem, e pareciam as contrapartes órbicas dum coração tão cheio de amor e amplo como o infinito, que o meu ser foi rapidamente arrancado para fora do seu estado normal e tornou-se uma cana verde ao vento, um fogo a ser soprado com mestria.
- Mestre, Mestre, exclamei, com a voz a ajoelhar-se na garganta e a deixar-me inclinado, reverente, emudecido, mil vezes grato.
- Vem, disse-me ele, e os seus braços abertos eram um convite maravilhoso a entrar na sua consciência e felicidade.
Ao avançar senti as pernas como que de chumbo e, olhando-as, vi subtilmente nelas todos os medos da minha vida aferrados como um cão a morder-me, ou uma bruxa a fazer-me mover lentamente, ou os inimigos a quererem imobilizar-me.
Tive de olhar intensamente, até à medula dos ossos, e gritar-lhes: - Ide-vos, liberto-vos, dissolvo-vos, na felicidade e liberdade que também é vossa. E subitamente vi como que sombras negras a dissolverem-se pelo chão abaixo, lestas até por  irem ser transmutadas e depois absorvidas pelas raízes dos harmoniosos e poderosos carvalhos, que cintilavam como cristais de quartzo, crucificados há muito, entre o menosprezo e a incompreensão dos homens quanto aos seres subtis que os animam ou às energias cósmicas que os alimentam de luz vital e amor.
Senti isto profunda e claramente porque a minha imobilidade, postura e transmutação me ligavam com os carvalhos e porque a minha árvore interior subitamente despertava e crescia, limpa e desafogada dos medos e limitações.
Um calor suave subia pela minha coluna e o cimo da minha cabeça parecia crepitar. O coração espiritual desabrochava plenamente e sentia-me a abraçar e a incluir no amor os carvalhos e todas as árvores e seres do planeta, enquanto o mestre sorria e dizia-me telepaticamente: - Avança agora, eis o Homem.
E ao avançar para ele, vi-o como o Cristo transfigurado, como um portador do espírito e religado à Divindade, que me acolhia e nele subtilmente entrei, despertando mais à minha consciência espiritual . E se hoje,  como qualquer ser na Terra,
vou ora curvado pelos sofrimentos, ora apressado com os olhos no chão ou no céu, ora irradiando verdade e amor, a verdade é que no meu peito, visão e sentir posso comungar e intensificar mais esta realização espiritual e divina, perene.

Pintura de Bô Yin Râ.

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Um auspicioso ano do Dragão, Loong. Que ele seja benéfico para a justiça, a fraternidade, o amor e a harmonia da Humanidade

                                              

 Começando hoje dia 10 de Fevereiro de 2024 o novo ano do Dragão, Loong, saudemo-lo, bem como à civilização, tradição e almas chinesas que o discerniram e cultivaram, e oremos para que inspire e gere realizações e movimentações  lúcidas e  sábias geo-estratégicas, ideológicas e políticas em prol, não da transhumanista-infrahumanista da nova Ordem Mundial, mas  da verdadeira e livre Humanidade provinda da Divindade e da longa evolução na Terra, e de modo a que os seres possam renascer mais espiritualmente e divinamente. 

Segundo a tradição  este ano é  considerado mais favorável aos povos orientais (e nomeadamente à China, pelo que podemos esperar um papel mais activo seu...) e aos nascidos, segundo esta ciclicidade astrológica sínica do zodíaco dos animais, nos anos de 1940, 1952, 1964, 1976, 1988, 2000 e 2012. Se é o seu caso, aproveite ao máximo, arrisque, empreenda, ouse, crie...

O facto de Vladimir Putin ter nascido a 7 de Outubro de 1952 e ser portanto um Dragão, vai certamente  impulsioná-lo  para um ano excepcional, já anunciado pelos milhões de pessoas que apreciaram  a convite de Tucker Carlson a sua sábia lição (na fotografia em cima) dissipadora das lavagens ao cérebro das Ursulas e Clintons, CNN e Milhazes de todo o mundo, e que terá como ponto alto as próximas eleições presidenciais russas em que triunfará, para além da crescente unidade próspera do povo russo sob a sua liderança no cumprimento da sua missão histórica, ou swadharma, algumas vezes já confirmada muito abnegadamente, nomeadamente com os seus grande sacrifícios contra a Alemanha nazi na II grande Guerra, Alemanha que hoje dirigida por burocratas e tolas parece não ter aprendido a lição, mantendo o seu ódio à Rússia.

Se o fim do conflito na Ucrânia e a Pax profunda e justa, que  Putin e os russos, Jinping e os chineses e os países do multipolar BRICS desejam se realizará, já que os neo-cons e neo-nazis da hegemonia excepcionalista e opressiva ocidental (dos USA, NATO, WEF e EU) se opõem ferozmente, com o seu slogan "até ao último ucraniano", é certamente um mistério, pelo que só talvez alguns dos que conseguem transcender as limitações espaço-temporais terrenas e aceder aos planos subtis, espirituais e arquétipos poderão intuir o rumo dos conflitos, e em geral simbolicamente. Mas cremos que sim, e para que cesse tanta mortandade, destruição e enfraquecimento da harmonia eslava, europeia e planetária, oremos nós também... Aum, Amen...

                                            

Oremos e meditemos então diariamente e persistentemnte para que o novo ano do Dragão (com seu mantra Loong), e do elemento madeira (e assim comungue mais com a Natureza, as árvores, as plantas, objectos em madeira), seja bem inspirador, impulsionador  e benéfico, para si, para nós, para muitos, de modo a que saibamos singrar ou mesmo voar criativamente na shakti ou energia interna do Dragão, que une a Terra (Di) e o Céu (Tian), a Humanidade e a Divindade e seus mensageiros, o Passado e o Futuro, o Yin e o Yang, na perenidade sábia, corajosa e invencível do Tao e da sua ordem fluída, inteligente e divina...

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Poema do Rio e da Espada.

Escrito há uns anos, e bastante melhorado.

POEMA DO RIO E DA ESPADA

A espada atirada ao rio,
levada pela corrente a dentro,
ora boiava ora mergulhava,
a espada viva navegava.

Ao tocar no fundo,
alegrava os seixos,
remexia-os e arejava-os,
como cobra, dragão ou peixe.

Mas a espada continuava,
raspando a lama do fundo,
chocando com as fragas,
fendendo a correnteza,
brilhando na sua inteireza.

Num torvelinho maior,
a espada emergiu do rio
e, ninguém a empunhando,

 caiu e sumiu-se nele.
Agora, onde estará ela,
para onde correrá nele?

Entoam as aves os seus cantos,
ao ritmo duma calma viração
que ondula as margens
e pergunta às nossas almas:
És o rio, és a espada, és?

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

"Poetizar", a Poesia percorre a Terra em busca de quem a ame e ligue a Humanidade e a Divindade sábia e criativamente.

Calíope, por Bertel Thorvaldsen.  Poetizar foi escrito a pedido da Cláudia Luna para uma antologia no Brasil, em 2022, e finalizei-o em Fevereiro de 2024.

         POETIZAR

Poetizar na nossa perturbada idade
é querer resistir às adversidades,
erguer a alma acima de transitoriedades,
singrar nos céus e ideais da Humanidade.


Não estamos sós ao orar, meditar ou escrever,
muitos raios, ondas e partículas podem chegar
de seres, energias e causas dinâmicas e afins
que c
onnosco se querem realizar e completar.

Não deixes pois de sentir, criar, lutar
e no papel ou écran teu sangue derramar,
pois não sabes a importância da mensagem,
nem que alma com ela se fortalecerá e sorrirá.

Que cada jornada te encontre criativo e sereno
e possa  ser agraciada com a inspiração clara,
dos espíritos, anjos e mestres que te abençoarem,
e a ser no corpo, alma e espírito realizada.

Junta ainda à prática criativa da po
esia
o silêncio, a meditação e o fogo da as
piração,
para melhor desabrocharem as ideias e palavras
que inspirarão os que contigo comungarem!

A Poesia percorre a Terra em busca de quem a ame.
Serás uma cavaleira ou cavaleiro, fiel do Amor,
e a Ela te dando com persistência e ar
dor?
Então, na criatividade, invoquemos a
Divindade!

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