quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Nicholai Roerich, no seu 150º aniversário (1874-1947), comemorado em Portugal. 9 de Outubro de 2024

                                                           

Uma escultura de Nicholai Roerich, inaugurada em Izvara, santa Rússia, no dia em que perfez subtilmente 150 anos.

Celebrando-se hoje 9 de Outubro de 2024 os 150 anos do nascimento do notável mestre Nicholai Konstantinov Roerich e tendo já escrito alguns textos sobre ele e a sua vida neste blogue, e atarefado com alguns trabalhos, mesmo assim não queremos deixar de o lembrar e comemorar, partilhando algumas pinturas, acompanhadas de pensamentos e sentimentos que testemunhem o seu valor e a sua actualidade para que impulsionem a nossa apreciação e realização espiritual.

Nicholai, Helena e os dois filhos George e Svetoslav, em Naggar, contrafortes do vale de Kullu, norte da Índia.
Embora a sua obra escrita como mestre espiritual, pensador, esteta, pedagogo, arqueólogo, cientista, pacifista e universalista seja sempre muito valiosa de se ler e meditar, são talvez as suas pinturas (e foram sete mil) o que mais efeitos têm gerado, considerando alguns que, realizadas com materiais tradicionais, infundidas com a sua energia psíquica ígnea, por ele tão estudada, aprofundada e manifestada, adquiriram um carácter vibratório e causal capaz verdadeiramente de tocar as almas e influenciar o cérebro e neurónios,  e ter portanto efeitos harmonizadores, terapêuticos e  espirituais,  embora mais em quem as vê ao vivo, também operativas nas reproduções...

Uma das pinturas em tempera muito apreciada é a de Santo Panteleão, o curador, colhendo ervas nas montanhas, e que contemplada mais demoradamente permite às pessoas receberem por transmissões e ressonâncias subtis  as energias ou inspirações necessárias a melhorarem e a curarem-se, se a fé for poderosa, dir-se-á, aqui não havendo que mover  montanhas, mas apenas ascende-las, imaginalmente, e sabemos como a visualização do que se peticiona na oração é considerada uma condição indispensável por alguns mestres da oração, tal  Bô Yin Râ, outro valioso pintor e mestre (1876-1943), conforme seu livro A Oração, traduzido laboriosamente do alemão e dado à luz recentemente em poucos exemplares.

Em 1941, a contraparte polar de S. Pantaleão foi criada, a Vasilisa, a Bela, a jovem inicianda de vários contos tradicionais e de fadas russo - que foi desenhada em livrinho fabuloso por Ivan Bilibin (1876-1942, um amigo de Roerich) -, colhendo flores e ervas, e que serve também de ícone tanto curativo como protectivo, para quem quer orar e contemplar tal inspiradora imagem arquétipa e iniciática.

O Livro das Pombas é outra obra, de 1922, em que a interseção do passado e do futuro se realiza para o desabrochamento de um novo estado de consciência e da humanidade e nela vemos um enorme livro aberto a ser  admirado e consultado junta a uma igreja e a uma congregação de devotos, sendo pombas o que se liberta das suas páginas, e é um apelo a uma escrita harmonizadora e libertadora da Humanidade e não manipuladora, enganadora e violenta, como acaba por suceder a várias Escrituras sagradas com concepções de Deus algo primitivas e  que não são abertas nem lidas como livros de pombas da paz, mas de antes de povos ou religiões eleitas ou superiores. A sua actualidade é grande e o seu tamanho convida-nos sugestivamente a mergulhar no grande Livro dos livros (que já abordei neste blogue), que contém as melhores páginas e em que algumas linhas estão ainda em branco para nós e os nossos tempos as completarmos, tal como na Tradição Espiritual Portuguesa o reconheceram Antero de Quental e Natália Correia chamando-lhe bem adequadamente, na linha dos espirituais fioristas, o Evangelho Eterno, a Boa nova,  a Boa mensagem perene.

Drops of Life, Gotas da Vida é outra das pinturas, de 1924, bem profunda de sentimentos e misteriosa de significados e que tem inspirado muitas almas a sentir a abertura e elevação pura ao alto, sabendo olhar o abismo sem receio. Se está à espera que a sua bilha seja enchida pelo fio de água da fonte pura, para depois levar para a sua casa ou aldeia, ou se apenas medita junto a uma fonte harmoniosamente sonora, não é evidente, mas quem a contempla sente uma grande serenidade e abertura às montanhas ao espaço silencioso, infinito e sagrado, exterior e interior, com que elas nos presenteiam ou propiciam. 

Nicholai Roerich, pintado pelo seu filho Svetoslav, com quem ainda me correspondi.

Após esta hermenêutica minha, soube que Nicholai Roerich escrevera sobre ela a elevada sabedoria que se segue: "O maior valor nas montanhas é a água, mas aqui é ainda mais alto - a Graça Divina, que lentamente se acumula em gotas em um recipiente, que esta Mulher, colectora da graça, levará para as planícies, para o povo.
Na Agni Yoga, menciona-se repetidamente o vaso do discípulo, que deve estar pronto para ir ter com o Mestre e ser enchido de sabedoria.  O aluno deve sempre ter um vaso limpo, livre de preenchimento pessoal. E nós, enchendo o nosso vaso, vamos até as pessoas e tentamos saciá-las com essa preciosa humidade."

Apressando-se, ou O que se apressa, de 1924, é outra das pinturas  contempladas  pelos que sentem  precisarem de mais energia dinâmica, de responderem mais adequadamente à urgência dos diversos desafios do seu novo dia ou das suas vidas ou mesmo ao apelo das causas internacionais da iluminação e preservação da Humanidade em tempos difíceis  de manipulações, desinformações, opressões, discussões, conflitos e guerras.

                          

 A pintura Bandeira do Futuro, da série de Maitreya, pintada em 1925-1926 e oferecida ao Estado Russo, na qual um grupo de monges e adeptos medita e ora pela manifestação do mítico reino de Shambala, diante do seu  rei Manjushrikirti (numa tanka trazido pelo casal Roerich do Sikkim) e sob a qual recentemente Vladmir Putin foi visto numa visita à Mongólia (suscitando especulações da sua ligação a tais níveis), é complementada por outra pintura, de 1933, A ordem de Rigden Djapomuito ígnea, representando o regente de Shambhala e  Mestre invisível da Hierarquia Divina na Terra, denominado também por alguns Sanat Kumara, e constitui com a outra boas sugestões contemplativas, valiosas e acessíveis, no caso para a intensificação do fogo duma religação espiritual bastante elevada, e que poderão dar bons resultados se conseguirmos e merecermos interiorizar, sintonizar  e assimilar as energias, informações e graça Divina.

                               

Eis uma pequena homenagem, no dia de anos do nosso querido amigo e mestre Nicholai Roerich, à sua alma, vida e obra, à sua universalidade e união do Oriente e do Ocidente, do Oeste e do Leste, da Rússia e Portugal, para que saibamos aprofundar os seus ensinamentos de Ética Viva e do Yoga do Fogo e para  cooperarmos pelos modos que podermos na evolução fraterna e multipolar da Humanidade. Agni Aum....

Nicholai Konstantinov Roerich, preocupado nas vésperas da II grande Guerra e sob as bênçãos da Bandeira da Paz, com os três círculos da Arte, Ciência e Religião unidos, e que foi colocada sobre algumas cidades e monumentos para os proteger, depois de ter sido assinado por alguns países esse pacto ou tratado, de protecção cultural e humanitária infelizmente hoje tão desprezada e trucidada e pela qual tanto devemos lutar. Lux, Pax, Agni-Ignis.

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