domingo, 30 de junho de 2019

"O Livro do Deus Vivo", de Bô Yin Râ. Cap. IV. O Caminho. 2ª parte.

O Livro do Deus Vivo, de Bô Yin Râ.  Cap. IV, O Caminho, 2ª parte. Tradução da responsabilidade de Pedro Teixeira da Mota. Pinturas de Bô Yin Râ.

Mas agora, ó buscador, entremos juntos na quietude, e eu mostrar-te-ei o começo do "caminho"!
Recolhe-te em ti e ouve-me, agora que já te preparaste certamente para compreender de sentidos despertos o que te irei dizer! 
 
Primeiro, ó buscador, terás de esquecer muito! -
Deram-te uma  representação falsa de "Deus" e assim  com ensinamentos presunçosos asfixiaram em ti o gérmen do qual, nas águas sagradas do mais fundo da tua alma, deveria ter desabrochado a "flor de lótus", na qual a Luz que deve iluminar-te eternamente pode nascer... 

"O Espírito, que sobre as águas pairava" enche os espaços infinitos, mas não te podes aproximar dele, senão – em ti! -
Só quando ele em ti,- como teu Deus, - da Luz para a Luz se formar, poderás  dar-te conta da sua acção silenciosa- [walten kunde]
Os que querem sondar a sua Infinidade, erram muito...
Acreditam atrevidamente aproximar-se Daquele que todo o espaço dos Mundos não pode abranger, e não pressentem que geraram uma imagem distorcida que agora os domina. -
Nós, porém, queremos  mergulhar agora de novo em ti o gérmen da "flor de lótus" eterna...
Talvez - ele consiga doravante encontrar alimento a partir dos teus poderes!-
Quando a sua flor estiver formada, irá o Espírito, que de Si mesmo foi gerado e que de Si mesmo vive, descerá mergulhando em ti e como o teu Deus "nasce" em ti, - como o teu Deus vivo em ti!---
Antes não saberás de "Deus"!
Não acredites, nos que te falam do Deus dos seus sonhos: - de um Deus, que se deixa encontrar em êxtases de muito calor!-
O que assim se pode encontrar e apenas uma "Fata-morgana" [miragem] do mundo interior!
Não conheces ainda as riquezas, que as vastidões da tua alma comportam em si!-
Aqui há "energias" e "poderes", perante as quais oferecerias adoração, como o profeta diante do arbusto ardente, se eu pudesse mostrar-tas visivelmente.---
A tua alma é um incomensurável oceano, e ninguém até agora descobriu as suas profundezas, as maravilhas do mar de forças anímicas!--
Imaginas a tua alma como um invólucro radiante, e crês encontrares-te a ti próprio sozinho nele...
Ora a tua alma é como um mar composto-contendo por miríades de gotas de água preenchidas de poder latente, - ou como uma nuvem viva, formada por miríades de entidades carregadas de poder, - e tu deverás tornar-te o Senhor e o Mestre de todas estas entidades.--
Logo que não te reconhecerem em ti o seu dominador seguro, entorpecido pela sua força, que te parecerá assustadora, tornar-te-ás o seu escravo.-
Deverão servir-te, assim que as tenhas dominado,- mas irão sempre levar-te pelo nariz, através das mais singulares prestidigitações, se tu em falsa humildade inclinares-te diante delas.
Elas precisam de uma vontade forte, para se unirem debaixo dela...
Antes de as unires numa só vontade, nunca encontrarás na tua alma a tal quietude, que só ela pode causar o florir da "flor de lótus" sagrada.-- 
AQUI---
Nem também poderás em ti, através dos poderes da tua alma receberes conhecimentos desse íntimo reino do Espírito, que apenas os poderes da tua alma, unidos numa só vontade, te poderão tornar reconhecível, sensível, - por vezes podendo-se tornar mesmo visível e audível, - porque ele em ti, como por toda a parte, vive pelos mesmos poderes...
Nem será antes disso que receberás, de quem te guia do Espírito, um sinal seguro,- nem antes sentirás em ti a presença dos Guias espirituais supremos, os Irradiantes da Luz Primordial...
Portanto esforça-te, ó buscador, antes de tudo o mais, por fundares em ti uma vontade clara e forte de chegares a ti mesmo!
Deverás afirmar-te a ti mesmo, se quiseres experimentar a afirmação do espírito pelo espírito!
Tu encontras-te, e em ti o teu Deus, somente no teu “Eu”!---
Procura com alegria calma e silenciosa serenidade, afirmares-te em ti próprio cheio de paz, e desvia o teu olhar de todas as imagens interiores, que a tua mente, muito nervosa, e ainda não unificada em si mesmo, gostaria de te mostrar!
Primeiro, precisas de alegremente e cheio de confiança chegares  a ti próprio completamente!
Antes de te envolveres em ti e te barricares de todos os lados,- tal como um mar que a si próprio se limita, - como uma nuvem, que sabe acastelar-se,- em vão tentarás possuir a tua alma, pois os poderes da tua alma só se entregam a quem é realmente digno da sua veneração...
Não acredites porém, que possas chegar a este objectivo, se permaneceres constantemente inactivo numa paz externa!
Deves, enquanto ser humano do mundo exterior, no qual nasceste, aspirar a actuar dia a dia, tal como toda a natureza exterior age permanentemente e constrói sempre  formas novas, se queres aprender a fortalecer em ti a tua Vontade, para que os poderes da tua alma lhe possam obedecer!--
Nada no mundo exterior é assim tão insignificante, que não te possa servir de instrutor!
De todas as vivências poderás retirar ensinamento, e nenhuma actividade é  tão desprezível que não possas aprender dela!-
Mas sobretudo precisas de aprender a dissipar os teus pensamentos errantes, e de seres capaz dos concentrares num ponto de cada vez.--
Nem a solidão do deserto, nem a vida entre os animais da selva são de qualquer modo mais favoráveis ao teu fim, do que a agitação de uma cidade cheia de pessoas, na qual activamente exerces a responsabilidade da tua profissão!---
Quando mesmo no maior dos ruídos tenhas aprendido a permanecer contigo, quando fores capaz de comandar em ti os teus pensamentos e a tua vontade com plena segurança, quando os teus desejos só forem e virem, como tu próprio os quiseres irem e virem, - só então começa a tua primeira tentativa de unires em ti os poderes da tua alma !--
Mesmo então encontrarás ainda várias resistências em ti ...
 Durante muito tempo exercerás a tua vontade agora consolidada ainda em vão, antes de conseguires flectir sob ela todos as relutantes forças  da tua alma.-
Cada uma das forças anímicas quererá possuir a tua vontade só para si própria, e nenhuma delas quererá dar-se voluntariamente como propriedade da tua vontade...
Compreenderás isto, quando conseguires fazer nítido em ti, que cada uma das tuas forças anímicas, - mesmo que as consideres a todas como entretecidas em ti com "características próprias", - é uma entidade anímica independente, dotada da sua própria vontade e impulsão, de trazer a manifestação efectiva só a si mesma, e isto mesmo que seja à custa de todas as outras forças anímicas.-
Não  deverás nunca desencorajares-te pelos teus ainda frequentes frustrados combates pela supremacia da tua própria vontade sobre as inúmeras vontades, que na tua alma só se querem a si mesmas!-
Nunca deverás perder a confiança em ti mesmo!-
Nunca deverás perder a alegria do teu coração e a tua serenidade silenciosa!--
Todos os teus combates são apenas uma constante prova da tua paciência e do poder que já adquiriste na tua própria vontade...
Sabe porém, que dessa forma tornar-te-ás no fim certamente um vencedor!
Chegará o dia, em que  experimentarás verdadeiramente em ti cheio de felicidade, a alegria suprema do vencedor!
Então o gérmen da "flor de lótus" está desabrochado, e nos  lagos sagrados do Templo, que nunca um olho terreno vislumbra, torna-se para o olho espiritual do teu Guia invisível, - os antigos denominavam-o: o teu "Anjo" custódio, - um botão à superfície imóvel e misteriosa das águas...
Cheio de uma alegria sagrada ele chamará os companheiros e, a partir desse dia, um grupo de guardiões escolhidos velará sobre as águas sagradas.
Aconteceu um milagre!
Um milagre, que um Homem terreno operou, - porque é mais fácil levar  por um fina corda de cânhamo um elefante enfurecido através da agitação do mercado, do que unificar as numerosas vontades das forças anímicas que constituem a "alma" de uma pessoa, sob a vontade dessa mesma pessoa!---
Todavia agora  a luz velada do dia deve proteger o botão com os seus raios suaves para que ele possa, um dia atingir o pleno esplendor da sua floração maravilhosa.
Grandes árvores seculares envolvem o misterioso lago do Templo e protegem o frágil botão dos raios ardentes do sol que para já poderiam imediatamente queimar e destruir esta formação  acabada de nascer.
Altas muralhas em torno do Templo detém o vento chamejante do deserto...
Agora, ó tu que procuras, começa para ti uma nova actividade!
Mas esta acção exige também verdadeiramente a calma exterior e a mais silenciosa contemplação.
Poderás todavia dedicar-te à tarefa que agora te cabe, depois do teu trabalho diário, ou talvez antes dele, consagrando-lhe as horas calmas da manhã...
Eis que chegou agora o tempo em que deves aprender doce e delicadamente a questionar internamente e depois a escutar então interiormente.
Não conseguirás estar suficientemente silencioso para isto!
O que se esconde em ti e que em breve se deverá revelar, não o poderás encontrar na ruidosa fala dos teus pensamentos.--
  É no centro do teu coração que está, mas não podes ainda ouvir a sua palavra, porque a sua voz é ténue como o apelo longínquo de um pássaro...
Não afugentes  de ti a sua palavra !
Presta atenção ao seu suave som!
De modo algum poderás escutar a sua palavra em ti, se não souberes preservar o silêncio em ti!-
Responder-te-á  no início às tuas serenas perguntas em voz tão baixa que mesmo a brisa mais leve dissipará em ti a sua voz.--
Um dia contudo aprenderás finalmente a ouvir essa voz e a distingui-la de qualquer outra voz interior.
Não ouvirás a sua voz, como se fosse falada do exterior!
Também não será com palavras da tua língua que ela te falará, nem em nenhuma outra língua humana falada nesta Terra!--
E no entanto, o que a voz terá para te dizer, tornar-se-á em breve para ti bem mais compreensível de que tudo o que jamais ouviste, desde a infância, através da boca humana, numa linguagem humana!---
Agora deverás seguir esta voz...
Todos os teus progressos futuros no caminho serão preparados somente pela tua fidelidade.
Gradualmente aprenderás a reconhecer, que  a tua vontade agora já não serve apenas segundo as directivas do teu juízo terreno, mas que tu, muito imperceptivelmente, sabes já reorientá-la para as altas instruções do Espírito, - para a vontade de tal "voz"...
Mergulharás  mais profunda e mais profundamente no secreto da tua alma.
Quanto mais souberes, mais pressentirás o que ainda está escondido.--
Grato e cuidadoamente guarda também a menor das vivências que experimentas no domínio da alma, porque: - a tua gratidão para o pouco, trar-te-á mais cedo a plenitude da vivência!---
Por fim contemplarás um reino de maravilhas interiores, de que nenhuma descrição poderia 
causar-te hoje qualquer pressentimento que fosse!
Há coisas que entram na tua vida, que hoje lhes chamas "impossíveis",- e hoje em verdade ainda com razão!--
Como o maior dos prodígios manifestar-se-á porém a ti, que tudo isso te está dado no teu poder,- que não precisarás de esperar na incerteza o cumprimento das tuas aspirações, porque permanentemente elas realizar-se-ão com toda a certeza pela sua própria força...
Se fores reconhecido nisto como um companheiro fiel dos conselhos mais íntimos, então cada vez mais a "flor de lótus" terá desabrochado gradualmente no lago do Templo espiritual
Não tardará, ou pelo menos não estará tão longe,
o dia em que vivenciaras a flor, totalmente aberta brilhando nas águas, irradiando uma claridade que certamente não pode vir do sol desta Terra...

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