quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Da invocação do Anjo da Guarda... Com novo poema final, de Novembro de 2021.

A invocação do santo Anjo da Guarda e da ligação com a Divindade, através de orações, meditações e contemplações, é valiosa e louvável pois cria campos de força mais subtis na nossa aura e na atmosfera terrena, harmoniza os nossos instintos e desejos e abre janelas e canais para que o nosso espírito e o mundo angélico, ou mesmo arcangélico, nos possam inspirar.
Se é bom saudá-lo de manhã, abrindo-se ou trabalhando-se um pouco os canais com ele, tanto subtis como de sinapses neuronais, também no final do dia, da semana, do mês e do ano, é bom dar-lhe graças, e tanto ao Anjo da Guarda como ao Arcanjo de Portugal, pelas suas inspirações, bênçãos ou até desvendações subtis, raras, valiosas, maravilhosas...
Consigamos nós ter de cor tais momentos e ensinamentos, possa o pecúlio do nosso coração ser tanto um poço (ou oceano) de gratidão e devoção como um tesouro de pedras semi-preciosas e bem trabalhadas e facetadas pelas nossas meditações, esforços e reminiscências, para que, como sementes, cresçam e dêem frutos de vida inteira, isto é, perenes, ou seja, que se conservem e nos abram mesmo a sobrevivência consciente e luminosa no além, no post-mortem físico, na comunhão com os seres celestiais...
  Possa ainda este nosso amor ao mundo espiritual e angélico, chama de devoção que consegue ser mantida sob tanta alienação e manipulação social e mediática, estender-se a pessoas amigas vivas ou já desaparecidas, pedindo aos seus Anjos que as estejam fortificando e curando, guiando e iluminando.
 Possa o nosso amor aos Mestres, aos Anjos e Arcanjos e demais seres celestiais, e em especial à Divindade, aumentar sempre, numa circulação osmótica nos dois sentidos, e assim se melhore tanto a nossa realização interna como a relação com a Humanidade, o ambiente, a Terra  e o Cosmos, tornando-nos mais sóbrios e plenos, libertos e corajosos, compassivos e alegres...
E fiquemos com mais algumas orações, cantos, poema ao Anjo da Guarda, a escrita sob o santinho, e uma final já de 7.XI.2021
 
   Santo Anjo da Guarda,
Minha querida companhia,
Dai-me firme a vossa mão
Para que vos sinta no coração.

Faz com que as tuas asas
E o resplendor imenso de Deus
Influam na minha aura
E a façam brilhar em arco-íris,
Na auréola da comunhão constante
Dos bom pensamentos e sentimentos
E da essência espiritual feliz e pura.

Ó Divindade, ajuda-me a caminhar
com o bordão ou vara da virtude
e no eixo dos mundos que infundes,
para que a Tua visão nos sorria,
para que a Tua presença nos anime,
no interior do peito e do coração
e seja sob que invocação ou face
em que Tu, oh Divindade inefável
nos agracies subtilmente
e a quem tantas graças damos e daremos!
                                                   AMOR.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Antero de Quental e o seu ensinamento espiritual. Vídeo, 1ª parte

Antero de Quental e o seu ensinamento espiritual. 1ª parte, de uma gravação em vídeo.




A demanda filosófica e espiritual de Antero é neste vídeo aprofundada a partir do seu último texto, ensaio ou testamento, publicado na revista Portugal nos primeiros meses de 1891: Tendências gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX, através da leitura de algumas partes comentadas por Pedro Teixeira da Mota, na manhã de 24-XII-2016, na Madragoa lisboeta...
Seguiram-se mais três gravações ou partes, tendo sido percorrido esse notável texto filosófico e espiritual, não só perene como actual e desafiante, conforme realcei em alguns passos..
                         

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Antero de Quental visto por Manuel Bandeira, no centenário do seu nascimento, 1842-1942.

Antero de Quental recebeu em 1942 as merecidas comemorações do centenário do seu nascimento em algumas partes do mundo, nomeadamente no Brasil, onde uma sessão com Manuel Bandeira (1886-1968) e Jaime Cortesão (1884-1960) decorreu no Rio de Janeiro, no palácio da Associação Brasileira de Imprensa, tendo ainda  sido lidos alguns dos seus poemas por Margarida Lopes de Almeida. Um ano depois, Jaime Cortesão fez publicar os textos das duas conferências numa pequena brochura de 47 páginas, nos Cadernos da Seara Nova, em Lisboa. 
Manuel Bandeira discursando na Academia Brasileira de Letras, em 1940.
Ao lermos a conferência de Manuel Bandeira, poeta modernista e cronista, tradutor e jornalista, e já então laureado com o acolhimento na Academia Brasileira de Letras (1940), observamos como ele tendeu a ver Antero de Quental sobretudo como poeta e se, por vezes, vê bem o seu interior anímico, tal como quando refere a tal voz da consciência por Antero muitas vezes referida, escrevendo: «Na crise de consciência, em que, diante de um mundo deserto de deuses, só via a ilusão e o vazio universais, aquela pequenina voz que protestava e afirmava o Bem, inclinou-o, cada vez mais de modo absorvente, a meditar sobre o destino do homem e o fim do Universo», já noutras vezes perde-se, tal como lemos, logo em seguida, menosprezando a dimensão filosófica de Antero:
«Esse poeta, que confessou por escrito nunca ter pretendido ser poeta; que nos últimos anos da existência, verdadeiramente só prezava meia dúzia de sonetos, dos últimos, os únicos que lhe pareciam ter "a nota exacta e sã", esse poeta, esse imenso poeta julgava-se, candidamente porque era um puro, julgava-se um filósofo, e que filósofo! o que teria divisado "a direcção definitiva do pensamento europeu, o Norte para onde se inclina a divina bússola do espírito humano"». 
Destacaremos que essa "nota exacta e sã" da meia dúzia de sonetos será sempre algo subjectiva, nomeadamente para nós hoje no séc. XXI, mas não na altura para o seu autor em intensa e dramática demanda filófico-existencial, e com a sua geometria auditiva, rítmica e formal. E se em relação Antero é difícil sabermos ao certo quais os sonetos que ele considerou  os mais perfeitos estética, filosófica e espiritualmente, embora tivesse recomendado alguns, posteriormente uns poucos de pensadores apresentaram as suas escolhas, tal como Jaime Cortesão indicando como os mais belos O Convertido, Espiritualismo, Quia Aeternus, Homo, Logos, À Virgem Santíssima, na conferência acima mencionada e sobre a qual escreveremos brevemente. Todavia, sem considerar apenas o critério da beleza, estou de acordo com a cifra de meia dúzia, apresentada até mais por Bandeira que por Antero (que falava de uma dúzia...), pois de facto a nota pessimista e a falta de manifestação do espírito e do Divino só em meia dúzia de sonetos é verdadeira e luminosamente transcendida e preenchida.
Se Antero de Quental realmente divisou a direcção definitiva do pensamento moderno ou europeu, o Norte para onde se inclina a bússola do Espírito humano ou não, é uma questão importante de se cogitar e, mau grado a tendência para alguns desvalorizarem as Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX, em Portugal tanto, por exemplo, Sant'Anna Dionísio e Eduardo Lourenço muito apreciavam tal ensaio, e intuímos que tanto Leonardo Coimbra como Fernando Pessoa tiveram bastante em conta tal obra, nomeadamente o primeiro  comentando-a extensamente num livrinho, enquanto Fernando Pessoa exprimiu elogios  e traduziu para inglês vários dos Sonetos.  
Ora esse "Norte" em parte era o panpsiquismo, a ligação íntima entre a matéria-energia e a consciência e informação, a omnipresença da energia psíquica e a comunhão crescente dos seres nessa noosesfera da Verdade, com o concomitante desenvolvimento de capacidades psico-espirituais, ou mesmo de religação ao Bem moral e à fonte Divina. É contudo certamente uma área ainda hoje muito desconhecida e sobre a qual cientistas, psicólogos e espirituais tentam fazer avançar a luz do conhecimento...
Manuel Bandeira já vê bem que em Antero de Quental se encontrava no mais alto grau essa característica dos poetas «que é pensar por imagens» e que na sua «imaginação soberanamente plástica as ideias mais abstractas se transmudavam, como por encanto, ao toque da emoção, em radiosas visões arquitecturais e esculturais; plasmavam-se subitamente os fantasmas em matéria palpitante».
Mas já vê menos bem quando pensa que Antero queria «na sua razão filosófica aniquilar o mundo natural, ou pela negação pura e simples, na fase pessimista, ou na fase final de serenidade, pelo que ele mesmo chamou de panpsiquismo, processo de evolução, segundo o qual o Universo gravitaria obscuramente, inconscientemente, para um estado psicológico puro». 
Este panpsiquismo de Antero é certamente dos campos mais profundos e menos discernidos pelos comentadores anterianos e que tanto corresponde à Alma do Mundo, à Noosfera, ao moderno Campo Unificado de energia informação consciência e que de um ponto de vista científico e de dinamismo energético consciencial está a ser mais cada vez mais sondado, consciencializado e explorado e do qual o magnetismo e a telepatia eram já sinais para Antero, como ele refere algumas vezes... 
Erra ainda, ou dá uma interpretação sobrevalorizadora  da poesia quando se interroga: «Donde partiu Quental para chegar à solução que o deixou liberto e adormecido na mão de Deus, - na sua mão direita? Não foi da razão de filósofo; foi sim, daquela voz interior - " não sei que voz que eu mesmo desconheço" assim se exprimiu em verso, e em carta a seu amigo Fernando Leal: «No fundo do coração há uma voz humildade mas que nada faz calar, a protestar, a dizer-lhe que há alguma coisa por que se existe e por que vale a pena viver". Voz do subconsciente, voz da poesia nesse homem...» 
Erra neste ponto, parece-me, porque não chegou Antero a essa solução que o deixou liberto e como que adormecido na mão direita de Deus, uma imagem algo passiva que tanto foi do agrado de Oliveira Martins, que a pôs mesmo no fim da edição final e completa dos Sonetos, nem foi pela poesia ou voz interior, que não são aliás sinónimos, embora certamente haja poesia que é verdadeiramente Voz da Consciência ou Música das Esferas ouvida ou intuída e passada para palavras e para o papel. Erra ainda Manuel Bandeira porque não é voz da subconsciência mas sim da superconsciência, ou do espírito.
Foi tal imagem do descanso do coração na mão de Deus uma forma apenas sensível e religiosa de terminar um dos seus sonetos de modo suavizante e trabalhando a sua tendência fantástica pessimista, como por alguns se costuma caracterizar. 
Como poeta e cultor da identidade do ser poeta, um fiel da Poesia, diremos nós, Manuel Bandeira dirá com alguma justificação que «das suas cartas aos amigo se percebe como a sua alma atormentada se dilatava com serenidade toda vez que o espírito conseguia formular em verso as soluções intelectuais morais e sentimentais a que ia chegando», mas creio que isso se passou tanto ou mais na sua demanda de escritor e de filósofo em demanda da verdade e da claridade, e algo que partilhava sábia e amorosamente na correspondência, tal como Erasmo quatrocentos anos antes, mas que não sabemos que efeito psicológico interno tinha nele esse confessar, desabafar ou até mais aprofundar sentidamente e em diálogo de partilha com quem era seu amigo ou companheiro de ideais e de jornada e luta. Mas, claro, é um facto que quase todos os que escrevem sentem a expansão de consciência, de alegria ou gratidão que ocorre quando  finalizamos uma poema ou texto bom. 
Também é valiosa e discutível a visão final que dá de Antero: «Formulado em imagens nos sonetos da última fase o seu panpsiquismo, o seu misticismo, o seu budismo, a sua chamada teoria da santidade, o poeta calou-se. Calou-se porque compreendeu que já dera a expressão exacta do seu íntimo e definitivo sentir. A poesia já se podia retirar daquele ser doente, e de facto se retirou. O filósofo ainda pensou em pôr por escrito o seu sistema. Muitas vezes falou em tal, mas no íntimo sentindo a impossibilidade de se exprimir por outras vozes que não fossem as da poesia. Lamentando-se disso, é certo, mas sem grande convicção».
Um poema de Manuel Bandeira que Antero nunca assinaria, pela sua grande sensibilidade anímica e abertura à fraternidade das almas...
 Perante os factos biográficos temos de discordar que Antero de Quental, quando pôs fim à sua actividade de poeta, já tivesse chegado à formulação por imagens do seu panpsiquismo e misticismo, e que já dera portanto expressão exacta do seu íntimo e definitivo sentir, pois então teria de viver cerca de 15 anos em estado fossilizado ou estagnado psiquicamente. Ora ele conseguiu passar o seu sistema em grande parte para a escrita (mal grado a sua tendência socrática e maiêutica)  nas Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX, texto dado à luz na Revista Portugal em artigos datados de 1890, um ano antes de partir, e trabalhado mais intensivamente nos últimos anos da sua vida. 
Aliás a referência que Manuel Bandeira faz inicialmente, e já transcrita, algo menosprezando as Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX, e a que faz a meio do seu livro, parecem-nos incorrectas: «Ainda quando tentou esboçar em prosa o sistema das suas ideias, como em Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX ou em cartas a amigos, fê-lo por meio de comovidas afirmações de poeta, por meio de imagens do poeta. Já o notara Adolfo Coelho ao escrever que «a exposição do escritor não seguia de modo nenhum o teor da demonstração: é um credo que se enuncia, e esse credo tem em parte o aspecto de poesia em linguagem de prosa". A filosofia de Antero é a de um ser moral por excelência, muito bem definido por Oliveira Martins como um poeta arrebatado pela visão inextinguível do bem".» 
Discordamos nesta parte pois são muitas as expressões perfeitas em prosa de aspectos valiosos e profundos do seu sistema ou, diremos melhor, tentativas de visão compreensiva do mundo e do Ser, e que não se tratam de comovidas afirmações de poeta, mas antes escritas na característica até da tradição espiritual portuguesa  do sentir e pensar unidos, a união da cabeça e do coração, para além de tentarem cingir, abraçar e incluir os domínios mais subtis da existência e da essência íntima.
Também não são nada indicados para apreciar de modo "definitivo" Antero de Quental, seja Oliveira Martins, que nunca compreendeu bem os aspectos mais profundos da espiritualidade de Antero e menos ainda o positivista Adolfo Coelho, que anos mais tarde atacou fortemente os modernistas de Orpheu, certamente por não seguirem o teor da demonstração racional que ele Adolfo Coelho quereria na poesia... 
O final da conferência de Manuel Bandeira é belo, embora possamos questioná-lo: «O corpo doente ainda sofreu muito, e tanto que procurou remédio na morte voluntária. Mas alma, essa estava apaziguada, porque já havia cumprido o destino com que viera marcado de berço - destino de grande poeta, intérprete dos anseios humanos mais fundos e mais puros». 
Questionamos esta conclusão pois ela aponta para uma falha no estoicismo de Antero: este ter-se-ia matado porque sofria muito no corpo doente, já que a sua alma estava apaziguada, pois cumprira o seu destino de grande poeta, e assim subentende-se que poderia descansar, ele ou o coração, na mão direita de Deus, que não à esquerda... 
Pensamos que embora houvesse sofrimentos da dispepsia, nervos, insónia, bastante se passou  no campo psíquico e aí Antero não estava apaziguado plenamente, nem pela poesia que escrevera nem pela filosofia que alcançara, nem pela sociedade política em que vivia, faltando-lhe ainda provavelmente a base dum ambiente familiar ou humano amoroso que o apoiasse, ou mesmo uma relação amorosa forte com uma mulher, e sobretudo o coração vivo e o olho espiritual mais aberto na relação pessoal com o seu espírito,  com o Anjo da Guarda ou o Mestre e maxime com a Divindade, embora sem dúvida o que o precipitou para o suicídio foi o falhanço do seu regresso final aos Açores e a perda do contacto com as duas suas protegidas Ermelinda e Beatriz, a quem se afeiçoara.
Mas já é possível que Manuel Bandeira tenha certa razão no aspecto de Antero de Quental ter entendido que já dera o que podia dar e que preferia abreviar a existência do que continuar em certo sofrimento, desilusão e frustração, pois em verdade já tinha uma certa idade, a vida não lhe estava muito agradável em vários aspectos e, sentindo que já cumprira a sua missão nos aspectos principais, e no que lhe fora possível no meio que o rodeou, porque não entrar voluntariamente no reino da Morte, ele que tanto fora atraído por ela, invocando-a e chamando-a de irmã e equiparando-a ao Amor, Mors-Amor
A morte de Antero de Quental, ainda que possa ter sido causada por certo desequilíbrio momentâneo nervoso decorrente do que se estava a passar de desilusão nos Açores, nomeadamente a separação das suas jovens protegidas, pode ainda assim ter tido certa serenidade. E estaria ele acompanhado invisivelmente nessa sua cruz final, que ele já em carta uma vez dissera que não largaria? 
Quanto ao que ele não conseguiu desenvolver, outros vieram e virão para o cumprir e assim  se insere ele numa Tradição Espiritual Portuguesa, tal como nós hoje no séc. XXI o meditamos. Nesse sentido escrevera até Fernando Pessoa, altamente devedor de Antero de Quental, em especial nos seus primeiros tempos da revista da Águia: «Por que característicos, por assim dizer, exteriores se pode conhecer o sentimento transcendentalista? Nas duas formas menos complexas do transcendentalismo, o materialista e o espiritualista, o indivíduo sente-se, como o panteísta, parte de um Todo, mas com a diferença que, para ele, esse Todo é sentido como irreal, como ilusório. Decorre daqui que o poeta transcendentalista (materialista ou espiritualista) fatalmente será um poeta pessimista. Mesmo que, transcendentalista espiritualista, conceba como vagamente espiritual o Transcendente, esse Transcendente, por sua própria, concebida, natureza, é sentido como Mistério, e mesmo onde levanta abate. - Percorrendo todo o Romantismo não encontramos este sentimento; apenas, em Alfred de Vigny, e nos seus descendentes, já pós-românticos, há um vago arremedo dele. Mas, ao atentar bem nos característicos que deduzimos como devendo ser os da poesia transcendentalista, revela-se-nos imediatamente que estamos em Portugal e em plena descrição da poesia de Antero. Concluímos, pois, que especiais condições de raça fazem do sentimento transcendentalista apanágio de Portugal. Se o transcendentalismo sob forma de emoção começou entre nós, entre nós deve continuar. Vejamos, pois, se a sua forma mais alta e complexa, o transcendentalismo panteísta, foi, acaso, atingida já.» 
E será esse transcendentalismo panteísta que Fernando Pessoa, neste ensaio escrito para a revista Águia em 1912 esboça e demonstra (e tendo bastante na mente Antero, poeta e filósofo), e que desenvolverá com os heterónimos, para depois os deixar e, como ele próprio, chegar aos poemas mágicos e iniciáticos, os quais em vários aspectos poderemos considerar na filiação espiritual aprofundante do panpsiquismo e da bússola divina entrevista por Antero de Quental e que hoje ainda nos desafia seja na nossa psique seja no nosso íntimo mais profundo e sagrado. 
Visão da montanha espiritual da realização e da Terra, em pintura do alemão Bô Yin Râ.  Que ela tenha substituído em Antero a do "Palácio Encantado da Ilusão"...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Leituras das nuvens. Lisboa 15-XII-2016


     As nuvens da Aurora (Ushas) dão-nos os bons dias e as do pôr-do-Sol as boas noites. Sabermos acolher e assimilar tais energias e cores em estados de consciência luminosos e frutíferos, eis uma prática espiritual valiosa...
Tornar mais o cimo da aura uma clarabóia: bóia de vidro claro que discerne e atrai as bênçãos do Oceano Celestial
Tal como as árvores, as nuvens estabelecem a ligação entre a terra e o céu, o solo e o Sol, e tocam-se e amam-se por vezes 
O Tejo e as Tágides nossas, de Camões e Bocage até aos dias de hoje, amam imitar as reverberações solares que os Zéfiros e Anjos desenham e afeiçoam nas ondulações nebulosas... 
Stupas e espirais subtis e ascensionais: mantêm-te vertical
Voo rápido na aurora que tinge as nossas almas... 
Sobre as altas pirâmides e torres as nuvens desafiam-nos esfingicamente ao auto-conhecimento 
Focar o fugaz voo introduz-nos na transitoriedade e na aspiração do mais perene.... 
Voos ascensionais na aspiração da Luz do Sol Divino, peito e asas bem abertos... 
Danças e grinaldas, sereias e mensageiros rodeiam a cabine do navio... 
Terra, água, ar, fogo, éter, mente, consciência, espírito 
A Grande Deusa, em serpentina espiral 
Deusas, génios, dragões... 
Simorg, a ave mística dos Persas e de Attar, sobrevoa Lisboa 

Birds of Fire, Agni... 

Encontros de Hermes 
Segunda série: Riscos e frontes alongadas... 
Última série: Os grandes Deuses gregos e romanos ainda se vêm nas nuvens: 


Orar e aprofundar a entrada no mundo espiritual 

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Anjo da Guarda e o Arcanjo de Portugal. Vídeo. Como nos ligarmos aos espíritos celestiais.

                                                     
Imagem angélica comunicante musicalmente, sonoramente, da igreja de Santa Cruz em Coimbra  e inspirando-nos nos nossos cantos e aspirações a eles e ao Divino....
                                      
Saudações amorosas e íntimas ao subtil Arcanjo de Portugal, aqui numa escultura quinhentista ligada à Ordem de Cristo e ao convento de Tomar...
Que saibamos com regularidade aspirar a ele, meditar nele...
 
Anjo da Guarda, Arcanjo de Portugal, ou de cada país....
Existem, quem são, como os podemos conhecer ou entrar em ligação, mais consciente e mais permanente e luminosa?
Esta pequena gravação (11-XII-2016) partilha algum conhecimento e aspira a ser um vaso, um erguer do Graal da comunhão com eles e a Divindade....
Avancemos então na comunhão dos amigos  e amigas dos Anjos, do Arcanjo e da Divindade...
                  

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Carta de Giovanni Pico della Mirandola ao seu sobrinho, de 15.5.1492, sobre a aspiração a Deus, a inspiração dos livros e a religação à Divindade.

                                         
Extracto de uma carta do fulgurante génio Giovani Pico della Mirandola (24-II-1463 a 17-XI-1494) ao seu sobrinho Giovanni Francesco della Mirandola, datada de 15 de Maio de 1492 [havendo outra de 2 de Julho, que nos 561 anos do seu nascimento, em 24.2.24, gravei no Youtube e partilhei no blogue], na qual recomenda, pela sua experiência espiritual, a  constante aspiração amorosa e atenção interior para com  Deus e como devemos ler e orar com mais profundidade e unidade:
«O que podemos nós, em verdade, sem a ajuda de Deus? E como nos ajudará Ele se não o invocarmos?
Mas mesmo que o invoques, Ele não te ouvirá se antes não saciaste o pobre que te suplicou, pois é natural que Deus te menospreze, se tu menosprezaste um outro ser.
Está escrito: "Sereis medido pela medida com que mediste" e noutro passo: "Felizes os misericordiosos pois eles obterão misericórdia". Contudo, quando te exorto à oração, não te exorto à que se faz com muitas palavras, mas à que, no segredo, no recolhimento do espírito, nas profundezas da alma, fala a Deus pelo afecto ou sentimento verdadeiro e, na nuvem luminosa da contemplação, não somente apresenta o espírito ao Pai, mas une-se a Ele dum modo inefável, que só conhecem aqueles que viveram a experiência.
E não tomo em conta a duração da tua oração, mas a sua eficácia, o seu ardor, o ser interrompida mais por suspiros que sustentada por uma sucessão contínua de frases.
Se levas a peito verdadeiramente a salvação, se desejas estar protegido dos redes das forças negativas, das tempestades do mundo, das armadilhas dos inimigos, se desejas ser agradável a Deus, se queres enfim ser feliz, faz com que não se passe um dia sem que não te aproximes do teu Deus
pela oração pelo menos uma vez  e, inclinado diante dele, com o sentimento humilde dum espírito piedoso, clames, não da ponta dos teus lábios mas do fundo das tuas entranhas: «Não te lembres dos meus erros juvenis e da minha ignorância, mas lembra-te de mim segundo a tua misericórdia e por causa da tua bondade, Senhor.»
                                    
«O que deverás pedir ao teu Deus, o Espírito que intercede por nós, a necessidade de cada momento, a leitura sagrada te sugerirá, e eu peço sem descanso que a tenhas sempre à mão, esquecendo as fábulas e as invenções dos poetas. Não podes fazer nada de mais agradável a Deus nem de mais útil a ti que folheares incessantemente os Textos Sacros, dia e noite. Eles contém com efeito uma força celeste, viva e eficaz, que transfigura com uma potência espantosa a alma de quem os lê, se ela os aborda pelo menos com pureza e humildade, no amor divino.» 
 Realcemos nestes conselhos do genial Pico della Mirandola a necessidade de estarmos mais em amor e de sermos mais caridosos, e de conseguirmos pedir em interioridade e afecto, com humildade e aspiração, ao Pai, que nos conceda as suas bênçãos, as suas correntes de luz e de amor, que nos tornem mais despertos, virtuosos e religados a Ele. E contarmos com os livros sagrados que mais nos tocam, ou dos autores que mais gostamos, para neles nos fortificarmos e inspirarmos...
Da entrada no mundo espiritual e na luz Divina. Pintura, como a anterior e a próxima, de Bô Yin Râ
Meditemos para finalizar o seu ensinamento belo e valioso, parafraseado agora por mim: «Faz a tua oração, no segredo, no recolhimento da tua mente rumo às profundezas da tua alma, onde, falando silenciosamente à Divindade pelo afecto ou amor sentido e intensificado e pela firme concentração e contemplação, aproximas-te do espírito que és e da Fonte Divina donde provéns, e sentes no Amor que te estás mais a despertar e a religar luminosamente ao espírito e à Divindade

domingo, 11 de dezembro de 2016

"Deus e o Homem", por Filipe Furtado de Mendonça. 1950, Luanda. Um espiritualista desconhecido.

 
Com um símbolo da Unidade da Humanidade e da Divindade 
Filipe Furtado de Mendonça é um autor pouco conhecido, que imprimiu em 1950 na Tipografia Portugal, em Luanda, num in-8º de 23 páginas, uma conferência proferida sob o tema Deus e o Homem, na qual transmite a sua compreensão e entusiasmo pela sonhada melhoria evolutiva da Humanidade. Bem gostaríamos de saber a tiragem, se circulou por outras cidades angolanas e se o impacto nos que o leram e meditaram foi significativo...
"Ao snr. Arnaldo Gomes, com muita estima, o Filipe Furtado Mendonça, 21-2-1960, Luanda", reza a dedicatória do exemplar que possuo, e onde no prefácio o autor justifica a repercussão que teve a conferência por o assunto ser dos mais apaixonantes problemas que se põe «à consciência colectiva».
A obra procura questionar a relação existente entre a Divindade e a Humanidade e ainda se há uma continuidade de vida, embora sob este aspecto pouco ou nada disse, desenvolvendo porém bem o primeiro.
Passando em rápida revista a busca religiosa dos povos ao longo da História, considera que é Jesus, que Filipe Furtado de Mendonça imagina (erradamente) ter estado entre os 17 e os 30 a aprender no Egipto, Pérsia, Índia e Tibete, quem veio trazer a revelação do Amor, interpretando a frase "Eu e o Pai somos um", no sentido de que Jesus tinha a consciência perfeita da sua missão e de que só por Ele, como manifestação do Pai, a humanidade seria salva. 
Para realizarmos tal em nós, diz-nos, é preciso desconsiderarmos o falso eu sensorial e valorizarmos «o grande Eu Central Colectivo, Cristo», e «renunciarmos à vida ilusória e transitória dos sentidos, destruindo o falso conceitos de que somos seres independentes e distintos, o que nos traz a perpétua luta com o exterior. A verdade é que somos elos duma mesma cadeia, células do mesmo organismo, UM com o Espírito universal, no qual está a plenitude de tudo quando necessitamos. A crença em dois pares de opostos, o Bem e o Mal, só foi possível, porque os homens, separando-se da ideia divina, encaminharam os seus pensamentos e a sua acção, não no sentido universal, único verdadeiro, mas visando somente o interesse particular, originando, assim, a inversão das forças divinas, o que trouxe a desarmonia e o caos ao Mundo.»
E sendo verdadeira a consciência ou constatação de Furtado de Mendonça de que estamos todos interligados num todo, mas exagera, numa linha idealista de não dualidade, quando critica e nega que sejamos seres independentes e distintos pois, embora interligados, somos todos individuo distintos uns dos outros e a capacidade de sentirmos o outro tanto como a nós mesmos é raríssima, o que deveria ser bem mais natural e fácil se fossemos todos um só.
E podemos interrogar-nos, acerca da famosa injunção do mestre Jesus, «ama o próximo como a ti mesmo», 1º quem é o próximo, 2º se ele a expressou assim mesmo, ou se foi "cuida", ou "sente", ou "respeita"; e realce-se que há um progredir ou amadurcer nesta capacidade de sairmos das dualidades e egoísmo e vivermos mais a Unidade do Amor.
De qualquer modo o avanço histórico e consciencial da humanidade tem intensificado o sentido da individualidade das pessoas, até para resistirem até às massificações e manipulações que as tendem a dissolver em consumismos e partidarismos emotivos, sensoriais, básicos, como muito recentemente se tem observado dramaticamente.
Para Furtado de Mendonça, a perda da consciência da interdependência ou lei do Amor leva a « que em vez do amor divino, que redime, impera o ódio, em vez da alegria sã de conhecermos Deus [uma bela e valiosa frase], subsiste a dor e a confusão, em vez da paz, a guerra parece ser o prémio da nossa transgressão, em vez da fraternidade pura e da generosa solidariedade, constatamos, e somos vítimas, da exploração mais desenfreada e do mais agressivo indiferentismo».
Para comprovar a sua linha de pensamento de que o Ser Divino está manifestado na criação e em cada um de nós, como Deus de Amor e de Perfeição, Furtado de Mendonça cita em abono da presença divina no ser humano, ou como ele ainda diz «a universalidade do ser humano, eternamente ligado ao Ser Absoluto», três (reproduzidos nas fotografias) elevados pensamentos e poemas de um dos importantes escritores espiritualistas do séc. XX em Portugal, Teixeira de Pascoaes: «Nos Poetas Lusíadas escreveu o mestre insigne: - O homem é o mundo em viva síntese consciente. A Natureza, para o criar, serviu-se de todos os materiais. Somos um edifício construído, por fora, com toda a terra, e iluminado, por dentro com todas as estrelas. E nele vive silencioso e prisioneiro, o fantasma do seu arquitecto». Claro, que Pascoaes exprime-se na sua  vocação fantasmagórica, tão repetida e tantos poemas, mas apontando provavelmente e bem à necessidade de ouvirmos e libertarmos o nosso espírito interno.
E dos versos belos, reproduzimos esta parte:«Pelos meus olhos, uma estrela consciente/ Vê seu próprio fulgor/ E no meu coração a Essência transcendente/ Viu [e vê, no aqui e agora] que era a luz do Amor», inegavelmente uma escolha  profunda e elevada, que pode ser iniciática mesmo, e que o leva a escrever no fim da citação, «Estas são duas das mais belas sínteses que conheço acerca da doutrina da UNIDADE do HOMEM com DEUS.»
Podemos admitir que o provável título ideal da sua palestra. mas que, talvez por ser muito ousado, foi preterido, seria: Doutrina da Unidade do HOMEM com DEUS.
Defende então Filipe Furtado de Mendonça que o ser humano tem de deixar de ser escravo das emoções de natureza carnal e «aperceber-se da Divindade que nele existe», libertando-se de doutrinas e dogmas extravagantes, saindo da mentira, da sua natureza inferior, das emoções que o prendem, muito causadas pela torturante luta na vida material e começando a viver mais fraternalmente, em beleza e amor. [Outra lembrança mantra bem valiosa...]
Finalmente. Filipe Furtado de Mendonça revela outro dos seus inspiradores, Krishnamurti, autor indiano com alguma divulgação em Portugal desde as primeiras décadas do séc. XX e que com perseverança questionou vida em conflito que caracteriza o ser em geral, em especial devido à sua inserção em pequenas capelinhas de religiões, partidos, seitas, opiniões, ele próprio quebrando aquela que a Sociedade Teosófica mistificadoramente o educara e tentava encerrar, ainda que atribuindo-lhe o grandioso título de Instrutor do Mundo, ou o Avatar, como tanta publicação mundial, e até portuguesa, nas primeiras décadas do século XX divulgava.
Para Filipe Furtado de Mendonça a humanidade não devia estar tanto em sofrimento mas sim usufruir da vida maravilhosa divina e estava num certo caos «porque fechando-se em círculo estreito da baixa materialidade, não tem sido capaz de fazer o mais leve esforço para compreender e viver os altos ensinamentos que os diversos instrutores através dos séculos lhe têm trazido».
Realcemos tanto o chamar mestre insigne a Teixeira Pascoaes como a referência aos Instrutores, sabendo-se até que eles foram rejeitados por Krishnamurti (1895-1986), pois fora no princípio da sua carreira considerado pelos dois dirigentes da Sociedade Teosófica Annie Besant e Charles Leadbeater (que o avistara e reconhecera em 1911) como o possível novo Instrutor mundial, um novo Cristo, ou o novo Buda Maitreya, algo que ele passado há alguns anos de estar à frente da Ordem da Estrela, para tal fim criada, deixou de aceitar, seja como estatuto de si ou missão no mundo, dissolvendo a Ordem em 1929, saindo da Sociedade Teosófica em 1930, e passando a caminhar por si mesmo, pois «a Verdade sendo ilimitada, incondicionada, não aproximável por qualquer caminho, não pode ser organizada; nem deve qualquer organização ser formada para levar ou coagir as pessoas por um caminho particular (...) A partir do momento que seguimos alguém, deixamos de seguir a Verdade», sem dúvida uma afirmação heroica, quase Nietzcheana mas que tem de ser tomada com cautela, pois em geral, sem sermos seguidores, precisamos de ser ensinados, ou iniciados....
Filipe Furtado de Mendonça chama a Krishnamurti  (1895-1906) um dos maiores pensadores contemporâneos (e como o terá conhecido, não sabemos, mas muito provavelmente terá sido apenas por livros, revistas e panfletos...) e realça nele a afirmação de que «algo de sublimemente real, infinito, existe, porém para descobri-lo, não deve o homem ser uma máquina imitadora e as suas estreitas concepções a isso o levam». 
Neste alargamento de consciência até ao Divino labora então Filipe Furtado de Mendonça e, sentindo (e muito bem) presente Deus em toda a Natureza e seres que nos rodeiam, afirma que devemos também realizá-lo em nós próprios «porque somos a sua Imagem e Semelhança» e, coerentemente, agir abnegadamente a fim de em espírito e em verdade, «finalmente, conquistarmos a Paz, a Abundância e a Alegria, que são os atributos divinos: - Os nossos atributos.»
Nas três páginas finais acrescentou sob o título Impressões da Crítica, aquela que Albino Fernandes de Sá lhe teceu e onde aponta alguma discordância quanto aos laivos de panteísmo e de plena divinização do homem,  realçando o entusiasmo e boa vontade manifestados e valorizando-o: «Furtado Mendonça vibra de amor e de ternura pela humanidade. Não ataca. Limita-se a fazer a apologia do seu modo de sentir que julga ser a verdade».
Esta conferência, patrocinada pela Sociedade Cultural de Angola, de 1950, é um belo elo da Tradição Espiritual Portuguesa manifestando-se noutros continentes e veiculando algumas ideias e intuições sobre o relacionamento da Humanidade e a Divindade, e nela destacaremos para finalizar a sua crítica da crença em dois pares de opostos, o Bem e o Mal, e como deveríamos estar mais libertos de tantas energias obstructoras e falsas identificações, de modo a vivermos a vida divinamente, em liberdade, beleza, solidariedade e amor, ideal que no plano físico encontra sempre oposições e impossibilidades mas que nos mundo espirituais é plena realidade.
Sabermos equilibrar a luta no mundo, tão destruído pelos insensíveis, egoístas ou ineptos políticos e gestores, preservar no amor da Natureza e da Humanidade, e cultivar a religação e a comunhão com o nosso espírito, e com os outros, e os Mestres, os Anjos, a Divindade, eis a tarefa, missão, criatividade nossa...
Do mundo espiritual, por Bô Yin Râ, um bom mestre!