sábado, 20 de agosto de 2022

Poesia Espiritual Portuguesa. A poesia como prática e a peregrinação à Estrela e à Divindade.

 

Poesia como expressão de alma e do espírito:

 

 Poemas há que jazem no limbo indiferenciado,

no interior profundo da nossa alma,

em língua alguma falada ou escrita,

 só como sentimentos, intuições, aspirações.

Mas dadas as afortunadas interacções,

elas são coroadas pela estrela fecundante,

essa que os alquimistas espirituais

procuravam obter a visão e a orientação.


Hoje dadas as circunstâncias dispersantes

só em sonhos e prolongadas meditações,

em peregrinações e diálogos se desvenda.

Entrar e aprofundar a poesia espiritual,

a demanda abençoadora da estrela,

é uma prática de inspiração e meditação:

 Deixamos as energias e imagens virem ao de cima

no próprio acto puro de escrever e reflectir,

abertos ao que se nos associa, expande e ilumina,

no campo unificado consciencial vibrando e fluindo.
 

Poesia: inicio o gesto de a vazar

na página branca que me desafia

a cortar o que bloqueia o coração

e a deixar o Logos se derramar.

 


Vou deixar circular o Verbo: 

 "Não a nós, Senhor (a), não a nós,

mas ao Teu Nome dá Glória"

cantou a tradição espiritual templária

mas se retomar os veios e lemas antigos 

é aprofundar, incandescer e realizá-los.



Seja a poesia invocação da Verdade e não palavra só

que responda aos poetas do esmerado ofício da forma.

Quem pode falar do espírito, de Deus e do Graal

sem por eles  ter-se esforçado e lutado,

ou invocado, aproximado, enchido ou entrevisto?


Entre a poesia rota da angústia e do vazio

e a da construção formal, estética e aprumada

os leitores  ou os críticos que escolham

mas para a partilha da realidade espiritual,

Atenção: aqui é essencial a purificação

para além da graça na espiritual meditação.



Tantos poetas, prosadores e mestres

infinitos livros e frases a ecoarem

mas quem se desperta a si próprio

   e se conhece em corpo, alma e espírito? 



O ser mais realizado é luz e amor em si
e ilumina os outros sem necessitar de palavras,
e sem ter que provar o que diz
apenas se aproxima e dá a saborear:

- Queres experimentar, Amor? 

Então, tenta entrar no teu peito, 

ou, quem sabe, encosta-o ao meu.

A Divindade está no íntimo de cada ser

só quem a tiver sentido, enchido ou avistado
é que pode falar Nela com vida e em verdade.


 Só a quem for aberta a porta do peito,

só a quem se deixar inflamar no Amor

e alumiar a aura e o ambiente à volta,

 é  que a imanência espiritual se desvenda.


Mundos infinitos contemos e nos rodeiam:

Os que se agarram a poleiros e a doutrinas,

aos interesses, dogmas e limitações materialistas

esses tornam-se ceifeiros de palha perecível.



É preciso entrar no corpo espiritual, 

sentir bem a vibrar o amor imortal,

e comungar com os mestres que guiam

na luz até à Estrela e à Fonte Divina.

 

Possamos conseguir esta peregrinação

que nos leva pela terra ao Amor e à União.

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