A Fonte da Vida, cap. VIII d' O Mistério da Golgota, de Bô Yin Râ. No original, Das Mysterium von Golgatha, Leipzig, 1930.
Tradução, trabalhosa e em aberto, de Pedro Teixeira da Mota.
No fim, encontra-se em vídeo a leitura comentada de grande parte e fim deste capítulo, com algumas diferenças em relação a esta tradução por escrito, já posterior e portanto melhor.
«Verdadeiramente, é necessário, mostrar sempre a verdade em imagens novas, a Verdade que sem imagens e parábolas não pode ser captada porque ela é a Realidade, Ser primordial das coisas, Fonte de toda a vida.
Tradução, trabalhosa e em aberto, de Pedro Teixeira da Mota.
No fim, encontra-se em vídeo a leitura comentada de grande parte e fim deste capítulo, com algumas diferenças em relação a esta tradução por escrito, já posterior e portanto melhor.
«Verdadeiramente, é necessário, mostrar sempre a verdade em imagens novas, a Verdade que sem imagens e parábolas não pode ser captada porque ela é a Realidade, Ser primordial das coisas, Fonte de toda a vida.
Nada resiste nos nossos
dias à confusão dos espíritos.
Todo o testemunho de
vivência interior é retirado da podridão dos túmulos, da poeira
das bibliotecas e deposto como um oráculo entre as mãos trémulas
de quem procura.
O que procura apanha em qualquer
lugar tudo o que se apresenta ou que tem a possibilidade de
encontrar. Passa noites febris diante de volumosos livros de grandes
dimensões, leva nos seus bolsos as mais duvidosas obrazinhas, como
se tratassem de relíquias, escuta com respeito em qualquer local que
seja as palavras obscuras de mestres não qualificados, e assim pensa
encontrar um dia, por fim, o caminho que conduz à fonte da vida...
As cabeças estão
guarnecidas das mais grotescas fantasias geradas por mistagogos
disparatados: um ciência bizarra de coisas que nunca se poderão
tornar objectos da ciência, exibe-se verbalmente ou por escrito,
diante de um mundo admirado; rebuscam-se e esvaziam-se os armazéns
de todas as épocas da superstição humana e os fantasmas mais
repulsivos tornam-se de novo modernos.
Contudo, toda esta
confusão encontra o seu alimento na aspiração ardente de corações
que suspiram, e muitas das pessoas que correm com embriaguez atrás
do último profeta de feira fazem-no porque estão decididas a não
negligenciarem nada que possa dar uma orientação à
sua demanda transviada.
Não são certamente os
mais maldosos os que se tornam assim as vítimas de desmiolados
irresponsáveis e de tagarelas impudentes.
Todavia, muitas pessoas
que se deixaram enganar abrem a tempo os olhos apercebendo-se,
envergonhadas e indignadas contra elas próprias, que estiveram
entregues a uma direcção que ignorava ela própria o caminho, ou
mesmo que nunca assumira verdadeiramente a situação de orientarem, mas
farejavam apenas astuciosamente a tolice dos seus contemporâneos,
maquinando a preparação do anzol adequado à aspiração dos
buscadores, para os prenderem nos seus laços.
Mesmo entre os leitores
das minhas palavras, deve haver não poucos que se desiludiram
gravemente deste modo.
Talvez ainda assim eles
pressintam, apesar da sua decepção, que tem de haver um caminho que
lhes permita atingir o objectivo a que aspiram.
É sobretudo a eles que estas
palavras se dirigem.
Aquele que está
preparado, apesar dos caminhos errados que reconhece ter percorrido,
e não esmorece do seu esforço antes de encontrar aquilo a que a
sua alma aspira, esse pode encontrar o caminho para a liberdade, a
estreita senda que leva à Luz essencial.
Já por várias vezes
indiquei este caminho e indico-o de novo a todos os que o querem
encontrar.
A
orientação é
necessária neste caminho, pois este atravessa muitas florestas
espessas, onde sendas laterais cheias de emboscadas atraem o viajante
desprevenido, e atravessa desertos onde todas as pistas são
rapidamente apagadas pela areia, de tal modo que têm de ser preparado
de novo por cada um.
Seria ao mesmo tempo tolice
e presunção se o que procura quisesse acreditar que graças ao seu
próprio julgamento discernirá a verdadeira senda.
Mas será também tanto
tolice como presunção esperar atingir o fim mais elevado ao qual
aspira, sem suportar primeiro a comprovação das suas forças,
provação que ele deverá de novo enfrentar em cada estágio do seu
caminho.
Será por fim tolice e
presunção esperar atingir em si o mais alto objectivo, a
consciência da unidade com a fonte primordial de toda a vida, sem a
ajuda dos que já a atingiram.
Assemelhar-se-ia então a
um alpinista que quisesse chegar, partindo da planície, ao mais alto
cume de uma montanha, sem escalar os contrafortes que a envolvem,
quando é só de de lá que se lhe pode mostrar o caminho certo para
o atingir.
Soa às pessoas
desprovidas de sentido crítico como muito corajoso quando alguém diz que
entre ele e o seu Deus «nada se deve interpor»; mas o Deus que se
supõe assim sentir é um Deus enganador, uma criação da
representação imaginativa de cada um, e cuja realidade é
exactamente do mesmo nível que qualquer imagem de uma representação.
Talvez, um tal Deus,
concebido por um sonhador piedoso, possa ser por algum tempo, para
quem se apega a ele, uma fonte de consolação, podendo suscitar forças
que o confirmam ainda mais na ilusão que se trata da Fonte
Primordial de toda a vida, só que em relação à Realidade que
permanece eternamente, um tal Deus não é senão uma miragem, e
nunca poderá conseguir modificar a mais pequena parcela ínfima do
que constitui efectivamente a realidade absoluta.
A pessoa que se satisfaz
de um certo tipo de experiência de Deus tem ainda menos
possibilidades de encontrar um dia em si o seu Deus vivo que o ateu,
que na maior parte dos casos só nega a existência de Deus porque expõe à luz, dum modo ou de outro, a ilusão piedosa onde se
submerge aquele que se crê estar "tu cá tu lá" com «Deus»,
enquanto que só adora um fantasma da sua imaginação.
O negador de Deus está
certo quando nega a existência de um tal Deus: o seu erro consiste
apenas no facto que depois de ter reconhecido o fantasma como
fantasma, negligencia de procurar a realidade.
Pode contudo ser-lhe
dada um dia a experiência do verdadeiro Deus vivo nele, enquanto que
o crente que se apega à aparência de Deus que criou, só raramente
consegue libertar-se das suas cadeias.
Existem porém ainda
outras possibilidades de ilusão e muitos dos que procuram caíram
nelas.
Devemos falar aqui de uma
das mais importantes delas, que tem um papel mais ou menos perigoso
na vida da maioria «dos místicos».
Sem o socorro de qualquer
orientação, sem qualquer ajuda emanando dos despertos no espírito,
toda a pessoa pode ver em si uma estrela flamejante, a qual os
monges do monte Athos acreditavam não poder suficientemente
venerar se não chamando-lhe a Santa Luz da Divindade.
Mas não só os monges dos
mosteiros mas também místicos e procuradores de Deus deixaram-se
enganar ao verem nesta luz a prova certa da união da sua alma com o
Deus vivo.
Contudo, a experiência
que eles viveram era apenas um vago reflexo da mais alta forma de
vida: tornaram-se adoradores deles próprios, onde imaginam ter
encontrado a Divindade.
O que contemplaram neles
era somente esta forma de vida do seu espírito, que só despertará
para a irradiação eterna quando o Deus vivo, cheio de força e de
realidade, ou realmente no trono da sua Glória, prepara, no
ser humano desta terra, o seu próprio nascimento como «criança da
Virgem», anunciada pelos pastores que asseguram a «vigília
nocturna», adorada pelos «Sábios do Oriente», os reis-sacerdotes
do "Intimo Oriente", capazes de ver "a Estrela", desde que ela se alumia em cima dum
estábulo, no qual entre os animais despojados de razão, nasce o rei
que vai libertar Israel. [Palestina, não estado político]
Muitos falaram em
discursos inebriados do renascimento de íntima amizade da sua alma
com "Deus", das "núpcias espirituais" com o
«noivo celestial». Muitos que acreditaram que a obra estivesse
acabada e o nirvana atingido, não viram neles próprios senão
a imagem da «estrela flamejante» que para irradiar eternamente
deve antes receber a Força que só lha pode dar a «Palavra
Primordial» que ninguém alcança se não quiser avançar no caminho
que Ela lhe preparou a fim de que seja possível ao filho caído do
Espírito de novo alcançá-la.
Nós seres humanos não
estamos isolados na existência. Somos todos apenas o resultado de
uma força criativa eterna e como consequência unidos uns aos outros
por milhares de fios secretos.
O que quer que seja que
desejemos alcançar, nenhum de nós o pode sem a ajuda dos outros e é
nesta acção recíproca harmoniosa que se atingem todos os grandes
fins do esforço humano.
Queiramos a todo o preço
obter algo sós e sem ajuda demonstramos então apenas que não
compreendemos ainda como somos na realidade e também quem éramos pela eternidade antes da nossa queda.
Estaremos então a ir erradamente, mesmo esforçando-nos pelo mais alto, com a melhor vontade e o coração mais puro.
Estaremos então a ir erradamente, mesmo esforçando-nos pelo mais alto, com a melhor vontade e o coração mais puro.
Também o mais elevado que
o ser humano possa prosseguir, a união vivenciada com o seu Deus
vivo, cheio de força e de realidade, é-lhe sempre inacessível se
ele crê poder estar desprovido da orientação que a sabedoria
eterna e o amor misericordioso previram em sua intenção.
Ele tem necessidade desta
orientação, pois ela é a lei na vida cósmica do Todo. O seu valor
não se encontra minimamente diminuído pelo facto de ele pedir ajuda
espiritual, tal como não será aumentado o valor daquele a quem
couber dispensar-lhe tal ajuda, pois também ele outrora teve de ser
ajudado antes de poder ajudar os outros.
Há sempre uma mão que
estende a outra o que ela recebeu um dia e ninguém tira apenas de si
o que precisa agora de dar a alguém.
Apenas da Palavra
Primordial irradiante brota a palavra do Senhor que se derrama por
todos os países" e cria em todos os tempos os Irradiantes da
Terra, capazes de trazerem aos seus irmãos ainda não despertos, a
Luz nas trevas. O homem que não foi preparado, bastante antes de
nascer aqui em baixo no seio de sua mãe, não consegue, com efeito,
depois da queda, captar esta luz que brota unicamente da Palavra
Original, e só consegue transformar-se em palavra aquele que
milhares de anos antes de a terra lhe dar como revestimento o seu
corpo carnal, se encarrega, por um acto de vontade livre, do fardo
pesado de ser carregado por um homem terrestre e que, raramente, um ser
que sofreu a queda assume ainda assim por compaixão e piedade para
com a humanidade aqui em baixo.
Só quem foi
preparado para se tornar «Palavra» tem o direito de ensinar o
ensinamento supremo aos seus próximos, quando é necessário, e em
todos os tempos tal ensinamento autêntico foi dispensado à Humanidade por instrutores cuja palavra estava enraizada em
Deus.
Nenhum ser humano, que
ao longo dos séculos a Terra teve e alimentou, alcançou o objectivo
supremo, nenhum chegou a ter consciência da união com o seu Deus
vivo, sem a ajuda espiritual dos que foram preordenados a tal pela
Palavra Original.
Só neles se deve confiar, e sem qualquer dúvida a voz do coração permite saber se nos
encontramos efectivamente em presença de um deles, desde que tal voz
não foi abafada por ensinamentos enganadores aos quais, sem os
questionarem primeiro, um dia se entregaram, ficando feitos
prisioneiros da ilusão...
Neste domínio não são
os milagres que nos dão provas evidentes e nunca se verá perante os seus próximos um
verdadeiro Ajudante vangloriar-se de
truques de fakir.
É inegável que ele pode
chegar a dominar forças que a maior parte consideram como
sobre-humanas e maravilhosas, só que em tal caso não se trata que de
fenómenos secundários da sua acção, regidos entre outras causas
por certas características do seu organismo psico-físico, mas tais
acções nunca provam ser ele um chamado.
A autenticação daquele
que foi verdadeiramente mandatado para ajudar, encontrar-se-á só
nas profundezas arqui-íntimas de quem procura ajuda e as quais
não mede qualquer linha de sonda nem penetra o ponto de vista
corriqueiro e os estereótipos do pensamento...
Aquele que põe à prova
as palavras do seu mestre, procura a resposta nas profundezas do
seu ser sem se deixar enganar pelas miragens dos ensinamentos
forjados de várias peças, sem ficar prisioneiro da opinião de
outrem, esse nunca se deixara ludibriar por falsos instrutores.
Conduzi-lo-ão à Fonte da
vida, a esta Luz Primordial que se conhece a ela própria como
Palavra Primordial e pronuncia de eternidade em eternidade as suas
palavras sob a forma de essências espirituais vivas.
De modo igual ao que poeta
com as palavras da linguagem humana forma cantos, epopeias e hinos,
assim também a Palavra Original a partir das suas palavras e da sua
própria força criativa cria também literalmente o seu hino eterno
de louvor sob a forma de inumeráveis hierarquias de entidades
espirituais das quais o último grau corresponde aos irmãos da Loja
Branca, a qual desde a origem dos tempos procura espalhar a Luz sobre
a Terra, tendo apenas os seus membros a autoridade espiritual para
testemunharem o espírito a partir do saber mais íntimo, da
experiência mais profunda.
Assim saem da Palavra
que é Deus, todos os raios, da expressão de si mesmo da eterna Luz
Primordial, todos os raios que desde sempre procuraram iluminar a
terra.
Isto parecerá incompreensível ou duvidoso apenas aos que não percepcionam ainda interiormente este Ser que está acima de todo o poder de representação e que na sua forma mais alta, se reconhece como Deus.
Isto parecerá incompreensível ou duvidoso apenas aos que não percepcionam ainda interiormente este Ser que está acima de todo o poder de representação e que na sua forma mais alta, se reconhece como Deus.
É preciso saber um pouco
dos graus desta vida eterna, das suas formas de existência, se
queremos indagar o que em verdade é Deus e como o Deus vivo, real,
numa auto-geração infindável se extrai do seu próprio ser para
eternamente criar uma forma de ser renovada.
O ser humano deve saber o
que o distingue, Ele que reina sobre todos os cimos e abismos,
pois contém em si tudo o que é, daquele Deus tal como o ser
humano o concebe e que frequentemente, infelizmente, é sonhado
sobre os aspectos mais estranhos.
Há muitos que disseram
já: «Tudo é Deus», «É em cada átomo deste mundo de aparências
que deveis descobrir Deus». «Todo este mundo exterior é apenas
aparência e na realidade as coisas não são coisas mas Deus».
Pode-se exprimir-se assim
é claro e desde que se queira compreender da maneira correcta tais
palavras elas podem ser consideradas verdadeiras, se bem que esta
verdade arrisca-se a ser objecto de interpretações muito duvidosas.
Mas tal jogo com as
palavras dará poucos frutos ao ser
humano para a compreensão do problema .
Se queremos chegar ao mais
alto conhecimento da verdade, devem então as coisas permanecerem para
nós coisas, e se bem que elas não sejam o que parecem ser, todavia não
devemos idolatrá-las mesmo que na forma mais sublime.
A ser assim
testemunharíamos um respeito divino a uma forma de representação da
vida eterna, - a partir da qual a Divindade se modela eternamente -
pela simples razão que ela ultrapassa o entendimento do homem e
podemos apegar-nos de tal maneira a esse nível de visão, que se nos
torna impossível para sempre reencontrar a verdadeira Divindade na
sua majestade irradiante...
De três modos se
manifesta esta vida eterna, a qual se torna o alimento da Divindade em
cada uma das suas formas de representação: como natureza física
universal, como reino da alma fluídica e como reino do Espírito.
Nenhum ser criador fez
qualquer destes reinos.
Tudo é apenas uma forma de representação da vida única, eterna que estando acima destas três formas de representação, cristaliza-se a si própria na sua mais alta consciência como a Luz Primordial, como a suma essência, que o ser humano pode sentir com comoção no fundo de si mesmo, como a fonte original de toda a vida – como o seu Deus vivo.
Tudo é apenas uma forma de representação da vida única, eterna que estando acima destas três formas de representação, cristaliza-se a si própria na sua mais alta consciência como a Luz Primordial, como a suma essência, que o ser humano pode sentir com comoção no fundo de si mesmo, como a fonte original de toda a vida – como o seu Deus vivo.
Causa primordial de si
própria esta vida eterna encontra-se em todas as suas formas de
manifestação, mas só se realiza no seu mais alto Ser acima de
todas as formas de representação, apesar de que cada uma elas
faça parte do seu Ser, e sirva como um oceano de renovação, donde
ela se gera-se de si própria graças ao Poder que se deu a
si mesma.
Acerca disto, diz-se:
«Como alimento Brahma formou este mundo», só que não se deve,
influenciado por um modo de pensamento exotérico, pensar-se aqui num
criador ou escultor e a sua criação, pois estas palavras dos Vedas
dizem para o conhecedor, infinitamente mais: elas desvendam-lhe a mais profunda Realidade, elas desvelam a lei inerente da
auto-propagação de Brahman, a essência do Ser um e absoluto, que é
por si mesmo, Vida eterna e que serve de alimento ao mais alto e abrangente auto-conhecimento como Divindade, as suas formas de
representação
Eternamente em fecundidade
criativa, agem as forças inerentes às formas de representação da
Vida eterna, enquanto natureza física universal, modelando as formas
e destruindo outras para criar uma nova.
Em cada momento, mundos
surgem e outros tombam em partículas no Todo, mas nunca houve um
começo nem um fim do Todo, do que é em si mesmo Vida, do que em si
mesmo age criativamente enquanto vida e que inclui em si o crescer e o
declinar de mundos eternamente.
Tal como existem, nesta
manifestação da vida eterna centros de forças que nenhum microscópio ou instrumento, por mais
aperfeiçoado que seja, revela ao
espírito humano, assim também se encontram invisíveis portadores
da mais alta inteligência, cujas faculdades ultrapassam na força o
mais potente pensamento humano, tal como o pensamento de um filósofo
do nível de Espinosa ou de Kant ultrapassa o de um negro da floresta
virgem.
Mas ao mesmo tempo há
nestas mesmas formas representativas de vida também seres invisíveis
cuja inteligência ultrapassa com dificuldade a dos animais que o
ser humano utiliza como bestas de trabalho.
Todas estas entidades
invisíveis não são contudo de modo algum de natureza espiritual e
mesmo na sua forma mais alta, de modo algum são imortais, se bem que
a duração de sua vida individual possa atingir milhares de anos.
Para as mais elevadas
destas entidades, em muitos cultos de tempos antigos veneradas como
Deuses, não existe qualquer enigma da natureza.
Tudo o que visível ou
invisível determina a forma de representação física da Vida eterna
é conhecida por estas entidades nos seus detalhes mais ínfimos,
pois elas são totalmente intelecto.
Mas tudo o que se estende
acima desta forma de representação – todo o reino imenso da alma
fluídica e o reino do Espírito – é para elas apenas nada
absoluto.
Elas não conhecem a
Divindade e menosprezam os esforços intelectuais do ser humano
tendentes a provar a existência de Deus, pois elas sabem que para o
intelecto não existe efectivamente qualquer Deus.
É à influência delas
que se deve atribuir toda a excessiva valorização do pensamento
humano, cada hipertrofia do intelecto na humanidade.
No plano físico das formas
representativas de Vida eterna, a própria vida conhece-se apenas
enquanto natureza física eterna, sem se tornar consciente das suas
formas de representação mais elevadas, como a alma e o espírito.
Agudamente distinto da
forma de representação como natureza física universal, separada
dela como por um abismo intransponível através da faculdade de sentir, e
penetrando contudo esta primeira forma de representação,
manifesta-se o reino da alma fluídica com as suas inumeráveis formas
sensíveis de entidades e forças.
Estas têm todas consciência tanto da existência da natureza física universal como
também do reino do espírito, no sentido que elas sentem os efeitos,
tendo a capacidade de percepcionarem num e noutro domínio.
Por
sua vez nitidamente distinto do reino da alma movente como também do
reino da natureza física universal, ainda que penetre estas duas formas
de representação da Vida eterna, está o reino do Espírito que contém
inumeráveis hierarquias de seres puramente espirituais,
auto-conscientes, auto-sensitivos, pensando e sentindo e conhecendo,
graças a uma visão directa eterna, e retirada da impermanência da sua
individualidade, a mais alta forma de sentir a pluralidade na Vida
Eterna.»
Numa sequência incontável de níveis elevam-se uns
acima dos outros os círculos de perfeição,
até que, falando no modo humano, o mais alto cimo deste
cone de luz numa auto-consciência da vida eterna no seu mais elevado
auto-reconhecimento, que engloba todo o seu ser, brilhou, tendo-se
conhecida na Luz Primordial, tendo experienciado o Ser da Luz Primordial
e tendo-se tornado nele a Palavra Primordial, tornando-se a
auto-expressão do Ser Absoluto, a qual de novo interage a vida nas três
formas de representação apropriadas à Vida Eterna.
Eis-nos chegados à Fonte
da Vida, a esta fonte que eternamente brota de si mesma e que eternamente deixa refluir
nela o que derramara.
Estou bem consciente das
limitações que levam a linguagem humana a estar condenada a
balbuciar, quando procura descrever estas coisas, que não são
alcançáveis que em espírito e graças a um modo de ver directo e
contudo penso que muitos que lerão estas palavras sentirão
despontar como a aurora dum pressentimento longínquo, confirmado num
eco jubiloso pelo que há de mais profundo neles, e susceptível de
lhes abrir, melhor que se me tivesse calado, o caminho que leva para
o mais alto fim do espírito humano, caminho que me esforcei por
descrever de tantas maneiras.
Certamente, só procedo
aqui por via de alusões, mas é preciso não esquecer que na sua
grande parte tal assunto escapa muito ao domínio do discurso, e
permanecerá necessariamente por isso um mistério, mesmo se eu
sonhasse consagrar uma obra importante para cada uma das palavras
utilizadas aqui. Cheio do mais profundo respeito pelo inexprimível
grandeza do que eu trato, tenho por outra parte evitado, na medida do
possível, as expressões convencionais que o pensamento humano
forjou na sua procura de um conhecimento especulativo do Eterno.
Creio ter-me cingido à
promessa que o título desta exposição permitia. Mas só tirará
proveito do meu ensinamento aquele que se ponha ele próprio em
demanda da fonte da vida e que só descansará quando encontrar o traço
dela em si próprio, mesmo que a sua água viva não lhe possa chegar
que pelos canais que ela própria abriu, para se tornar alcançável,
nesta terra, ao espírito humano, - a fim de que ele reclame ou exija
mais, e que um dia, após tempos infinitos, ele eternamente goze a
vida eterna em todo a sua plenitude.
Aquele que deu na Golgota
a sua vida outrora e morrendo dirigiu de novo na existência terrestre
a mais alta força de amor das profundezas primordiais abriu o
caminho, para todos os que querem verdadeiramente segui-lo, que leva à fonte da vida.
O que ele fez outrora pela
humanidade só pode ser compreendido pelo que se empenhou
no caminho da sua própria libertação e sente então o poder que
através da obra do grande ser amante lhe aflui abundantemente no
caminho que escolheu...
Saberá o significado do
que o mestre sublime disse:
«E eu, quando for elevado
acima da terra, atrairei tudo a mim».
Só tal pessoa será capaz
de utilizar esta força magnética que faz retornar para o ser
Original e que este Irradiante outrora fendeu das suas cadeias graças
ao seu Amor sem fronteiras...»
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