sexta-feira, 29 de maio de 2020

Aurora canora, na sacra Lisboa. Com 36 segundos de vídeo final.

                             
                                                  Aurora
                                          Pingos Fluídos.


Os jardins da Lisboa recatada e sagrada
são despertados pelas odisseias e laudes
desferidas pelos anónimos cantores
que na linguagem subtil das aves
se inebriam nos píncaros das suas visões
do resplendor da aurora solar e divina.

Quando tentamos com eles vibrar
sentimos o pesar do nosso intelecto,
incapaz de destilar do cérebro e voz
uma tão bela canção de amar e louvar.

Fremem de alegria esfuziantes as aves,
transmissoras de ocultas mensagens
que silfos e elementais do ar e do éter
lhes fabricam na invisível alma do mundo.

Nós, semi-adormecidos ainda os corpos,
temos de despertar, batalhar e sorrir
para que a circulação irrompa de novo
e sejamos cavaleiros do Graal do Amor.

De braços bem abertos ao astro divino,
mora no nosso peito o oculto resplendor,
saibamos  vencer no dia todas as limitações
e gerar mais belas e divinas manifestações.

                            

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Dos Diários, de 1994. Amor, Livros, Cruz e Barroco.

Mais recolhas de diários antigos, este de 1994, quando vivia  à vista do convento barroco de Mafra:
Amor é um forno ou vaso alquímico onde se fundem corpos, almas, espíritos.
Fundem, fusionam, sublimam ou desintegram-se.
Saber preservar a energia central, elevar as potências sensitivas, intelectivas e voluntárias a pontos ou níveis superiores, eis a obra.
Um despertar interior, um domar as serpentes, a vara de Hermes.
*-*
Livros - Quando são tocados pelas mãos, arrumados e interiormente sintetizados pela nossa visão actual eles ganham nova vida, força, verticalidade. Nas prateleiras onde estão ganham brilho e permitem uma maior nitidez ou irradiação do seu valor para connosco, e talvez mesmo para um visitante que chegue.
Os livros enviam-nos das suas lombadas comprimidas algumas emanações dos seus conteúdos, como mensagens subtis ou ténues, que em geral não nos apercebemos. Mas deveríamos com alguma regularidade fitar uma ou outra estante e sentir que livro nos chama e quer nas nossas mãos transmitir-nos algo.
Os livros são como peões, ou por vezes peças mais importantes, no tabuleiro do nosso jogo de xadrez da vida e da morte, do bem e do mal.
Cada dia há jogadas negras e brancas e nem sempre são só as nossas as brancas, nem sempre são as melhores as que vencem e devemos saber aceitar desprendidamente o que se vai passando ainda que lutando para chegarmos aos objectivos e missões que nos vão sendo oferecidos no desenrolar do jogo da vida. Bons livros auxiliam-nos a jogarmos bem.
*-*
Cruz – O seu significado principal é o de sinalizar-nos que no centro do nosso ser, da nossa cruz, está o espírito, o Divino em nós e que esta descoberta e vivência é a missão principal da nossa vida. Tudo o mais será dado por acréscimo.
                       
Barroco – Uma época marcada pelas reformas e lutas religiosas, os progressos de enriquecimento e da burguesia, produzia uma movimentação tremenda de novidades, de engenho, de esforço, de sensualidade, de individualidade, bem patente na arte, arquitectura e na literatura.
Majestade, Império no topo da hierarquia, mas também florescimento, desejo de libertação, iluminação, ascensão, triunfo em todos os actores do grande teatro da vida. Democratização pois, com a arte a tratar cada vez mais do quotidiano e do corriqueiro com foros de sagrado, com uma mística a tornar-se cada vez mais a estrada estreita mas para todos, nomeadamente pelo culto apaixonado dos intermediários, santos e santas, Anjos, Jesus e Maria, cada vez mais ao alcance de qualquer freira ou devoto, em livros, exercícios, pinturas e estampas
Lágrimas e risos, Demócrito e Heraclito, tensões de opostos e dos paradoxos, assumidos e bem cultivados mentalmente, argutamente mesmo, o ser humano encaminhava-se sob muitos condicionamentos e artifícios para o alargamento da consciência, a liberdade, para o amor mais universal, para a emancipação da religião e do despotismo absoluto.
Os escritores mais iniciados, no Barroco, são os que vêm mais longe, para trás e para a frente e chegam a uma gnose mais profunda de si mesmos e da realidade que observam, intuindo os níveis subtis em que se manifesta a essência humana, a alma do mundo e a previdência divina e apoiados nessas correspondências e analogias, nessas leituras das simbólicas substanciais do Universo se projectam em sonhos, obras e aspirações para uma Humanidade e um futuro melhor, agindo como criadores, cientistas, democratas, livres pensadores, humanistas, universalistas, ecuménicos.
Entre nós, Rafael Bluteau, Manuel Faria e Sousa, o P. António Vieira, D. Francisco Manuel de Melo e soror Violante do Céu foram alguns deles. E a soror Josefa de Óbidos, representada com esta imagem final, do trânsito feliz da amorosa Maria Madalena, tão consciente ou acompanhada dos Anjos na sua entrega libertadora final.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Poema a Joaquim Agostinho, ciclista, na sua morte. Do diário de 1984, no Porto, no meio das aulas de Yoga..

Na minha adolescência Joaquim Agostinho foi um dos pequenos heróis, que nos Verões nos animava nas suas batalhas contra si próprio, os elementos e os outros ciclistas, e as estradas com montanhas empinadas e descidas perigosas. 
Um pouco antes de ele morrer tão precocemente (1943-1984), quando estava na Índia e numa viagem de bicicleta mais difícil de alguns quilómetros de Auroville, a cidade do futuro que então nascia do sonho de Sri Aurobindo e da Mãe, e à qual me enviara o meu mestre de então, o Kavi Yogi Shudhananda Bharati), para Pondichery e volta, foi com o seu nome como mantra que consegui esforçar-me mais e fazer a tempo tais trajectos. 
Por isso, quando ele teve um acidente que se antevia fatal, estando eu a orientar aulas de Agni Raj Yoga no restaurante dietético e espaço alternativo Suribachi (ainda hoje a funcionar à rua do Bonfim, Porto), registei-o numa folha de diário de 1984. E, nestes tempos de relativo confinamento e arrumações de papéis, veio ao de cima e transcrevo o que senti, pois é uma homenagem poética e espiritual, qual oração, a Joaquim Agostinho. 
Muita luz, amor e ligação divina para o seu ser, onde estiver.
             «1 de Maio. 
Trovoada e granizo na cidade. 
Meditações, escritos, movimentação, refeição, ida ao cemitério e conversa com adventistas (um pouco fanatizados). Choro com um filme na TV, e há invocação do [mestre] Morya por não o estar a acompanhar.
 Oro por Joaquim Agostinho, um companheiro em coma.
 Sinto gratidão pelo que o Porto me tem dado de coisas e de pessoas.
Foi uma estadia passageira mas com alguns ensinamentos feitos a pessoas nas aulas de Yoga:
Maria Emília e João Aidós, despertaram.
Maria Elisa e Manuela.
Maria Augusta, [as duas professoras] Manuela e Eugénia e [a enfermeira] Fernanda.
Conversas frequentes com Sant'Anna Dionísio e Dalila Pereira da Costa.
Textos que dei para as aulas
Escritos para jornal.
Preparar melhor os alunos.
(...)
Próximo ano vou dar só seminários intensivos em fins de semana, procurando antes estabilizar e trabalhar a terra e o céu. Preciso de trabalho físico, contacto com espíritos da natureza. Aqui na cidade asfixia-se. Depois preciso de independência, de criar o ambiente e os horários naturais. É certo que ainda sou apenas um discípulo, um indivíduo a disciplinar o seu eu inferior. Por isso, mais ainda preciso de fortificar este estado, para poder mais tarde veicular as transmissões divinas.
Começar a dar mais coisas e estados às pessoas...
*-*-*
  «Joaquim Agostinho, um dos maiores heróis portugueses dos últimos tempos, morre lentamente. Minha alma está triste. A própria natureza chora em raiva impotente. É um campeão que se esvai. Um descuido, um pequeno esforço a mais e eis uma vida desfeita.

Salvé, Agostinho, valente escalador das montanhas,
destemido aventureiro de músculos rijos
e decisões fortes e firmes.

Salvé, Joaquim Agostinho, 
que os Anjos e os Mestres estejam contigo,
que as bênçãos de Deus te iluminem,
que a Luz e Amor te guiem, amigo.
Rotas cruzadas na terra, agora eleva-te no éter,
transforma a tua força em aspiração a Deus.»

Pintura de Bô Yin Râ. O caminho para a montanha divina, Himavat. Que Joaquim Agostinho a possa contemplar ou mesmo subir, tal como nós. Aum...

domingo, 24 de maio de 2020

Às Musas, Tágides e almas afins, no Graal da Poesia e do Amor...

 Mais uma recolha de um poema, escrito há uns 4 anos antes de ir participar numa tertúlia poética, de certo modo invocando a inspiração, o mistério da poesia, da musa, do fogo do espírito e do entusiasmo, e entregue às Tágides nossas e almas afins...

A poesia é uma musa
Que cada ser tem em si
Mas como pouco a sintoniza
Dispersa-a sem a Luz sua.

Quis então rasgar o peito
e encontrar-te no coração
Desconhecia que me envolvias
e que tua alma é uma com a minha. 

Musas somos todos uns dos outros,
caminhamos espargindo clarões
na noite escura da indiferença,
e que felicidade há na comunhão.

Perguntei ao Espírito
que me inspirasse mais
e ele mandou-me
a ti me dirigir.

Assim tracei esta poesia
e num barco de papel
entreguei-a às Tágides
e ela aí vai rumo ao Oceano.

Comungar de uma tertúlia
é sempre muito auspicioso.
Quem sabe que musa ou graça
Desce dos céus e nos ilumina.

Assim dediquei esta poesia
às almas luminosas e afins
que neste Graal da Poesia
fazem o milagre da Unidade
e cultivam o Fogo do Amor
que a todos os intensifica
e em todos quer arder mais.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Um poema de ensinamento espiritual, de Pedro Teixeira da Mota.

                                              
Diz-me, persistes tu no ritmo certo
que te leva às profundezas e às altitudes
que desvendam as potências do ser na vida
e te abrem as portas do mundo espiritual?

Tens de persistir na subida da montanha,
tens de bater repetidas vezes no portão
que se abre para dentro do teu coração
se queres ver mesmo amanhecer a Verdade.

Tens de humildemente orar e silenciar,
Invocar e contemplar em aspiração,
até o mundo espiritual te poder abençoar
e ficares feliz com a desejada unitiva visão. 

Comungar com o anjo da Guarda subtil,
contemplar a mística estrela pentagonal
e por fim comunicares com os mestres,
eis as etapas no caminho para o divinal,
para que vivendo tu em verdade e a amar
Deus possa renascer em ti e te plenificar.
Vale!
Escrito. 0o:04 de 22.V.2020. E corrigido às 21:33.

Um poema espiritual à Divindade, por Pedro Teixeira da Mota.

   Mais recolhas de poesia, esta de 5.X. 2019:


«Meu Deus, eu te amo dentro de mim,
Dentro dos MadreDeuses que te cantam,
Dentro dos que visito em doenças.

Como gostaria de onde chegar,
Com quem estivesse a conversar,
Transmitir a tua irradiação viva,
Acima de obstáculos e intrigas.

Meu fundo e centro ignoto,
Dá-me forças para a ti me doar,
Dia e noite a ti consagrado,
Capaz de arrancar pessoas das trevas
E pô-las em melhor sintonia contigo.

Centro íntimo de cada alma viva,
Sim, eu te adoro servindo-te
Nesta rutilante aventura da vida
Em que ora sofremos ora rimos.

Danças, gemidos e paralisias,
Partos e rasgares do peito,
Amor a sair pelas janelas do peito,
Fogo ardendo pelos céus acima,
Queimando distâncias e limitações,
Unindo almas e solidões.

Chegar ao fim do dia
E o coração ser um vulcão.»

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Ensinamentos do Amor, em postais.

                             Abrirmos as portas do coração, da alma, da confiança, do amor...
Oh tu, alma amada,
 distante no espaço
embora possamos comungar na telepatia, 
que liga quem se ama.

Gostar é já o começo da possibilidade
 do amor se intensificar,
do virtual desabrochamento do centro do coração
que se abre e derrama a essência do nosso ser para o outro,
tingindo-nos dele. 
 
O Amor é assim estarmos em unidade sacrificial e graciosa.
Parte de vários níveis, os principais sendo
o coração como sede do afecto
e da irradiação subtil do enlaçamento
ou harmonia desejada com os outros,
sendo a aspiração a Deus, ou Amor a Ele,
fonte de Amor, a sua base e o seu pináculo.

O amor humano é uma tentativa 
de se alcançar a comunhão do Supremo Bem com outro ser,
o que é então uma tentativa de dois seres
assumirem a Divindade neles.
O Amor une então dois seres à Divindade,
ao Amor Primordial.