Poderemos admitir também que sendo Kahlil Gibran (1883-1931) um ser de grande amor pela Vida, e lutador pela liberdade dos sírios e libaneses da opressão turca otomana, e conhecendo os aspectos unitivos no acto de fusão amorosa, poderá valorizar o amor no casamento em si, não só pela criança psico-física que possa nascer mas sobretudo pelo desabrochar do corpo espiritual de glória e da unidade, pelo intensificar da chama do amor, ou mesmo pelo renascer maior da Divindade enquanto Luz e Amor criativo e benéfico em nós, pois na união e fusão amorosa reflectimos o a Primordialidade doadora da Vida, sobretudo se nesse momento estamos ou sincronizamos em plena reciprocidade anímica.
«Então Almira falou de novo e disse, E acerca do Casamento, mestre?
E ele respondeu dizendo:
Vós nascestes junto, e juntos estareis para sempre.
Estareis juntos quando as asas brancas da morte dispersarem os vossos dias.
Sim, estarei juntos mesmo na memória silenciosa de Deus.
Mas que haja espaços no vosso estar juntos [ variantes possíveis: em junção, na vossa conjunção, no vosso estado de união, no vosso ser conjunto.]
E que os ventos dos céus dancem por entre vós.
Que cada um ame o outro, mas não faça um obrigação de amor [ uma cadeia, laço, prisão. vínculo, ou compulsão de amor],
Que seja [o amor] mais um mar que ondula entre as costas [ou praias] das vossas almas.
Enchei a taça um do outro mas não bebei de uma só taça.
Dai um ao outro do vosso pão mas não comei do mesmo pão.
Cantai e dançai juntos e sede alegres, mas deixai que cada um esteja só.
Tal como as cordas da lira estão sós apesar de estremecerem [vibrarem ou palpitarem] com a mesma música.
Dai os vossos corações, mas não para a guarda do outro [ou para que o outro o guarde]
Pois só a mão da Vida pode conter os vossos corações.
E estejais de pé juntos porém não demasiado próximos:
Pois os pilares do templo erguem-se separados,
E o carvalho e o cipreste não crescem na sombra um do outro.»
Vai simplesmente aconselhar as pessoas a não se sufocarem, nem oprmirem, nem se prenderem entre si num amor que seria então possessivo ou impositivo.
Apenas em duas ou três palavras do discurso podemos hesitar qual será a melhor tradução e cada deverá sentir por si, e para o seu caso, no que pode mudar no tempo até, tendo eu posto outras hipóteses curiais. De mais subtil entendimento será talvez a frase "estareis juntos mesmo na memória silenciosa de Deus"..
Talvez então o mais extraordinário ou desafiante seja a pintura que el escolheu e que talvez os especialistas de Kahlil Gibran saberão das razões ou intenções. E certamente os ilustradores novos desenharão de modo diferente, conforme sentem o casamento a partir das linhas e entrelinhas da oração-poema e sua ressonância no nosso coração e amor.
É uma sanguínea misteriosa, simbólica, diáfana, com sublimidade de Amor e da União ou Casamento.
Na minha hermenêutica direi que a mulher deitada e debaixo representa tanto a Terra como a Humanidade e ela oferece, abençoa ou projecta-se no casal ou casamento, no qual o homem recebe a mulher com muito amor e veneração, sobre a terra escura e sob um céu e fundo duma claridade extraordinária, transfigurante, divina mesmo.
Possamos nós realizar as nossas uniões ou casamentos luminosamente, tal como Kahlil Gibran, e nesta parte do seu ensinamento mais pelo desenho do que pelas palavras, conseguiu representar, incarnar, avatarizar na terra: os dois seres que se unem em casamento erguendo-se respeitosos e cuidadosos da personalidade de cada um mas frementes ou vibrantes da unidade do amor criador, não asfixiante ou livre, e perenizante.
«And what of Marriage, master'?
And he answered saying:
You were born together, and together
you shall be forevermore.
You shall be together when the white
wings of death scatter your days.
Aye, you shall be together even in the
silent memory of God.
But let there be spaces in your together ness,
And let the winds of the heavens dance
between you.
Love one another, but make not a bond of love:
Let it rather be a moving sea between the shores of your souls.
Fill each other's cup but drink not from one cup.
Give one another of your bread but eat not from the same loaf.
Sing and dance together and be joyous,
but let each one of you be alone,
Even as the strings of a lute are alone
though they quiver with the same music.
Give your hearts, but not into each other's keeping.
For only the hand of Life can contain your hearts.
And stand together yet not too near together:
For the pillars of the temple stand apart,
And the oak tree and the cypress grow
not in each other's shadow.

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