quarta-feira, 28 de março de 2018

Previa-se hoje chuva mas a formação das nuvens artificiais está atrasada. Lsboa sob os rastos de aviões.

     A atmosfera lisboeta neste dia 28 de Março de 2018 desde a manhã foi muito atravessada e cruzada por jactos dotados de efeitos especiais e ficámos com alguns rastos fortes e duradouros, que talvez contribuam para que o azul do céu pacífico e inspirador seja substituído por certo embaciamento nebuloso e a chuva que estava prevista para estes dias não se demore muito...
Por qualquer incómodo, se sair à rua, pedem-se desculpas...
Quase sem legendas...
Rastos por demais: se comtrails inofensivos, se chemtrails nocivos, persiste a dúvida...
 
   
 
 
 





 

Qual procissão, saibamos caminhar auto-conscientes do espírito, ligando a terra e o céu, a humanidade e a divindade!



Um pouco do arco-íris, algumas cores de esperança e amor na nossa aura e alma... Sorria...

quarta-feira, 21 de março de 2018

"A Conferência dos Pássaros", de Attar, desenhada e pintada por José Pinto Antunes. E sua hermenêutica espiritual por Pedro Teixeira da Mota.

O belo poema metafórico de Attar, aliás Farïd al-dîn 'Attâr (1142-1221, em Nichapour, no Khorassan, Irão, e que foi um perfumador, ervanário, curador), intitulado Mantiq al-Tayr, o Colóquio ou Linguagem das Aves, ou ainda Conferência dos Pássaros, extenso nos seus mais de quatro mil e seiscentos versos, foi de todas as obras de Attar a que teve mais sucesso ao longo dos séculos, conhecendo-se algumas versões em diferentes línguas desde esses remotos tempos. No Ocidente, em França, houve traduções em 1819 e 1863, e no século XX e XXI alargaram-se.
Corre entre nós uma das versões, mas abreviada e má, da
obra, sob o nome de Conferência dos Pássaros, editada pela Cultrix, sendo uma tradução da versão inglesa de C. S. Nott, que traduziu da tradução francesa de Garcin de Tassy, de 1863, realizando nos USA em 1954 tal feito de retalhar e alterar substancialmente, retirando muito da espiritualidade da obra. Uma lástima. Hoje já há outras versões em português, de melhor qualidade.
Depois de ter sido um boticário de perfumes e ervas, impressionado pelo desprendimento e comando do corpo e alma de um dervishe, Attar foi iniciado na via espiritual pelo sheik Mudj al-din, de Bagdad, e da sua demanda restam-nos cerca de uma dúzia de obras das quais as mais valiosas são o Pand-Nama, Livro dos Conselhos, Asrar-Nama, O Livro dos Segredos (a sua última obra, e da qual há uma tradução comentada excelente de Christiane Tortel), Elahi-Nama, o Livro Divino e o Tadhkarat al-Auliya, Memórias dos Santos, esta contendo histórias e ensinamentos de 142 sufis do Irão, do Egipto e da Arábia, entre os quais Jafar Sadiq, a iraquiana Rabia Basri, Junayd, Hazrat Abdul Jilani, Mansur al-Hallaj, todos eles verdadeiramente entregues ardentemente ao Amor Divino.
O grande especialista de mística islâmica e persa Louis de Massignon foi um estudioso e admirador de Attar, e realçou
a afirmação do famoso Jalâl-ud dîn Rûmî: dois séculos depois da desencarnação de al-Hallâj a sua luz (nour), ou alma espiritual, manifestara-se em Farîd 'Attar, tornando-se o seu mestre espiritual.  
Não sabemos ao certo se assim terá sido, mas a comunhão dos amigos de Deus, a comunidade dos santos ou sufis, a auliya, é conhecida, é real, todos os que meditam mais profunda e intensamente vivenciam-na de um modo ou outro por graça, pelo que naturalmente Attar foi abençoado pelo Alto e o Divino, pelos sufis, sendo Mansur al-Hallaj, um mártir no Islão da afirmação da não-dualidade entre o humano e o divino, certamente um potencial inspirador dele e, quem sabe, o seu mestre ou guia invisível. Rumi, que segundo algumas versões ainda se teria encontrado com Attar, quarenta e cinco anos mais velho que ele, diria ainda que Attar era a sua alma íntima, tal como Sana'i o seu olho espiritual. 
Attar, na Conferência ou Diálogo dos Pássaros, agora entre nós inspirando o pintor José Pinto Antunes [e muita luz e amor para ele, prematuramente falecido no entretanto] em a ilustrá-la em mais de cem desenhos, compila numerosas histórias tradicionais e acrescenta algumas novas, adicionando sobretudo comentários de ordem moral e espiritual, e propondo a tradicional ascese e renúncia ao mundo e aos seus prazeres e seres (uma metodologia talvez hoje discutível quando se expressa de modos algo humanamente egoístas: «Enquanto não morrermos para nós próprios e não formos indiferentes às criaturas, a nossa alma não estará livre. Um morto vale mais que aquele que não está inteiramente morto às criaturas, pois ele não poderá ser admitido para o outro lado da cortina»), em troca ou em prol do amor ardente pelo Divino, o único que merece e perdura.
O amor a Deus (bhakti, prema, na tradição indiana) é então o objectivo e a necessidade máxima e muitos exemplos são dados de amor extraordinários ou intensíssimos entre os seres e pares humanos e como daí podemos tirar impulsos para a nossa 
caminhada de amor para Deus, neste século XXI cada vez menos propenso a amores devocionais como outrora flamejaram no Cristianismo e no Islão medievais ou mesmo posteriores.
Entre as partes mais fracas, ao olhar do séc. XXI, está a ideia da superioridade do Islão, sobretudo sobre 
o cristianismo e também o hinduísmo, pois adoram ídolos, havendo portanto algumas histórias divertidas mas urdidas nesse sentido reprovador delas... 
Há histórias belas, há reflexões valiosas, e seria bom discernirmos melhor o que veio da tradição sufi, o que ele próprio gerou, ou mesmo o que al-Hallaj lhe inspirou, embora a parte final sendo a mais unitiva, deva ser a mais relacionável com ele e a que merecerá maior meditação e aprofundamento, ao tratar do nosso encontro tanto com nós próprios espíritos como com a Divindade e a Unidade.
A Conferência dos Pássaros congrega então milhares de aves na demanda de acesso ao misterioso ser, Simurgh, a qual as vai levar, com dúvidas e diálogos esclarecedores, por um caminho de individuação e iniciação longo e árduo (per aspera ad astra) até Simurgh, onde apenas chegam trinta delas, as que acreditaram na mestra poupa e nelas próprias e mantiveram a chama da aspiração e do Amor unitivo mais fortemente. 
Simurgh em Portugal
 José Pinto Antunes, apreciando esta obra, decidiu inspirar-se nela e desenhá-la em aguarelas e pinturas a óleo, e o seu quadro de Simurgh é particularmente excelente, e em boa hora o Instituto Superior de Psicologia Aplicada resolveu acolher a exposição na sua livraria, em parceria com a Galeria Hélder Alfaiate, pois não poderia haver melhor local que a galeria de uma livraria ligada à Psicologia, o Logos da Alma, para expor e evocar a legendária obra de Attar. 
 Quem guia e aconselha as milhares de aves na sua demanda de individuação ou realização é então a poupa, com as suas características quase de realeza («tinha no peito o sinal que testemunhava a entrada na via espiritual e sobre a cabeça a coroa da verdade. Na verdade, entrara com inteligência na via espiritual, discernia o bem e o mal»), e vai narrando-lhes histórias da tradição sufi, cheias de psicologia e moral, ética, ascetismo e discernimento, que as ajudarão a libertarem-se das ignorâncias, ilusões e armadilhas dos seus nafs ou instintos e do mundo, e a chegarem ao distante mas também íntimo Simurgh.
 Estamos então numa peregrinação, numa demanda interior de desidentificações, qualidades e realizações vivas, na qual a paciência, o desprendimento, a determinação, a luz, a verdade, a unidade se vão desvendando. E assim cada uma das aves irá expondo e vendo clarificadas as suas especificidades interiores e dificuldades. De igual modo, nesse sentido, quem as desenhar, terá de exercer quase a visão de um Hieronimus Bosh para discernir quando uma delas leva dentro de si um cão ou uma serpente, quais estão mais divididas e atadas, e quais espelham mais as limitações dos humanos e as suas lutas e aspirações ou o amor, a liberdade, a unidade.
O caminho apresentado por Attar é simples e puro, ou não fosse uma das possíveis etimologias de sufi a lã branca trajada por tais ascetas e místicos: é o amor de Deus, da Fonte primordial e Unidade subjacente a tudo, o mais importante pois é o único que dura sempre e é a destinação ou meta final; por isso, a Ele devemos aspirar, não nos deixando envolver demasiado no mundo e nas suas pessoas e actividades, desprendendo-nos delas e dos nossos desejos e egos e unificando as nossas forças anímicas numa só vontade de reintegração ou união divina, sem dúvida uma tarefa hercúlea, já então mas sobretudo no séc. XXI. 
Nestes sentidos das múltiplas forças que nos constituem, o José Pinto Antunes também capta e em finas sobreposições desenha nas aves e nas histórias envoltas ou em simbioses com os elementos da natureza, com as condições ambientais, com os mistérios dos mundos anímicos subtis, no espaço imenso e infinito da peregrinação na manifestação divina da vida, o qual no poema é atravessado em sete vales, estágios ou fases do Caminho das almas e aves, denominados sucessivamente Talab, o vale da Demanda, Eshq, o do Amor, Marifat, o da Gnose ou Conhecimento espiritual, Istighnah, o do desprendimento, Tawhid,  conhecimento da Unidade, Hayrat, admiração, Faqr, desnudamento e, finalmente, Fana, extinção ou transmutação do ego e união com a Divindade ou a Unidade Primordial.
Em muitos dos desenhos (e na sua origem foram 120), mais forte ou mais suavemente traçados e aguarelados, ou então pintados mais carnal ou intensamente nos óleos, sentimos que eles são janelas
para tais vales e estados, comuns a outras tradições embora com outros nomes, das almas-aves do poema e de nós, que os peregrinamos, vivenciamos e neles ao mais profundo ou elevado aspiramos. 
Talvez se tivermos um bom discernimento, ou mesmo uma boa intuição, consigamos chegar a descobrir que ave, vale ou estado anímico está representado nos sucessivos desenhos de José Pinto Antunes, interrogando, pintando e glosando com Attar a maravilhosa peregrinação dialogante humana de auto-realização, rumo ao mistério supremo, do fim que é também o princípio, pois o Simurgh procurado é a Fonte da qual somos um espelho, uma ave, um canto, uma parte, metáforas do mistério da nossa demanda e participação histórica na Unidade Divina e Cósmica, tão vivida e proposta pela tradição islâmica sufi e persa e hoje tão potencialmente actual, por exemplo, na noção em comprovação científica do campo unificado de energia-informação-Consciência.
Fiquemo-nos com alguns dos melhores ensinamentos, os dois primeiros relativos à respiração consciente psico-espiritual:
Fim do cap. XXV: «Cada uma das respirações que medem a tua existência é uma pérola e cada um dos teus átomos é um guia para ti em direcção a Deus. Os benefícios deste teu Amigo cobrem-te da cabeça aos pés; eles manifestam-se visível e maravilhosamente em ti.»
Fim do cap. XXIX: «Aquele a quem os seus desejos subjugam, esse não consegue respirar um instante sequer em companhia da sua alma».
O que a mestra poupa, no começo do cap. XXXV, transmite a uma ave interrogante é muito prático e eficaz, e ilustra a prática comum a várias tradições religiosas e espirituais da oração ou lembrança persistente ou repetitiva de um nome, mantra, dikr ou frase :
«Enquanto viveres, respondeu a popa, está contente por te lembrares (dikr) reconhecidamente de Deus, e evita as conversas e palavras superficiais. Se a tua alma possuir este contentamento, preocupações e tristezas esfumar-se-ão. Tal é, nos dois mundos do visível e do invisível, o que é mais próprio para o contentamento dos seres humanos. É por ele que a abóbada celestial está em movimento. Permanece contente na Divindade e move-te como o Sol por amor a Ela».
Ou a bela história narrada nesse mesmo capítulo: «Um homem sábio dizia: Há setenta anos que estou constantemente em êxtase de contentamento e de felicidade e, neste estado, participo na majestade soberana e uno-me mesmo à Divindade. Quanto a ti, que te preocupas em encontrar as faltas ou erros dos outros, como te alegrarás da beleza do mundo invisível? Se procuras as faltas com um olhar perscrutador, como poderás jamais ver as coisas invisíveis? Desembaraça-te primeiro de tuas falhas para que sejas verdadeiramente rei pelas coisas invisíveis. Separas em dois um cabelo para veres as faltas dos outros, mas és cego para as tuas próprias faltas. Ocupa-te dos teus próprios defeitos: então, mesmo que tenhas obscuridades ou culpas, serás agraciado por Deus…»
Acerca do vale da Gnose, do conhecimento esotérico, Ma'rifa, ou Irfan, cap. XL, Attar aconselha-nos a comermos e a dormirmos menos e a despertarmos mais:
«Se te privares de dormir durante a noite e se não comeres durante o dia, poderás encontrar o que procuras. Procura até que te percas na procura abstendo-te de comer durante o dia e de dormir durante a noite. Não durmas, se estás à procura das coisas espirituais; mas se contentas de falar delas, então o sono convém-te. Guarda bem o caminho do coração, pois há ladrões à volta. O caminho está cercado por ladrões do coração, preserva portanto a joia do teu coração destes bandidos.
Quanto tiveres a virtude de saberes guardar o teu coração, o teu amor pela ciência espiritual manifestar-se-á prontamente. Este conhecimento virá indubitavelmente à pessoas que vigia no meio do oceano do sangue do seu coração. Aquele que suportou longamente a vigília tem o seu coração desperto quando se aproxima de Deus. Já que é necessário privar-se do sono para ter o coração desperto, dorme então pouco a fim de conservares a fidelidade do coração.Tu deves repetir a ti mesmo, quando a tua existência se estilhaçar: «Aquele que se perde no Oceano dos seres não deve deixar escapar um gemido de queixa. Os amantes verdadeiros partiram todos para o mergulho do sono inebriados de amor. Bate na cabeça, pois os seres excelentes fizeram o que tinham a fazer. Aquele que realmente tiver o gosto do amor espiritual possui na sua mão a chave dos dois mundos».
E terminemos com o capítulo final, estimulando-nos a não temermos a misteriosa, fana, extinção, e com o começo do seu epílogo, em que se despede de nós:
«Quando o sol da pobreza ou nudez espiritual brilhou sobre mim, ele queimou os dois mundos mais facilmente que se fosse um grão de milho painço [millet, cereal muito rico que se vende bom e biológico na Miosótis, em Lisboa). Quando vi os raios desse Sol, não fiquei isolado, a gota de água retornou ao Oceano.
Ainda que no meu jogo eu por vezes tenha ganho e outras perdido,  acabei
todavia por deitar tudo na água do Oceano. Fui apagado, desapareci; nada restou de mim mesmo; não era mais do que uma sombra, não restou de mim o mínimo átomo. Era uma gota perdida no oceano do mistério e actualmente nem sequer encontro esta gota. Ainda que não seja dado a toda a gente desaparecer assim, pude-me perder na aniquilação, com muitos outros que foram como eu. Há alguém no mundo, do peixe à lua, que não deseje aqui perder-se?
Epílogo, começo:
«Ó tu que avanças no caminho espiritual, não leias o meu livro
como uma produção poética ou de magia, mas lê-a como se relacionando com o amor espiritual, e julga, por uma só sensação do teu amor, o que podem ser as minhas cem dores amorosas. Lançará até à meta a bola da felicidade, quem ler este livro animado deste amor. Deixa lá a abstinência e a vulgaridade; aqui só é preciso o amor, sim, o amor e a renúncia. Quem possui este amor, não tem outro remédio que renunciar à sua alma» e avançar no amor para ver ou encontrar Simurgh.
  Perguntada a mestra poupa, por uma ave, o que se podia oferecer, ou com o que se deveria chegar, ao divino Simurgh, respondeu ela: «Leva o ardor da alma e o esforço do espírito, porque ninguém deve dar outra coisa.»

terça-feira, 20 de março de 2018

A Primavera e o Amor dos livros aproximam e inspiram as pessoas criativamente. Da biblioterapia e criatividade.

1º dia da Primavera: o Amor dos Livros aproxima e inspira as pessoas. 
20 de Março de 2018, Nowruz!
Livraria Gostar de Ler, de Lurdes Paiva, no Porto.
 Os livros,  sendo quantitativamente no planeta os seres mais estáveis e sábios embora ora controversos ora calmos, qualitativamente são muito  catalizadores de movimentações e encontros, seja na pessoa em si mesma que os lê, seja nas livrarias onde entramos e apreciamos, seja nas apresentações que fazemos ou assistimos, seja ainda nos diálogos ou debates à volta deles.
Em si próprios, na verdade, os livros, enquanto meios de comunicação de ideias, sentimentos, vivências, imaginações e imagens, são bem poderosos em despertar nas almas leitoras respostas de afinidades que não se limitam ao espaço e tempo actual e ao dinamismo transformador que podem ocasionar, mas também recuando-as e ligando-as a seres antigos e pelo que podemos assim encontrar pessoas apaixonadas por escritoras e escritores, heróis e heroínas, ou por tempos  e épocas, já remotos da História da Humanidade.
Mas também são grandes catalizadores no presente e há muitas pessoas que por afinidades no amor aos livros ou a autores  se comunicam desde grandes distâncias e trazem ao de cima por essa afectividade partilhada não só estímulo na leitura, investigação e diálogo de certos temas, autores ou livros mas também uma qualidade cardíaca ou anímica valiosa, que é a de tornarem-nos almas inspiradoras e fortalecedoras, reciprocamente, da criatividade e voluntariedade pelo bem e a beleza, a verdade e o amor.
Este amor ou amizade entre os que amam os livros e a sua sabedoria proporcionou ao longo dos séculos valiosas correspondências afectivas ou amorosas que se concretizaram em cartas, artigos, textos, livros, telepatias, dedicatórias, presentes, etc... E que por sua vez podem dar origem a novos livros que manifestam essa reciprocidade amorosa e sábia, seja apenas na reprodução da correspondência, seja ainda em vida em trabalhos a dois, livros gerados nupcialmente ou cooperativamente...
No fundo arquetipicamente o livro  existe como transmissão de algo por amor aos seres, e está sempre, com o espaço branco da sua potencialidade em múltiplos níveis, apelando aos escritores e futuros leitores. Daí a febre da escrita de alguns, ou a admiração de outros por grandes obras e autores, participantes mais ou mesnos conscientes desse apelo primordial ou imemorial que atravessa a noite dos tempos pedindo que a palavra e a luz se façam, se comuniquem, invoquem e evoquem...
De igual modo os seres amam os livros  não só porque serão abençoados ou harmonizados pela palavras neles contidas mas também porque as pessoas são também livros, nelas se escrevendo ou imprimindo diariamente o que foi dito e pensado, sentido e vivido, numa escrita invisível que só alguém mais clarividente poderá discernir, adivinhar, intuir...
Algo disso manifesta-se no simples diário que milhões de seres ainda cultivam e que tem de quando em quando a sua intensidade aumentada, gerando poesia, sentida para alguém ou para certos seres, coisas, ideias, ideais, mas que preserva da efemeridade do dia a dia cada vez mais vertiginoso algumas palavras, imagens, cores, sons, ritmos, intuições, para uma certa perenidade, como o livro em geral permite..
No fundo os livros, já escritos ou impressos, ou ainda virtuais, potencializam desabrochamentos e trocas de ideias, de sentimentos e energias anímicas entre as fontes de inspiração e os autores, leitores e comentadores, num emaranhamento imenso entre o passado, o presente e o futuro de milhões de seres potencialmente afectados, inspirados, fortificados, curados, iluminados por tais livros.
Há seres que têm fios de ligação com muitos seres ou assuntos e estão constantemente a gerar impulsos, visões, ideias e logo páginas de escrita neles ou noutros e que um dia poderão tornar-se livros. Mas, de novo, só alguém muito clarividente é que poderá intuir que tal conversa ou tal vivência interior irá aparecer numa página de um livro futuro, ou que dela se gerarão acções bem valiosas e criativas, e de novo em  livros reflectidas, incorporadas, ligando quem sabe o a terra e o céu, os inspiradores e os escritores.
  Claro que a melhor fonte de inspiração é a Divina e não é por acaso que os livros mais lidos do mundo, como a Bíblia ou o Alcorão foram tidos, sobretudo antigamente e antes dos estudos críticos e intertextuais. como escritos por revelação divina. E embora não saibamos bem os meandros da sua feitura e inspiração, sabemos que certamente nenhum deles foi escrito ou revelado por Divindade, e que devemos nós tentar religar-nos ao espírito e à Divindade, na nossa interioridade e também pela leitura desses e outros livros  inspiradores. E, quem sabe ainda, para algumas pessoas,  pela leitura-escrita daquele livro da nossa vida que desentranhamos do nosso peito, aspiração e amor.
Para isso é fundamental volta e meia fecharmos os olhos, silenciarmos e tentarmos tornar-nos um eixo entre os mundos e abrir-nos à inspiração espiritual, nem que esta seja apenas acalmar-nos, centrar-nos, e dessa ora multiplicidade ora unidade podermos discernir melhor que pensamentos e sentimentos iremos em seguida desenvolver, que páginas escrever, que livros avançar.
Todos nós já sentimos também como humanamente podemos ser inspirados quando alguém nos responde a algum escrito ou livro de modo apreciador e como isso pode potenciar a nossa criatividade. 
E quando essa pessoa é alguém que nós gostamos, ou sentimos com mais afinidades comuns, tal apreciação pode suscitar mesmo o desabrochar de sentimentos interiores e, logo de imagens e palavras que alguns mais sensíveis poderão mesmo sentir como orações ou poemas brotando nas suas almas e se evolando para essa pessoa e para o Cosmos: "Graças, graças, graças", as Três Graças, isto é, "escreveu, apreciou, agradeceu e elevou", assim se contribuindo para o Grande Livro invisível do Amor.
A almas dessas quereria agora que este texto fosse sentido como contendo flores e perfumes, cantos de pássaros e brisas primaveris, determinações e coragem, neste dia da Primavera de modo a que elas possam abrir as janelas das suas almas e inspirarem-se, sentirem-se e determinarem-se mais criativamente e melhor para o Bem Comum e Cósmico...
Visualizo em abstracto uma alma leitora ideal e tento-a a sentir na sua inteireza e verticalidade, unidade única e graciosa, e para ela ergo a taça do  Graal plena do vinho do Amor divino na palavra e aos seus lábios e ouvidos faço chegar esta invocação da substância divina no Cosmos,  tão cantada pelos melhores poetas do Oriente do Ocidente, tão impregnada em milhões de inscrições e gravuras, páginas e livros..
Almas muito afins, as duas páginas de uma folha, num diálogo unificador de um poema de descobrimento e amor, o vento soprando inspirações e folhas, deixando-as abertas onde elas devem mais profundamente escreverem, escreverem-se...
Possam as páginas todas dos livros das nossas bibliotecas estremecer um pouco de amor, possam as nossa almas expandir-se e abranger todos os livros que lemos ou que leremos, que tocamos ou tocaremos e assim intensificar-se a energia vibratória amorosa em todas as salas, estantes, livrarias, bibliotecas e almas. 
Possa nelas se sentir o grande oceano do Amor-Sabedoria Divino que a todos nos envolve e substancia...
A  leitura, a escrita, a poesia que pode erguer-se em cada ser a cada instante é única nesse momento, a isto chamavam os japoneses ichi-go ichi-e, e felizes os que sabem criar, receber ou merecer as melhores conjunções e espirais de energias que soltarão as liras e as ressonâncias das cordas anímicas da beleza, sabedoria e amor.
 De tal modo que vendo-as ou ouvindo-as interiormente ou intuitivamente, possam depois reproduzirem-nas em palavras e ritmos, imagens e ideias, animando orficamente os livros, a Terra, as almas e espíritos, na Fraternidade humana e na Unidade primordial e divina...

sexta-feira, 9 de março de 2018

Viajar de comboio do Porto a Lisboa na eternidade. Imagens belas da paisagem e reflexos psico-espirituais.

  Deixando a urbe portuense e a Dalila Pereira da Costa, comemorada no congresso do centenário do seu nascimento, e mais uma mão de pessoas amigas, sentado na varanda-janela do comboio intercidades Porto-Lisboa, lendo, escrevendo e contemplando, eis  imagens que permancerão de uma viagem já deixada para trás na marcha imparável do tempo, mas aqui, por belos fragmentos fotográficos da paisagem e páginas da alma na sensibilidade e palavra que se transmitem, arrancada a tal voragem, e logo preservada e partilhada. Avancemos...
Fábricas outrora  bem dinâmicas, agora ruínas cheias de memórias. Mas quem as sabe pesquisar e cultivar, ou mesmo as reutilizar?
 Porque mais exposta à chuva e intempéries os telhados. mesmo sem serem de vidro, abatem, e as cabeças , mesmo não sendo ocas, podem ceder. Vela para que a tua luz interior a mantenha coesa e firme. E que a abras às melhores energias psíquicas, emotivas e espirituais
Gate, gate, paragate, parasamgate, bodhi svaha, rezavam os budistas antigos, apelando a deixares para trás apegos, vivendo plenamente desperto no presente e, bordejando a margem da eternidade, libertares-te...
Quem saberá amar as casas na eternidade em que elas vivem, quem as consegue contemplar no olho espiritual, ou mesmo recuperar delas seus segredos, ou em sonhos as conhecer e habitar?
Quando o céu e a terra se unem pela água e o ar, a nuvens e o sol, e se tornam um lago em que contemplamos as ondas do pensamento e nos podemos abismar na riqueza e profundidade do coração do Ser.
Que espíritos da natureza e seres humanos  geraram este quadro que atravessa os vidros e se plasma nas nossas almas como obra prima, como transmissora de energias de liberdade e comunhão?
Circunscreveste as tuas energias psíquicas num rectângulo talhado com a razão dourada, e assim como o lago atrairás o raio do Amor sobre ti, e as tuas águas serão harmonizadoras, plenificadoras.
Leves e diáfanas folhas e ramos, cantam ao vento as mudanças das estações e a subtileza do Amor substancial...
Paisagens que nos levam e elevam ao infinito, ao Divino...
Gemeste, choraste, sofreste mas se aspirares e as tuas águas acalmares o Espírito te iluminará..
Nos bosques e florestas que acompanham os cursos de água absorverás o melhor "prana" e sentirás os espíritos da natureza e o Amor divino
Construir ou atravessar a ponte entre o mundo sensorial físico e o subtil é uma das tarefas dos pontífices e dos peregrinos, das almas sensíveis e dialogantes, pacificantes.
A consciência que se expande pelos campos e nuvens a dentro, chegando ao horizonte, às nuvens e ao céu azul e infinito
Sentir a união da terra e do céu é natural na Natureza
Cultivar a comunhão com as nuvens, com o espaço infinito abre-nos ao Amor divino
Também dentro de ti, através do teu olho espiritual, poderás contemplar na distância, maravilhado
Sinta e escreva, do seu ser para ser...
O teu temenos,  o teu templo, o espaço tempo que sacralizas, vai-te preparando para a Eternidade e vai-se tornando um local irradiante e harmonizante na terra. Cultiva-o persistentemente organicamente, amorosamente.

(1) Diários e suas meditações, visões e ensinamentos. Do espírito e da aspiração mística.

Trancrições de compreensões, vivências, intuições e ensinamentos registados em diários ao longo dos anos...

Os santos e santas bem  irradiantes do espírito neles, ou da suas qualidades, mais ou menos conscientes de tal, estão bem representados com uma auréola sobre a cabeça, sinalizando assim, para quem sabe,  que a estrela do espírito estava neles bem activa, quase que visível nas suas emanações subtis mas sensíveis.
Seres mais identificados ao Espírito....
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Meditação matinal, com aspiração mística a Deus, tendo visto formar-se no olho espiritual uma pomba branca a esvoaçar para cima. Houve utilização de quando em quando da frase semente: "Eu sou o espírito livre de desejos".  
Tive uma consciencialização que o Espírito Santo é essencialmente o espírito individual.
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Assim como um móvel manchado adquire uma cor pura  se lhe dermos com cera, assim a alma lava-se e brilha mais com a aspiração e a meditação em Deus.
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Vou a um cemitério. A oração que brota é: "que Deus nasça nos nossos corações". 
Saber entrar na elevação própria ou adequada dos sítios é saber sentir ou discernir as necessidades e anelos de cada ambiente e dos seus seres e agir psiquicamente correctamente, harmoniosamente.
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Um sinal de meditarmos bem, de estarmos dignos de receber a Deus é termos a visão de Nossa Senhora com o bebé, com a criança pura, ao colo. 
No fundo, Santo António visto com o menino fisicamente ou apenas espiritualmente significa o mesmo: um ser que merecia receber ou sentir a presença divina.
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 É Domingo, os golos atravessam o ar. O país  anda ao rubro aos Domingos, dia do Senhor, mas por causa do futebol e não por causa de Deus ou em elevação mística de comunhão com o seu amor. Mas certamente que há fraternidade, libertação de tensões e o prazer de jogar, de se entusiasmar pelos outros que são assumidos quase como eles presperto e sobretudo o futebol para muita gente é a religião que mais sentem, pois religam-se com os outros do mesmo clube e expandem a sua consciência até ao tamanho do estádio...
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Quando estamos com pessoas que não estão muito harmonizadas nem polarizadas nas suas energias para a sintonização e elevação a Deus, ao Bem, torna-se difícil não nos envolvermos nas suas personalidades e desejos, nas suas carências e frustrações, nos seus bloqueios e sombras e e que são então um mar impetuoso  de energias diversas influenciando quem as rodeia ou que mesmo à distância pela voz, a intencionalidade e o telefone nos tocam, nos envolvem, nos perturbam. Estarmos conscientes do ponto de saturação é importante pata que não deixemos ou a irritação ou o enfraquecimento apanharem-nos
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Onde está o Anjo da Guarda?
O Anjo vive num plano espiritual elevado, e de lá, quando meditamos e oramos ou quando há alguma necessidade forte nossa,  urgência ou apelo,  envia energias que podem ser sentidas, vistas e recebidas por nós de diversas formas e em diferentes níveis.
Por vezes podemos contemplá-los nas alturas, seja interiores seja exteriores,  outras vezes  nas distâncias. 
O mais forte e raro é quando ele mesmo desce sobre nós, e paira sobre nós, ou atrás de nós. 
Por vezes pode projectar uma energia ou imagem sua numa parede, num muro, num monumento, numa árvores...
Certamente há muitas outras formas de o Anjo da Guarda se manifestar...
Saibamos descobrir, merecer, receber as nossas com regularidade, lembrando-nos mais dele durante o dia a dia...

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Das Bibliotecas e Livros e seus efeitos anímicos. Da biblioterapia como medicina simples.

As bibliotecas das pessoas, dos escritores (e até dos livreiros e instituições) permitem deduzir, do seu conteúdo e temáticas, as orientações, afinidades, gostos, influências, amizades e inspirações dos  possuidores. Todavia, a menos que haja anotações e referências, não saberemos bem o que foi lido e apreciado, repelido ou assimilado, embora certamente se possam encontrar na obra de um escritor referências, citações e sinais de afinidades ou influências que certos livros ou autores exerceram.
                                        
É rara a casa que não tenha as suas estantes de livros e revistas, poucas as pessoas que não recorrem a eles para aprender, comungar ou evadirem-se, descontraírem-se, deliciarem-se ou então adormecerem com a mente mais aconchegada. E se houve escritores que tiveram poucos livros, ou que leram com dificuldade em bibliotecas públicas ou de outros, muitos há que se viram rodeados de boas companhias, podendo navegar em diferentes cursos psico-energéticos e atingir certas intuições, compreensões e visões novas, originais mas a partir de estímulos e antecessores, que acabaram por se incorporar nas suas almas e escritos e, eventualmente, em quem os ler...
                                               
Assim, cada casa, cada pessoa deveria ter uma razoável biblioteca para a evolução pessoal sua e da Humanidade, ainda que, nos tempos modernos, os computadores e a internet sejam por vários modos, nomeadamente por possuírem já descarregados ou reproduzidos milhões de livros e folhetos, excelentes bibliotecas globais, ainda que virtuais e logo com certas limitações, seja de contacto físico, manual, seja de fixação anímica e talvez até mnemónica do que se lê...
Em verdade, os livros e revistas, com todas as suas subtis particularidades, desde os autores aos assuntos, das datações às dedicatórias, das encadernações e ilustrações às anotações ou marginália, do tacto ao cheiro do papel, são preciosos companheiros para quem quer aprofundar os mistérios e maravilhas do universo e da humanidade e, particularmente, para os estudantes, pensadores, escritores, historiadores, investigadores, artistas, criadores, comunicadores.
Todos nós sabemos quanto podemos receber psico-somaticamente ao manusear e ler com atenção, gratidão e amor qualquer obra que a sabedoria dos séculos nos lega, ou nos permite aceder, e com ela viajar no tempo e nos mundos psico-espirituais, nos quais tantas riquezas há para suprir as necessidades da Humanidade, ainda tão mergulhada na ignorância, na violência, no egoísmo, no sofrimento, ou manipulada para tal por forças, grupos e seres anti-culturais, anti-libertadoras, opressivas, redutoras...
Podemos dizer então que cada livraria ou biblioteca, ou livro é uma mezinha, um medicamento para harmonizar e curar, um fermento de transformações, uma semente de novas manifestações luminosas e benéficas, uma defesa face à invasão manipulante e massificante que nos rodeia ou nos penetra pelos meios de informação e a publicidade.
O livro no seu suporte de papel, pergaminho ou papiro, pela sua durabilidade e pela sua proximidade e intimidade, será sempre então um dos melhores instrumentos de harmonização e elevação humana e, como tal, o presente ideal que as pessoas oferecem e acolhem, lêem e anotam, criticam ou amam, e com eles se harmonizam.
Quando entramos na casa de alguém frequentemente a nossa primeira impulsão é ver as obras contidas nas estantes, o que essa pessoa leu ou mostra e, ainda que nem queiramos, a partir até de uma mera vista de olhos (se for de conhecedor...) poderemos intuir algumas das características das pessoas que os juntaram, leram, possuíram, amaram...
 Constituirmos a nossa própria biblioteca, e saber ordená-la, e ter mesmo em destaque ou de mais fácil acesso as obras que mais nos tocam,  com as quais  trabalhamos ou os autores com quem  sentimos melhores afinidades e sintonizamos, é então importante, construindo-se assim ilhas valiosas, insuspeitadamente interligadas em redes invisíveis no mundo subtil da Grande Biblioteca Mundial, às quais podemos até convidar a desembarcarem pessoas amigas a fim de desfrutarem da sabedoria e dos prazeres que tais fontes vivas nos transmitem.
 Todos sabemos como algumas bibliotecas se transformaram em quase ilhas utópicas, até no sentido que pela sua singularidade, beleza e raridade não podem ser facilmente acedidas, reforçando-se assim a sua aura, a que hoje as imagens livres virtuais na Web ainda mais realçam, ainda que desvendando-as incompletamente, sem a verdadeira energia do local e dos livros palpitantes ao vivo... 
 A Biblioteca de Mafra, a da Universidade de Coimbra, a da Academia de Ciências de Lisboa, a Vaticana, a de Paris, a do Escorial, e outras famosas, serão algumas das mais notáveis. Mas não devemos menosprezar as  apenas nascidas da bibliofilia de almas mais entusiastas, outras nascidas de legados post-mortem, destacando-se nestas as que tendo pertencido a escritores ou investigadores, e não foram dispersas em leilões ou passadas a diferentes instituições e pessoas, conservam a sua autonomia, diríamos mesmo a sua individualidade, especialmente quando se mantêm no local onde sempre estiveram, rodeadas da memória subtil dos momentos em que as mãos do escritor ou dos seus amigos manusearam os livros, dialogando-o e de mais vida e alegria os inundando. Neste sentido deveria haver mais casas-bibliotecas museus, como polos culturais dinamizadores, constituídas a partir de boas bibliotecas não dispersadas pelas leiloeiras e alfarrabistas, embora certamente estas cumpram um papel bem importante nesse partilhar...
Livros para leilão, em Lisboa...
Não há ainda máquinas digitais que consigam medir a intensidade vibratória que cada livro de uma biblioteca ganhou pela passagem pelas mãos, pela leitura, pelas anotações, pelas trocas psico-energéticas desencadeadas a partir do tabuleiro de xadrez da impressão invertido na cabeça das pessoas e sentido e compreendido na alma em compreensões, intensificações e iluminações...
Alguns de nós, todavia, já terão certamente contemplado por momentos uma estante a certa distância antes de se aproximarem e acolherem o  livro que lhes pareceu mais vibrar ou os chamar. 
Talvez o melhor, quando temos seis ou sete prateleiras à nossa frente, seja escolher uma e depois até ir passando os olhos pelas lombada dos livros, vendo-os a vibrarem, e tentarmos discernir qual é o mais palpitante e tremeluzente que se quer dar às nossas mãos e almas, para depois identificarmos quem o escreveu ou mesmo o anotou. E que talvez deseje diálogos, continuadores e, logo, mais luz e amor no planeta e no cosmos psico-espiritual.
Outra hipótese de trabalho será, depois dessa passagem ou entrada dos olhos-mente nos livros, ficarmos numa percepção desfocada de todos e abrir mais o coração e tentar sentir qual é o que mais nos envia os seus raios, qual é o que mais nos impacta invisivelmente e nos quer fazê-lo arrancar do seu poisio à sombra, quem sabe se já longo, e trazê-lo à luz solar e ao calor amoroso que o ambiente e os nossos olhos, almas e mãos nele introduzem, deles acolhendo tantas potencialidades "suaves, deliciosas, exultantes", três palavras que eu retiro agora da obra antiga que me atraiu de uma estante, as Anotações críticas ao Novo Testamento síriaco, por Egidio Gutbirii, de 1706, impressas em Hamburgo. Mas, vendo melhor o livro, e temos um belo exemplo da riqueza dos livros, da sua capacidade de serem espelhos do passado para o futuro, dou-me conta que a obra tem outro frontispício, começando portanto tanto no fim como no princípio do volume, se o manusearmos da esquerda para a direita, surgindo o começo do Novo Testamento ora em síriaco ora em latim, quem sabe sugerindo-nos que devemos ler e reler aquelas obras que impulsionam mais a nossa religação com a Fonte, com a Sabedoria e Ser Divino, e que constituem portanto o princípio e o fim de tudo...
Os livros são então boas novas, evangelhos, trazendo sabedoria que se acrescenta à nossa, luz sobre luz e, em certos casos, os mais frequentes, os livros sendo já escritos sobre outros livros, introduzem-nos numa cadeia de elos de sabedoria quase infinita, adentrando-nos no vasto campo bibliográfico mundial e no corpo místico dos escritores e pensadores da Humanidade, ou dos seres e temas que eles partilharam...
E, assim, sobre a informação e ambiente  que alguém num presente-passado trabalhou, recriou, descobriu e passou ao futuro, nós agora, os leitores que de novo o retomamos,  reactualizamo-lo de um modo ou outro mais luminoso neste presente e para um futuro que desejamos melhor graças aos nossos contributos...
E tal circulação de saber, energia e graça realiza-se seja pelo que sentimos, anotamos, mencionamos, seja pelo que aprofundaremos e escreveremos já posteriormente e independentemente, cada livro do passado sendo como uma semente lançada de uma planta matura, e estática se ficar em terra estante parada, mas que cresce ao ser lida e se multiplica ao renascer noutra escrita, espaços e tempos, de novo dando ou proporcionando cores e perfumes, ideias e imagens, impulsões e clarificações.
Realcemos de novo as palavras e estados de alma recolhidos há pouco nas três palavras: a suavidade, a elevação e a delícia.
Possam os livros intensificar tais efeitos em nós, fortificando-nos no corpo e na alma das emoções e pensamentos e gerar frutos de vida eterna, ou seja, que iluminando mais as pessoas, as façam reintegrar-se mais harmoniosamente neste planeta, sistema solar e humanidade em história e evolução, de modo a que levemos o que se leu e amou  no corpo espiritual ou de glória, esse com o qual avançamos mais ou menos conscientes, aqui e aquém, rumo a melhores comunhões seja com os outros escritores seja com Divindade, na Unidade amorosa, suave, deliciosa, elevante.
E nestes tempos graves de "cofinagem" nada melhor que os livros, com que mais aprendemos ou nos ligamos beneficamente, para na sua discreta e dialogante biblioterapia, nos apoiarem, harmonizarem, inspirarem, pela disponibilidade, paz, silêncio, suavidade, simplicidade, sabedoria ou mesmo Amor que catalizam em nós e no ambiente...
Ornamento da estrela pentagonal, por Bô Yin Râ