quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Alexander Dugin e o conflito actual: Tomahawks, Aposta Nuclear e o adeus ao MAGA de Trump. Versão bilingue brevemente comentada.

                        

 Alexandre Dugin, o pai da mártir Daria Dugina Platonova, grande esperança mundial filosófica e geo-política assassinada  na florescência da sua juventude pura, é hoje um dos melhores filósofos e geo-estrategas, nomeadamente da civilização Euroasiática, da Multipolaridade, da Tradição e Filosofia Perene, e, talvez dinamizado pela trágica da musificação martir da sua filha, escreve praticamente todos os dias um texto valioso, que circula por alguns canais alternativos russos, ligado a uma visão tradicional do mundo e que para muitos é apenas conservadorismo e de Direita quando na realidade está bem acima da distinção de Esquerda e Direita, tanta vez ilusória e manipulada e servindo  para criar mais divisões conflituosas nas pessoas, sociedades e necessárias dinâmicas transformadoras conscienciais, sociais e políticas, espirituais, enquanto a elite mundial liberal globalista e infrahumanista vai tentando controlar as sociedades já amplamente infiltradas pelos seus agentes e avençados, políticos e amilhazadores...

Hoje dia 30-X saiu a versão inglesa da  comunicação proferida na conferência Mundial de Estudos sobre a China, realizada a 14 de Outubro na China,  a qual constitui uma reflexão importante sobre o estado actual (e já alterado com os 15 dias que se passaram), do conflito entre a Rússia e o Ocidente colectivo, nomeadamente a possível escalada da situação caso o fornecimento de armas ao megalómano insensível Zelensky se torne passível de nuclearização,  analisando ainda bem o principal chefe do Ocidente, Donald Trump,  quanto ao carácter, comportamento e possíveis consequências das suas decisões no pano de fundo cada vez mais evidente do seu afastamento da posição inicial anti-globalista e anti-imperialista, do Movimento popular republicano Maga  e da sua oposição, à cabeça do Ocidente (com a hubrica e inepta direcção da União Europeia), à justa e necessária multipolaridade equitativa que o BRICS começa a consubstanciar.

 Oiçamos Alexandre Dugin: 

 «Enviar mísseis Tomahawk para a Ucrânia seria, na prática, equivalente a iniciar uma guerra nuclear. A Ucrânia, simplesmente, não possui a tecnologia ou infraestrutura necessária para lançar tais mísseis para o território russo. Devido a essas limitações técnicas, apenas as forças norte-americanas poderiam realmente operá-los - o que significaria que os Estados Unidos estariam, na prática, entrando numa guerra direta e aberta com a Rússia.
Se uma potência nuclear ataca outra, o resultado é, por definição, uma guerra nuclear. Além disso, os mísseis Tomahawk são capazes de transportar ogivas nucleares. Não haveria modo de verificar se tais mísseis estariam armados com ogivas nucleares, nem haveria tempo para o confirmar. Se algum deles atingisse o território russo, Moscovo quase que certamente retaliaria com armas nucleares estratégicas. Isto significaria que o conflito já não seria apenas entre a Rússia e a Ucrânia. A Rússia já está em guerra com a Ucrânia de uma maneira não declarada - mas não com os Estados Unidos.
Se o Presidente Trump realmente procura a paz [e queria ser prémio Nobel da Paz apoiando o genocído da Palestina e tentando atacar a Venezuela], ele deve evitar tais decisões imprudentes. No entanto, Trump tem mostrado repetidamente inconsistência - dizendo uma coisa e fazendo outra. É difícil compreender a lógica por trás de suas acções, que muitas vezes parecem erráticas e contraditórias.
Como presidente dos Estados Unidos, a principal potência militar do mundo, as suas palavras não podem simplesmente ser ignoradas. Trump continua a ser uma figura política séria, mas as mensagens mistas e muitas vezes irracionais que ele envia tanto aos aliados quanto aos rivais são profundamente preocupantes.
A situação já é perigosamente instável. Devido ao comportamento imprevisível de Trump, o mundo está 
hoje à beira de uma potencial catástrofe nuclear. A contradição é impressionante: como pode ele elogiar o Presidente Putin enquanto ao mesmo tempo ameaça enviar mísseis contra a Rússia?
Talvez isso reflita um padrão familiar na cultura empresarial americana - um estilo de negociação agressivo que depende de pressão e jogo de poder. Embora tais tácticas possam funcionar em negociações de comércio ou finanças, aplicá-las à diplomacia nuclear é profundamente irresponsável.
Mesmo que as declarações de Trump sejam apenas ameaças, numa atmosfera tão tensa elas 
facilmente  podem  ser mal interpretadas como intenções genuínas. A reação a tal mal-entendido poderia ser catastrófica. A sua retórica é, portanto, extremamente perigosa.
O movimento Make America Great Again (MAGA), Faz a América Grande novamente, parecia 
desde o início reconhecer a ideia de um mundo multipolar. Posicionava-se contra o intervencionismo globalista e as políticas da elite liberal que dominava Washington antes. No entanto, Donald Trump  afastou-se dessa posição original.
Se ele tivesse permanecido fiel aos princípios do MAGA, poderia ter sido possível limitar as reivindicações dos Estados Unido à dominação global e construir um relacionamento mais construtivo entre Washington e Moscovo. A reunião em Anchorage, na Antárctida,  ofereceu 
uma vez um vislumbre de como tal progresso poderia ser alcançado.
Essa oportunidade foi real, e não deve ser esquecida. Por um breve momento, os Estados Unidos pareceram próximos de recuar em suas ambições universais e reconhecer uma ordem multipolar. Mas Trump hesitou. Expressou apoio a essa direção, mas muito rapidamente mudou de ideia.

                                                
Essa inconsistência [psicológica de ser volúvel, impulsivo e um catavento sujeito a múltiplas pressões e chantagens] explica por é que as suas políticas muitas vezes se contradizem. Um dia, ele afirmou ter resolvido a questão das tarifas com a China; no dia seguinte ameaçou impor tarifas de 100 por cento. Esta é uma política incoerente, [resultado de saber e estudar pouco a complexa interacção mundial e acabar por ser uma folha branca ao vento de qualquer escriba.]
Quando a questão é apenas de comércio, tal inconsistência já é prejudicial. Mas quando se trata de uma confrontação nuclear, torna-se muito mais séria - potencialmente irreversível. O mundo está agora num estado extremamente frágil e volátil.
O mundo unipolar está desaparecer, e a multipolaridade está a começar a tomar forma. No entanto, nenhum dos processos atingiu um ponto sem retorno. O equilíbrio de poder permanece delicado: a multipolaridade fortalece-se a cada dia, mas a incerteza ainda prevalece.
Desde o início, os ideólogos do MAGA vislumbraram melhorar as relações entre os EUA e a Rússia e reduzir o apoio militar, político e financeiro dos EUA à Ucrânia. Ao mesmo tempo, no entanto, eles pretendiam manter a competição económica com a China, incluindo a nacionalização de alguns activos chineses dentro dos Estados Unidos.
Nesse sentido, a abordagem do MAGA em relação à multipolaridade nunca foi totalmente consistente. Prometeu relações mais amigáveis com a Rússia, mas adotou uma postura cada vez mais confrontadora em relação à China.

                      
     
Ibrahim Traoré e Vladimir Putin, dois dos mais carismáticos líderes mundiais!

Hoje, não há nenhum partido político, movimento ou força importante nos Estados Unidos que aceite plenamente a multipolaridade enquanto busca de relações amigáveis com a Rússia, China, Índia, o mundo islâmico e a África. Nesse sentido, a rejeição original do MAGA à globalização e ao liberalismo foi um começo promissor - pelo menos apontou numa direção que poderia levar a relações mais racionais entre as grandes potências.
Essa ideia ofereceu então a esperança de um relacionamento equilibrado entre grandes civilizações, tais como os Estados Unidos, Rússia e China - baseadas no realismo em vez da ideologia.
No entanto, Trump já não segue esse caminho. Ele age sem uma estratégia coerente ou uma visão de mundo clara, o que apenas aprofunda a instabilidade global. A sua administração [tão fraquinha culturalmente] tem demonstrado hostilidade em relação à Rússia, China e até mesmo à Índia—uma nação há muito considerada aliada dos EUA.
A única lealdade consistente que Trump parece manter é em relação a Israel e ao Primeiro-Ministro Netanyahu. Seu apoio inabalável a eles mostra que continua a ser um sionista comprometido. Em todas as outras áreas da política internacional, ele é inconsistente e imprevisível.
Nessas condições, é difícil imaginar relações estáveis ou estrategicamente equilibradas entre os Estados Unidos, a Rússia, a China e a União Europeia. O mundo entrou num período de desordem. Se a humanidade deseja construir um sistema justo e verdadeiramente multipolar, esta luta tem primeiro que ser vencida.»


                            Tomahawks, Nuclear Gamble and Trump’s MAGA Farewell
At the World Conference on China Studies on October 14, 2025, Alexander Dugin delved into Donald Trump’s recent ambiguity toward Russia and Ukraine, as well as his divergence from MAGA.

«Sending Tomahawk missiles to Ukraine would, in effect, be equivalent to starting a nuclear war. Ukraine simply does not have the technology or infrastructure needed to launch such missiles into Russian territory. Because of these technical limitations, only American forces could actually operate them—meaning that the United States would, in practice, be entering a direct and open war with Russia.
If one nuclear power attacks another, the result is by definition a nuclear war. Moreover, Tomahawk missiles are capable of carrying nuclear warheads. There would be no way to verify whether these missiles are armed with nuclear payloads, and there would be no time to confirm it either. If any of them were to strike Russian territory, Moscow would almost certainly retaliate with strategic nuclear weapons. That would mean the conflict was no longer between Russia and Ukraine alone. Russia is already at war with Ukraine in an undeclared sense—but not with the United States.
If President Trump truly seeks peace, he must avoid such reckless decisions. Yet he has repeatedly shown inconsistency—saying one thing and doing another. It is difficult to grasp the logic behind his actions, which often seem erratic and contradictory.
As the president of the United States, the world’s leading military power, his words cannot simply be dismissed. Trump remains a serious political figure, but the mixed and often irrational messages he sends to both allies and rivals are deeply worrying.
The situation is already dangerously unstable. Because of Trump’s unpredictable behavior, the world today stands on the edge of a potential nuclear catastrophe. The contradiction is striking: how can he praise President Putin while at the same time threatening to send missiles against Russia?
Perhaps this reflects a familiar pattern in American business culture—an aggressive bargaining style that relies on pressure and brinkmanship. While such tactics might work in negotiations over trade or finance, applying them to nuclear diplomacy is profoundly irresponsible.
Even if Trump’s statements are only meant as threats, in such a tense atmosphere they could easily be misinterpreted as genuine intentions. The reaction to such a misunderstanding could be catastrophic. His rhetoric is, therefore, extremely dangerous.
The “Make America Great Again” (MAGA) movement, from the beginning, seemed to recognize the idea of a multipolar world. It positioned itself against globalist interventionism and the policies of the liberal elite that dominated Washington before. Yet Trump has drifted away from this original stance.
If he had remained true to MAGA’s principles, it might have been possible to limit America’s claims to global dominance and build a more constructive relationship between Washington and Moscow. The meeting in Anchorage once offered a glimpse of how such progress could be achieved.
That opportunity was real, and it should not be forgotten. For a brief moment, the United States seemed close to stepping back from its universal ambitions and acknowledging a multipolar order. But Trump hesitated. He voiced support for this direction, then immediately reversed course.
Such inconsistency explains why his policies often contradict one another. One day, he claimed to have solved the tariff issue with China; the next, he threatened to impose 100 percent tariffs. This is incoherent politics.
When the issue is trade, such inconsistency is already damaging. But when it concerns nuclear confrontation, it becomes far more serious—potentially irreversible. The world is now in an extremely fragile and volatile state.
The unipolar world is fading, and multipolarity is beginning to take shape. Yet neither process has reached a point of no return. The balance of power remains delicate: multipolarity grows stronger each day, but uncertainty still prevails.
From the outset, MAGA ideologues envisioned improving U.S.–Russia relations and reducing American military, political, and financial support for Ukraine. At the same time, however, they intended to maintain economic competition with China, including the nationalization of some Chinese assets within the United States.
In that sense, MAGA’s approach to multipolarity was never entirely consistent. It promised friendlier relations with Russia but took an increasingly confrontational stance toward China.
Today, there is no political party, movement, or major force in the United States that fully accepts multipolarity while seeking friendly relations with Russia, China, India, the Islamic world, and Africa. In this regard, MAGA’s original rejection of globalization and liberalism was a promising start—it at least pointed in a direction that could lead to more rational relations among great powers.
That idea once offered hope of a balanced relationship between major civilizations such as the United States, Russia, and China—based on realism rather than ideology.
However, Trump no longer follows that path. He operates without a coherent strategy or clear worldview, which only deepens global instability. His administration has displayed hostility toward Russia, China, and even India—a nation long considered a U.S. ally.
The only consistent loyalty Trump seems to maintain is toward Israel and Prime Minister Netanyahu. His unwavering support for them shows that he remains a committed Zionist. In all other areas of international politics, he is inconsistent and unpredictable.
Under these conditions, it is difficult to imagine stable or strategically balanced relations among the United States, Russia, China, and the European Union. The world has entered a period of disorder. If humanity is to build a fair and truly multipolar system, this struggle must first be won.» Editor: Yangwen

Sem comentários: