Santa Catarina, a mártir e protectora dos livreiros e impressores, com a sua Igreja e culto a uns escassos metros, e mesmo uma procissão onde há anos participei sob o estandarte do Amor ao Livro, que naturalmente numa das pinturas surge representado com desdobramentos pluridimensionais bem originais e subtis.
A abertura às dimensões subtis e religiosas por parte dos dois artistas é evidente pelas ideias e arquétipos que os inspiraram e que estão patentes nas formas, cores, conjuntos, perspectivas, dinamismos e, naturalmente, os títulos ou legendas, estas inegavelmente um bom contributo para a leitura mais orientada e logo mais profícua do que os autores intuíram ou quiseram transmitir.
Lazarus foi o nome dada a uma das pinturas mais poderosas e que pode ser vista como um quaternário aberto, um portal pluridimensional, arrancando-nos das nossas identificações ao corpo físico-cerebral e suas limitações espaço-temporais e impulsionando-nos ao ressuscitar no corpo espiritual, tal como Jesus realizou. Para mim, a melhor pintura, ou mais operativa, da Exposição.
A exposição estará visível de 3 a 11 de Outubro, das 14 às 20 horas, mas encerrada aos fins de semana.
O Manuel Bernardes, junto a um poderoso portal. |
A Gabriela, e duas pintoras, a Maria Freitas e a Ana Ribeiro |
O pequeno ("small is beautiful", de Schumacher, sempre actual) e muito belo catálogo da exposição contem um texto dos dois pintores, e da Joana Leitão de Barros e meu, que merece ser transcrito, por ora em parte:
«Todas as pinturas são feitas a duas mãos pelos artistas Rui Leitão de Barros Mantero e Manuel Pereira Bernardes. Trabalham juntos desde 2018 e esta será a terceira exposição da dupla de artistas. Mantiveram o anterior processo criativo, em que cada um recebe a transforma o desenho e a pintura do outro, intervindo de imediato, em total liberdade, deixando fluir a criatividade. Tudo se passa «num observatório experimental, o nervo da espátula no ritual do improviso, até ao encontro luminoso entre o eu e o outro» escreve a MBRM, a entidade que nasce dessa proximidade. O processo foi comentado por Pedro Teixeira da Mota em 2019: «pinturas que resultaram de um trabalho a dois (...) e da entidade que eles geraram no seu tão artístico, fraterno e persistente conúbio alquímico (...) qualquer crítico de arte que visitasse a mostra-exposição não daria conta que as pinturas provinham de duas mão, duas almas que convergiram para o ovo primordial.
A alegria da transformação. Experiência a duas mãos, com troca simultânea e intervenção mútua, em plena liberdade, deixando fluir a criatividade.
Num observatório experimental, o nervo da espátula no ritual do improviso, até ao encontro luminoso entre o eu e o outro.
A procura da harmonia em duas fases, com aparições espontâneas do inconsciente
É a intuição que dá a vida à criação.»
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