segunda-feira, 21 de março de 2022

Swami Premananda Tirtha, ensinamentos de um mestre indiano bem valioso. 1ª parte. Com vídeo de leitura comentada por Pedro Teixeira da Mota.

Um dos mestres bem valiosos do século XX da Índia foi (e é...)  Swami Premananda Tirtha, que viveu na zona da Bengala, Batajore, Calcutta e Benares ou Varanasi, de 1871 a 1959. Pouco conhecido no Ocidente, pois era avesso a publicidade e procurou mais servir do que servir-se, ou destacar-se, apenas deixou serem publicadas as suas cartas a discípulos, que constituem mais um rico epistolário da Humanidade, tal como os de Erasmo de Roterdão e de Antero de Quental, valiosa prática que hoje não é tão cultivada dado o predomínio avassalador dos mails, que  perdem a naturalidade e intimidade que a escrita pela mão deposita no papel...
Tendo nascido de pais religiosos e educado tradicionalmente na grande Índia, cheia de costumes, ensinamentos, histórias e santos, a sua excelente memória permitiu-lhe não só conservar e narrar inúmeros episódios pessoais, como partilhar muito do essencial da sabedoria indiana que ele vivia e estudava, aprofundava e partilhava no seu ashram ou centro de ensino e serviço, meditação e adoração...
Nasceu a 26 de Novembro de 1871, em Batajore, Bengala Oriental, hoje Bangladesh, filho de um brâmane, que ensinava em casa, e de uma mãe muito piedosa, e recebeu o nome Harideva. Uma vida de criança e jovem cheia de aprendizagens luminosas e uma clara vocação para ser um asceta, um sannyasin, e que os seus pais desejavam. E assim mal  cumpriu o último exame do seu bacharelato, em Calcutta, em 1899, parte com três livros na sacola, a Bhagavad Gita, Ashtavakra Gita e Imitação de Cristo, e torna-se por si mesmo um renunciante, despindo as suas roupas junto ao rio Ganges, banhando-se e assumindo as vestes ocre-laranjas e, com o nome de Krishnananda, dirigiu-se
como qualquer sadhu, ou peregrino renunciante, para Vrindaban, centro do culto a Krishna  e depois para os míticos e poderosos Himalaias, onde encontrou  finalmente o seu mestre que já o vira em jovem, em sonho, há dezassete anos.
É dessa época, 1901, a sua primeira carta conhecida, onde diz: «A alma mais íntima do Universo, isto é Sat Chit Ananda (Ser, Consciência, Felicidade) da Divindade universal, tendo penetrado todos os níveis da Natureza, está tentando manifestar-se a si mesma. Quando mais limpa for a mente, tanto maior e mais limpa será a sua reflexão. O objectivo da vida humana é descobrir e manifestar Deus dentro de si». 
Poucos anos depois em 1904 foi formalmente iniciado  como sannyasin em Varanasi ou Kashi, no mosteiro de Kamrup, pelo swami Ramananda Tirtha e residiu nesse math ou tirtha, ou mosteiro, doze anos servindo com muito amor, e para grande gosto do mestre, e tendo sido mesmo o editor da revista Bharat Dharma Mahamandal.  Ao longo da sua vida teve inúmeros casos, sincronias e exemplos fabulosos de que tudo vem de Deus, ou como disse: «Há um só corpo, um só princípio de vida, um corpo e um espírito em todo o universo. Se a mente está pura e calma, é fácil discernir os pensamentos dos outros».
Só o conhecendo pela leitura de um livro, Swami Premananda Tirtha, Life, Sketch & Letters, Sri Krishna Sangha, Calcutta, 1973, que adquiri quando estive em Calcutta seis meses em 1993, e por subtil percepção espiritual posterior, irei destacar certos aspectos mais originais ou fortes: 
Uma grande confiança e entrega a Deus, que em todas as circunstâncias não o abandonara, pois somos todos filhos de Deus, que está dentro de nós, e é verdadeiramente a nossa força.
Valorização grande da Mãe, do princípio feminino e maternal, muito sagrado, e embora tenha sido um celibatário, naturalmente já que era um yogi e sannyasin, aconselhou muitos a deixarem de ser religiosos ou estouvados e a casarem-se, e sentirem na mulher essa dimensão divina.
Grande consciência da presença Divina em todo o universo e em todos os seres e portanto servindo com amor o próximo, vendo e sentindo nele Deus ou a unidade divina que perpassa todos os seres, e fazendo-o nas condições mais difíceis.
Valorização da verdade e da sinceridade. "A minha palavra é sagrada", costumava dizer, e assim cumpria o que prometia mesmo sob as maiores dificuldades.
Valorização dos sonhos como meios de comunicação entre os seres, incarnados e desencarnados, chegando a dar-se conta dos sonhos dos outros, ou a receber e dar indicações importantes, seja o de ter visto pela 1ª vez o seu mestre em sonho, ou o de ter dito à discípula principal, Maji, que receberia o mantra de iniciação, que ela tanto desejava dele,  em sonho directamente da Divindade, o que se veio a passar, como ambos comprovaram posteriormente ao confrontarem o mantra recebido.
Valorização do desprendimento, do desapego, da renúncia às posses, e ao sentido do ego ou de ser importante: "Se alguma vez pensar que sou superior, então terei caído muito espiritualmente."
Valorização das práticas tradicionais de interiorização para quem quer conhecer ou entrar mais em contacto com Deus ou a com a sua energia, tal como ele escolheu ou recebeu no seu nome: Prem Ananda, isto é, Amor e Felicidade ou Alegria ou Beatitude. Entre essas práticas apontava o controle dos sentidos, da mente e dos sentimentos, recomendando, por exemplo, um kriya yoga, ou acto unitivo interior, de retirar a atenção para as costas, para o interior da coluna vertebral e para o canal subtil, chamado sushsuma, de modo a que a energia, dispersada sensorialmente e mentalmente para o exterior, possa aquietar-se e sensibilizar-se aos níveis subtis e espirituais, e sentir o néctar ou a serenidade feliz de Sat Chi Ananda.
 Swami Premananda Tirtha deixou o seu corpo físico terreno em 2 de Maio de 1959, no seu ashram e tendo anunciado isso um pouco antes na sua última mensagem, na qual dá um testemunho da sua continuidade espiritual, tal como poderá ouvir no vídeo que partilho em seguida, com a duração de treze minutos, terminados a meio de uma leitura e que finalizei depois num segundo vídeo, de sete minutos, também já no youtube, e o qual incluirei num segundo artigo... Aum...
                

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