Carta XVII de Soror Isabel do Menino Jesus (1673-1752)
«Reverendo Padre, o amor de Deus assista no coração de V. P.
A Carta de V. Paternidade recebi com gosto, por ver lograr saúde, para com ela servir a Deus; eu fico com a mesma para servir a V. Paternidade; e com larga experiência, que tenho da sua vida, não me dilato em resposta, só digo, que como V. Paternidade, tem espírito, que merece estimação, peço-lhe que leia esta Carta com espírito; pois os espíritos comunicados também se aumentam. E como V. Paternidade tem mais espírito do que eu, não quero ser avarenta, deixando de comunicar-lhe algumas mercês, que o Senhor me fez.
Uma noite destas, acabada a obrigação de Matinas, me buscaram uma religiosas para falar comigo certos negócios, a que respondi o necessário; e sem mais dilação me pus em oração, pondo o pensamento em um atributo de Deus, que era a sua formosura, imediatamente me cercou uma grande luz, que bastou para ficarem logo as potências alienadas, e presas a Deus. Estando assim algum espaço, me achei sem saber como, toda coberta do ouro fino, que a meu entender, me parecia, que corpo, e alma estava vestido e percebi umas palavras, que diziam, que este ouro, de que estava vestida, era o amor de Deus para a dar a vossa paternidade, e que concluísse uma hora em oração, e aumentou-se em espírito: saí em suspensão, ficando sem sentidos, nem potências, ficando quase o espírito sem natureza, como que separada a alma do corpo. Prolongou-se o êxtase largo tempo; e alguns intervalosinhos, que tomava, umas vezes me achava sem respiração, e outras com quase pouca;
E saindo deste, bendito seja Deus, me puseram diante dos olhos da alma um espírito todo ensanguentado, que me pareceu ser V. Paternidade, que como se meteu ser V. Paternidade, que como se meteu dentro na penitência, esta obriga ao Senhor a perdoar culpas. Leve V. Paternidade adiante este exercício santo de penitência, e oração para ser restituído ao Divino amor, de que agora lhe faço doação, que como o Senhor o manda dar, não quero ser escassa em repartir, e será restituição, que talvez que o Senhor me fizesse estas mercês, por estar V. Paternidade nesse tempo em oração, pedindo por mim; e eu fico agora pedindo por V. Paternidade, que Deus guarde por muito seu servo. Santa Clara de Portalegre.
De V. P. muito serva, e veneradora,
Soror Isabel do Menino Jesus
Importante também a sugestão de meditarmos a formosura ou beleza da Divindade e como perseverando em tal podemos ser arrebatados para estados de grande presença da refulgência do espírito em nós, que se podem tornar quase libertadores das limitações das identificações corporais e percepções sensoriais, como ela experimentou, vendo-se revestida de uma veste aura dourada, e para perseverar na oração nessa visão espiritual dela própria que recebera.
Eis metodologias bem simples de espiritualidade e que não têm nada a ver com as imaginárias e complicadíssimas hierarquias de mundos subterrâneos ou de mundos celestiais e de Sírius, dos extraterrestres e erros de ADN, dos ritualismos sem substância de ordens secretas, de canalizações, merkabas e cursos de milagres, de quintas e sextas grandes iniciações, de tantrismos divinizantes ou ainda de iluminados não duais. E que, ao contrário, provém antes de almas portuguesas reais da nossa tradição cultural e espiritual verdadeira, e não da nova era, americanizada seja do sul ou norte...
Aumente simplesmente o seu discernimento e amor!
1 comentário:
Que belo conselho, Pedro.
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