É conhecido por muitos (ligados à espiritualidade e à antroposofia), a valorização do povo Russo que Rudolfo Steiner expôs ou desenvolveu em várias palestras, mas poucos conhecerão a admiração sentida por Vladimir Soloviev, que tinha como o maior filósofo russo de então (algo reconhecido hoje por todos, tendo entre nós Álvaro Ribeiro apresentado e traduzido do francês A Verdade do Amor, altamente recomendável), e que pela sua alma oriental era ainda capaz de, a partir das forças da natureza e humanas, sentir e viver a religação espiritual ao Cristo, ao Logos Solar, à Divindade, considerando-o mesmo como um representante dos antigos sacerdotes que conseguiam estar conscientes dos mundos superiores.
Já escrevi sobre ele, https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2023/05/vladimir-soloviev-vida-e-obra-santa.html e https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2025/11/vladimir-soloviev-e-oracao-o-que-e-o.html, e iremos provar a asserções com alguns textos, que contextualizaremos em dois artigos. O primeiro, escrito por Rudolfo Steiner (27/2/1861 a 30/3/1925) em Janeiro de 1922, é a introdução a uma edição alemã das obras completas de Vladimir Soloviev (28/1/1853 a 13/8/1900):
Vladimir Solovyov, um mediador entre o Ocidente e o Oriente"
«O facto de que a Kommende-Tag-Verlag em Estugarda ter decidido apresentar ao público as obras do filósofo russo Vladimir Soloviev em tradução alemã corresponde nos dias de hoje a uma necessidade na vida intelectual. Da riqueza do que Soloviev escreveu, foi recentemente publicada a seguinte obra: Doze Palestras sobre o Deus-Homem, traduzida do russo por Harry Köhler (Stuttgart, 1921). A vida de Solowjoff insere-se na segunda metade do século XIX, e as suas obras no final dele. Como é que o pensamento da Europa Oriental pondera as questões mais profundas da existência humana, como é que lida com as questões vitais de seu próprio tempo, é revelado de forma vívida nas reflexões de Soloviev. Ele é uma personalidade que examina minuciosamente a maneira de pensar das visões de mundo da Europa Ocidental e Central. Ele comunica dentro das formas de pensamento nas quais Stuart Mill, Henri Bergson, Émile Boutroux e Wilhelm Wundt também se exprimem. Mas fala de uma maneira completamente diferente de todos eles. Usa essas formas de pensamento como uma linguagem, mas revela a vida interior do ser humano a partir de um espírito diferente. Ele mostra que na Europa Oriental ainda vive muito daquele espírito [geist] que no início da evolução cristã era o das outras regiões europeias, mas que na Europa Ocidental foi completamente convertido [ou transformado]. O que o resto do Ocidente só pode compreender a partir da história é [ou tem] vida [ou visão] imediata no Oriente [no caso, na Rússia e em Soloviev].
Soloviev fala de tal maneira que se sente uma certa revivificação de como, até ao século IV, os pensadores do cristianismo lidavam [abordavam, trabalhavam] com a união [ou unificação] do Ser Cristo no homem Jesus de Nazaré [der Vereinigung der Christus-Wesenheit in dem Menschen Jesus von Nazareth]. Para falarem sobre tais assuntos tal como Soloviev fala, os pensadores da Europa Ocidental e Central carecem hoje de todas as possibilidades conceptuais.
Na alma de Soloviev, duas experiências coexistem claramente: a experiência do Pai-Deus na Natureza e na Existência Humana [Menschendasein], e a do Filho-Deus, Cristo, como a força que arranca a alma humana dos laços da existência natural e primeiro a introduz na verdadeira existência espiritual. [Rudolfo Steiner não menciona, na visão do mundo divino de Soloviev, Sophia, a Sabedoria Divina, o aspecto feminino de Deus, mas de facto nos Fundamentos espirituais da Vida ela não é mencionada.]
Na alma de Soloviev, duas experiências coexistem claramente: a experiência do Pai-Deus na Natureza e na Existência Humana [Menschendasein], e a do Filho-Deus, Cristo, como a força que arranca a alma humana dos laços da existência natural e primeiro a introduz na verdadeira existência espiritual. [Rudolfo Steiner não menciona, na visão do mundo divino de Soloviev, Sophia, a Sabedoria Divina, o aspecto feminino de Deus, mas de facto nos Fundamentos espirituais da Vida ela não é mencionada.]
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| Rudolfo Steiner esculpindo em madeira o Cristo entre as polaridades adversárias |
Mas também se pode sentir: o homem não deve permanecer na natureza. O ser humano deve elevar-se acima da natureza. Se ele não se elevar acima da natureza, a natureza torna-se nele pecaminos . Se alguém seguir os caminhos da alma nessa direção, chega às regiões onde encontra no Evangelho a revelação do Filho de Deus. A alma de Soloviev move-se por esses dois caminhos. Ele oferece uma visão de mundo que se vivencia bem acima da religião ortodoxa russa , e embora completamente cristã em termos religiosos, também se revela como um autêntico pensamento filosófico.
A filosofia fala através da religião de Soloviev; na sua obra, a religião transforma-se numa visão do mundo filosófica. No pensamento europeu, o único caso semelhante encontra-se em Escoto Erígena no séc. IX [815-877], e depois não mais. Este irlandês, vivendo na Francônia [França Ocidental], deu no seu livro Sobre a Organização da Natureza [De divisione de natura] uma visão geral da natureza do mundo e do ser humano na qual ainda vivia no Ocidente algo de semelhante ao que se respira nos pensamentos e sentimentos de Soloviev. Mas em Erigena já podemos ver a desaparecer o elemento da visão de mundo ocidental que ainda está cheia de vida em Soloviev. Isto emerge da apresentação dela à alma do leitor europeu como uma ressurreição do espírito [presente n'] os primeiros séculos cristãos.
Considere-se como Soloviev começa a falar [e Steiner vai transcrever com algumas leves adaptações] sobre Natureza, Morte, Pecado, [Lei] e Graça num ensaio [Os Fundamentos espirituais da Vida, o qual foi abordado por mim, sobretudo quanto à oração, em https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2025/11/vladimir-soloviev-e-oracao-o-que-e-o.html]:
A filosofia fala através da religião de Soloviev; na sua obra, a religião transforma-se numa visão do mundo filosófica. No pensamento europeu, o único caso semelhante encontra-se em Escoto Erígena no séc. IX [815-877], e depois não mais. Este irlandês, vivendo na Francônia [França Ocidental], deu no seu livro Sobre a Organização da Natureza [De divisione de natura] uma visão geral da natureza do mundo e do ser humano na qual ainda vivia no Ocidente algo de semelhante ao que se respira nos pensamentos e sentimentos de Soloviev. Mas em Erigena já podemos ver a desaparecer o elemento da visão de mundo ocidental que ainda está cheia de vida em Soloviev. Isto emerge da apresentação dela à alma do leitor europeu como uma ressurreição do espírito [presente n'] os primeiros séculos cristãos.
Considere-se como Soloviev começa a falar [e Steiner vai transcrever com algumas leves adaptações] sobre Natureza, Morte, Pecado, [Lei] e Graça num ensaio [Os Fundamentos espirituais da Vida, o qual foi abordado por mim, sobretudo quanto à oração, em https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2025/11/vladimir-soloviev-e-oracao-o-que-e-o.html]:
“Na alma humana há duas asas invisíveis, dois desejos [wünsche, ou aspirações].” Elas elevam a alma acima da natureza. Elas são o desejo [ou sede] de imortalidade e o desejo [ou sede] de verdade ou perfeição moral. Uma aspiração sem a outro não tem sentido. Uma vida imortal sem perfeição moral não traria felicidade [ou não é um bem]. O homem não pode contentar-se em ser imortal; ele deve também tornar-se digno dessa imortalidade, vivendo de acordo com a [ou realizando a]verdade. Mas a perfeição também não serve de nada se expirar na morte. Uma vida imortal sem perfeição seria um logro; a perfeição sem imortalidade seria uma falsidade revoltante que faria mal."
Solowjoff, ou Soloviev, fala a partir de tal modo de pensar. Isso dá às suas descrições o seu caráter oriental. A presente era precisa de ampliar o horizonte do seu espírito. As pessoas do círculo terrestre devem-se aproximar umas das outras. Soloviev é um representante da Europa Oriental. Ele pode servir para expandir a vida espiritual da Europa Ocidental. Ele próprio tinha-se integrado nessa vida intelectual segundo o seu modo de sua expressão; mas também mantendo plenamente a sua alma oriental. Encontrá-lo, para um ocidental, significa descobrir algo que revela aspectos significativos da humanidade, mas que o homem ocidental e centro-europeu já não consegue encontrar, pelo menos nos caminhos que se tornaram os caminhos do conhecimento nos últimos séculos.
O Ocidente e o Oriente têm de descobrir o entendimento de um com o outro. Conhecer-se melhor Soloviev contribuirá muito para ajudar o Ocidente a ganhar tal entendimento.»
Solowjoff, ou Soloviev, fala a partir de tal modo de pensar. Isso dá às suas descrições o seu caráter oriental. A presente era precisa de ampliar o horizonte do seu espírito. As pessoas do círculo terrestre devem-se aproximar umas das outras. Soloviev é um representante da Europa Oriental. Ele pode servir para expandir a vida espiritual da Europa Ocidental. Ele próprio tinha-se integrado nessa vida intelectual segundo o seu modo de sua expressão; mas também mantendo plenamente a sua alma oriental. Encontrá-lo, para um ocidental, significa descobrir algo que revela aspectos significativos da humanidade, mas que o homem ocidental e centro-europeu já não consegue encontrar, pelo menos nos caminhos que se tornaram os caminhos do conhecimento nos últimos séculos.
O Ocidente e o Oriente têm de descobrir o entendimento de um com o outro. Conhecer-se melhor Soloviev contribuirá muito para ajudar o Ocidente a ganhar tal entendimento.»
Possamos ler, meditar e aprofundar obras de Soloviev e de Steiner, e vivenciar melhor as realidades espirituais referidas, tão essenciais por entre as lutas e a manipulação geral, tendo o centro do coração ígneo e intensificando o bater das asas referido no início...





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