| Quem quiser colaborar na Antologia da Poesia das Nuvens é bem vindo.. |
João Marques dos SANTOS foi um notável cientista e professor da Faculdade de Medicina de Coimbra, onde chegou a catedrático. Nascera na cidade do Mondego, 16.12.1880 e deixou a Terra também em Coimbra, em 8.12.1941. Estudara Matemática e Filosofia e Medicina, especializando-se em Anatomia Patológica e Patologia Geral, tendo publicado vasta obra científica, e duas obras poéticas.
É da segunda deles, Coimbra em Flor, impressa na livraria Portugália em 1923, que extraímos o belo e bem fundamentado poema intitulado Nuvens, e recolhemo-lo do exemplar oferecido a Luís Derouet, o malogrado director da Imprensa Nacional, quando este era jornalista: «Ao Ex. Sr. Luiz Derouet, ilustre redactor do "Diário da Tarde", homenagem de sentida admiração pelo seu carácter e pelo seu belo talento.
Coimbra, 3-XII-925
Marques dos Santos.»
Toldando o céu azul de sombras caprichosas
Em montanhas de dor que sobem vaporosas
A clara luz do Sol em névoas escondendo...
Rendilhadas recortes de figuras breves
Congregadas neblinas dando as mãos pelo ar,
As nuvens vão subindo, espiralando leves
Como flocos d'arminho ao vento a baloiçar!
Umas se tornam fortes cumes de montanhas,
Outras agulhas formam d'altas catedrais,
Agitam-se febris, rasgando as entranhas,
As nuvens que se elevam em danças medievais.
Avalanchas de neve os espaços cruzando
O vento as transfigura e logo despedaça:
No cortejo os milhafres rondam esvoaçando
Fúnebres caçadores a procurarem a caça...
Cavalgada sidéria, deambulando corre
Seguindo heroicamente o carro da vertigem;
Entre os mil cavaleiros a neblina morre
Como o véu duma noiva ao deixar de ser virgem.
Pesadelos dispersos dum mundo fatigado
Em castelos de bruma as formas esbatendo;
Águas do mar imenso, velho torturado
Suas almas errantes pelo azul plangendo...
Arminhos flutuantes de rasgadas velas
Oriundas dos beijos das deusas do Mar;
Como vagas d'espuma feitas caravelas
Numa ânsia de glória, sempre a caminhar!
Como vagas d'espumas a nuvem foi-se erguendo
Toldando o céu azul de sombras caprichosas,
Em montanhas de dor que sobem vaporosas
A clara luz do Sol em névoas escondendo!»
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