domingo, 9 de abril de 2023

Um dito de Jesus sobre o escolher e colher o mais luminoso e perene no meio das redes sociais e vitais.

Jesus, tentando salvar o mundo terrestre, por Albrech Dürer. 
  E Jesus disse: «O ser espiritual é comparável a um pescador de coração (sábio), que deitou a rede ao mar, e a retirou no mar alto cheia de peixes pequenos. Entre eles, encontrava-se um grande e excelente peixe, e o homem de coração deitou todos os peixes fora para o mar e escolheu sem dificuldades (sem pena) o grande peixe. Aquele que tem ouvidos para ouvir, que ouça.»

Este dito metafórico de Jesus contido na recolha das suas palavras atribuída a S. Tomé, realçando o discernimento do que é essencial e o desprendimento em relação ao que é desnecessário, tem paralelos nos Evangelhos, em especial em S. Mateus, cap. 12, onde uma série de metáforas  do acesso ao reino de Deus são apresentadas, mas de modos bastantes mais moralistas e projectados para o futuro e um julgamento eventual, perdendo-se assim a dinâmica actual (aqui e agora)  iluminadora da opção pelo essencial ou o espiritual, o peixe grande, e o desprendimento pelo acessório, que Tomé nos transmite bem claramente.

S. Mateus, transmitindo tal ensinamento em metáforas muito directas e simples, como (13, 44-46): «o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo que um homem achou e escondeu; e, pelo amor dele, vai, vende tudo quanto tem e compra esse campo. Ou ainda o reino dos céus é semelhante ao negociante que procura  pérolas valiosas;  e, encontrando uma de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha e comprou-a», tende contudo a concluir na moralização e adiamento dualístico para um julgamento final, com o céu e inferno como resultados, tal como vemos na parte final, versículos 47-50: « o reino dos Céus é semelhante a uma rede lançada ao mar e que apanha todo tipo de peixes.  E, estando cheia, puxam-na para a praia e, sentando-se, apanham nos cestos os bons e  lançam fora os maus. Assim será na consumação dos séculos: virão os anjos e separarão os maus dos justos.  E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali, haverá pranto e ranger de dentes.»

Pese esta visão de julgamentos exteriores tão duais finais,  é visível e claro o ensinamento, e muito actual para nós, hoje tão enredados nas teias manipuladoras dos meios de comunicação, das redes sociais e da sovrevivência que nos limitam em tal proporção que muito tempo da vida ou passagem pela Terra torna-se obscurecedor ou mesmo destruidor para a nossa alma, incapaz de se conhecer e de alcançar o grande peixe ou a pérola, e logo de estar e de agir em amor e sabedoria...

Há então que escolher e colher com mais frequência um certo recolhimento, seja na natureza seja no quarto ou templo, a sós ou em família, para a comunhão espiritual ou divina, ou, pelo menos, a acalmia mental e a oração, a recolecção com o sagrado, seja a invocação e  diálogo com o Anjo,  o Mestre, a Divindade, em especial na aspiração à religação e harmonia divina e na sensação, escuta e visão interior. 

Ou seja, procurarmos estar mais conscientes da dimensão espiritual da vida e a partir do estado mais sintonizado com o Todo, com o Logos, com a Anima Mundi, sabermos ser e interagir harmoniosamente na pluridimensionalidade do mundo, da sociedade, do meio ambiente.

O grande peixe  é pois, de certos modos, tanto o reino dos Céus, o reino do Pai, como a consciência espiritual, o Atman-Brahman indiano, o Tao, e cada pessoa escolherá a linha e designação preferida pela afinidade de tradição ou de tipo de realização…

O mestre Jesus falou frequentemente diante do grande lago de Tiberíades e muitos dos seus auditores eram pescadores acolhendo e assimilando com naturalidade e sensibilidade estas imagens metafóricas vivas. E com os discípulos e discípulas que atraiu, e que não conseguiu pela sua morte precoce preparar melhor, como ele se lamenta, deu-se início a uma das maiores pescarias de almas de toda a História, claro com poucas delas realizando a pesca do peixe grande, a maioria ficando na conversão de fiéis e no cumprimento de regras, ritos e crenças, mas nem sempre bem, pois os pescadores e os pescados foram perdendo a pureza, a abnegação, o amor caridade e a aspiração que os deveria caracterizar, e a arrogância, a  violência, a inquisição, a imoralidade manifestaram-se demais...

Assim também cada um de nós, diariamente, recebendo na rede dos nossos sentidos tantos dados e informações, sugestões e manipulações, tem de saber discernir muito bem o que e quanto deve acolher ou irradiar, não deixando que  abafem ou distorçam a nossa auto-consciência nem a vivência e orientação justa, natural e espiritual, tal como certas novas ordens mundiais tentam e pelos meios de comunicação difundem...

É pois fundamental ver-se o menos possível dos noticiários manipuladores e ao chegar à noite, ao rever o dia e meditar, e ao sonhar, o ser no Caminho espiritual, o discípulo ou discípula de Jesus, ou dum outro mestre, ou apenas da Bem e da Verdade, deve tentar deitar fora o que ficou de impressões que não interessam, e orar ou rezar pelos espíritos já partidos e pela vida mais harmoniosa no mundo e em si, abrindo-se então (na medida do controle alcançado ou pacificado das suas vagas de substância psíquica),  ao essencial, à comunhão do espírito e com o mundo divino, que está nele e acima dele, ainda que tão condicionado e velado pelos estados corporais e da personalidade psíquica, com as suas dores e preocupações, receios e desejos, em ondas e vibrações subtis... 

O ensinamento transmitido é pois o do desprendimento, de não andarmos à procura ou a cumprir exageradamente os pequenos objectivos do ego e da vida social, mas de escolhermos e entrarmos mais na corrente da unidade espiritual da vida, pela qual nos alinhamos mais com a essência nossa, dos outros e do Cosmos e agimos mais livre e desprendidamente e, portanto, com mais sensibilidade às específicas e verdadeiras necessidades e prioridades da Vida, o Dharma, a unidade mais luminosa ou em glória da Terra e do Céu, como o mestre Jesus e outros têm procurado impulsionar... 

Jesus mostrando o caminho do esforço humano para chegar ao Divino, ao mestre Morya. Pintura simbólica do russo Nicholas Roerich...

2 comentários:

Anónimo disse...

Sim, nestas redes de mentiras em que andamos e nos perdemos valioso é que hajam seres que procurem dar alimento espiritual, assim como você faz. Mas os tempos estão a mudar e as pessoas querem retomar a sua soberania mesmo...

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Graças pela sua compreensão e apreciação, e esperemos que as pequenas contribuições de cada um nós possam ajudar a melhoria do estado social, psíquico e espiritual de muitos...