sexta-feira, 20 de março de 2020

A Fonte da Vida, cap. VIII d' "O Mistério da Gólgota", de Bô Yin Râ. Tradução escrita e gravada.

A Fonte da Vida, cap. VIII d' O Mistério da Golgota, de Bô Yin Râ. No original, Das Mysterium von Golgatha, Leipzig, 1930.
Tradução, trabalhosa e em aberto, de Pedro Teixeira da Mota. 
No fim, encontra-se em vídeo a leitura comentada de grande parte e fim deste capítulo, com algumas diferenças em relação a esta tradução por escrito, já posterior e portanto melhor.
«Verdadeiramente, é necessário, mostrar
sempre a verdade em imagens novas, a Verdade que  sem imagens e parábolas não pode ser captada porque ela é a Realidade, Ser primordial das coisas, Fonte de toda a vida.
Nada resiste nos nossos dias à confusão dos espíritos.
Todo o testemunho de vivência interior é retirado da podridão dos túmulos, da poeira das bibliotecas e deposto como um oráculo entre as mãos trémulas de quem procura.
O que procura apanha em qualquer lugar tudo o que se apresenta ou que tem a possibilidade de encontrar. Passa noites febris diante de volumosos livros de grandes dimensões, leva nos seus bolsos as mais duvidosas obrazinhas,  como se tratassem de relíquias, escuta com respeito em qualquer local que seja as palavras obscuras de mestres não qualificados, e assim pensa encontrar um dia, por fim, o caminho que conduz à fonte da vida...
As cabeças estão guarnecidas das mais grotescas fantasias geradas por mistagogos disparatados: um ciência bizarra de coisas que nunca se poderão tornar objectos da ciência, exibe-se verbalmente ou por escrito, diante de um mundo admirado; rebuscam-se e esvaziam-se os armazéns de todas as épocas da superstição humana e os fantasmas mais repulsivos tornam-se de novo modernos.
Contudo, toda esta confusão encontra o seu alimento na aspiração ardente de corações que suspiram, e muitas das pessoas que correm com embriaguez atrás do último profeta de feira fazem-no porque estão decididas a não negligenciarem nada que possa dar uma orientação à sua demanda transviada.
Não são certamente os mais maldosos os que se tornam assim as vítimas de desmiolados irresponsáveis e de tagarelas impudentes.
Todavia, muitas pessoas que se deixaram enganar abrem a tempo os olhos apercebendo-se, envergonhadas e indignadas contra elas próprias, que estiveram entregues a uma direcção que ignorava ela própria o caminho, ou mesmo que nunca assumira verdadeiramente a situação de orientarem, mas farejavam apenas astuciosamente a tolice dos seus contemporâneos, maquinando a preparação do anzol adequado à aspiração dos buscadores, para os prenderem nos seus laços.
Mesmo entre os leitores das minhas palavras, deve haver não poucos que se desiludiram gravemente deste modo.
Talvez ainda assim eles pressintam, apesar da sua decepção, que tem de haver um caminho que lhes permita atingir o objectivo a que aspiram.
É sobretudo a eles que estas palavras se dirigem.
Aquele que está preparado, apesar dos caminhos errados que reconhece ter percorrido, e não  esmorece do seu esforço antes de encontrar aquilo a que a sua alma aspira, esse pode encontrar o caminho para a liberdade, a estreita senda que leva à Luz essencial.
Já por várias vezes indiquei este caminho e indico-o de novo a todos os que o querem encontrar.
A orientação é necessária neste caminho, pois este atravessa muitas florestas espessas, onde sendas laterais cheias de emboscadas atraem o viajante desprevenido, e atravessa desertos onde todas as pistas são rapidamente apagadas pela areia, de tal modo que têm de ser preparado de novo por cada um.
Seria ao mesmo tempo tolice e presunção se o que procura quisesse acreditar que graças ao seu próprio julgamento discernirá a verdadeira senda.
Mas será também tanto tolice como presunção esperar atingir o fim mais elevado ao qual aspira, sem suportar primeiro a comprovação das suas forças, provação que ele deverá de novo enfrentar  em cada estágio do seu caminho.
Será por fim tolice e presunção esperar atingir em si o mais alto objectivo, a consciência da unidade com a fonte primordial de toda a vida, sem a ajuda dos que já a atingiram.
Assemelhar-se-ia então a um alpinista que quisesse chegar, partindo da planície, ao mais alto cume de uma montanha, sem escalar os contrafortes que a envolvem, quando é só de de lá que se lhe pode mostrar o caminho certo para o atingir.
Soa às pessoas desprovidas de sentido crítico como muito corajoso quando alguém diz que entre ele e o seu Deus «nada se deve interpor»; mas o Deus que se supõe assim sentir é um Deus enganador, uma criação da representação imaginativa de cada um, e cuja realidade é exactamente do mesmo nível que qualquer imagem de uma representação.
Talvez, um tal Deus, concebido por um sonhador piedoso, possa ser por algum tempo, para quem se apega a ele, uma fonte de consolação, podendo suscitar forças que o confirmam ainda mais na ilusão que se trata da Fonte Primordial de toda a vida, só que em relação à Realidade que permanece eternamente, um tal Deus não é senão uma miragem, e nunca poderá conseguir modificar a mais pequena parcela ínfima do que constitui efectivamente a realidade absoluta.
A pessoa que se satisfaz de um certo tipo de experiência de Deus tem ainda menos possibilidades de encontrar um dia em si o seu Deus vivo que o ateu, que na maior parte dos casos só nega a existência de Deus porque expõe à luz, dum modo ou de outro, a ilusão piedosa onde se submerge aquele que se crê estar "tu cá tu lá" com «Deus», enquanto que só adora um fantasma da sua imaginação.
O negador de Deus está certo quando nega a existência de um tal Deus: o seu erro consiste apenas no facto que depois de ter reconhecido o fantasma como fantasma, negligencia de procurar a realidade.
Pode contudo ser-lhe dada um dia a experiência do verdadeiro Deus vivo nele, enquanto que o crente que se apega à aparência de Deus que criou, só raramente consegue libertar-se das suas cadeias.
Existem porém ainda outras possibilidades de ilusão e muitos dos que procuram caíram nelas.
Devemos falar aqui de uma das mais importantes delas, que tem um papel mais ou menos perigoso na vida da maioria «dos místicos».
Sem o socorro de qualquer orientação, sem qualquer ajuda emanando dos despertos no espírito, toda a pessoa pode ver em si uma estrela flamejante, a qual os monges do monte Athos acreditavam não poder suficientemente venerar se não chamando-lhe a Santa Luz da Divindade.
Mas não só os monges dos mosteiros mas também místicos e procuradores de Deus deixaram-se enganar ao verem nesta luz a prova certa da união da sua alma com o Deus vivo.
Contudo, a experiência que eles viveram era apenas um vago reflexo da mais alta forma de vida: tornaram-se adoradores deles próprios, onde imaginam ter encontrado a Divindade.
O que contemplaram neles era somente esta forma de vida do seu espírito, que só despertará para a irradiação eterna quando o Deus vivo, cheio de força e de realidade, ou realmente no trono da sua Glória,  prepara, no ser humano desta terra, o seu próprio nascimento como «criança da Virgem», anunciada pelos pastores que asseguram a «vigília nocturna», adorada pelos «Sábios do Oriente», os reis-sacerdotes do "Intimo Oriente", capazes de ver "a Estrela", desde que ela se alumia em cima dum estábulo, no qual entre os animais despojados de razão, nasce o rei que vai libertar Israel. [Palestina, não estado político]
Muitos falaram em discursos inebriados do renascimento de íntima amizade da sua alma com "Deus", das "núpcias espirituais" com o «noivo celestial». Muitos que acreditaram que a obra estivesse acabada e o nirvana atingido,  não viram neles próprios senão a imagem da «estrela flamejante» que para irradiar eternamente deve antes receber a Força que só lha pode dar a «Palavra Primordial» que ninguém alcança se não quiser avançar no caminho que Ela lhe preparou a fim de que seja possível ao filho caído do Espírito de novo alcançá-la.
Nós seres humanos não estamos isolados na existência. Somos todos apenas o resultado de uma força criativa eterna e como consequência unidos uns aos outros por milhares de fios secretos.
O que quer que seja que desejemos alcançar, nenhum de nós o pode sem a ajuda dos outros e é nesta acção recíproca harmoniosa que se atingem todos os grandes fins do esforço humano.
Queiramos a todo o preço obter algo sós e sem ajuda demonstramos então apenas que não compreendemos ainda como somos na realidade e também quem éramos pela eternidade  antes da nossa queda.
 Estaremos  então a ir erradamente, mesmo esforçando-nos pelo mais alto, com a melhor vontade e o coração mais puro.
Também o mais elevado que o ser humano possa prosseguir, a união vivenciada com o seu Deus vivo, cheio de força e de realidade, é-lhe sempre inacessível se ele crê poder estar desprovido da orientação que a sabedoria eterna e o amor misericordioso previram em sua intenção.
Ele tem necessidade desta orientação, pois ela é a lei na vida cósmica do Todo. O seu valor não se encontra minimamente diminuído pelo facto de ele pedir ajuda espiritual, tal como não será aumentado o valor daquele a quem couber dispensar-lhe tal ajuda, pois também ele outrora teve de ser ajudado antes de poder ajudar os outros.
Há sempre uma mão que estende a outra o que ela recebeu um dia e ninguém tira apenas de si o que precisa agora de dar a alguém.
Apenas da Palavra Primordial irradiante brota a palavra do Senhor que se derrama por todos os países" e cria em todos os tempos os Irradiantes da Terra, capazes de trazerem aos seus irmãos ainda não despertos, a Luz nas trevas. O homem que não foi preparado, bastante antes de nascer aqui em baixo no seio de sua mãe, não consegue, com efeito, depois da queda, captar esta luz que brota unicamente da Palavra Original, e só consegue transformar-se em palavra aquele que milhares de anos antes de a terra lhe dar como revestimento o seu corpo carnal,  se encarrega, por um acto de vontade livre, do fardo pesado de ser carregado por um homem terrestre e que, raramente, um ser que sofreu a queda assume ainda assim por compaixão e piedade para com a humanidade aqui em baixo.
Só quem foi  preparado para se tornar «Palavra» tem o direito de ensinar  o ensinamento supremo aos seus próximos, quando é necessário, e em todos os tempos tal ensinamento autêntico foi dispensado à Humanidade por instrutores cuja palavra estava enraizada em Deus.
Nenhum ser humano, que ao longo dos séculos a Terra teve e alimentou, alcançou o objectivo supremo, nenhum chegou a ter consciência da união com o seu Deus vivo, sem a ajuda espiritual dos que foram preordenados a tal pela Palavra Original.
Só neles se deve confiar, e sem qualquer dúvida a voz do coração permite saber se nos encontramos efectivamente em presença de um deles, desde que tal voz não foi abafada por ensinamentos enganadores aos quais, sem os questionarem primeiro, um dia se entregaram, ficando feitos prisioneiros da ilusão...
Neste domínio não são os milagres que nos dão provas evidentes e nunca se verá perante os seus próximos um verdadeiro Ajudante  vangloriar-se de truques de fakir.
É inegável que ele pode chegar a dominar forças que a maior parte consideram como sobre-humanas e maravilhosas, só que em tal caso não se trata que de fenómenos secundários da sua acção, regidos entre outras causas por certas características do seu organismo psico-físico, mas tais acções nunca provam ser ele um chamado.
A autenticação daquele que foi verdadeiramente mandatado para ajudar, encontrar-se-á só nas profundezas arqui-íntimas de quem procura ajuda e as quais não mede qualquer linha de sonda nem penetra o ponto de vista corriqueiro e os estereótipos do pensamento...
Aquele que põe à prova as palavras do seu mestre, procura a resposta nas profundezas do seu ser sem se deixar enganar pelas miragens dos ensinamentos forjados de várias peças, sem ficar prisioneiro da opinião de outrem, esse nunca se deixara ludibriar por falsos instrutores.
Conduzi-lo-ão à Fonte da vida, a esta Luz Primordial que se conhece a ela própria como Palavra Primordial e pronuncia de eternidade em eternidade as suas palavras sob a forma de essências espirituais vivas.
De modo igual ao que poeta com as palavras da linguagem humana forma cantos, epopeias e hinos, assim também a Palavra Original a partir das suas palavras e da sua própria força criativa cria também literalmente o seu hino eterno de louvor sob a forma de inumeráveis hierarquias de entidades espirituais das quais o último grau corresponde aos irmãos da Loja Branca, a qual desde a origem dos tempos procura espalhar a Luz sobre a Terra, tendo  apenas os seus membros a autoridade espiritual para testemunharem o espírito a partir do saber mais íntimo, da experiência mais profunda.
Assim saem da Palavra que é Deus, todos os raios, da expressão de si mesmo da eterna Luz Primordial, todos os raios que desde sempre procuraram iluminar a terra.
 Isto parecerá incompreensível ou duvidoso apenas aos que não percepcionam ainda interiormente este Ser que está acima de todo o poder de representação e que na sua forma mais alta, se reconhece como Deus.
É preciso saber um pouco dos graus desta vida eterna, das suas formas de existência, se queremos indagar o que em verdade é Deus e como o Deus vivo, real, numa auto-geração infindável se extrai do seu próprio ser para eternamente criar uma forma de ser renovada.
O ser humano deve saber o que o distingue, Ele que reina sobre todos os cimos e abismos,  pois  contém em si tudo o que é, daquele Deus tal como o ser humano o concebe e que frequentemente, infelizmente, é sonhado sobre os aspectos mais estranhos.
Há muitos que disseram já: «Tudo é Deus», «É em cada átomo deste mundo de aparências que deveis descobrir Deus». «Todo este mundo exterior é apenas aparência e na realidade as coisas não são coisas mas Deus».
Pode-se exprimir-se assim é claro e desde que se queira compreender da maneira correcta tais palavras elas podem ser consideradas verdadeiras, se bem que esta verdade arrisca-se a ser objecto de interpretações muito duvidosas.
Mas tal jogo com as palavras dará poucos frutos ao ser humano para a compreensão do problema .
Se queremos chegar ao mais alto conhecimento da verdade, devem então as coisas permanecerem para nós coisas, e se bem que elas não sejam o que parecem ser, todavia não devemos idolatrá-las mesmo que na forma mais sublime.
A ser assim testemunharíamos um respeito divino a uma forma de representação da vida eterna, - a partir da qual a Divindade se modela eternamente - pela simples razão que ela ultrapassa o entendimento do homem e podemos apegar-nos de tal maneira a esse nível de visão, que se nos torna impossível para sempre reencontrar a verdadeira Divindade na sua majestade irradiante...
De três modos se manifesta esta vida eterna, a qual se torna o alimento da Divindade em cada uma das suas formas de representação: como natureza física universal, como reino da alma fluídica e como reino do Espírito.
Nenhum ser criador fez qualquer destes reinos.
 Tudo é apenas uma forma de representação da vida única, eterna que estando acima destas três formas de representação, cristaliza-se a si própria na sua mais alta consciência  como a Luz Primordial, como a suma essência, que o ser humano pode sentir com comoção no fundo de si mesmo, como a fonte original de toda a vida – como o seu Deus vivo.
Causa primordial de si própria esta vida eterna encontra-se em todas as suas formas de manifestação, mas só se realiza no seu mais alto Ser acima de todas as formas de representação, apesar de que cada uma elas faça parte do seu Ser, e sirva como um oceano de renovação, donde ela se gera-se de si própria graças ao Poder que se deu a si mesma.
Acerca disto, diz-se: «Como  alimento Brahma formou este mundo», só que não se deve, influenciado por um modo de pensamento exotérico, pensar-se aqui num criador ou escultor e a sua criação, pois estas palavras dos Vedas dizem para o conhecedor, infinitamente mais: elas desvendam-lhe a mais profunda Realidade, elas desvelam a lei inerente da auto-propagação de Brahman, a essência do Ser um e absoluto, que é por si mesmo, Vida eterna e que serve de alimento ao mais alto e abrangente auto-conhecimento como Divindade, as suas formas de representação
Eternamente em fecundidade criativa, agem as forças inerentes às formas de representação da Vida eterna, enquanto natureza física universal, modelando as formas e destruindo outras para criar uma nova.
Em cada momento, mundos surgem e outros tombam em partículas no Todo, mas nunca houve um começo nem um fim do Todo, do que é em si mesmo Vida, do que em si mesmo age criativamente enquanto vida e que inclui em si o crescer e o declinar de mundos eternamente.
Tal como existem, nesta manifestação da vida eterna centros de forças que nenhum microscópio ou instrumento, por mais aperfeiçoado que seja, revela ao espírito humano, assim também se encontram invisíveis portadores da mais alta inteligência, cujas faculdades ultrapassam na força o mais potente pensamento humano, tal como o pensamento de um filósofo do nível de Espinosa ou de Kant ultrapassa o de um negro da floresta virgem.
Mas ao mesmo tempo há nestas mesmas formas representativas de vida também seres invisíveis cuja inteligência ultrapassa com dificuldade a dos animais que o ser humano utiliza como bestas de trabalho.
Todas estas entidades invisíveis não são contudo de modo algum de natureza espiritual e mesmo na sua forma mais alta, de modo algum são imortais, se bem que a duração de sua vida individual possa atingir milhares de anos.
Para as mais elevadas destas entidades, em muitos cultos de tempos antigos veneradas como Deuses, não existe qualquer enigma da natureza.
Tudo o que visível ou invisível determina a forma de representação física da Vida eterna é conhecida por estas entidades nos seus detalhes mais ínfimos, pois elas são totalmente intelecto.
Mas tudo o que se estende acima desta forma de representação – todo o reino imenso da alma fluídica e o reino do Espírito – é para elas apenas nada absoluto.
Elas não conhecem a Divindade e menosprezam os esforços intelectuais do ser humano tendentes a provar a existência de Deus, pois elas sabem que para o intelecto não existe efectivamente qualquer Deus.
É à influência delas que se deve atribuir toda a excessiva valorização do pensamento humano, cada hipertrofia do intelecto na humanidade.
No plano físico das formas representativas de Vida eterna, a própria vida conhece-se apenas enquanto natureza física eterna, sem se tornar consciente das suas formas de representação mais elevadas, como a alma e o espírito.
Agudamente distinto da forma de representação como natureza física universal, separada dela como por um abismo intransponível através da faculdade de sentir, e penetrando contudo esta primeira forma de representação, manifesta-se o reino da alma fluídica com as suas inumeráveis formas sensíveis de entidades e forças.
Estas têm todas consciência tanto da existência da natureza física universal como também do reino do espírito, no sentido que elas sentem os efeitos, tendo a capacidade de percepcionarem num e noutro domínio.
Por sua vez nitidamente distinto do reino da alma movente como também do reino da natureza física universal, ainda que penetre estas duas formas de representação da Vida eterna, está o reino do Espírito que contém inumeráveis hierarquias de seres puramente espirituais, auto-conscientes, auto-sensitivos, pensando e sentindo e conhecendo, graças a uma visão directa eterna, e retirada da impermanência da sua individualidade, a mais alta forma de sentir a pluralidade na Vida Eterna.»
Numa sequência incontável de níveis elevam-se uns acima dos outros os círculos de perfeição, até que, falando no modo humano, o mais alto cimo deste cone de luz numa auto-consciência da vida eterna no seu mais elevado auto-reconhecimento, que engloba todo o seu ser, brilhou, tendo-se conhecida na Luz Primordial, tendo experienciado o Ser da Luz Primordial e tendo-se tornado nele a Palavra Primordial, tornando-se a auto-expressão do Ser Absoluto, a qual de novo interage a vida nas três formas de representação apropriadas à Vida Eterna.
Eis-nos chegados à Fonte da Vida, a esta fonte que eternamente brota de si mesma e que eternamente deixa refluir nela o que derramara.
Estou bem consciente das limitações que levam a linguagem humana a estar condenada a balbuciar, quando procura descrever estas coisas, que não são alcançáveis que em espírito e graças a um modo de ver directo e contudo penso que muitos que lerão estas palavras sentirão despontar como a aurora dum pressentimento longínquo, confirmado num eco jubiloso pelo que há de mais profundo neles, e susceptível de lhes abrir, melhor que se me tivesse calado, o caminho que leva para o mais alto fim do espírito humano, caminho que me esforcei por descrever de tantas maneiras.
Certamente, só procedo aqui por via de alusões, mas é preciso não esquecer que na sua grande parte tal assunto escapa muito ao domínio do discurso, e permanecerá necessariamente por isso um mistério, mesmo se eu sonhasse consagrar uma obra importante para cada uma das palavras utilizadas aqui. Cheio do mais profundo respeito pelo inexprimível grandeza do que eu trato, tenho por outra parte evitado, na medida do possível, as expressões convencionais que o pensamento humano forjou na sua procura de um conhecimento especulativo do Eterno.
Creio ter-me cingido à promessa que o título desta exposição permitia. Mas só tirará proveito do meu ensinamento aquele que se ponha ele próprio em demanda da fonte da vida e que só descansará quando encontrar o traço dela em si próprio, mesmo que a sua água viva não lhe possa chegar que pelos canais que ela própria abriu, para se tornar alcançável, nesta terra, ao espírito humano, - a fim de que ele reclame ou exija mais, e que um dia, após tempos infinitos, ele eternamente goze a vida eterna em todo a sua plenitude.
Aquele que deu na Golgota a sua vida outrora e morrendo dirigiu de novo na existência terrestre a mais alta força de amor das profundezas primordiais abriu o caminho, para todos os que querem verdadeiramente segui-lo, que leva à fonte da vida.
O que ele fez outrora pela humanidade só pode ser compreendido pelo que se empenhou no caminho da sua própria libertação e sente então o poder que através da obra do grande ser amante lhe aflui abundantemente no caminho que escolheu...
Saberá o significado do que o mestre sublime disse:
«E eu, quando for elevado acima da terra, atrairei tudo a mim».
Só tal pessoa será capaz de utilizar esta força magnética que faz retornar para o ser Original e que este Irradiante outrora fendeu das suas cadeias graças ao seu Amor sem fronteiras...»
                       

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