Soror Isabel do Menino
Jesus nasceu em 1673 em Marvão e foi na adolescência que soube por um
livro de devoção que havia directores espirituais e
exercício de oração mental, vindo aprendê-la ou a ser iniciada por um frade franciscano
de passagem e cedo atingindo o que suspirava: passar a praticar a oração mental ou meditação duas
horas por dia, descobrir
os seus defeitos e ir corrigindo-os, e obter uma
ligação interior com o Mestre Jesus e com a Divindade. Foi já aos 35 anos que professou no mosteiro de Santa Clara
de
Portalegre, onde observou que pouco se praticava a oração mental,
havendo até alguma desconfiança de ela estar parada de olhos fechados
sem nada dizer; mas aos poucos foi-lhes explicando como poderiam meditar
e não apenas rezar, cantar, psalmodiar...
Até aos oitenta anos vivenciará e teorizará bem as vias do Espírito e as graças sobrenaturais, deixando os
documentos que o Frei Martinho de S. José coligiu e que o Padre João Evangelista da Cruz e Costa deu à luz sob o título Vida da serva de Deos Soror Isabel do Menino Jesus, Abbadessa, que
foi do Mosteiro de Santa Clara de Portalegre, escripta pela mesma
veneravel religiosa, de mandado de seus Padres espirituais, com
outros Tratados Mysticos: prática para o interior da Religiosas do mesmo Mosteiro, em que se encontram as muitas mercês, que Deos lhe fez, em ordem à salvação das almas, com algumas cartas suas espirituais...
Lisboa, Joseph da Costa Coimbra, 1757, num in-4º
de 255 páginas, onde se incluíram tanto a sua auto-biografia, textos, cartas e um prólogo no fim, onde Frei Martinho de S. José resume a vida da Soror em vinte e oito páginas (realçando a suas virtudes e capacidade de oração) e, ainda, a gravura da sua vera efígie:
Das suas trinta e cinco cartas preservadas e dirigidas a sacerdotes e senhoras, realcemos a sua boa compreensão das vias purgativa e iluminativa, e o seu dom de discernir os interiores das pessoas e, logo, de aconselhar bem. Transcrevemos agora grande parte da sua IV Carta onde responde a um religioso que lhe afirmava estar a desprender-se do mundo e de suas vaidades e atrações: «Veja lá, não se engane; porque a matéria, de que a natureza é feita, toda pende para a terra; agora veja se a pode sujeitar à razão, e logo acreditá-la com obras; que se a matéria do amor são frutos, os frutos do amor de Deus são virtudes. Vá Vossa Paternidade torcendo a vontade, e logo fará obras direitas, que já é tempo de governar o entendimento, que enquanto se governou pela vontade, vivia V. Paternidade cego: entre a fabricar dentro do seu coração um espírito racional, que seja só para amar a Deus, e apure a paciência neste exercício, que é muito necessário entrar em um caminho de muita cruz, que é tirar o afecto das criaturas, alimpando as potências, e negando os sentidos, que esta é a vida espiritual, e é forçoso caminhar por esta aspereza: vá dispondo-se cada vez melhor, e terá menos que sentir, uns escondidos de afectos, que estão escondidos no interior, que não parecendo nada, é muito para quem quer ser perfeito; e o juízo de V. Paternidade é muito ligeiro nos voos, e por isso se meteu em alguns males, e disto não fazia caso, e não deixavam de ser culpas, ainda que fossem leves, e V. Paternidade tudo isto ignora; e agora já não é tempo de ignorância, que a santa oração descobre tudo, vendo palavras, pensamentos e obras, e daqui nasce o ter pesar de ter ofendido a Deus; e não pode haver dor de pecados, sem se conhecerem culpas. Vá preparando-se, para pelejar com os três inimigos da alma, que sempre lhe hão-de fazer guerra: ponha-se em porto seguro, que é amar a Deus, por meio da santa oração, e lembre-se de mim, que fico pedindo por V. Paternidade, que Deus guarde. S. Clara de Portalegre.
De vossa Paternidade muito serva,
Soror Isabel do Menino Jesus.»
2 comentários:
Muito interessante e sincera, Pedro, a devoção da Soror Isabel do Menino Jesus e a sua prática de meditação. Muitas graças por trazê-la ao nosso conhecimento.
Graças também, Fátima, pela sua apreciação. É na realidade uma mística nossa ainda hoje valiosa.
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