domingo, 5 de outubro de 2025

S. Serafim de Sarov: Instruções Espirituais, 2ª p.: a Oração, a Guarda do Coração e a Luz Divina. Das suas "Instruções espirituais."

 Das Instruções Espirituais dadas por S. Serafim de Sarov e preservadas pelos fiéis que as transmitiram ao monge que as escreveu, eis uma segunda parte de extractos traduzidos da versão que está online: The Spiritual Instructions of St Seraphim. Little Russian Philokalia – Vol. 1: Saint Seraphim,  melhorando-a com a versão  do livro Seraphim de Sarov. Sa Vie, par Irine Gorainof. Entretien avec Motovilov et Instructions Spirituelles, 1979, e ainda com os comentários de S. Inácio de Brianchaninov às Instruções Espirituais contidas no final do livro  publicado por Bubba Free John, The Spiritual Instructions of Saint Seraphim of Sarov, 1973. 

                          Instrução VI -   Do  AMOR a DEUS

«Quem chegou ao amor pleno (variante, perfeito) existe nesta vida como se não existisse (var. vive neste mundo como senão vivesse) pois sente-se ou considera-se um estranho ao que vê (v. ao visível), aguardando pacientemente o invisível. Ele  transformou-se completamente no amor de Deus e esqueceu-se de qualquer outro amor.

Quem se ama a si mesmo não pode amar a Deus. Mas quem, por amor de Deus, não se ama, ama a Deus.
Quem verdadeiramente ama a Deus considera-se um peregrino e um estrangeiro nesta Terra,  pois no seu anseio pleno de alma e intelecto por Deus, contempla-O a sós.

A alma que está cheia do amor de Deus, no momento da sua partida do corpo, não teme o Príncipe do Ar [ou astral inferior, ou demónios], mas voa com os anjos como que indo de um país estrangeiro para a sua terra natal.

                               Instrução X  -  ORAÇÃO
Os que realmente decidiram servir a Deus devem exercitar-se a guardar constantemente a Sua lembrança no coração e a orar incessantemente a Jesus Cristo, repetindo interiormente: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade
(v. misericórdia) de mim, pecador...[Ou, noutra variante, Senhor Jesus Cristo, filho de Deus vivo, tem piedade de mim, pecador.]

Nas horas após a refeição do meio-dia, pode-se dizer a oração assim: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, pelas orações da Mãe de Deus, tem misericórdia de mim, pecador"; ou pode-se recorrer diretamente à santíssima Mãe de Deus, orando: "Santíssima Mãe de Deus, salva-nos"; ou pode-se repetir a saudação angélica: "Ó Theotokos (Portadora de Deus)  e Virgem, alegra-te." 

Agindo assim e  preservando-se de distrações contra a dispersão, e guardando a sua  consciência em paz, pode-se aproximar de Deus e unir-se a Ele. Pois, segundo São Isaac, o Sírio: “Sem oração ininterrupta, não nos podemos  aproximar de Deus” (Homilia 69).
A maneira de orar foi ainda muito bem exposta por S. Simeão, o Novo Teólogo (na Filocalia, “Discurso sobre os três modos de oração”).
O seu mérito foi muito bem descrito por S. João Crisóstomo: “A oração,” disse ele, “é uma grande arma, um tesouro rico, uma riqueza que nunca se esgota, um refúgio imperturbável, uma causa de tranquilidade, a raiz de uma multidão de bênçãos e a sua fonte e mãe” (da antologia eslava Margarit, Discurso 5, “Sobre o Incompreensível”).
Quando se ora na igreja, é proveitoso estar com os olhos fechados com a atenção no interior, e abrir os olhos apenas quando se sentir abatido, ou quando o sono começar a pesá-lo e incliná-lo; então deve-se fixar os olhos num ícone ou numa vela acesa diante dele.
Se na oração  o espírito se dissipar
(var. os pensamentos tomados),  deve-se humilhar diante Deus e pedir perdão, dizendo: "Eu pequei, Senhor, por palavra, acto, pensamento e por todos os meus sentimentos. "
Por isso devemos sempre esforçar-nos por não nos entregar à dispersão dos pensamentos, pois através disso a alma afasta-se da lembrança de Deus e do amor a Ele e, tal  como diz S. Macário, "o intuito principal do inimigo é este – desviar nosso pensamento da lembrança de Deus, e do temor e amor [a Ele] (Discurso 2, cap. 15)."

Quando na oração a mente e o coração estão unidos e os pensamentos da alma não estão dispersos (var. a alma não é perturbada por nada) então o coração enche-se dum calor espiritual e a luz de Cristo brilha, e inunda de paz e alegria todo o ser interior.
Devemos agradecer ao Senhor por tudo e entregar-nos à Sua vontade; devemos igualmente oferecer-Lhe todos os nossos pensamentos e palavras, e esforçar-nos para que tudo sirva apenas ao Seu bom prazer.
                        

                        Instrução XXVI  - Da Guarda  do Coração
Devemos vigiar atentamente o nosso coração e preservá-lo de pensamentos e impressões inadequadas: "Guarda o teu coração com toda a diligência, porque dele procedem as fontes da vida (Prov. 4:23)."  Assim nasce no coração a pureza: "Bem-aventurados os corações puros, pois ele verão a Deus" S. Mateus 5,8)
Da constante guarda do coração, a pureza nasce nele, pureza na qual se contempla o Senhor, de acordo com a certeza da Verdade eterna: "Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus" (Mat.  5:8).

O que de bom entrar no coração, não devemos derramá-lo externamente sem necessidade (var. utilidade); pois o que foi reunido só pode estar livre de perigo de inimigos visíveis e invisíveis se for guardado, como um tesouro, no fundo do coração.
O coração aquecido pelo fogo Divino, ferve quando está cheio de  água viva. Mas se tal água é derramada no exterior, o coração arrefece e a pessoa fica como que gelada.
[Não confessarmos o que vamos realizando, sem ser de certeza certo e útil]

                          Instrução XXVIII     -  A LUZ DE CRISTO
Para receber e contemplar no coração a luz de Cristo, deve-se, tanto quanto possível, desviar a atenção (var. desprender-se) dos objetos visíveis. Tendo purificado a alma previamente pelo arrependimento (var. contrição) e as boas ações, e cheios de fé no Cristo Crucificado, fechando os olhos corporais, mergulhemos a mente no coração, para invocarmos o nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Então, na medida do zelo e calor (var. assiduidade e fervor) para o Bem Amado, a pessoa  encontra no Nome uma delícia (var. consolação e doçura) o que desperta o desejo (var. incita) a buscar um conhecimento (var. iluminação) mais elevada.
Quando, através de tal prática, a mente entra no coração, a luz de Cristo brilha, iluminando a câmara da alma com o seu brilho Divino, como diz o profeta Malaquias: «Mas para vós que temeis o Meu nome, nascerá o Sol da Justiça (Mal. 4:2).»
Ao contemplar interiormente a Luz eterna  a mente é purificada, a pessoa abandona as representações sensoriais e, ao mergulhar na contemplação da Bondade incriada,  esquece tudo que é sensorial e não deseja nem mesmo ver-se a si mesma; e preferiria esconder-se no mais profundo da Terra, para não ser privado do verdadeiro (var. único)  bem – Deus.»

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