quarta-feira, 23 de março de 2022

Swami Premananda Tirtha (1871-1959). Mais ensinamentos espirituais valiosos...

 Swami Premananda Tirtha, que temos divulgado pioneiramente em português, vai ainda ser evocado neste 3º, e para já, último texto, pois a sua vida e ser tal como os seus ensinamentos são bem valiosos.  Quanto à brevíssima biografia que partilhei, haurida no livro Swami Premananda Tirtha, Life, Sketch & Letters, publicada pela Sri Krishna Sangha, Calcutta, em 1973,  talvez deva acrescentar a sua corajosa independência perante algumas altas personalidades inglesas que o visitaram ou que queriam mesmo que ele diminuísse o brilho de Gandhi, recusando-se a tal ou mesmo não os recebendo. E ainda a sua capacidade e amor de peregrinar muito a pé,  sem ter um cêntimo no bolso, como é habitual nos yogis, sadhus e sannyasins, ou seja os ascetas e monges indianos, e sendo sempre apoiado pela ordem do Universo, os seus seres e, sobretudo a Divindade omnipresente. Não teve um ashram ou centro seu, e não estava muito tempo nos locais para onde os seus devotos o convidavam.

Um yogi do tempo de Premananda Tirtha e amigo de Paramahansa Yogananda.

Oiçamo-lo num primeiro ensinamento psico-espiritual valioso: «Cada um tem tanto Deus como o Diabo dentro de si. Quem quer que ele chame, esse mesmo virá ter com ele. Recebereis dos outros o tratamento que derdes a eles. "Faz aos outros o que gostarias que te fizessem". Quando se lhes dá confiança, mesmo ladrões e malfeitores podem tornar-se seres correctos. Vi isto acontecer muitas vezes. Se temos as tonalidades do mal na nossa mente, veremos o mal em toda a parte. Orai humildemente a Deus para vos dar o poder de compreenderem os mistérios da mente. Gradualmente pela graça de Deus, o vosso poder de ver, pensar, compreender e prestar serviço crescerão. Crede que ele é Omnipresente; chamai-o pelo nome de Senhor do Universo: tentai servi-lo como o Ser omnipresente e gradualmente a vossa visão interior abrir-se-á. Uma vez aberta a visão interior as dúvidas e percepções incorrectas desvanecer-se-ão. Uma cobra permanece uma cobra mesmo quando a imaginamos que é uma serpente, pois o defeito está na nossa visão mental. Na realidade última há Um só e nem um segundo neste mundo. É um grande erro tomarmos como a Realidade verdadeira este mundo mutável, e fugirmos dele com medo pensando que a corda é uma cobra. É de facto pela majestade da Grande ilusão (mahamayashakti) que o impossível se torna possível. A shakti ou energia divina em nós está dormente sob a forma de uma corrente nervosa, sushuma. Tentai despertá-la através das práticas espirituais. Se considerarmos alguém como uma pessoa má, a nossa mente torna-se má, independentemente de tal pessoa sê-lo ou não. Quem sabe como amar, receberá amor. Os sábios antigos, rishis, costumavam ficar amigos das aves e dos animais. Nos seus eremitérios tigres e gazelas, cobras e mangustos brincam juntos. Isto não é invenção. Eu tive uma experiência de tal na minha vida», e que foi quando ele era eremita na zona montanhosa de Simla quando se familiarizou com um tigre a que dera o nome de Mastram e quando o chamava vinha brincar com ele, e um dia que o tigre estava sobre ele, um caçador britânico que passou pensando que o tigre o queria matar, apontou a espingarda, mas o Swamiji viu e teve a inspiração de pôr a mão dentro da boca do tigre, fazendo com o caçador percebesse o que se passava, e logo tirasse uma fotografia que na época foi muito divulgada.»

Acerca da graça divina: «Não se consegue receber ou realizar a graça Divina, enquanto uma pessoa vive fácil e confortavelmente. Ninguém precisa de fazer o que quer que seja por alguém que satisfaz, ou pode satisfazer, ou pelo menos acredita que pode por si mesmo realizar tudo o que quer.»

Da omnipresença divina: «Eu sinto a presença de todos os meus amigos e de todo o universo dentro de mim. Como é que eu posso descrever esta felicidade (ananda)? Pode alguém, a quem Deu ama tanto e que toma conta dos seus requerimentos básicos, ter alguma vez uma dificuldade? Aquele cujo pensamento é puro e calmo, realiza a Divindade omnipresente e está sempre em felicidade». 

«Se a mente está impura e irrequieta, é impossível reconhecer-se  Deus mesmo que ele fosse visto, ou segurá-Lo se fosse encontrado. Um crente em Deus tenta terminar em dez anos o sofrimento inútil que um não crente levará 100 anos para terminar. O crente tenta assim obter o direito de entrar no Céu o mais cedo possível. Ele não aguenta o atraso e é por esta razão que devotos e pessoas bondosas aceitam de boa vontade a dor e o sofrimento. No meio de toda a calamidade e dor, mantém a atenção fixa Nele e continua a avançar para Ele. Faz os teus deveres terrestres com o corpo, mas a tua mente ou alma deve estar incessantemente virada ou absorta para a contemplação da Sua identidade e dos Seus atributos. A tua mente não deve aceitar ou deixar entrar ideias que não estejam relacionadas ou afins com o Divino. A fé é a raiz da religião, é como o sexto sentido.»

«Somos os filhos e filhas do Ser Primordial Imortal. Coragem, brilho e majestade da energia primordial divina (mahashakti) estão latentes em nós. Os filhos da Bravura em si mesmo devem ser bravos. Presentemente uma ignorância  estúpida espalhou-se sobre o país inteiro. Quase toda a Índia terá de ser desperta e restaurada à sua pristina glória. Muitas das nossas práticas religiosas e adorativas tornaram-se rituais sem vida. Verdade, amor, pureza, fé, coragem e o serviço da humanidade constituem a essência da religião. Rituais e cerimónias são apenas úteis secundariamente. A nossa atenção deve centrar-se na essência da religião e todos devem ter plena liberdade quanto [à escolha e prática] dos aspectos secundários. Não se deve dizer nada contra um santo, ou mesmo um devoto. E o nosso comportamento ou modo de vida deve ser  tal modo que atrairá os outros a terem fé em Deus e a adorarem-No».

Te Deum Laudamus. De Bô Yin Râ.

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