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| Pintura de Nicholai Roerich, sobre a sacralidade e o culto do livro. |
Uma tarefa nada fácil dada a quantidade de livros e de autores que rodeiam ou envolvem os bibliotecários, alfarrabistas e bibliófilos, pois muitos autores e livros desejam que os ressuscitemos dum olvido centenário, frustrante para quem neles transmitiu vivências e ensinamentos belos, valiosos, importantes.
Mas como discernir e sobretudo hierarquizar os que devem ser mais revisitados ou consultados, quando o bibliotecário, livreiro ou bibliófilo o faz sozinho e com as limitações de tempo disponível para tal missão, que deveria ser benéfica nas duas direcções, para eles autores, a maioria já no misterioso Além, e para nós leitores, pensadores ou contempladores do séc. XXI, ou do futuro?
Se forem vários a fazê-lo, as escolhas corresponderão mais às necessidades da almas contemporâneas que os venham a ler, pois houve uma convergência de sensibilidades e de conhecimentos valiosos, e neste dinamismo entram as grandes bibliotecas quando organizam mostras ou comemorações de autores, temas e livros, e conheci bem o sábio humanista José Vitorino de Pina Martins, que organizou ou presidiu a algumas bem valiosas, nomeadamente na Biblioteca Nacional, em Lisboa.
Com as limitações do amador da pequena biblioteca, que alguns de nós somos, mais ou menos, tudo vai fluindo à sorte ou segundo a deusa Fortuna, pelo que brota do ambientes, meditações, encontros, conversas, sonhos, meditações, amores resultando de tudo disso linhas de força valorativas ou preferenciais que se afirmam, em geral porque as consideramos, ou elas se nos impõem subtilmente, como importantes de se manifestarem, aprofundarem ou divulgarem.
Consideramos tarefas ou missões importantes dos amantes do Livro abrir os olhos das pessoas para as manipulações a que estão sujeitas e que em geral lhes diminuem o discernimento, a luz, a verdade, a multipolaridade. Inspirar e fortalecê-las na resistência e superação dessas forças negativizantes. Transmitir energias e ensinamentos de pessoas que conhecemos e já partiram e têm logo menos voz nos nossos dias, ou dos autores que mais gostamos e que pensamos merecem ser relidos, meditados, dialogados.
Partilhar, também, o que vamos conhecendo e aprofundando das temáticas culturais, artísticas e espirituais que mais sabemos, sentimos ou demandamos, de modo a que haja mais pessoas bem fundamentadas e orientadas nos seus caminhos de individualização e acção justa, de realização espiritual e de ligação divina.
É certo que cada vez mais a comunicação se processa digitalmente, nos computadores e telemóveis, e que os livros em papel sofrem com tal, pois há cada vez menos tempo e ocasiões para os ler, muito visível, nomeadamente, nos transportes públicos em que são já poucas as pessoas que o fazem, face às que interagem nas redes sociais. Como reagir a tal?
Lermos livros nos transportes públicos. Criarmos as nossas listas de leitura e escrita sobre autores, livros, temas. Mantermos uma ou duas prateleiras com os autores preferidos ou a serem trabalhados. Orarmos ou invocarmos um ou outro autor que mais admiramos. Lermos ou estudarmos com uma ou mais pessoas um livro, ou um autor. Relermos as anotações escritas nas margens dos livros e aprofundá-las, as quais podem entrar ou vir a formar um artigo ou livro. Mantermos um blogue ou um site onde partilhamos as nossas investigações, descobertas, gostos, discussões, demandas, sugestões de leitura e donde poderão sair um ou mais livros no futuro, serão então modos de mantermos o culto do Livro e sua sabedoria vivo e dinâmico.
Ou ainda, para concluirmos, ver ou contemplar numa estante a palpitação éterica dos livros e levar à mão um e abri-lo e receber ensinamentos, o que mais simplesmente, se denomina istixara no Irão, onde pratiquei e vi realizar por clérigos e leigos: concentrar-se ou orar um pouco, abrir um livro sagrado, seja de religião seja de poesia (Sa'adi e Hafiz, os mais amados e até lidos de cor), e receber a mensagem da página, do livro, do autor e das sincronias cósmicas.
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| Sa'adi, num jardim de rosas, numa ilustração dum livro persa. |
Eis algumas linhas de uma página, dum artigo, quem sabe se um dia impresso, dedicado ao amor dos livros e bibliotecas e à ligação frutífera entre os vivos e mortos ou, melhor, espíritos encarnados e desencarnados, no Corpo Místico da Humanidade, a antiga Anima mundi, hoje denominada Campo unificado de energia, consciência e informação, em que estamos todos entretecidos...
Boas leituras e diálogos, intuições e sincronias, descobertas e partilhas! Lux, Amor!


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