quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Kahlil Gibran e o seu discurso inicial sobre o Amor, no seu livro "O Profeta", com breve hermenêutica, e pinturas do mestre libanês.

                                   

                                          
O escritor e pintor libanês Kahlil Gib
ran (6-I-1887 a 10-V-1931) deu à luz deste mundo, e naturalmente nos mundos subtis, em 1923, já vivendo em Nova York, a sua obra mais profunda e bela, O Profeta, entregando à posteridade ou perenidade um discurso sobre o amor, a sabedoria, o prazer, a dor, a Vida, muito citado ou comentado posteriormente, como nós agora, acrescentando-se amor ao Amor, visão à visão, pois inegavelmente fala-nos e toca-nos na linguagem da alma universal e contêm passagens sublimes   Traduzimos uma parte inicial do livro, e escrevemos reflexões numa hermenêutica espiritual. Também contemplará - e ele deixou cerca de setecentas - algumas das suas pinturas e desenhos tão subtis, suaves e espirituais...
                                          
Depois de uma vida muito rica, mas c
urta, de afeições e amor (especialmente com Mary Haskell), escritos e desenhos, e lutando pela independência da Síria e do Líbano do império Otomano, em 1931, Kahlil Gibran abandonou o seu corpo devido a uma cirrose (tal como quatro anos depois Fernando Pessoa, em 1935, outro famoso escritor de vida curta), o qual foi transferido para uma igreja e mosteiro cristão maronita (seu avô era um sacerdote maronita), agora Museu Khalil Gibran, em Bsharri, Líbano, onde ainda é "peregrinado", como no seu epitáfio, escrito por ele,  convocando a si próprio e a nós, num poderoso chamamento para despertarmos à nossa entidade e realidade espiritual imortal:"Estou vivo, tal como tu. E agora estou ao teu lado. Fecha os olhos e olha à volta, e ver-me-ás à tua frente. Gibran"
                                           
Ouçamos então a sua voz e logos perenes, no 1º discurso ou fala, sobre o Amor: 

«Então disse Almitra, Fala-nos do Amor.
E ele levantou a cabeça e olhou para
as pessoas, e sobre elas caiu um silêncio, 
E com uma grande voz ele disse:

[Comentário: Enquanto a alma do Profeta, tão cheia de luz e amor, as envolvia, elas ficaram silenciosas na profunda reverência, amor e expectativas...]

Quando o amor te chamar, segue-o,
Embora seus caminhos sejam difíceis e íngremes.
E quando as suas asas te envolverem, cede-lhe,
Embora a espada escondida entre as suas pinhas possa ferir-te.
E quando ele falar contigo, acredita nele.
Embora a sua voz possa despedaçar os teus sonhos,
tal como o vento norte fustiga o jardim.

[Comentário: Dê as boas-vindas ao Amor com coragem. Não tenha medo dos esforços ou lutas que possa ter de fazer para manter o fogo do Amor ardendo com força, como é o caso quando o Amor brilha ou chama através de alguém, ou num momento de se ousar avançar ou perseverar numa prática ou estado de consciência no caminho espiritual.] 

Pois tal como o amor te coroa, assim ele te crucificará.  Mesmo que  seja para o teu crescimento tal como ele é para a tua poda.
Mesmo enquanto ele ascende à sua altura e
acaricia os teus ramos mais tenros que estremecem ao sol,
Assim ele descerá às tuas raízes e sacudi-las-á do seu apego à terra.
Como feixes de milho, ele reúne-te a si.
Ele debulha-te para te deixar nu.
Ele peneira-te para te libertar das tuas cascas.
Ele mói-te até a brancura.
Ele amassa-te até seres maleável;
E então ele designa-te para o seu fogo sagrado,
 para que possas tornar-te pão sagrado na festa sacra de Deus.

[Comentário: A purificação é certamente um dos aspectos ou efeitos do fogo do Amor em nós: - O Amor torna-nos melhores e, assim, ele  corta os nossos defeitos, para que o espírito, e o amor de Deus e a Deus, brilhem mais, em nós. Estaremos então vibrando no corpo místico da Humanidade, e alimentamos os que inspirarmos e  intensificamos, consciente ou inconscientemente.]


Todas essas coisas o amor fará por ti para que possas
 conhecer os segredos do teu coração, e neste conhecimento tornares-te um fragmento do coração da Vida.

[Comentário: Quais são os segredos do coração, podemos perguntar a Kahlil Gibran, já que ele não os diz. São as suas preferências ou temores, ou antes os segredos espirituais mais específicos, tal os do espírito, as suas formas ou corpos,  capacidades ou poderes, o seu passado e presente, e especialmente sua união subtil com a Fonte Divina, o Fogo Primordial do Amor? Ou há um chamado aqui de Kahlil Gibram para estarmos mais consciente da vida subtil do coração e de sua história íntima?]

Self Contemplate 

Mas se no seu medo procurares apenas
 a paz do amor e o prazer do amor,
Então é melhor que cubras a tua nudez
e saias do chão de debulha do amor,
Para o mundo sem estações onde rirás, mas não todo o teu riso,
e choro, mas não todas as tuas lágrimas.

O amor não dá nada além de si mesmo e não toma
nada senão de si mesmo.

[Não tema as dificuldades do Amor, pois ele é a pérola do oceano, o elixir da Vida, a Fonte. Amor, podemos dizer de uma maneira trinitária, é a essência de Deus e em Deus, e permeia o cosmos como atração e harmonização: Ele está em ti, à medida que a sua centelha divina é mais acesa ou activada pela 
acções abnegadas, a sinceridade, a gratidão e a aspiração de unidade do teu coração. Quando  um destes aspectos  vibrar mais em nós sentimos mais Amor. E quando nos sentirmos tocados por correntes ou fluxos subtis, poderemos pensar ou dizer: estou a ser abençoado pela corrente do Amor, e evitarei o que o bloqueia, esconde ou impede a sua ressonância no campo unificado ou anima mundi.]

O amor não possui nem será possuído;
Pois o amor é suficiente para o amor.

[O amor não precisa de nada nem de ninguém, e não pode ser capturado, pois é o fogo do Amor invencível ardendo, pedindo que abandonemos medos, dores e limitações e  abracemos o Fogo Divino com o amado ou amada, ou também com a Face Divina amada por nós, o ishta devata, da tradição indiana.] 

Quando amas, não deves dizer,
"Deus está no meu coração," mas sim, "Eu sou [ou estou]
no coração de Deus.”

[Comentário: Podemos dizer que há duas maneiras principais de se expressar a consciência da presença do Divino e do Amor em nós: ou o Deus vivo dentro de nós, ou o sentimento de estar dentro do coração de Deus, de facto raro e difícil,se entendermos o coração quase inalcançável do Ser Divino, mas natural se o coração de Deus significar simplesmente amor. Eu diria: Estou a sentir o Amor que permeia todo o Cosmos, e que simultaneamente irradia do Coração e toca todo o meu ser, especialmente quando estou com o ser amado. Certamente raramente poderemos sentir e ver o Deus vivo dentro de nós, não apenas o Amor, mas o seu Ser, ou o seu rosto pessoal para nós, como por exemplo é desenvolvido na tradição mística do Ishta devata dos espirituais indianos.]



E não pe
nses que podes dirigir a direcção
do amor, para o amor, pois se ele te achar digno,
ele dirigira a tua carreira [ou direcção].

O amor não tem outro desejo senão o de se realizar [cumprir].
Mas se amas e precisas ter desejos,
que estes sejam os seus desejos:
Derreter e ser como um riacho correndo
que canta a sua melodia para a noite.
Conhecer a dor da  muita ternura.
Ser ferido pela tua própria compreensão do amor;
E sangrar voluntariamente e alegremente.
Acordar na aurora com um coração alado
e dar graças por mais um dia de amor;
Descansares ao meio-dia e meditar no extase do amor;

Retornar para casa ao entardecer com gratidão;
E então dormires com uma oração para o
amado no teu coração e uma canção de louvor
sobre os teus lábios.»

[Comentário final: Que o Amor divino seja o teu sol interior durante  o teu dia e trabalho, e quando voltares para casa após o trabalho feito com amor, abraça os teus seres mais queridos, e reze ou medita com muita gratidão e amor ao Divino e ao seus companheiros e amigos mais perenes, santos e santas, mestres e anjos.
Que possamos comunicar ou comungar com Kahlil Gibran no Amor de Deus, que possamos brilhar como profetas do Amor, ou Cavaleiros do Amor, tão famosos nas tradições portuguesas e orientais, nesta tão agitada e sofrida terceira década do séc. XXI]
 

 

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