Não me lembro ao certo como cheguei a saber da sua existência mas creio que foi ao comprar a obra sua Aperçus sur le Kriya Yoga (voie d'évolution rapide), na Procure, uma das livrarias francesas com mais livros de espiritualidade no cais de S. Michael em Paris, escrevendo-lhe então e ficando a saber da existência de dois cursos por correspondência em 12 lições mensais cada a que aderi, lendo, aprendendo, dialogando, praticando.
E tendo conservado até hoje tais preciosas "relíquias" (já que eram policopiadas) quase desconhecidas, resolvi resumir, contextualizar e partilhar para o homenagear e para frutificar um pouco o seu ensino e alma nas dez ou vinte pessoas que lerão esta publicação, ou as eventuais seguintes, no blogue.
Entrando directamente na 1ª lição do curso, de introdução à espiritualidade indiana e à iniciação no Kriya Yoga, Rishi Atri, depois de citar na epígrafe inicial Swami Vivekananda numa das suas valiosas passagens, e logo duas páginas depois o seu mestre Sri Ramakrishna Paramahamsa, esclarece que os ensinamentos transmitidos não são dogmáticos mas apenas princípios e indicações a serem confirmados pela experiência de cada um e que visam conduzir-nos à experiência da Realidade última, ou reino de Deus, que está em nós.
É por uma vida justa, amorosa, criativa, e pela persistência ou longa paciência no caminho do auto-conhecimento e da concentração que se vai criando o estado de calma que permite tornar-nos conscientes do que não muda e entrarmos em contacto com o permanente, com o que está para além da dualidade, o Divino.
Realça a importância de uma prática ou treino de acalmia mental nas três vias de yoga principais, pois se não há a paz, devido à agitação das vagas de pensamento e preocupações, não se consegue criar um contacto direto permanente com o mestre ou a divindade cultuada devocionalmente (Bhakti Yoga), ou com a unidade do Todo (Jnana Yoga), ou com o plano supramental que permite o vencer-se o pequeno eu através da acção desinteressada (Karma Yoga).
A explicação que é dada das três etapas finais do Raja Yoga, do Patanjali, é:
1º Dharana: é uma forma de concentração intermitente na qual os pensamentos parasitas fazem ainda erupção ou entrada.
2º Dhyana: é uma concentração contínua sem que irrompam pensamentos parasitas.
3º Samadhi: é a concentração a mais perfeita, onde a noção de actor e de acção desaparece na Unidade.
Referindo os suportes internos de meditação mais conhecidos, os cinco elementos e o som e a luz, dirá algo importante e que tendemos a esquecer: ver-se a luz ou ouvir-se o som não é o objectivo da concentração, mas sim atingir-se a calma interior, e logo a ligação ao Espírito em si.
Aum: A, U, M...e a nasalação interior em abelhinha... |
Dirá ainda judiciosamente que «o Aum deve ser repetido um certo número de vezes, segundo o tempo disponível» sugerindo algo que muita gente se esquece que «um mínimo de um quarto de hora é contudo necessário para se obter um certo grau de calma, e este tempo pode ser sem perigo prolongado à vontade.» E ainda que «este japa ou repetição deve ser executado com convicção, respirando-se calmamente, se queremos tirar efeitos benéficos», recomendando ainda que se recite antes de se começar tal prática alguma oração ou em especial o cântico tradicional a Brahman, à Divindade.
Concluirá a 1ª lição com directivas gerais conhecidas, tais como sentirmos que os ambientes nos influenciam, e que até reagem contra nós por pessoas que estão contrárias aos nossos desígnios, e que não devemos insistir ou forçar novos aderentes ou crentes, realçando ainda que a fé não é uma crença mole, mas a potência criadora do espírito, que nos ajuda a evoluir, a renascer, a realizar o Ser espiritual e divino.
E dará ainda a explicação dos símbolos da Atma Bodha Satsanga ou associação por ele fundada e que estão na capa, em que vemos ao alto o Aum num círculo (o Purusha, a Consciência cósmica para além da dualidade ou criação) dentro dum triângulo (das três gunas ou características da matéria, satva, rajas e tamas) dentro de uma cruz (a multiplicidade e em que pelo eixo ou trave central nos elevamos ao Eu espiritual).
E em baixo a bela imagem (e da qual D. João de Castro falou), esculpida numa gruta de Elefanta, junto a Bombaim, da Trimurti ou trindade indiana Brahma, Vishnu e Shiva e que simboliza os três aspectos manifestados de Iswara, a consciência cósmica envolvida por Maya, ou seja a ilusão cósmica [material e subtil]. Brahma, à esquerda o criador, Vishnu ao centro o preservador e à direita Shiva, o destruidor [ou transmutador].
Saibamos orar, meditar e realizar a oração da imagem inicial, extraída do Yajur Veda, I,111, 28:
tamasomā jyotir gamaya
mrityormā amritam gamaya
Oṁ śhānti śhānti śhāntiḥ
Oṁ Do irreal conduz-nos ao Real,
Da obscuridade à Luz
Da morte à imortalidade.
Oṁ paz, paz, paz.
Sem comentários:
Enviar um comentário