A filósofa Daria Platonova Dugina, mártir na utopia da Verdade. |
Em tempos de grande desinformação e manipulação, de alteração dos sentidos das palavras e dos conceitos, de nova ordem mundial e suas agendas semi-opressivas, mais do que nunca é necessário manter-nos lúcidos, informados, cultos, espirituais, solidários interactivos, escatologicamente optimistas - tal como ensina Daria Dugina Platonova -, para resistirmos aos opressivos projectos, à marginalização dos mais lúcidos e independentes e ao esvaziamento e perseguição dos conteúdos religiosos e espirituais pois ,sob as capas do aparentemente correcto, científico e eficaz, oculta-se um indiferentismo ético e moral que corta as pessoas das suas ligações verticais, seja às raízes do passado e suas tradições seja aos frutos do futuro nesta vida, ou no além onde já estão muitos familiares e amigos, e no qual entraremos mais tarde ou mais cedo, mais ou menos plenamente.
Sendo muitas e insidiosas as formas manipuladores que se exercem na educação, na publicidade, na política e nos meios de informação deveremos, para as discernir e suplantar, procurar tanto ensinamentos de resistência ou de idealização valiosos do passado, como informações de criatividade e lutas alternativas fidedignas actuais.
Poderemos ainda invocar o padre Jean Meslier (1664-1729), um pioneiro defensor da necessidade duma revolução, e cujo Testamento, crítico do Cristianismo corrente ou pregado, foi por Voltaire aproveitado com grande sucesso; Étienne-Gabriel Morelly (1717-1778), com La Basiliade ou le naufrage des îles fottantes, onde o comunismo e o nudismo se pioneirizam, e o Code de la Nature; Saint-Simon (1760-1825), o conde comunista, autor Du Nouveau Christianisme, e originador da religião São-Simoniana, já propondo sete horas de trabalho no Verão e seis no Inverno; Charles Fourier (1772-1837), dotado de fabulosa imaginação criativa, com a Théorie de l'Unité Universelle, com os seus falanstérios cooperativos e regidos pelas leis da atração, e que valorizava muito as actividades educativas e culturais, fora dos quadros da exploração económica do capitalismo, e que tantos seguidores teve. Outros autores e obras haveria que, tendo o seu momento e época, com o decorrer do tempo foram sendo varridas do conhecimento público e já quase ninguém as relembra, lamentavelmente para eles e nós. De utopias vividas e sofridas, relatadas posteriormente, mencionemos apenas a demanda da Terra sem Mal, dos Tupi e Guarani, no Brasil.
Um elo valioso do pensamento utópico europeu, importante de ser retomado face à distopia infrahumanista da direcção da União Europeia... |
Entre as suas obras encontramos então uma utopia valiosa e temo-la nas mãos: A Minha Viagem ao país das Chimeras, numa tradução do oficial do exército José Nicolau Raposo Botelho (Porto,1850-1914), publicada no Porto, em 1876, num in-8º de 285 páginas, um ano apenas após ter sido dada à luz em França, o que revela do tradutor certamente internacionalismo e grande amor pela obra ou as utopias, curiosamente sendo o avô maternal da ama, de mim e do meu irmão Francisco, Maria Alzira Raposo Botelho Coelho da Silva, a Cabé, no fundo quem mais ajudou a mãe a tratar do 7º e do 8º filhos: Luz e Amor Divinos nela e seu avô!
A José Francisco Duque devemos em parte este artigo. Muita luz e amor nele. |
O exemplar que consultamos conserva a dedicatória de José Francisco Duque à portuense Sociedade Alexandre Herculano, e contem três carimbos de instituições. A obra é muito bem pensada e o país utópico visitado apresenta vários aspectos de controle manipulador ou mesmo opressivo, antecipando medidas tomadas modernamente. É obra recomendável para quem tiver mais tempo e se interessar pelo pensamento utópico, nomeadamente no que ele tem de crítico e de exemplar para os nossos dias, quando o Fórum Económico Mundial e a União Europeia tentam implementar uma nova Ordem, felizmente agora muito mais difícil graças à resiliente e sagrada Rússia e ao BRICS, a utopia maravilhosa actual...
Oiçamos alguns extractos proféticos, pois algumas das medidas criticadas estão a ser de certo modo implementadas actualmente, do tão arguto psicologicamente Antonin Rondelet, de quem nos falta a imagem:
"- Tu compreendes perfeitamente - disse-me o conde - quanto é importante para os cidadãos d'Egalicité destruir os princípios da moral, e sobretudo tirar-lhe todo o carácter e apoio religioso. Uma pessoa que adora Deus em espírito e em verdade, que se submete sem murmúrio à sua divina vontade, e que lhe agradece com efusão, tanto as provações, como os benefícios, é perigoso para uma república igualitária. A devoção e a fortuna são duas coisas que não lhe convêm. Pensa bem, meu caro amigo, na vantagem, na superioridade que provém ao ser humano do domínio de si mesmo, do desapego das coisas mundanas, da disposição sublime de antepor o interesse dos outros a si próprio. Diz-me, se houvesse liberdade de virtude e de devoção, que seriam os outros seres em vista do virtuoso? Como é que os outros cidadão haviam de resistir ao confronto? Assim a história da Quimérica, que tenho estudado - acrescentou modestamente conde com um sorrisinho de satisfação - a história da Quimera ensina-nos que o primeiro esforço e a primeira vitória dos verdadeiros republicanos igualitários foram destruir e extirpar por todos os modos possíveis as práticas e as crenças religiosas, a fim de se livrarem da concorrência insuportável da virtude. Como queres tu, Francisco, que se considerem a par na consideração pública este homem de bem, completa e desinteressadamente dedicado ao serviço daqueles a que chama seus irmãos, e aquele ambicioso, que diligencia até explorar os seus semelhantes? Para obter alguma regularidade em um Estado, é absolutamente preciso suprimir esta cultura superior, visto que a sua própria natureza a faz entrar na ordem dos facto excepcionais. Vale bem mais baixar as almas até ao nível mais seguro, e sobretudo mais cómodo, do egoísmo e da indolência, e portanto afastar a religião, que provoca e auxilia os heroísmos." p. 50.
"Todo o sistema repousa sobre este princípio: isolar o individuo da família e forcá-lo a viver só, e sobretudo ter cautela em que o passado não legue nenhuma vantagem ao presente, nem nenhuma esperança ao futuro. Então cada indivíduo fica reduzido a uma unidade pura e simples. O ideal seria fazer com que cada cidadão não tivesse outro valor nem outra distinção, senão o número que lhe fosse atribuído." p. 57.
Traduzimos em seguida alguns pensamentos valiosos das suas Reflexões de literatura, filosofia, moral e religião, Paris, 1881:
"Cada século teve seus autores favoritos que ele estimou e acolheu, em proporção não do mérito que tiveram, mas pelo prazer que lhe proporcionaram.
O sentimento do ridículo não é mais do que uma das formas exteriores do bom senso.
Não sabemos verdadeiramente nada, enquanto não somos capazes de reproduzir e explicar de viva voz o que cremos saber.
Não somos realmente poderosos em nenhuma ordem de ideias, a não ser que estejamos realmente apaixonados por ela. [Ama o que fazes]
Seria necessário haver de ambas as partes numa conversa, mais vontade de ouvir e entender o parceiro do que de responder e triunfar sobre ele.
Não ter fé no poder da palavra é não ter fé no poder da verdade. [Fala a verdade, não te cales quando sentes que a palavra é luz . Se estás na verdade, se o que pensas é verdadeiro, então confia e partilha.]
A leitura apresenta a vantagem de se prestar com igual complacência ao relaxamento de uma mente muito tensa, assim como à reflexão concentrada de uma inteligência muito dispersa.[Do valor amplo da Biblioterapia. Encontra neste blogue vários artigos consagrados a ela: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2020/04/dia-mundial-do-livro-de-2020-historias.html ]
A maioria dos grandes génios, tanto na literatura como noutros campos, praticaram essa arte suprema não apenas de criar beleza de primeira ordem, mas também de governar as almas com autoridade suficiente para dar, de certa forma, ímpeto ao entusiasmo e tom a elas. [Vai-te auto-dominando a par das tuas criatividades]
Os espíritos medíocres podem vangloriar-se dos espectáculos externos, porque não lhes é dado conceber algo mais elevado, mas não deixa de ser verdade que as almas superiores e os espíritos de elite oferecem a quem sabe vê-los um espectáculo ao qual nada pode se comparar. [Quão raros são os que conseguem admirar a interioridade dos grandes seres.]
A vulgarização, mesmo levada ao extremo, é uma satisfação para o orgulho dos que sabem, um alívio para os que esqueceram, uma necessidade para os que ignoram.
Na literatura, o trabalho fácil não é, no fundo, senão o trabalho sem valor. [Esforcemo-nos, studium em latim e bem assinalado por Erasmo, é estudo, esforço, e até consagração à república das Letras.]
Em mais de uma ocasião, o que se chama tão maldosamente de falta de inspiração, não é outra coisa senão uma profunda ignorância da questão, ignorância causada pela preguiça de se informar ou pela incapacidade de tratar a questão. [Trabalhemos, que a inspiração virá.]
A arte de escrever consiste precisamente em introduzir nas composições uma espécie de felicidade contínua. [Bom apelo a um estado de maior conexão com a dimensão espiritual beatífica, criativizada.]
A leitura representa para um grande número de pessoas, incapazes de qualquer meditação original, o único recolhimento de suas vidas.» [Logo, leia mais boas obras, para que a sua alma e o mundo melhorem...]
Acredita no poder da Divindade e do seu corpo místico, do Bem, do Amor, da Verdade e, lendo, escrevendo, falando e agindo, luta pelas Utopias libertadoras! |
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