quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

A alma e filosofia religiosa russa, e em Soloviev e Berdiaev, por Eugène Porret. A oração, a eucaristia. Com leitura de um extracto sobre Soloviev.

 Eugène Porret foi um dos franceses nos meados do século XX a tentar dar a conhecer a filosofia russa e acontribuir para a união do Este e do Oeste Europeu e ainda da Cristandade ortodoxa e da católica. Se bem que se tenha dedicado mais a Nicolas Berdiaeff, que conheceu e com quem se correspondeu, também estudara bem a obra de Soloviev, que para Berdiaeff era um dos seus mestres, e assim no livro La Philosophie Chrétienne en Russie. Nicolas Berdiaeff, 1944, dá-nos um bom panorama da evolução da filosofia russa nos séculos XIX e XX, tanto mais que soube introduzir nos diferentes capítulos citações valiosas de escritores, filósofos, teólogos ou historiadores de valor. No fim deste artigo poderá ouvir a tradução da parte inicial do V cap.: Vladimir Solovieff e a Humanidade deificada. 

Da 1ª parte da obra, O Pensamento Religioso Russo no séc. XIX, o 1º capítulo é excelente: A Essência do Cristianismo na Rússia, e se nele acaba por citar bastante os que acreditaram fortemente na missão salvífica da Rússia, que seria a III Roma, transmitirá também algumas quinta-essências da espiritualidade russa, que servem a todos nesta época de globalismo, multipolaridade e universalismo. O cap. II intitula-se Tchaadaeff e os começos da Filosofia Religiosa. O cap. III, O ideal Eslavófilo: Ivan Kiréevski e Alexis Khomiakoff. O cap. IV, O Pessimismo Histórico de Constantin Leontieff. O V. cap. é o dedicado a Solovieff e já referido, e o VI é Sofiologia e Apocalíptica. A 2ª parte é toda ela dedicada a Berdiaev. 

A anteceder a gravação em vídeo, podemos ler e meditar então algumas das sementes  ou quinta-essências luminosas que germinam do livro, nomeadamente do 1º capitulo:

V. Rozanoff. "A alma da ortodoxia é o dom da oração. Os ritos, o culto, formam o seu corpo." Perguntemos: Como está a nossa oração e coração, com que aspiração, com que frequência, com que sons e respirações, com que resultados, e com que intenções?

«Para os ocidentais que aprendem a conhecer a vida profunda do povo russo na obra dos seus escritores, o Padre Zósimo, dos Irmãos Karamazov, de Dostoeivsky aparece como tipo de piedade inteiramente orientada para a contemplação. Para além disso, a Rússia teve, no séc. XIX, o seu grande santo, Serafim de Sarov, que é para a piedade ortodoxa o que Pushkin é para a poesia russa. Mas este santo não deixou obra literária digna desse nome», embora tenha ficado o belíssimo relato da sua vida e iluminação, por Motovilov e alguns instruções espirituais, que já comentamos. https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2025/10/sao-serafim-sarov-vida-e-ensinamentos.html, e https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2025/10/s-serafim-de-sarov-sobre-oracao-guarda.html

Cita em seguida Berdiaevv: «O Russo, ao deixar o mundo,  seguindo o caminho da resignação, e chegando à santidade, não devia escrever mais, não podia criar mais obras. Ele tornava-se ele próprio uma obra completa, um produto da arte divina... A vida espiritual permanece concentrada nas profundezas íntimas». 

Eis uma boa indicação de Berdiaev: não nos preocupemos tanto com os resultados no mundo, entreguemo-nos mais à religação divina, pois tal é a maior arte que podemos praticar, e que germina nas profundezas íntimas e desabrocha no mundo espiritual e na vida perene.  

Sobre a Eucaristia: «O centro da liturgia é naturalmente a Eucaristia que, tendo sobretudo um carácter sacerdotal, põe em evidencia a realeza de Cristo.
O Cristo não é
 somente oferecido em sacrifício. Ele é ressuscitado, e os crentes que participam na refeição eucarística formam doravante o corpo terrestre do Cristo glorificado. Cada fiel torna-se um «christophoro», um portador do Cristo, um membro do seu corpo.  A Eucaristia torna sensível o mistério da Encarnação; pela comunhão o crente tem acesso a Deus que se fez homem. Ela ilustra o dito de Atanásio, uma das citações preferidas dos ortodoxos: Deus tornou-se homem afim de que o homem seja divinizado. É a doutrina da theosis, concretizada num acto. Para o pensamento religioso russo. esta doutrina da divinização do ser humano pelo Cristo é fundamental. Contudo, deve-se clarificar que ela não consiste em identificar Deus e o homem [como muita gente do movimento da new age ou da não-dualidade pretende], pois, mesmo na união mais perfeita, a criação [ou emanação] é sempre distinta do Criador». Pax, Lux, Amor! 

                    

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