sexta-feira, 28 de março de 2025

Francisco Moraes Sarmento, um heterodoxo e fiel da Filosofia Portuguesa, deixa a Terra. 1960-2025. Breve notícia e oração.

João Botelho apresenta o último livro do Francisco (sentado): uma incursão no mundo mais elevado do Amor,  em 2012: Madalena, fragmentos dum romance.

O Francisco Moraes Sarmento, que nascera em 1960 em Coimbra e que muito jovem convivera com Miguel Torga, foi um notável pensador, jornalista, escritor, e em especial um discípulo da Filosofia Portuguesa, tanto dos seus fundadores Leonardo Coimbra e Teixeira de Pascoaes, como em especial e de boca a ouvido de Álvaro Ribeiro, José Marinho, Orlando Vitorino, Luís Furtado e Afonso Botelho, ou mesmo Dalila Pereira da Costa e António Quadros, este polarizando através de revistas e do IADE bastantes iniciativas e encontros. Participou em várias tertúlias, grupos e comemorações, trabalhou em revistas e jornais (tais Diário de Coimbra, Tempo, Diário de Notícias e Semanário), dirigindo mesmo algumas, tal a valiosa revista de filosofia Leonardo, entre 1988 e 1989 (no 1º número, com um fulgurante diálogo com o dilecto amigo Sant'Anna Dionísio: "Não percam tempo, não percam tempo"). Depois de intervir activamente no jornalismo e na dinamização cultural em Angola, estava nestes últimos anos à frente de jornais de bairro lisboetas e da linha, tais O Freguês de Benfica, O Freguês de Carcavelos Parede, zonas onde residiu, e ainda outros três, congregando uma valiosa equipa de colaboradores. Aliando bem dinamicamente à cabeça pensante o coração e afectividade intensa, beneficiou de valiosas vivências de amor, ou casamentos, que teorizou, e deixou descendência de boa qualidade anímica.
Esta revista de geração, da qual o Francisco foi o fundador e director, congregou valiosos colaboradores e contributos,  dos quais destacaremos os de Dalila Pereira da Costa (nº 2 e 4º), Jorge Preto(nº 5-6), Garcia Domingues (nº4), José Blanc de Portugal (nº3), além dos bons textos do próprio Francisco, um dos quais bem crítico da manipulação da informação e do jornalismo, tão actual nas narrativas oficiais da União Europeia.
Era a par de um dialogante nato, e um bom apreciador do banquete, um solitário, um heterodoxo ou questionador no seio do grupo dos discípulos de Álvaro Ribeiro, e nas comemorações dos 150 anos da Filosofia Portuguesa, realizados em Sesimbra em 2007, na sua comunicação intitulada O Lugar dos Solitários, alertava para não nos distrairmos pelos obstáculos no caminho interno ascensional: «A iniciação autognósica, far-se-á segundo a idealidade da escola formal [sobre a qual Álvaro Ribeiro teorizou bastante]. Tudo o resto é obstáculo ao movimento que vai da alma ao espírito. E há ainda os que apenas ficam na sombra e discutem o obstáculo, sem desconfiarem que a sombra é ausência de luz.» 
E na sua ânsia de liberdade e livre conhecimento clamava, talvez com certo optimismo no generalização do uso da razão ou Logos: «O Espírito não se licencia, nem carece de autorização de seita, associação, sociedade ou ordem. A tradição é palavra, acto de razão, e todos a ela têm acesso. Tudo o que há a saber pode-se saber e a todos é dado. A inteligência [ou a presença do Logos em cada um de nós] determina o grau de saber, visão ou teoria.»
Breve saudação de avanço na Luz e no Amor, rumo ao centro Divino, ó Francisco...
Partiu quando estava em pleno lançamento duma Fundação e Biblioteca da Filosofia Portuguesa em Movimento, para o qual juntara muitos livros e documentos, e sobre a qual dialogáramos, nomeadamente aquando das mortes da sua mulher e do Luís Furtado, consultando-me posteriormente. No dia 18 de Março falei-lhe eu pelo entardecer mas, prestes a deixar a vestimenta terrena, já não ouviu ou atendeu... Lux, Amor! 
Acrescento duas fotografias captadas a 27 de Março em Alcobaça, onde fui participar numa homenagem a Pedro e Inês, junto ao sublimes monumentos ao Amor eterno, evocando os Anjos protectores sobre ele. 
    Muita Luz e Amor no teu caminho ascensional, caro Francisco. Que o Álvaro Ribeiro, o Leonardo Coimbra e demais seres de Luz te assistam! 
  Anexo a ligação a um vídeo (o 1º de três) gravado há 12 anos no qual ele partilha as suas vivências e a sua teorização do Amor (e acabara de publicar o seu Madalena, fragmentos dum romance, 2012), num animado convívio platónico em casa do Manuel Bernardes, e em que participou ainda o João Botelho.
Com o Luís Furtado, realizámos outros encontros, alguns registados, como pode ver no meu canal do youtube, tal como o referido e agora anexado: https://www.youtube.com/watch?v=4eJrTUEWcOs

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