sexta-feira, 19 de junho de 2020

"A Iconografia Anteriana", por Roque Machado, uma gravura, no seu contributo na revista ABC, em 1926

 Em 1926, Roque Machado, um estudioso com várias obras publicadas sobre Camões e certos temas dos Lusíadas, tais como a Flora, Vasco da Gama, e Deus, publicou um artigo na valiosa revista ABC, de Lisboa, no nº 327, de 21 de Outubro de 1926, dirigida por esse notável, entusiasmante e prolífero historiador Rocha Martins, uma 1ª gravura de Antero, para o que seria uma galeria de Iconografia de Antero. Não sabemos se teve continuidade, pois apenas consultamos em vão números soltos do ABC, embora sem ser na imediata continuidade.
 Roque Machado, seguindo a informação contida no In-Memoriam de Antero de Quental, de 1897, data a fotografia de 1871 e quanto à gravura em madeira do conhecido Macedo no Diário Ilustrado dá a data de 24/11/1875.
 Enaltecendo-o bastante luminosamente, "Antero de Quental é, sob certos pontos de vista, a figura máxima da nossa literatura", pois a sua obra é cosmopolita e logo «pode ser universalizada", e "houve nele um herói, um santo, um artista", atrevendo-se mesmo a legitimar o suicídio pois "foi o heroísmo, o espírito aventureiro da raça que levou Antero voluntariamente a forçar as portas da eternidade, como mostrámos na teoria formulada por nós sobre a sua morte". (Desconhecemos onde partilhou tal trabalho).
Ora como a iconografia de Antero não estava estudada, Roque de Machado propõe-se:  "sobre cada imagem anteriana daremos um comentário em prosa que possa iluminar a gravura pela palavra», acrescentando todavia apenas que "tinha Antero então, em 1871, 29 anos. Vivia no «poço húmido e morno» de que fala num dos seus sonetos", sem dúvida um expressão curiosa quanto ao ambiente psíquico que a sua criatividade de bacharel e desassossegado lhe proprocionava...
Podemos sentir nesta gravura o Antero de Quental determinado (e pela angulosidadde acidental da imagem ao nível da barba aumentada) e guerreiro dos ideais, que os tem bem pensados e amados no seu interior ou na sua poderosa cerebração e mente... 
                                          
Acabara já a sua aventura parisiense e a sua viagem marítima aos USA, que tanto o desiludira, de 1867, e ardente idealista e socialista proudhoniano, após a fermentação da época do tão revolucionário Cenáculo na Travessa do Guarda Mór, hoje rua do Grémio Lusitano, 1º andar do nº 19, alugado a Jaime Batalha Reis, no qual a entrada de Antero sido descrita por Eça de Queirós como "a vinda do rei Artur à confusa Terra de Gales", Antero com esses e outros companheiros ia lançar muito corajosamente as famosas Conferência Democráticas do Casino, que marcam a entrada de Portugal na modernidade, nomeadamente com a sua conferência pronunciada a 22 de Maio desse ano de 1871, intitulada as Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos últimos três séculos.
A gravura parece mostrar Antero de Quental firme e calmo na sua responsabilidade de sonhador e de idealista da Revolução que libertaria os seres e sociedades das suas múltiplas opressões e ignorâncias, e que o levou mesmo a militar em alguns projectos e partidos socialistas, mas dos que mais tarde se desiludirá...
E se formos para a fotografia modelo da gravura, que foi certamente a que reproduzimos em seguida, poderemos realçar como "descrição-interpretação" bem diferenciada da resultante da gravura, graças à nitidez da fotografia,  o nariz mais sensitivo e fremente, a boca capaz de pronunciar o verbo ou palavra justa e incisiva e o seu belo olhar puro e de idealista. Também com a testa mais ampla ou vasta do que na gravura, pois grande era o fogo-aspiração de conhecimento, amor e de visão que o incendiava interiormente e que parece brilhar alvamente, puramente, pela fronte. Pena foi não ter praticado mais a meditação no, ou com o, olho espiritual, ou 3º olho, como a civilização indiana que ele bem conhecia tanto desenvolveu e que ainda hoje é fundamental para todos os seres que querem despertar mais...
Possam estas qualidades ser desenvolvidas por nós e possa Antero de Quental estar bem luminoso nos mundos espirituais e já não apenas descansando na mão de Deus, mas sentindo-se no seio da omnipresença da vida divina e quem sabe com acesso à Sua contemplação no seu interior. E vivendo já activo como espírito imortal e Cavaleiro do Amor, que vence a morte...

1 comentário:

Luiz Gomes disse...

Boa tarde tudo bem? Sou brasileiro, carioca e procuro novos seguidores para o meu blog. Novos amigos também são bem vindos, não importa a distância.

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