domingo, 1 de março de 2020

Os "Adágios", de Erasmo. " Lar, doce lar." Comentário (com vídeo) de Pedro Teixeira da Mota.

                        
Os Adágios de Erasmo vieram a ser considerados no século XVI o melhor concentrado da sabedoria antiga, e o que nascera como Adagiorum Collectanea, uma Colectânea de Adágios, oitocentos e dezoito, extraídos de uns poucos de livros greco-romanos, em 1500, pela necessidade em Paris de fazer dinheiro, já que na fronteira inglesa tinha sido espoliado do que ganhara ensinando em Inglaterra, obteve tal sucesso (ainda que Erasmo confessasse as limitações pela rapidez com que a publicara), que rapidamente se tornou uma súmula, um manual, um vademecum não só dos humanistas europeus e dos mestres escolas, mas também do público leitor interessado na sabedoria contida nos provérbios antigos, com as suas fontes clássicas (de autores como Plutarco, Ovídio, Platão, Aristóteles), e nos comentários que lhes acrescentava, oiro sobre azul, de Erasmo...
 E foi crescendo e melhorando em sucessivas edições, destacando-se nesse anel de graças, primeiro, a edição seguinte, oito anos depois, em 1508, realizada em Veneza, aquando da sua estadia na casa e tipografia de  Aldo Manuzio, onde verdadeiramente melhorou muito o seu grego, passando de 818 para 3260 adágios, e deixando de ser uma simples transmissão retórica  para aprofundar as implicações históricas e morais, neles se destacando as considerações sobre a empresa ou marca tipográfica do sábio Aldo Manuzio: Festina lenta, Apressa-te lentamente.
E em segundo, a  edição de Basileia, 1515, de Johann Froben (cuja marca tipográfica, e tão simbólica, reproduzimos em baixo), na qual começa a comentar mais no contexto da época, nomeadamente com críticas ao belicismo e injustiça dos governantes. 
Grande alma dedicada ao studium (que significa tanto estudo como esforço, e na sua biografia, incluída no Modo de Orar a Deus, que Álvaro Mendes e eu traduzimos e comentamos, torno  tal bem patente), Erasmo vai em sucessivas edições  melhorando e acrescentando a obra até que, uns meses antes de morrer em 1536, serão 4151 os provérbios explicados e comentados, e que ficarão assim connosco para sempre, lidos e aprofundados por tantos grandes seres: Montaigne, por exemplo, dirá que se encontrasse um dia Erasmo, esperava vê-lo falar quase só por adágios e provérbios. E, claro, o próprio Erasmo reconheceu neles sentidos realmente bem profundos e elevados, numa citação no prefácio aos Adágios: «Plutarco (no tratado que fez intitulado Quo pacto sint audiendi poetas) [De que modo são ouvidos os poetas] considera que os adágios dos antigos eram semelhantes aos sagrados Mistérios, nos quais as coisas mais importantes e divinas costumam expressar-se sob cerimónias insignificantes e na aparência quase ridículas.»
Resolvemos escolher um deles e comentá-lo. Intitula-se Domus amica, domus optima, Casa amiga, casa óptima, ou no nosso adagiário, Lar, doce Lar, sendo de facto um adágio universal, muito rico de variantes. A gravação, realizada após a leitura rápida das considerações de Erasmo, poderia ser bem mais prolongada, quer tocando mais rigorosamente e em todos os exemplos e aspectos referidos por Erasmo, quer no que eu sentisse mais actual para o  aprofundamento e amor das ideias potenciais que a casa ou ambiente amigos, harmoniosos ou amados proporcionam e estimulam. Mas algo da comunhão  erasmiana  foi actualizado, e anoto  Damião de Goes e José V. de Pina Martins como dois dos elos mencionados na gravação...
Boas inspirações e realizações no amor à casa pessoal e planetária.
Saibamos harmonizar os locais onde estamos para que eles possam reflectir boas energias, ideias, ideais, almas luminosas, para o Bem de todos... 
Saibamos atravessar ou plenificar as nossas casas com boas energias de harmonia e  hospitalidade, gratidão e amor....
Post-scriptum: Tratei de certo modo deste adágio, mais nas suas dimensões energéticas e subtis na http://revistatransdisciplinar.com.br/edicao/vol-15-ano-8-no-15-1o-semestre-2020/ ...
               

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