domingo, 21 de agosto de 2022

Da demanda dos mistérios do Espírito e do Além. Da Educação para a vida depois da morte, e da Iniciação. Uma descrição espírita recente do Além.

 I - É curial admitir-se que a persistência ou não da vida humana individualizada depois da ocorrência da morte do corpo físico seja uma questão que mereça fazer parte dos programas educativos, pois admitindo-se tal e que a vida no Além decorre em consequência desta, as pessoas estariam mais informadas quanto à existência de propósitos de vida, ou do que se espera delas para tentarem realizar-se e serem mais felizes e melhores e logo causarem menos sofrimento aos outros, aos seres da Natureza e a si próprios, subsistindo cada ser humano como um espírito individual mesmo após a morte e recolhendo os frutos dos seus actos nesse Além misterioso.

Ora se as grande religiões transmitiram de um modo ou doutro  mensagens de moral, de compaixão, de não-violência, de desprendimento,  e de um Além "renumerador ou ressoador" do que se fez aqui na Terra, todavia, ao longo dos séculos, houve tantas barbaridades cometidas em nome das, ou apoiadas pelas, autoridades religiosas que ficou pouco do que os fundadores ou já os redactores de tais textos ditos sagrados ou divinos conseguiram de verdadeiramente importante transmitir, além da mera existência de uma vida no Além, antecedida por um apocalíptico e miraculoso julgamento final, pelo que não se conseguiu obstar muito às pessoas seja de descrerem nos ensinamentos religiosos seja de abusarem na satisfação dos seus instintos, desejos e egos e no menosprezo dos outros e, concomitantemente, gerarem uma menor adequação a vivenciarem o Além com mais qualidade e claridade.

Os ensinamento foram pois pouco eficazes face a tantos conflitos de egos e interesses, individuais, grupais e estaduais, face a tanto dogmatismo e ignorância,  criando seja agnóstico e ateus, seja livres pensadores e audazes investigadores, embora certamente houvesse alguns fiéis mais sóbrios ou até renunciantes e mártires que souberam desprender-se das ilusões da vida humana terrena ou dos seus aliciamentos corruptores com facilidade, em troca da fidelidade à crença ou ideia tida do sagrado e do eterno e assumida religiosamente, tal como Fernando Pessoa, um estudioso das linhas e entrelinhas ocultistas, um gnóstico cristão, cantará em relação ao infante D. Pedro das Sete Partidas, na Mensagem

«Claro no pensar, e claro no sentir,
E claro no querer;
Indiferente ao que há em conseguir
Que seja só obter;
Dúplice dono, sem me dividir,
De dever e de ser».

Não me podia a Sorte dar guarida
Por não ser eu dos seus.
Assim vivi, assim morri, a vida,
Calmo sob mudos céus,
Fiel à palavra dada e à ideia tida.
Tudo o mais é com Deus!»

Que sofrimentos se poderão evitar nesta vida e sobretudo no Além, vivendo-se melhor ou mais harmoniosamente, ou seja, que vivências e energias anímicas devemos desenvolver e unificar em nós para estarmos preparados? Pois, sem dúvida, estarmos mais unificados e individuados, mais comedidos nos desejos e projectos, tentando-os completar em vida, e estarmos desprendidos de vícios e dependências  prontos a partir para o além, norteados e impulsionados pela aspiração à luz e ao amor Divino, que já em vida devemos sentir e realizar.

Se devemos partir sós, isolados, libertos, ou se haverá uma alma grupo ou almas da mesma vibração ou família, com as quais estamos mais em ligação permanente e com as quais poderemos e deveremos dialogar mais profunda e amorosamente, de modo a aprofundarmos os melhores ensinamentos e fortalecer-mos, é outra questão desafiante, que nos obrigaria a estarmos atento a quem devemos apoiar mais ou com quem nos podemos mais inspirar. As sodalidades antigas, os Mistérios de Eleusis e outros com os seus místicos e iniciados foram uma das formas que na Antiguidade de se descobriu para se conseguirem os dois objectivos: aproximar, fortalecer e unir pessoas afins na sua demanda e também prepará-las para uma vida depois da morte mais luminosa, iniciando-as em experiências espirituais já nesta vida no corpo físico. 

Tal como eles também nós diariamente devemos perseverantemente trabalhar os ensinamentos espirituais que nos impulsionam no verdadeiro auto-conhecimento e que lentamente nos vão identificando com o ser e corpo espiritual nosso, e que aumentam muita a nossa sensibilidade, amor e até uma certa  clarividência e intuição.
Certamente as práticas de
recolhimento sensibilizante interior, oração, meditação, contemplação são os principais meios de  nos auto-realizarmos enquanto seres espirituais e logo estarmos mais despertos enquanto dotados dum corpo com sentidos espirituais no além, aqui na Terra já reconhecidos e apurados.


II - Nos séc. XVII, e sobretudo XVIII e XIX no Ocidente, a partir da grande revolução do Renascimento, em que pioneiros como Marsilio Ficino, Pico della Mirandola,  Paracelso, Agripa, Reuchlin derramaram escritos valioso sobre os aspectos subtis da vida humana, deu-se uma sucessão de movimentos que de vários modos tentaram aprofundar os mistérios da existência, nomeadamente os poderes da alma, a vida depois da morte, a alma humana e Deus, a origem do universo, o bem e o mal, a comparatividade e unidade das religiões, de certo modo complementando a Igreja Católica algo anquilosada na sua fatídica Bíblia em que a nova mensagem libertadora de Jesus foi enxertada à força na pesada e violenta tradição  do Antigo Testamento e do seu Jehova tão limitado.

Os hermetistas, os rosacruzes, a maçonaria, o magnetismo, o hipnotismo, o espiritismo, o ocultismo e o teosofismo foram sucessivamente alguns desse movimentos, os quais mesmo hoje na 3ª década do séc. XXI continuam a germinar, com muitos autores e obras neles filiados ou ligados, e com maior ou menor credibilidade e qualidade.

Como sabemos, hoje a produção de obras de Nova Era, de alternativas, de ocultismo, espiritualidade, meditação, vipassana ou mesmo de esotericismos académicos,  é assombrosa, diariamente publicando-se muitas, embora em muitos casos apenas repetindo o que já outros contaram, ou então considerando-se os seus autores, após alguma experiência, como qualificados para poderem escrever ou ensinar sem mais preparação e qualificação. Certamente os melhores são os estudos ditos académicos, nomeadamente os publicados e partilhados pela EDU, em que investigadores ligados a universidades ou instituições partilham os seus estudos sobre as mais diversas religiões, esoterismos e espiritualidades, muitos deles com inegável categoria.

Quanto ao muitos dos instrutores e instrutoras que em modestas ou complicadas e abstrusas especulações e canalizações, teorias e exercícios, em árvores da vida cabalísticas, merkabas, mundos subterrâneos, seres extraterrestres, canalizações de mestres ascensos ou de Kryon, curas quântica ou reconectivas, regressões e constelações familiares propagam imaginações incomprováveis, complicações, inutilidades e asneiras que frequentemente apenas existem imaginativo-mentalmente e que podem tornar até ainda mais complicada a realização do caminho espiritual e posteriormente a vida depois da morte para os seus praticantes ou seguidores.

Reflicta, dialogue e medite então muito bem antes de se envolver em grupos e "mestres", nomeadamente os mestres indianos, pois há muita falsa aparência luminosa e amorosa, muito hipnotismo e auto-sugestão. Saiba discernir os mestres falso dos verdadeiros, os ensinamentos mais adequados e os menos caros e abstrusos, tendo em conta que nos nossos dias grande numero de seguidores ou de sucesso, em sociedades cada vez mais manipuladas e zombificadas, não é sinal de garantia. Neste blogue encontra artigos que nomeiam e caracterizam alguns dos mestres ou instrutores bons ou valiosos, com excertos dos seus ensinamentos. E os que põem em causa algumas das patranhas de estilo Nova Era tão frequentes em astrologia, angelismos, profecias, canalizações, ordens mágicas ou satânicas, curas, iluminações, não dualismos e esoterices. E assim saberá precaver-se de se enredar nos umbrais do Além...

III - As aproximações práticas ao Além, ocorrendo desde a Antiguidade, a partir do século XIX, com os movimentos espíritas norte-americanos e franceses, Allen Kardec (1804-1869, sendo o fundador) receberam uma grande adesão investigadora (frequentemente ingénua) de cientistas e escritores, dos quais se destacaram Cesar Lombroso, Camille Flammarion, William Crookes, Conan Doyle, a que se juntaram os dirigentes da Sociedade Teosófica, Blavatsky e Olcott.  Mas as  aproximações pouco fiáveis ou mesmo falsas sobre o Além, e a acção duvidosa de espíritos ou mestres nos humanos ou em sessões experimentais,  a que se juntaram as miríficas reincarnações e avatarizações que os  teosofistas Charles Leadbeater e Annie Besant imaginaram ou inventaram, provocaram reacções fortes pondo em causa tanto o movimento Espírita como a Sociedade Teosófica ou, pelo menos, membros, ensinamentos e livros. Entre tais reacções destacaremos, para além das provenientes de sacerdotes e leigos católicos, as duas obras de René Guénon (1886-1951), Le Théosophisme. Histoire d'une pseudo-Religion, 1921, e o L'Erreur Spirite, 1923, sem dúvida  bem lúcidas e clarificadoras, a última com 406 páginas  e capítulos sobre a história do espiritismo, as relações com o ocultismo e o psiquismo, as teorias, as extravagâncias reincarnacionistas, os perigos, etc., com críticas bem fundamentadas dirigidas a vários autores, tais como Allan Kardek, Helena Blavatsky, Papus, Charles Richet, Charles Lancelin, Ernest Bosc e outros

Certamente que entre as milhares de obras sobre  a vida no Além, ou os mundos dos espíritos fora de corpos físicos, há várias com dados certos ou valiosos, há testemunhos directos de familiares de entes queridos subitamente desincarnados, há teorizações e experimentações mais sistematizadas, há histórias objectivas o que se passou e certamente seriam necessárias muitas leituras críticas para avaliarmos o que de melhor ou pior se fez, ainda que algo temos feito e faremos ocasionalmente.
Contudo, resolvemos ler e comentar um escritor inglês, G. M.
Roberts, autor de um livro apresentado em 1985 como sendo ditado por um médium cego, Ken Alkehurst, que falecera em 1978, e que do outro lado da existência tentava, através dele, operar um despertar maior para o facto de haver uma vida depois da morte, sempre muito melhor que esta, garantindo que quando morremos cada um será  recebido por um guia e apoiado no descanso ou encaminhado para as casas e locais onde continuaremos a nossa progressão, dando assim uma visão demasiado cor de rosa pois "sabemos" que muita gente fica ora adormecida, ora imobilizada, ora desnorteada, já que não soube despertar a sua identidade espiritual, purificar-se e aperfeiçoar-se.
Considera pois a vida humana uma escola em todos
os planos e que seja pelo arrependimento seja pelo estudo, disciplina e treino, iremos logo no post mortem  avançar em diálogo com amigos e guias. Uma provável ilusão, tal como a propagada a partir de algumas experiências de near death, de proximidade da morte: a de que quando se está a morrer avistamos, no fim de um aparente túnel da transição, a luz e que aí somos logo todos recebidos de braços abertos. Uma ilusão completa, pois muita gente não vê nada, nem túnel, nem luz, nem é recebida por antepassados ou amigos.
A obra, apesar de ditada por um espírito que já fora médium, pouco
diz dos mundos do Além ou astrais e superiores, contém mesmo algumas explicações e afirmações tolas ou ultrapassadas, tais como a de querer que a Bíblia tornasse a ser ensinada nas escolas, ou que os Judeus eram o povo escolhido (assim lhe disse o seu mestre médium), porque eram os únicos que tinham chegado ao conceito do Deus único e que por isso Deus lhes enviou o seu Filho, sofrendo uma desilusão pela rejeição e morte do Filho enviado (acrescentando que os planos de Deus são constantemente frustrados pelos humanos, no fundo uma série do que nos parece informações erradas, esta de que Deus sofre desilusões ou a  de que (esta das Igreja Cristãs) Jesus fora enviado para com o seu sangue resgatar a Humanidade, erros que se tentam ainda defender no dias de hoje de profunda comparatividade religiosa, quando na realidade o Antigo Testamento é um livro cheio de desequilíbrios morais e psíquicos dos seus heróis ou profetas e violentíssimo no seu racismo de povo eleito, ainda por cima sob a égide de uma concepção de Deus, Jehova, primitiva, machista, vingativa.


Talvez de todo o livro Everyone's Guide to the Hereafter, de Ken Akehurst, through G. M. Roberts, o mais interessante sobre o Além se resuma a algumas ideias, ainda que pouco aprofundadas nas suas causalidades, tal a de que a cor da alma de uma pessoa é o  mais importante e que tal resulta seja do que ao longo da vida vamos fazendo e de cores gerando, seja no importante momento da morte, seja já no além, pois vestimo-nos de cores, realçando que são ascores o que há de mais forte e belo no mundo astral. 
Poderia ao menos ter dito que as cores geradas pela oração, o amor, a compaixão, a abnegação ou o estudo seriam mais estas ou aquelas, ou que a escala das frequências vibratórias do infravermelho ao ultravioleta enquanto que patentes na aura e alma humana têm as suas correspondências causais em certos sentimentos e pensamentos. De qualquer modo serve para nos relembrarmos ou nos auto-consciencializarmos do estado em que estamos, intensificarmos estados de alma mais harmoniosos no fundo mais sábios, amorosos e determinados, por via das cores que sentimos, irradiamos e assimilamos...
Apenas uma vez e quase já no fim, fala dos outros planos ou
mundos, já que narra o mestre Jesus descer com frequência para falar como o Filho de Deus, vindo de um plano mais elevado. Mas mostra muito pouco de imaginação ou vamos lá de visão no que descreve pois, para além de verberar os sentimentos de inveja como muito obscurecedores, e de valorizar sempre o amor a Deus e ao próximo, como dissemos, não descreve nenhuma cor de tais estados de alma. Ora se o médium falecido está a ver num mundo subtil espiritual em que a cor é o mais importante, deveria explicar pelo menos que a aspiração a Deus gera certa cor; que a devoção, outra; que o espírito de sacrifício, outra. Ou ainda, quais as cores que se manifestam para curar isto e aquilo, algo que acontece segundo ele regularmente em cerimónias públicas, em que todos oram e cantam formando uma nuvem de energias poderosas que atraem a bênção divina, cabendo ao mestre curador da cerimónia receber, em si e numa vara de poder, tais energias divinas que depois dirige para quem precisa...
O livro acaba por dar a sensação de que mistifica um pouco, pois
está constantemente desejando que as pessoas aceitem e acreditem no que se diz, que gostaria de escrever mais livros e que este vai ter muito sucesso e ser importante, E que foi escrito com a ajuda de vários seres, primeiro a sua irmã, que foi quem o recebeu quando morreu e que se tornou a sua guia. Quanto ao sucesso e impacto desta obra cremos que terá sido muito reduzido, pesem as expectativas do além, expressas pelo seu autor, de que a vida depois da morte deixaria de atemorizar as pessoas, tanto mais que, segundo a sua descrição optimista, toda a gente seria recebida no além por pessoas conhecidas e encaminhada para casas de descanso.
Há também aspectos na descrição
da vida no Além que parecem algo ingénuos, tal como haver todo o tipo de desportos, de modo a que os grandes jogadores de algum deles ainda possam ser melhores e que há muita gente a competir e a assistir, sobretudo à natação, críquete, futebol, ténis e corridas de cavalos. Nada mau o programa das festas desportivas, pensar-se-á, embora se torne algo complexo saber como é que tudo isso tem valor de religação espiritual ou divina e como acontece quando mais de uma vez afirma que o tempo não existe nem há um calendário. Fica-se ainda a dúvida se não se está a legitimar muita actividade actual que pode ser vista como algo elitista  e sobretudo alienante para quem só a vê e não pratica, para além de distrair as pessoa de realizações mais importantes.
É sempre complexo conseguirmos
clarividentemente ver, ou então imaginar, e descrever os mundos astrais, como vemos em tantas contraditórias descrições de espíritas, ocultistas, rosacrucianos, teosofistas, videntes, embora seja verdade o descrito pelo médium de podermos deslocar-nos a uma velocidade quase instantânea, ou a importância do controle dos pensamentos e a nudez da nossa alma perante os outros, não havendo possibilidades de mentira. Havendo muita gente céptica ou materialista, não havendo unanimidade de  visão quanto à vida no Além ou nos planos subtis post-mortem, torna-se difícil chegar-se a um acordo sobre qual será a melhor a ensinar, ou que aspectos são os mais acertados, embora nas minhas leituras tenha chegado à conclusão que o Livro do Além, escrito pelo alemão Bô Yin Râ, é certamente dos melhores, na sua simplicidade e claridade e provinda de um mestre com os sentidos espirituais despertos.
Ligado ao problem
a da vida depois da morte e das consequências que vivenciaremos, ou seja, o karma indiano ou a retribuição cristã, está  o problema do Mal no Cosmos mas  a aproximação no livro de Ken Akehurst é pequena e embora mencionando a Bíblia prefere não recuar aos míticos Adão e Eva, tanto mais que volta e meia faz as suas críticas às limitações espirituais da Igreja, propondo no fundo mais a participação em centros espíritas,  nos quais considera que há conversas mais espirituais que nos meios católicos ou de outras religiões, algo certamente muito discutível. Aliás esta faceta de um certo proselitismo espírita é evidente, sugerindo às pessoas irem ao centros, consultarem médiuns e exercerem os seus dons e poderes de curas. Ora se de facto é bom que as pessoas usem mais as suas capacidades anímicas de cura, de intuição, de inspiração, também é verdade que estarem a tonarem-se médiuns, e então de incorporação, pode ser perigosíssimo pois, sendo o caminho espiritual algo de interior e íntimo, o abrir-se a qualquer espírito ou entidade dos mundo subtis, por vezes bem daninhas, pode afectar a integralidade e a sanidade das pessoas.
Sabendo nós, por diversas tradições, que a oração (e sobretudo a
verdadeira) pelos que já morreram é um dos principais meios de os ajudarmos ou de eles despertarem, purificarem e  elevarem, em qualquer aproximação escrita sobre o Além tal deveria ser mencionado, mas não é tanto o caso neste  Everyone's Guide to the Hereafter, de Ken Akehurst, through G. M. Roberts: a oração é apresentada de um modo simples, talvez algo superficial até, pois bastaria  falar com Deus, pedir e agradecer, de modo a que pela frequência aumente a ligação a Deus, acrescentemos, algo imaginado se não há uma vivência mais interior da Fonte Divina. Não valoriza talvez suficientemente o ensinamento de Jesus quanto à oração, sintetizado na tríade: "pedi e recebereis, procurai e encontrareis, batei e abrir-se-vos-á" (Mateus, VII.7)  e que, por exemplo, já na valiosa obra A Oração, de Bô Yin Râ, que traduzi e dei à luz em de Agosto de 2022 (e está disponível...), é bastante bem interpretado e desenvolvido. 


Se a omissão da oração pelas almas defuntas já nos parecia incorrecta, acrescente-se  ainda que nunca se emprega  o termo "meditação", no que parece ser outro repúdio de um método essencial, talvez porque ambos dispensem os médiuns e até pastores e sacerdotes, ao valorizar-se a capacidade de ligação directa com o espiritual e o Divino e a sua eficácia no bem comum do corpo místico da Humanidade, tão bem cantado na nossa tradição espiritual por  Antero de Quental em alguns sonetos, tal como no final da Contemplação:  

«Seguirei meu caminho confiado,

Entre esses vultos mudos, mas amigos,
Na humilde fé de obscuras gerações,
Na comunhão dos nossos pais antigos!»

Ou tão belamente na parte final do soneto de 1885, Com os Mortos, ou não fosse ele um espiritual que tentou até investigar e filosofar, para além de poetizar, os mistérios do espírito e do além, como as cartas a Cirilo Machado retratam e já neste blogue abordei:

 «Mas se paro um momento, se consigo
Fechar os olhos, sinto-os a meu lado
De novo, esses que amei vivem comigo,

Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,
Juntos no antigo amor, no amor sagrado, 
Na comunhão ideal do eterno Bem.»

                                     

Na realidade, quanto ao auto-conhecimento, à gnose, à identidade espiritual conquistada ou recuperada, Ken diz pouco: o que escreve com mais interesse é que a alma é uma centelha de vida, para ele criada apenas no momento da concepção, e que vai registando tudo o que acontece durante a vida.  Donde uma oposição sua forte ao aborto. Não fala num espírito que existia já antes e que entra no corpo e não defende ou afirma a reencarnação, confessando mesmo (ó santa sinceridade...)  que não conseguiu saber se há ou não tal, o que nos parece algo contraditório com o facto de estar já nos mundos subtis e em diálogo com espíritos já mais avançados que ele. Considera ainda que as crianças mortas muito cedo acabam por ser educadas mais nos mundos espirituais ainda que mantendo uma ligação com os pais corporais e que podem assim evoluir mais rapidamente. Já quanto aos suicidas considera o pecado mais grave que o ser humano pode cometer.
Concluamos com outros aspectos da descrição ensinante de Ken
Akehurst: recomenda a cremação, pois o melhor meio de comungar com seres já partidos é falando-lhes calmamente em casa e não ter que ir para os cemitérios. E que na vida depois da morte já ninguém importuna outrem, pois não há tempo nem tarefas à pressa. A sua posição quanto à sexualidade é que no Além ela não existe, e só o verdadeiro amor é que une e mantém unidas as pessoas, embora pareça saltar em relação à polaridade, à complementaridade, à união conjugal ou à alma-gémea, certamente mistérios bem elevados, sobretudo no misterioso Além e que não se revelam tão facilmente senão aos verdadeiramente iniciados, como a Dante por Beatriz, ou quem sabe imaginalmente a Vasco da Gama por Tétis, na Ilha do Amor, esses estados de consciência em que todos nós devemos viver e lutar criativamente para que estarem mais presentes entre nós e para o Bem da Humanidade e do Cosmos..

2 comentários:

devi sat disse...

Então saiu seu livro de Bo Yin Ra! Parabéns, Pedro!

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Graças, Devi Sat. Uma sóbria e pequena edição de autor de uma obra valiosa de Bô Yin Râ.