sexta-feira, 21 de abril de 2023

História da Religião na Arte: Cristianismo, a Anunciação, numa gravura quinhentista de João Wierix.

                                     

A história, sempre misteriosa e controversa, da vida de Jesus, ao ser narrada pela arte, gerou muitas obras primas, capazes de tocarem e instruírem os que as contemplavam, e assim entrarem em contacto com Jesus ou com os ensinamentos e forças que ele teria partilhado.

Se grande parte da sua vida está descrita com alguma historicidade nos evangelho, uma parte significativa mais misteriosa e discutível foi representada com bastante naturalidade e espiritualidade, e inclui ela as miraculosas anunciação, nascimento, transfiguração, ressurreição e ascensão, para não falarmos dos milagres.

Vamos então contemplar da vida de Jesus a gravura da ascensão da série de 154 imagens gravadas no séc. XVI pelos irmãos Wierix, e com pequenas legendas do padre Jerónimo Nadal, publicada pela 1ª vez em 1593 em livro intitulado Evangelicae historiae imagines pois para  além do simbolismo religioso e da sua beleza (já que eram bons artistas, tendo trabalhado até com o famoso impressor Cristóvão Plantin e tornando-se depois suas obras modelos de muitas pinturas), é boa ou propícia à compreensão e contemplação do corpo espiritual ou de glória, no caso de Jesus mas que todos nós temos em potencial, podendo até  admitir-se que um objectivo fulcral da vida humana é desenvolverem-se estados de consciência unitivos que façam crescer tal corpo subtil de luz, com o qual, deixado o corpo físico à hora da morte, avançaremos nos mundos subtis e espirituais rumo à Fonte.

                                    

Se isto faz sentido em nós, então no dia a dia estaremos mais atentos aos nossos estados de consciência e actos, ao que eles causam no nosso corpo de luz, e logo corrigi-lo, melhorá-lo, sintonizá-lo. 

O corpo espiritual ou de glória é sobretudo representado na aura ou oval luminosa e irradiante que emana do corpo de Jesus em quatro esferas sucessivas, ena cabeça em seis, podendo observar-se luz, raios de luz e anjos. Seria interessante sabermos se os três irmãos religiosos João, António e sobretudo Jerónimo Wierix, que desenharam o conjunto das 154 gravuras (e Jerónimo, 65 delas), porque escolheram diferentes formas de representar Jesus no seu corpo de glória, esta estando assinada pelo João, por exemplo, diferente da forma na Transfiguração, da autoria de Jerónimo. Contudo parece ser comum um entendimento que na consciência espiritual de Jesus, expandida em corpo espiritual, feito de partículas ondas e raios de luz, cabem ou coexistem espíritos angélicos, vistos como anjinhos, na visão espiritual...
Ou ainda se gostariam de lhes dar certas cores, tal como alguns exemplares das gravuras vieram posteriormente a apresentar e assim emergindo  no mercado da arte devocional ou bibliófila? Dourada, flamejante? E as nossas cores, estão elas claras e ardentes, nem que seja de vez em quando?
O segundo aspecto importante é vermos e logo contemplarmos, se os observarmos mais demoradamente, vários anjos (e os dois da frente, quais os dois querubins à porta do Paraíso), vários seres e coros celestiais, além dos espíritos humanos (o corpo místico da Igreja) que já libertos do seu corpo gozam da possibilidade de contemplarem o mestre Jesus,  os espíritos celestiais, a Divindade e de servirem até de intermediários e ajudantes desta.....

E isto é certamente uma boa ajuda para as nossas mentes ou almas, tão esquecidas do nosso ser espiritual e destas congregações que nos podem inspirar e auxiliar, ou nas quais podemos participar pela oração, a irradiação, o testemunho, as virtudes...

Boas contemplações então para si, a partir de uma cena mitológica assombrosa e que ainda  hoje é acreditada por milhões de cristãos, já que Jesus morreu corporalmente, naturalmente na Gólgota e logo ressuscitou e ascendeu em corpo espiritual. Simples. Os passos evangélicos citados, e que estão dentro do ciclo ressurreição, aparecimento aos discípulos e ascensão final com despedida deles, são já uma adaptação da vida de Jesus homem à de um Deus, a fim de impressionar ou assombrar melhor as massas. E  com que sucesso, nomeadamente artístico...

Saibamos nós também não esperar por uma ressurreição no final dos tempos, em corpo de carne ou outro, mas agindo e contemplando bem, possamos estar despertos e activos no corpo subtil espiritual para quando na morte formos projectados para fora do corpo físico, podermos avançar luminosamente, de preferência com os anjos e corpo místico da Igreja, ou seja, os familiares, amigo e santos-santas que por qualquer motivo de afinidade nos possam guiar no começo da vida no além, da qual esta gravurinha é uma bela imagem introdutória.

                                              
                                                                          Ad astra per aspera....

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