Fernando Pessoa, na plenitude das suas forças, com 25 anos bem firmes, visto e intuído por Almada Negreiros, então com 20 anos, a lápis cor de rosa... Colecção António Trindade. Mas em 2023 já na posse da Câmara Municipal de Lisboa.
Nada melhor para celebrar Fernando Pessoa, que valorizar a busca e a transmissão das ideias, doutrinas, intuições, símbolos, compreensões e realizações mais conseguidas e luminosas que ele nos deixou na sua vasta floresta, ora de alheamento e desassossego, ora de procura e de realização ou, como ele escreveu em inglês, "quest and attainment", os dois estágios de um certo progresso no caminho iniciático, trilhado ora por uma genialidade inata ora por estudos aturados das ciências ocultas, que incluíram a astrologia, o espiritismo, a teosofia, a alquimia, o hermetismo, a gnose, a cabala, o rosicrucianismo, a maçonaria, os mistérios, o Tarot, a magia, os ensinamentos das altas ordens secretas, os Templários e a Ordem de Cristo, e os entendimentos esotéricos e simbólicos que se escondem nas religiões e mitos. Se não há dúvidas que isto foi sendo estudado e desenvolvido metódica ou pelos menos persistentemente ao longo da sua vida, resta-nos saber, ou fica em aberto, o que poderá ter sido mais útil à sua realização gnóstica, iniciática ou interna e o que foi busca e trabalho não tão directamente produtivo ou perene, sem grande valor para quando entrou no além, momento este bem importante, sinalizado por exemplo também por Antero de Quental, e depois por Joaquim de Araújo, quando afirmam, seguindo a tradição Grega, o dito da Antologia Grega: "Morrer é ser iniciado".
A par (ou mesmo acima, e este é outro factor ou ideia força importante a pesarmos) desta busca espiritual que nunca se saberá bem até onde resultou, esteve sempre a escrita, a poesia, a obra genial na Literatura e na qual se empenhou de tantos e diversos modos que se tornou um mestre mundial da heteronímia, não só com os três e ele próprio mas com dezenas de heterónimos ou pelo menos cerca de 120 semi-heterónimos, figuras menores de um grande dramaturgo, rico na imaginação e na descaracterização pessoal em troca da infinita riqueza imaginável, ou talvez mesmo, como ele apontou em alguns textos, assumindo-se como um demiurgo, fazendo na sua obra criativa o que a Divindade fez com a Manifestação ou a Fundação do Cosmos.
A par (ou mesmo acima, e este é outro factor ou ideia força importante a pesarmos) desta busca espiritual que nunca se saberá bem até onde resultou, esteve sempre a escrita, a poesia, a obra genial na Literatura e na qual se empenhou de tantos e diversos modos que se tornou um mestre mundial da heteronímia, não só com os três e ele próprio mas com dezenas de heterónimos ou pelo menos cerca de 120 semi-heterónimos, figuras menores de um grande dramaturgo, rico na imaginação e na descaracterização pessoal em troca da infinita riqueza imaginável, ou talvez mesmo, como ele apontou em alguns textos, assumindo-se como um demiurgo, fazendo na sua obra criativa o que a Divindade fez com a Manifestação ou a Fundação do Cosmos.
Nem tudo porém foi só intelecto e iniciação e deveremos abordar um pouco, seguindo até a sua atracção e persistente dedicação à astrologia, o embate no céu natal de Mercúrio e de Vénus, ou da mente analítica, investigadora e comunicativa, e o amor, os afectos, a comunhão e união: ora nisto Fernando Pessoa, além da mãe e de poucos amigos, só teve uma mais significativa e afectiva relação, aquela com a jovem lisboeta Ofélia Queirós, que durou pouco tempo, embora por duas vezes, sobrevivendo até por escrito as razões precisas dadas para tais separações.
Assim, na primeira separação, cinco anos depois já do seu redespertar espiritual de 1915 (sincrónico com a tradução de obras de Teosofia que João Antunes lhe entregou) o que indica que ao fim desses anos ainda estava com grande força e fé no seu caminho de discípulo ou ocultista, tendo passado já pela aventura do Orpheu e a da criação e doutrinação complexa dos heterónimos, por vezes desgastantes nas suas divergências complementares, sem esquecer o desassossego quase ao longo de toda a sua vida de Bernardo Soares, mais precisamente no dia 29/11/1920, após oito meses de namoro comprovados pela correspondência, escreve a Ophelia: «O amor passou. Mas conservo-lhe uma afeição inalterável, e não esquecerei nunca — nunca, creia — nem a sua figurinha engraçada e os seus modos de pequenina, nem a sua ternura, a sua dedicação, a sua índole amorável. Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos desde a infância, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras afeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memória profunda do seu amor antigo e inútil. Que isto de «outras afeições» e de «outros caminhos» é consigo, Ophelinha, e não comigo. O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existência a Ophelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais à obediência a Mestres que não permitem nem perdoam».
Assim, na primeira separação, cinco anos depois já do seu redespertar espiritual de 1915 (sincrónico com a tradução de obras de Teosofia que João Antunes lhe entregou) o que indica que ao fim desses anos ainda estava com grande força e fé no seu caminho de discípulo ou ocultista, tendo passado já pela aventura do Orpheu e a da criação e doutrinação complexa dos heterónimos, por vezes desgastantes nas suas divergências complementares, sem esquecer o desassossego quase ao longo de toda a sua vida de Bernardo Soares, mais precisamente no dia 29/11/1920, após oito meses de namoro comprovados pela correspondência, escreve a Ophelia: «O amor passou. Mas conservo-lhe uma afeição inalterável, e não esquecerei nunca — nunca, creia — nem a sua figurinha engraçada e os seus modos de pequenina, nem a sua ternura, a sua dedicação, a sua índole amorável. Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos desde a infância, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras afeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memória profunda do seu amor antigo e inútil. Que isto de «outras afeições» e de «outros caminhos» é consigo, Ophelinha, e não comigo. O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existência a Ophelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais à obediência a Mestres que não permitem nem perdoam».
Já em 1929, após um relacionamento de quatro meses (Setembro 1929 a Janeiro de 1930, no qual a presença algo perturbante, alcoólica ou violenta de Álvaro de Campos surge fortemente), justifica Fernando Pessoa a sua recusa de continuar a namorá-la apenas pelo facto de ter uma obra literária a cumprir e não pela obediência a mestres, indicando assim que o cordão, mistificado ou não, com os mestres não estava já tão activo...
A par destes dois aspectos fundamentais da sua vida, o caminho ocultista, gnóstico, mágico e iniciático, e o caminho poético, dos contos, da literatura, num outro se ergueu: o da sua inserção na contemporaneidade, na sociedade, em Portugal e na Europa, com uma consciência, lucidez e amor tão argutos que devemos a eles a existência de milhares de páginas de ensaísmo, de análise sociológica, histórica, cultural e política, grande parte delas consagradas a Portugal.
A par destes dois aspectos fundamentais da sua vida, o caminho ocultista, gnóstico, mágico e iniciático, e o caminho poético, dos contos, da literatura, num outro se ergueu: o da sua inserção na contemporaneidade, na sociedade, em Portugal e na Europa, com uma consciência, lucidez e amor tão argutos que devemos a eles a existência de milhares de páginas de ensaísmo, de análise sociológica, histórica, cultural e política, grande parte delas consagradas a Portugal.
Este amor a Portugal concretizou-se com algumas publicações em vida muito significativas, entre entrevistas e opúsculos, entre elas se destacando a Mensagem, onde verte muito do seu conhecimento tanto esotérico como mítico para iluminar de acordo com a sua visão, sensibilidade e interpretação os seres e figuras, as forças e momentos históricos tutelares de Portugal e que ele, cultor da Tradição espiritual de Portugal, ou como ele chamava, da Grande Alma Portuguesa, queria que não fossem só passado, mas que, no seu presente tão enevoado, o iniciático "É a Hora" erguesse de novo na grande Alma Portuguesa os seus mais conscientes ou despertos Fiéis do Amor: "Valete, Fratres"
Talvez mesmo onde tal Amor mais ressoa seja no poema dos Clarins, que foi denominado de V. Império, e que é uma verdadeira invocação e vocação mágica e poderosa dos seres da Tradição portuguesa para ajudarem à ressurgência do país e dos seus mais prontos, sensíveis e abnegados seres. Um apelo que ainda hoje é praticado por algumas almas, embra cada vez menos, face à grande aglutinação manipulada e e alienada transhumanista ou infrahumanista da União Europeia e da Nova Ordem Mundial que se tenta implementar
Por motivos vários sabemos como Portugal foi entrando em sucessivas crises e num afastamento da plenitude cultural que Fernando Pessoa tanto sonhara, ou mesmo se embriagara, imaginando Portugal a liderar um V Império, esfumando-se tal sonho e sobrevivendo nuns poucos continuadores mas sem a genialidade, profundidade e força, nem o ambiente próprio, que conseguisse ou consiga movimentar o querer ser mais profundo dos portugueses invocado na Mensagem...
Muitos dos seus estudos astrológicos, das profecias, do sebastianismo e dos mitos acabaram por soçobrar ou configurarem-se hoje até mais como mitificações ora incorrectas ora exageradas, incapazes de produzirem o levantamento moral e ético, cultural e espiritual dos portugueses e logo de Portugal, cada vez mais pressionado pelas crises que uma classe política e financeira, avessa a tais valores, agravou pesadamente, e nos últimos anos cada vez mais devido à pressão nefasta da União Europeia.
Contudo, há que não perder a esperança e, no vasto oceano dos seus pensamentos e compreensões, símbolos, intuições e projectos que nos deixou nos seus escritos, muitos continuam operativos e, sem termos de o seguir à letra quando imagina um futuro grandioso, apontando por exemplo na carta ao Conde Keyserling, a data de 2130 para Portugal entrar na sua terceira fase ou movimento de sua alma espiritual profunda, sendo discutível até esta divisão, tal como é também as das idades e eras contidas nas mistagógicas pseudo-profecias judaicas e cristãs que Fernando Pessoa demasiado valorizou, nomeadamente as de Bandarra e P. António Vieira, já que as de Joaquim de Fiora pouco conheceu, poderemos ainda assim hoje e no iniciático Aqui e Agora do É a Hora, trabalhar pelo Bem, pela Verdade, pelo Espírito e pela Divindade, em nós e nos outros...
A nossa missão, como elos da Tradição Espiritual Portuguesa na qual ele se inspirou e que provavelmente de algum modo o inspirou e protegeu, como ele por vezes afirma ou alude templariamente ("Não meu, não meu..."), terá de ser bem mais modesta que a embriaguez dos sonhos imperiais, e poderá, por exemplo, valorizar o discernir quais os ensinamentos mais valiosos e perenes para nós, hoje, tanto cidadãos do século XXI como seres portugueses num caminho de auto-conhecimento, ou de despertar, ou mesmo numa via iniciática de práticas perseverantes.
No último ano da sua vida as cartas e notas autobiográficas , na linha do que fizera Antero de Quental, que foi para ele ao longo dos anos, e sobretudo no início, uma referência muito importante, ajudam muito a compreendermos o que ele publica, ou o que exotericamente pode afirmar na altura, estando esta diferença entre o exotérico ou mais exterior e superficial e o esotérico como o mais interno ou íntimo, bem expressa no facto de ter pedido a Casais Monteiro para não publicar uma certa parte da carta que depois da polémica a propósito da Lei das Associações Secretas ter estalado, decide torná-la pública, talvez até antevendo a sua próxima morte...
Será então nos textos e poemas esotéricos, muitos deles só publicados postumamente, que encontraremos as mais luminosas ou espirituais pérolas que depositou ou germinaram no seu oceano tão criativo quão complexo, e que urge portanto estudar, meditar e aprofundar...
Transcreveremos apenas três textos, o 1º, uma parte da famosa carta confessional à tia Anica, no dia de S. João de 1916, em que manifesta um certo despertar espiritual: «Guardo, porém, para o fim o detalhe mais interessante. É que estou desenvolvendo qualidades não só de médium escrevente, mas também de médium vidente. Começo a ter aquilo a que os ocultistas chamam «a visão astral», e também a chamada «visão etérica». Tudo isto está muito em princípio, mas não admite dúvidas. É tudo, por enquanto, imperfeito e em certos momentos só, mas nesses momentos existe.
Há momentos, por exemplo, em que tenho perfeitamente alvoradas (?) de «visão etérica» — em que vejo a «aura magnética» de algumas pessoas, e, sobretudo, a minha ao espelho e, no escuro, irradiando-me das mãos. Não é alucinação porque o que eu vejo outros vêem-no, pelo menos, um outro, com qualidades destas mais desenvolvidas. Cheguei, num momento feliz de visão etérica, a ver na Brasileira do Rossio, de manhã, as costelas de um indivíduo através do fato e da pele . Isto é que é a visão etérica em seu pleno grau. Chegarei eu a tê-la realmente, isto é, mais nítida e sempre que quiser?
A «visão astral» está muito imperfeita. Mas às vezes, de noite, fecho os olhos e há uma sucessão de pequenos quadros, muito rápidos, muito nítidos (tão nítidos como qualquer cousa do mundo exterior). Há figuras estranhas, desenhos, sinais simbólicos, números (também já tenho visto números), etc. (...) O que me incomoda um pouco é que eu sei pouco mais ou menos o que isto significa. Não julgue que é a loucura. Não é: dá-se até o facto curioso de, em matéria de equilíbrio mental, eu estar bem como nunca estive. É que tudo isto não é o vulgar desenvolvimento de qualidades de médium. Já sei o bastante das ciências ocultas para reconhecer que estão sendo acordados em mim os sentidos chamados superiores para um fim qualquer que o Mestre desconhecido, que assim me vai iniciando, ao impor-me essa existência superior, me vai dar um sofrimento muito maior do que até aqui tenho tido, e aquele desgosto profundo de tudo que vem com a aquisição destas altas faculdades.»
Como já vimos, esta intuição ou desejo de Fernando Pessoa, no fim de 1920 foi utilizada para justificar o fim do primeiro namoro com a Ofélia, mas já não para findar o segundo, em 1929, talvez por mais realismo quanto aos míticos mestres, apesar do seu longo percurso de estudos e escritos ocultistas, esotéricos ou gnósticos mantidos até ao fim da vida...
Por motivos vários sabemos como Portugal foi entrando em sucessivas crises e num afastamento da plenitude cultural que Fernando Pessoa tanto sonhara, ou mesmo se embriagara, imaginando Portugal a liderar um V Império, esfumando-se tal sonho e sobrevivendo nuns poucos continuadores mas sem a genialidade, profundidade e força, nem o ambiente próprio, que conseguisse ou consiga movimentar o querer ser mais profundo dos portugueses invocado na Mensagem...
Muitos dos seus estudos astrológicos, das profecias, do sebastianismo e dos mitos acabaram por soçobrar ou configurarem-se hoje até mais como mitificações ora incorrectas ora exageradas, incapazes de produzirem o levantamento moral e ético, cultural e espiritual dos portugueses e logo de Portugal, cada vez mais pressionado pelas crises que uma classe política e financeira, avessa a tais valores, agravou pesadamente, e nos últimos anos cada vez mais devido à pressão nefasta da União Europeia.
Contudo, há que não perder a esperança e, no vasto oceano dos seus pensamentos e compreensões, símbolos, intuições e projectos que nos deixou nos seus escritos, muitos continuam operativos e, sem termos de o seguir à letra quando imagina um futuro grandioso, apontando por exemplo na carta ao Conde Keyserling, a data de 2130 para Portugal entrar na sua terceira fase ou movimento de sua alma espiritual profunda, sendo discutível até esta divisão, tal como é também as das idades e eras contidas nas mistagógicas pseudo-profecias judaicas e cristãs que Fernando Pessoa demasiado valorizou, nomeadamente as de Bandarra e P. António Vieira, já que as de Joaquim de Fiora pouco conheceu, poderemos ainda assim hoje e no iniciático Aqui e Agora do É a Hora, trabalhar pelo Bem, pela Verdade, pelo Espírito e pela Divindade, em nós e nos outros...
A nossa missão, como elos da Tradição Espiritual Portuguesa na qual ele se inspirou e que provavelmente de algum modo o inspirou e protegeu, como ele por vezes afirma ou alude templariamente ("Não meu, não meu..."), terá de ser bem mais modesta que a embriaguez dos sonhos imperiais, e poderá, por exemplo, valorizar o discernir quais os ensinamentos mais valiosos e perenes para nós, hoje, tanto cidadãos do século XXI como seres portugueses num caminho de auto-conhecimento, ou de despertar, ou mesmo numa via iniciática de práticas perseverantes.
No último ano da sua vida as cartas e notas autobiográficas , na linha do que fizera Antero de Quental, que foi para ele ao longo dos anos, e sobretudo no início, uma referência muito importante, ajudam muito a compreendermos o que ele publica, ou o que exotericamente pode afirmar na altura, estando esta diferença entre o exotérico ou mais exterior e superficial e o esotérico como o mais interno ou íntimo, bem expressa no facto de ter pedido a Casais Monteiro para não publicar uma certa parte da carta que depois da polémica a propósito da Lei das Associações Secretas ter estalado, decide torná-la pública, talvez até antevendo a sua próxima morte...
Será então nos textos e poemas esotéricos, muitos deles só publicados postumamente, que encontraremos as mais luminosas ou espirituais pérolas que depositou ou germinaram no seu oceano tão criativo quão complexo, e que urge portanto estudar, meditar e aprofundar...
Transcreveremos apenas três textos, o 1º, uma parte da famosa carta confessional à tia Anica, no dia de S. João de 1916, em que manifesta um certo despertar espiritual: «Guardo, porém, para o fim o detalhe mais interessante. É que estou desenvolvendo qualidades não só de médium escrevente, mas também de médium vidente. Começo a ter aquilo a que os ocultistas chamam «a visão astral», e também a chamada «visão etérica». Tudo isto está muito em princípio, mas não admite dúvidas. É tudo, por enquanto, imperfeito e em certos momentos só, mas nesses momentos existe.
Há momentos, por exemplo, em que tenho perfeitamente alvoradas (?) de «visão etérica» — em que vejo a «aura magnética» de algumas pessoas, e, sobretudo, a minha ao espelho e, no escuro, irradiando-me das mãos. Não é alucinação porque o que eu vejo outros vêem-no, pelo menos, um outro, com qualidades destas mais desenvolvidas. Cheguei, num momento feliz de visão etérica, a ver na Brasileira do Rossio, de manhã, as costelas de um indivíduo através do fato e da pele . Isto é que é a visão etérica em seu pleno grau. Chegarei eu a tê-la realmente, isto é, mais nítida e sempre que quiser?
A «visão astral» está muito imperfeita. Mas às vezes, de noite, fecho os olhos e há uma sucessão de pequenos quadros, muito rápidos, muito nítidos (tão nítidos como qualquer cousa do mundo exterior). Há figuras estranhas, desenhos, sinais simbólicos, números (também já tenho visto números), etc. (...) O que me incomoda um pouco é que eu sei pouco mais ou menos o que isto significa. Não julgue que é a loucura. Não é: dá-se até o facto curioso de, em matéria de equilíbrio mental, eu estar bem como nunca estive. É que tudo isto não é o vulgar desenvolvimento de qualidades de médium. Já sei o bastante das ciências ocultas para reconhecer que estão sendo acordados em mim os sentidos chamados superiores para um fim qualquer que o Mestre desconhecido, que assim me vai iniciando, ao impor-me essa existência superior, me vai dar um sofrimento muito maior do que até aqui tenho tido, e aquele desgosto profundo de tudo que vem com a aquisição destas altas faculdades.»
Como já vimos, esta intuição ou desejo de Fernando Pessoa, no fim de 1920 foi utilizada para justificar o fim do primeiro namoro com a Ofélia, mas já não para findar o segundo, em 1929, talvez por mais realismo quanto aos míticos mestres, apesar do seu longo percurso de estudos e escritos ocultistas, esotéricos ou gnósticos mantidos até ao fim da vida...
O segundo texto, para que possamos de quando em quando trabalhar e aprofundar a ressonância do sentido oculto, interno ou luminoso, tal como recomenda o anagrama hermético por ele conhecido e referido VITRIOL (Visita interior terra, rectificando descobrirás a oculta lápide, ou pedra) e o que o complementa, da Tradição tanto ocidental como perene, por ele muito estudado e glosado, está constituído pelas letras das iniciais INRI, e desdobra-se, entre outras leituras ou possibilidades, como In nobis regnat Ignis, ou seja, Em nós reina o Fogo do amor, da luz ardente do espírito e da Divindade.
O terceiro, constitui dos ensinamentos mais valiosos seus, e provindo do último ano da sua vida:
«Kabalas, magia, grimórios brancos ou negros, breviários de misticismo ou de ascese, essas coisas são fórmulas, formas, nada mais. Nelas não há mais vida que a vida que há em quem usa delas, e essa será a que é ainda que elas nunca houvessem sido. (...)
O conhecimento de Deus não depende do hebreu, nem de anagramas, nem de símbolos. Nem de língua alguma, falada ou pensada; faz-se pela ascensão univocal da alma, pelo encontro final da alma consigo mesmo, do Deus em nós consigo mesmo».
O terceiro, constitui dos ensinamentos mais valiosos seus, e provindo do último ano da sua vida:
«Kabalas, magia, grimórios brancos ou negros, breviários de misticismo ou de ascese, essas coisas são fórmulas, formas, nada mais. Nelas não há mais vida que a vida que há em quem usa delas, e essa será a que é ainda que elas nunca houvessem sido. (...)
O conhecimento de Deus não depende do hebreu, nem de anagramas, nem de símbolos. Nem de língua alguma, falada ou pensada; faz-se pela ascensão univocal da alma, pelo encontro final da alma consigo mesmo, do Deus em nós consigo mesmo».
Finalizemos com um mantra operativo da Tradição Espiritual Portuguesa, por ele também valorizado, o Talant de bien faire, o lema do Infante D. Henrique, Talante de fazer o Bem, ou Vontade de fazer o Bem...
2 comentários:
olá Pedro:
a
Acabei de ler o teu texto sobre Fernando Pessoa.
Excelente dissertação sobre algumas fases da sua vida.
Bem-hajas sempre pela tua disponibilidade em partilhares essa tua alma bondosa.
Abraço
Manuel Bernardes
Muitas graças, Manuel
Um pequeno contributo... Votos de boas inspirações nas tuas criatividade. Abraço luminoso!
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