segunda-feira, 3 de junho de 2019

Quem foi José Joyce, autor de "A Crença do Hereje", 1882, acerca de Galileu, pai de António Joyce? Enigmas bio-bibliográficos portugueses.

José Joyce é um autor quase desconhecido, não referido na base de dados (PORBASE) da Biblioteca Nacional, que deu à luz em 1882 em Lisboa A Crença do Herege, um poemeto algo anteriano, acerca do julgamento de Galileu Galilei (Pisa, 15 de Fevereiro de 1564 - Florença, 8 de Janeiro de 1642), que chegou até às minhas mãos num exemplar com a capa trabalhada e a ela colados recortes de jornais com a sua colaboração poética, contendo no reverso do frontispício a dedicatória manuscrita afectuosa a uma amiga, e assim me lançando nesta demanda de mais conhecimento sobre quem foi...






«Glória, és imortal! Essa luz que te enflora/ Paz duma noite escura, a mais brilhante aurora/ E ateias deslumbrante a inspiração divina/ Em que o génio se expande e a todos ilumina.»

 
Intensa é a cena final do poemeto, quando Galileu, depois de ser forçado pelos inquisidores a desmentir que a Terra se move à volta do Sol,  e observando o riso felino dos seus acusadores, num abrupto derradeiro e fatal volta-face, exclama num protesto corajoso e de último alento:«E existes, todavia, ó lei do movimento».

O recorte do poema seguinte é uma peça do puzzle ou mistério de José Joyce:

 José Joyce foi o pai de António (Avelino) Joyce (1888-1864), maestro reconhecido, pois este recorte do jornal, datado de 1908, contem um poema dedicado ao seu filho António, então já com 20.
 Um ano depois deste poema, em 1909, o poeta João de Barros (conforme a fotografia seguinte), dedica a António Joyce um exemplar da sua Terra Florida, e em 1913, já como secretário geral do Ministério da Educação, protegerá bastante a música e os coros, através do apoio a António Arroio e António Joyce.

 Também Aarão de Lacerda cita António Joyce no seu livro Lucernas, 1922, na p. 136, como sendo o fundador em Coimbra do «Orpheon Académico de tão belas tradições».
Também um texto de Ana Cristino Brissos, António Joyce (1888-1964), em dois tempos ideológicos, que está online, dará mais informação, ainda não sobre José Joyce, mas sobre  o seu filho António que, licenciado em Direito pela Universidade Coimbra,  desempenhou funções administrativas no Estado e foi tanto um notável violinista e maestro fundador do Orfeão Académico, como um valioso investigador etnomusicólogo, recolhendo, transcrevendo e estudando cancioneiros das províncias, e ainda um dos organizadores da escolha da Aldeia mais típica de Portugal.  Esperemos que venham a surgir mais dados sobre José Joyce...
 
Ps. Já em 31-10-2023, relendo o Espírito Lusitano ou o Saudosismo, de 1912, uma conferência de Teixeira de Pascoaes, deparo-me com a sua elevada esperança em António Joyce, pois referindo as grandes almas do Renascimento espiritual em Portugal aponta, entre outros, Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, António Carneiro, Soares dos Reis, Cervantes Haro e conclui: «Eis os artistas e os Poetas a quem a Saudade falou, eis a lírica falange libertadora da alma portuguesa, desde séculos no cativeiro, desde séculos no esquecimento...
O Saudosismo encontrará, estou certo, a sua forma musical no Orfeon do Porto e de Coimbra, dirigidos por António Joyce e Fernando Moutinho.
Só no seio da Harmonia se poderá realizar o perfeito casamento da luz e da sombra, da alegria e da tristeza, do beijo e da lágrima, da vida e da morte. A própria harmonia não é a combinação dos contrastes? Não é ela a irmã-gémea da Saudade?»

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