sábado, 7 de março de 2020

As casas e portas do Porto serão mais belas que as de Lisboa? Uma travessia rápida...

As casas e portas do Porto serão mais belas que as de Lisboa, eis uma interrogação que se gerou na minha alma (para não falar da cidade em si e seu rio, ou mesmo suas gentes tão tipologicamente tradicionais ainda) aquando de uma breve travessia da invicta cidade, por ocasião de ir pronunciar umas palavras na inauguração da exposição de pintura de Madalena Leal, no espaço Altice, na rua Tenente Valadim. 
Viera a pé da estação da Campanhã, no dia 5.III.2020, e eis algumas das imagens colhidas, as duas primeiras na mítica rua do Bonfim, pois não só todos desejamos um bom fim de vida, com mais ou menos (mas pelo menos suficiente...) Arte de Bem viver e Arte de Bem morrer desenvolvidas, (conforme a divisa do patrono da cidade, Infante D. Henrique, Talent de bien faire, Talento (ou tentando) de Bem Fazer, e que Fernando Pessoa tomou como lema da sua ordem templária que procurou fundar, como por ter durante vários anos dado aulas de Agni Raj Yoga no espaço de alimentação e práticas alternativas, Suribachi, ainda hoje a funcionar, e bem. 
A maior parte das imagens vêem da rua Sacadura Cabral, onde aliás encontrei um amigo, António Maria Pinheiro Torres, que abrira uma loja livraria Passado e Presente já há dez anos e que eu desconhecia. Depois destas fachadas de casas aos estilos Arte Nova e Art Deco, que dos finais do séc. XIX e começos do XX embelezam tanto o Porto, surgirá uma  especial moderníssima, a casa da Música, irradiante de harmonias de geometria musical, sendo as últimas três fotografias já na finalizadora rua Tenente Valadim...
Boa peregrinação...
Varandas, sótãos e mirantes que aspiram ao Sol, ao Oriente, ao calor e ao Amor, e que se alinham, sob o céu azul e enevoado, numa rua como casas e faces que bordejam e contemplam o rio sagrado da vida, e que no seu som silencioso se harmonizam e pacificam...
Um pingo da graça do céu, humano ou divino, harmoniza-nos bastante e estas formas recolhem diálogos imemoriais com as nuvens e elementos da natureza.
As aves extraem se for preciso do lixo ou do desagradável as forças para as suas asas baterem, voarem, por entre rosas moradas humanas...

Estas mandalas no alto da portas sugerem que, mais do que servirem para deixarem entrar o Sol, o invocam para proteger a casa e os seus habitantes. Parece mesmo um culto solar, pouco reconhecido na história da Arte, e a serralharia artística portuense esmerou-se nestas representações que são autênticas mandalas, centros concêntricos e irradiantes, harmonizadores de quem os contempla com mais sensibilidade e osmose.
Varandas que desejam proclamações anterianas, janelas que reflectem as tão mutáveis nuvens brancas e o azul infinito do céu, casas que gritam a palavra Amor na surdina ou no ruído da cidade de habitantes já algo adormecidos a estes sortilégios do granito, do vidro, do ferro, do azulejo, da alma das casas...
Árvores, arbustos e camélias de mil cores que parecem brotar por entre as construções coesivas e defensivas das domus pessoais, como manifestações da Natureza unificadora e mãe de todos...
Raios cálidos do sol que em algumas das portas atravessarão um pequeno olho, qual rosácea, e depositam nas mãos de quem escreve um pouco da poalha cósmica que inspira o Amor a continuar o seu culto da Palavra imortalizadora, tanto no papel como no nosso corpo espiritual.... Aummm...

Conseguirmos deter o fluxo da impermanência na observação pura e no ser espiritual...
Estas casas tão enriquecidas ao longo das décadas do tempo exterior e das vivências interiores, quem as sabe, sentir, amar, para delas ver ou mesmo receber alguns dos seus segredos? De uma alma a elas sensível conheci eu, Dalila Pereira da Costa, que tanto a urbe  do Porto amava que o sonhava transcendendo as limitações do tempo e do espaço; e também conheci um seu discípulo nessa arte da memória local e que também fora agraciado com um ou outra visitação de tal penetração nos tempos e ambientes passados...
A Grécia, com os seus filósofos, cientistas e oradores, com Pitágoras, Sócrates, Platão e Euclides, também perpassa pela rua Sacadura Cabral, ou não fosse este um aviador ligando mundos e continentes, tal como a arquitectura e a arte também poderosa e belamente o realizam...
A Casa da Música acolhe a arquitectura moderna enquanto arca e caixa de ressonância da Arte  musical como curadora perene das almas e dos seus ritmos
Fachadas que suspiram por flores e pessoas nas suas janelas e varandas... Quando se instituirá o culto criativo do dia da Janela e da Varanda?
Haverá ainda pessoas a congregarem-se à volta das leituras bíblicas, presas da letra que mata, ou terão conseguido os que por aqui se reúnem libertar-se da primitiva concepção de Deus que foi Jehová, e antes vivem o seu Deus de amor vivo nelas?
Um Bairro, casas modestas que albergaram vidas humildes ou difíceis, que daqui se erguiam em cantos matinais de esforço e de amor... Uma rua grande, uma comunidade próxima de famílias, o que desenvolve a fraternidade, qualidade bem necessária ou mesmo fundamental no Caminho... Saibamos ir descobrindo e cultivando as almas afins ou mais familiares...

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