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Em tempos de grandes desinformações e manipulações, de alterações dos sentidos das palavras e de conceitos, de novas ordens mundiais e suas agendas semi-opressivas, mais do que nunca é necessário manter-nos lúcidos, informados, cultos, espirituais, solidários interactivos, escatologicamente optimistas - tal como ensina Daria Dugina Platonova, para resistirmos a tal opressivo projecto, e à marginalização dos mais lúcidos e independentes e ao esvaziamento e perseguição dos conteúdos religiosos e espirituais que, sob capas do aparentemente correcto, científico e eficaz, corta as pessoas das suas ligações verticais, tanto quanto às raízes do passado e suas tradições como com os frutos do futuro perene espiritual, no qual já estão muitos familiares e amigos, e no qual estaremos mais ou mais cedo, mais ou menos plenamente.
Sendo muitas e insidiosas as formas manipuladores que se exercem na educação e nos meios de informação devemos então, para as discernir e suplantar, procurar tanto ensinamentos de resistência ou de idealização valiosos do passado como informações de criatividade e lutas alternativas, fidedignas, actuais.
Um segmento da criatividade humana literária e ideológica salvífica futurante foram as utopias, algumas tornando-se célebres e de leitura constante, tais como a Utopia de Thomas More (1478-1535), já tão crítica da plutocracia ou oligarquia; Rabelais (1490-1553) e a sua abadia de Thélème; a Cidade do Sol de do monge calabrês e discípulo de Joaquim de Fiore e de Guillaume Postel, Tommaso Campanela (1568-1639); a Nova Atlântida do monge inglês Francis Bacon (1561-1626); Johann Valentin Andreae (1586-1654), o inventor dos Rosacruzes, e a sua Reipublicae Christianopolitanae Descriptio, de grande sabedoria e harmonia; o padre Jean Meslier (1664-1729), um pioneiro defensor da necessidade duma revolução, e cujo Testamento, crítico do Cristianismo pregado, foi por Voltaire aproveitado com grande sucesso; Étienne-Gabriel Morelly (1717-1778), com La Basiliade ou le naufrage des îles fottantes, onde o comunismo e o nudismo se pioneirizam, e o Code de la Nature; Saint-Simon (1760-1825), o conde comunista, autor Du Nouveau Christianisme, e originador da religião São-Simoniana, já propondo sete horas de trabalho no Verão e seis no Inverno; Charles Fourier (1772-1837), dotado de uma imaginação criativa fabulosa, com a Théorie de l'Unité Universelle, com os seus falanstérios cooperativos e regidos pelas leis da atração, e que valorizava muito as actividades educativas e culturais, fora dos quadros da exploração económica do capitalismo, e que tantos seguidores teve E outros autores e obras que, embora tendo o seu momento e época, com o decorrer do tempo
foram sendo varridas do conhecimento público e já quase ninguém as
relembra, lamentavelmente para os autores, as obras e a Humanidade.
Da Índia, destaquemos Gandhi, Vinoba e Lanza del Vasto, o fundador da Comunidade da Arca, em França, e que marcou presença em Portugal; Auroville, a cidade do futuro idealizada por Sri Aurobindo e a Mãe, inaugurada em 1968, com as suas comunidades e cooperativas, e onde estive uns dias há umas décadas, tendo ajudado na construção do Matrimandir. Entre nós devemos realçar, dada em 2006 à luz, a Utopia III de José V. de Pina Martins (1920-2010), muito actual nas suas propostas concretas de melhoria civilizacional, para o que estava bem preparado pela sua longa convivência com sábios (através da sua excelente biblioteca, e não só), académicos e investigadores, enquanto Presidente e vice-Presidente da Academia das Ciências, e director dos serviços de Educação da Fundação Calouste Gulbenkian.
com base católica (e por isso editado entre nós na Biblioteca do Cura de Aldeia) a gerar um foi , ,
Entre as suas obras encontramos uma utopia valiosa e temo-la nas mãos: A Minha Viagem ao país das Chimeras, numa tradução do oficial do exército José Nicolau Raposo Botelho (Porto,1850-1914), publicada no Porto, em 1876, num in-8º de 285 páginas, um ano apenas após ter sido dado à luz em França, o que revela da parte do tradutor certamente internacionalismo e grande amor pela obra ou utopias, curiosamente sendo o avô maternal da minha ama e do meu irmão Francisco, Maria Alzira Raposo Botelho Coelho da Silva, a Cabé, ou seja, quem mais ajudou a mãe a tratar do 7º e do 8º filho; Luz e Amor Divinos neles!
O exemplar que consultamos conserva a dedicatória de José Francisco Duque à portuense Sociedade Alexandre Herculano, e contem três carimbos de instituições. A obra é muito bem pensada e o país utópico visitado apresenta vários aspectos de controle manipulador ou mesmo opressivo, antecipando medidas tomadas modernamente. É obra recomendável para quem tiver mais tempo e se interessar pelo pensamento utópico, nomeadamente no que ele tem de crítico e de exemplar para os nossos dias quando o Fórum Económico Mundial e a União Europeia tentam implementar uma nova Ordem, felizmente agora muito mais difícil graças à resiliente Rússia e ao BRICS...
Oiçamos Rondelet:"Todo o sistema repousa sobre este princípio: isolar o individuo da família e forcá-lo a viver só, e sobretudo ter cautela em que o passado não legue nenhuma vantagem ao presente, nem nenhuma esperança ao futuro. Então cada indivíduo fica reduzido a uma unidade pura e simples. O ideal seria fazer com que cada cidadão não tivesse outro valor nem outra distinção, senão o número que lhe fosse atribuído." p. 57
Traduzimos em seguida alguns pensamentos valiosos das suas Reflexões de literatura, filosofia, moral e religião, Paris, 1881:
"Cada século teve seus autores favoritos que ele estimou e acolheu, em proporção não do mérito que tiveram, mas pelo prazer que lhe proporcionaram.
O sentimento do ridículo não é mais do que uma das formas exteriores do bom senso.
Não sabemos verdadeiramente nada, enquanto não somos capazes de reproduzir e explicar de viva voz o que cremos saber.
Não somos realmente poderosos em nenhuma ordem de ideias, a não ser que estejamos realmente apaixonados por ela.
Seria necessário haver de ambas as partes numa conversa, mais vontade de ouvir e entender o parceiro do que de responder e triunfar sobre ele.
Não ter fé no poder da palavra é não ter fé no poder da verdade.
A leitura apresenta a vantagem de se prestar com igual complacência ao relaxamento de uma mente muito tensa, assim como à reflexão concentrada de uma inteligência muito dispersa.
A maioria dos grandes génios, tanto na literatura como noutros campos, praticaram essa arte suprema não apenas de criar beleza de primeira ordem, mas também de governar as almas com autoridade suficiente para dar, de certa forma, ímpeto ao entusiasmo e tom a elas.
Os espíritos medíocres podem vangloriar-se dos espectáculos externos, porque não lhes é dado conceber algo mais elevado, mas não deixa de ser verdade que as almas superiores e os espíritos de elite oferecem a quem sabe vê-los um espectáculo ao qual nada pode se comparar.
A vulgarização, mesmo levada ao extremo, é uma satisfação para o orgulho dos que sabem, um alívio para os que esqueceram, uma necessidade para os que ignoram.
Na literatura, o trabalho fácil não é, no fundo, senão o trabalho sem valor.
Em mais de uma ocasião, o que se chama tão maldosamente de falta de inspiração, não é outra coisa senão uma profunda ignorância da questão, ignorância causada pela preguiça de se informar ou pela incapacidade de tratar a questão.
A arte de escrever consiste precisamente em introduzir nas composições uma espécie de felicidade contínua.
A leitura representa para um grande número de pessoas, incapazes de qualquer meditação original, o único recolhimento de suas vidas.»
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