"Místicas portuguesas dos séc. XVI a XVIII: contextos e ensinamentos." A comunicação de Pedro Teixeira da Mota, será no dia 26, à tarde.
«Nas raízes etimológicas, gregas, da nossa palavra mística, encontraremos os mistés, os iniciados ou iniciadas, que praticavam o silêncio não só receptivo preparatório como até posterior, às elevadas e íntimas experiências, quase indizíveis, obtidas no decurso da preparação e celebração dos Mistérios.
A realização mística implica que, para além do corpo físico, ou do que vemos e
experienciamos com os cinco sentidos e o cérebro-mente, existem outros níveis de
ser e dimensões que alcançam ou chegam até às profundezas, alturas e extensões ilimitadas do
Divino, as quais exigem contudo, para se revelarem parcialmente e se tornarem
compreensíveis, que adoptemos modos de vida e práticas psico-espirituais
correctas que nos permitam merecer as graças desses estados
de auto-consciência, discernimento, desprendimento, paz, expansão e união, que poderemos denominar místicos, iniciáticos, santificadores, iluminativos, unitivos...
O místico é pois quem experienciou de uma forma ou outra o que poderemos designar por sagrado, em sentido lato oposto ao profano e, em sentidos mais precisos, a alma subtil, o espírito, o mundo espiritual, o divino, a Divindade. Mas pode designar ainda quem tem apenas a tendência, aspiração e sensibilidade para tal religação espiritual, harmonizadora, aperfeiçoadora, amorosa, unitiva.
No Ocidente Cristão Português, a tradição mística é muito antiga e ininterrupta, e vem desde os eremitas da serra de Ossa até às milhares e milhares de sorores e almas religiosas que se protegeram em mosteiros e conventos e aí puderam soltar a ave-balão do seu coração e alma, sem os pesos dos envolvimentos e preocupações mundanas, rumo às alturas ora devocionais e piedosas ora mesmo às místicas e visionárias de que tantos testemunhos nos ficaram: doutrinários, auto-biográficos, hagiográficos, literários, históricos, artísticos.
Esta comunicação contextualiza o ambiente espiritual europeu e português e baseia-se no estudo das vidas e ensinamentos de algumas
místicas portuguesas dos séculos XVI a XVIII, e em especial da época do Barroco,
sorores de diversas ordens, que se destacaram qualitativamente na sua vivência e
magistério conventual pela ascese, virtudes, práticas devocionais, caridade e amor,
graças, visões, uniões e êxtases, ou ainda pela poesia, escrita e doutrina, por
vezes com forte influência na sociedade e assenta no que elas
realizaram, ou assim se fez crer. A fonte documental principal são doze livros dos
séc. XVII-XVIII publicados sobre elas, e mais um ou dois pequenos
manuscritos de relações das suas vidas, bem como alguns dos livros de espiritualidade desses tempos áureos de tanta alma consagrada em comum ao trabalho e realização religiosa e espiritual.
Espera-se que se avalie melhor a qualidade da sabedoria, do amor e da dádiva ao sagrado e ao Divino, bem como da operatividade actual das vias e metodologias, em especial na interiorização e religação espiritual e divina, que tais místicas portugueses seguiram em vidas tão abnegadas, luminosas e exemplares, e das quais partilharemos e comentaremos alguns ensinamentos mais luminosos.
Uma das místicas que evocaremos: Soror Isabel do Menino Jesus, (1673- 1752) natural do Marvão, professa e abadessa no mosteiro da Ordem de Sta. Clara em Portalegre. |
Sem comentários:
Enviar um comentário