No número 12 da Gazeta Musical, de Novembro de 1884, saía da pena de Higino Augusto da Costa Paulino uma biografia do notável compositor dinamarquês Niels Gade, acompanhada de uma bela ilustração, cremos que desenhada em especial para a Gazeta. Como Niels Gade (22-II-1817 a 21-XII-1890), continua a ser um compositor apreciado, tem toda a razão de ser partilharmos esta biografia realizada por um português, meu bisavô materno, amigo da pianista Josephine Amann que conhecera Niels Gade, e que dirigia com Higino a Gazeta Musical.
Leiamos então a breve biografia, sugerindo como música de acompanhamento uma das oito sinfonias criadas por Niels Gade, talvez a Sinfonia nº 5, acessível por esta ligação: https://youtu.be/SHsyVtPxYuk
Niels Gade
«Não tem o nome ligado às ruidosas manifestações artísticas, este esplêndido talento, a quem acertadamente podia aplicar-se a frase de Véron [Eugène, 1825-1899] na sua Estética: "A arte nasceu com o homem; revela-se em todos os seus pensamentos, em todas as suas acções!" Niels Gade é o verdadeiro protótipo de tudo quanto de nobre e científico existe nas altas regiões musicais. Não se lhe conhece uma palavra que não seja para animar, instruir e engrandecer! A sua alma não alimenta outra ideia senão o progresso de uma arte – a música, a felicidade de uma família – a pobreza, o respeito de uma divisa – a modéstia! Contando sessenta e quantos anos, este respeitável compositor, considerado e querido por todos aqueles que possuem um pouco de amor pela arte, nunca, até hoje, encontrou alguém que lhe contestasse o mérito das suas obras, a proficiência do seu ensino! Vivendo parcamente em Copenhaga, Niels Gade, é conhecido na Dinamarca pelo cognome de Pai dos pobres, honra para ele mais lisonjeira que o de primeiro organista do mundo, que de direito lhe compete.
Foi na Alemanha que a popularidade desse artista começou a desenvolver-se, e, concluída a guerra de Sleswig, quando lhe foi permitido voltar à pátria [1848], a Dinamarca recebeu-o com tais provas de simpatia e de saudade, que o nome do maestro começou a ser apontado com um certo misticismo que lhe dava uma autoridade quase sobrenatural. Diz-se que a felicidade é a esperança sem o temor, a energia sem a inquietação, a glória sem a calúnia, o amor sem a inconstância, a imaginação que aformoseia o que possui, e afeia o que perdeu, que é enfim a embriaguez da natureza moral, o bem de todos os estados, de todos os talentos, de todos os prazeres separados do mal que os acompanha; se assim é, Niels Gade deve ser um dos mortais mais dignos dessa suprema ventura!
Há muitos anos regente da orquestra do Teatro Real de Copenhague, director da Sociedade de Concertos União Musical, cujo 25º aniversário foi celebrado em 1875, mestre de capela, o nosso biografado, é também o primeiro organista da catedral Fruckirke. Curioso é vê-lo, segundo dizem, como, em manhã de inverno, quando o céu está carregado, o nordeste frio e penetrante, despedindo uns chuveiros densos e rijos, fustiga e entorpece os membros com as suas rajadas de gelo, ele pontualmente, às seis horas sai de casa em direcção à igreja metropolitana, esperto, risonho, sem que na fisionomia lhe transpareça um vislumbre sequer, do cansaço que os anos e o trabalho imprimem nas frontes laboriosas, apenas embrulhado num simples capote, cuja idade primitiva será difícil indicar-se. Nem os seus próprios amigos, aqueles para quem Niels Gade vai adquirir o sustento diário, seriam capazes de afrontar os rigores duma madrugada desabrida, como essa veneranda criatura, que classifica as excursões matutinas, como dever imposto à sua existência moderada.
Apenas a Inglaterra, a Alemanha e a Dinamarca [também esteve em jovem na Itália] conhecem pessoalmente esta individualidade artística, e, note-se que, só à força de avultados empenhos, Londres conseguiu obtê-la. Aqui escreveu Niels Gade o grande festival The Crusaders, trabalho importante, que a par da sinfonia Ossian, são no género, julgados duas obras-primas. Homem extremamente activo, de uma fecundidade pouco comum, as suas produções são imensas, e as cantatas, sinfonias, sonatas, trios, cenas dramáticas, novelletas, aplaudidas em toda a Europa, montam a centenas, notando-se entre elas como sublimes, Karanus, Noite Santa, Mensagem da Primavera, Sião, Hamlet e Miguel Ângelo.
Mas, de todas essas obras que representam trabalho de meio século, de toda essa dedicação ao estudo, de todo esse desvelo pela arte onde se consumiram, e consomem ainda, os lucros adquiridos, as pensões estabelecidas, os valores ofertados? Nas habitações as mais indigentes, nas escolas as mais modestas, nas famílias as mais infelizes! E, contudo, o notável artista podia ter um palácio deslumbrante, guarnecido de cristais e de veludos os mais custosos, um lar, onde resfolgando da sua glória, respirasse um ar tépido, suave e acariciador.
Um dia, um grupo de músicos notáveis [a orquestra feminina dirigida pela pianista e maestrina Josephine Amann, a directora musical da Gazeta Musical] que percorria a Europa aportara a Copenhaga. Um concerto anunciara-se, entre os trechos escolhidos figurava o celebre Trio em mi-majeur de Beethoven. A nossa leitora de certo sabe que no decurso dessa jóia musical existe, no décimo compasso, um si-bemol difícil a uma execução clara e precisa. Pois Niels Gade, para quem a arte não tem recônditos, conhecendo de sobejo o famoso trio, e muito melhor o barranco acima apontado, procurou a pianista a quem estava distribuída a espinhosa tarefa de vibrar a nota, e perguntou, se nunca lhe falhara a execução naquele ponto.
- Nunca, lhe respondeu a artista.
- E quantas vezes tem tocado o trio do nosso imortal Beethoven?
- Inúmeras, meu caro mestre.
- Admiro-a, simplesmente, exclamou Niels Gade.
Horas depois, na sala de Santa Cecília, a composição do primeiro dos maestros alemães, parecia deslizar soberba, correta, tal como o autor a imaginara; mas de súbito, um som vibrante, estrídulo, desarmonioso, quebrara o encanto daquele esplêndido trecho! Nos lábios de Gade perpassara um sorriso de benevolência, nas faces da artista transparecera a lividez do desespero! Ao despedirem-se, ela parecia vergada ao peso de um desgosto irremediável; ele, afável, carinhoso, nem se quer demonstrava o triunfo da sua previsão.
- Não desanime, disse Gade, ao próprio Rubinstein, vi eu, mais de uma ocasião, vacilar nessa nota.
- Foi a primeira vez, juro-lhe, e creia que foi a última.
Efectivamente Joséfine Amann nunca mais tocou o Trio em mi-majeur de Beethoven.
Esta é uma pequeníssima amostra da ciência musical desse homem, que embora na velhice, na idade em que muitos talentos se julgam mortos para o sentimento e a paixão, sabe desprender a alma do letargo em que a reputam entorpecida, tão ardente, como nos primeiros dias da sua adolescência. Gino. »
Anote-se que Josephine Amann, que viveu infelizmente apenas 40 anos entre 1848 e 1877, ao confidenciar a Higino da Costa Paulino, com quem dirigia a Gazeta Musical, este episódio acaba por alertar-nos também passados tantos anos de tal erro, para a necessidade de humildade e constante plena atenção, o Ora et labora antigo.
Uns meses depois de este pormenor da sua vida ter sido imortalizado, era publicada para o último número, 24, do primeiro ano da Gazeta Musical, escrito por Ana Maria Ribeiro de Sá, uma curta biografia dela. Acrescentemos (hoje, 25-XII-2019) uma breve referência a ela num capítulo dedicado a Bulhão Pato (colaborador da Gazeta), das Realidades e Fantasias, 1882, do Visconde de Benalcanfor: «Lisboa, obrigada ao regimen musical de madame Amann e à diurética cerveja de Viena de Áustria, no restaurante do Passeio, é um tema tão extremamente singelo, que desperta a vontade de quaisquer variações. Pois variemos: fujamos até Sintra...»
Cheios de esperança de realização de amplos projectos no segundo ano da revista estavam todos, mas eis de repente Josephine partindo para o além, para grande desgosto de Eban Hamann, seu marido, de Higino, e de Ana Maria Ribeiro de Sá.
Já Niels Gade viveu bastante anos mais pois se nascera em Copenhaga, em 22-II-1817, e numa família de músicos, foi só a 21-XII-1890 que deixará a terra, depois de uma vida amplamente realizada, tendo sido protegido por Mendellson, convivido com Robert Schumann, Cornelius Giurtt e Robert Franz e dirigido por mais de 40 anos a Sociedade Musical de Copenhage, servindo por igual número de anos, como organista, as Igreja de Nossa Senhora e de Olmen, além de ser co-director do Conservatório de Copenhaga.
Protegeu e influenciou por sua vez a nova geração de compositores, entre os quais se destacaram Edward Grieg, Karl Nielsen, Otto Malling e outros. Casou-se uma segunda vez, após a morte da sua primeira mulher e viveu uma vida modesta e muito exemplar, tal como Higino soube retratar tão bem.
A sua música tem certa grandiosidade e recria épocas, ambientes ou eventos heroicos, nobres, belos...
Terminemos até com a descrição dada por Higino da Costa Paulino da felicidade, algo novecentista e romântica (com a tão difícil " embriaguez da natureza moral"), transcrevendo-a de novo, para tentarmos trabalhar os opostos iniciáticos, apresentados originalmente por ele: «Diz-se que a felicidade é a esperança sem o temor, a energia sem a inquietação, a glória sem a calúnia, o amor sem a inconstância, a imaginação que aformoseia o que possui, e afeia o que perdeu, que é enfim a embriaguez da natureza moral, o bem de todos os estados, de todos os talentos, de todos os prazeres separados do mal que os acompanha; se assim é, Niels Gade deve ser um dos mortais mais dignos dessa suprema ventura!»
Possamos nós também chegar a uma maior comunhão com o Bem, isto é, com o Ser e Fonte divina do todos e do nosso íntimo ser, que é Amor; e que pela nossa maior permanência de ligação a tal estado profundo consciencial vençamos energética e luminosamente inquietações e calúnias, desfrutando harmoniosa e gratamente da beleza do que nos rodeia e do que criamos, tal como Niels Gade, Josefine Amann e Higino da Costa Paulino tanto realizaram musicalmente e nas suas vidas interiores, familiares e sociais, e ainda hoje nos inspiram...
Pintura musical do mestre alemão Bô Yin Râ, muito boa para contemplação
Leiamos então a breve biografia, sugerindo como música de acompanhamento uma das oito sinfonias criadas por Niels Gade, talvez a Sinfonia nº 5, acessível por esta ligação: https://youtu.be/SHsyVtPxYuk
Niels Gade
«Não tem o nome ligado às ruidosas manifestações artísticas, este esplêndido talento, a quem acertadamente podia aplicar-se a frase de Véron [Eugène, 1825-1899] na sua Estética: "A arte nasceu com o homem; revela-se em todos os seus pensamentos, em todas as suas acções!" Niels Gade é o verdadeiro protótipo de tudo quanto de nobre e científico existe nas altas regiões musicais. Não se lhe conhece uma palavra que não seja para animar, instruir e engrandecer! A sua alma não alimenta outra ideia senão o progresso de uma arte – a música, a felicidade de uma família – a pobreza, o respeito de uma divisa – a modéstia! Contando sessenta e quantos anos, este respeitável compositor, considerado e querido por todos aqueles que possuem um pouco de amor pela arte, nunca, até hoje, encontrou alguém que lhe contestasse o mérito das suas obras, a proficiência do seu ensino! Vivendo parcamente em Copenhaga, Niels Gade, é conhecido na Dinamarca pelo cognome de Pai dos pobres, honra para ele mais lisonjeira que o de primeiro organista do mundo, que de direito lhe compete.
Foi na Alemanha que a popularidade desse artista começou a desenvolver-se, e, concluída a guerra de Sleswig, quando lhe foi permitido voltar à pátria [1848], a Dinamarca recebeu-o com tais provas de simpatia e de saudade, que o nome do maestro começou a ser apontado com um certo misticismo que lhe dava uma autoridade quase sobrenatural. Diz-se que a felicidade é a esperança sem o temor, a energia sem a inquietação, a glória sem a calúnia, o amor sem a inconstância, a imaginação que aformoseia o que possui, e afeia o que perdeu, que é enfim a embriaguez da natureza moral, o bem de todos os estados, de todos os talentos, de todos os prazeres separados do mal que os acompanha; se assim é, Niels Gade deve ser um dos mortais mais dignos dessa suprema ventura!
Há muitos anos regente da orquestra do Teatro Real de Copenhague, director da Sociedade de Concertos União Musical, cujo 25º aniversário foi celebrado em 1875, mestre de capela, o nosso biografado, é também o primeiro organista da catedral Fruckirke. Curioso é vê-lo, segundo dizem, como, em manhã de inverno, quando o céu está carregado, o nordeste frio e penetrante, despedindo uns chuveiros densos e rijos, fustiga e entorpece os membros com as suas rajadas de gelo, ele pontualmente, às seis horas sai de casa em direcção à igreja metropolitana, esperto, risonho, sem que na fisionomia lhe transpareça um vislumbre sequer, do cansaço que os anos e o trabalho imprimem nas frontes laboriosas, apenas embrulhado num simples capote, cuja idade primitiva será difícil indicar-se. Nem os seus próprios amigos, aqueles para quem Niels Gade vai adquirir o sustento diário, seriam capazes de afrontar os rigores duma madrugada desabrida, como essa veneranda criatura, que classifica as excursões matutinas, como dever imposto à sua existência moderada.
Apenas a Inglaterra, a Alemanha e a Dinamarca [também esteve em jovem na Itália] conhecem pessoalmente esta individualidade artística, e, note-se que, só à força de avultados empenhos, Londres conseguiu obtê-la. Aqui escreveu Niels Gade o grande festival The Crusaders, trabalho importante, que a par da sinfonia Ossian, são no género, julgados duas obras-primas. Homem extremamente activo, de uma fecundidade pouco comum, as suas produções são imensas, e as cantatas, sinfonias, sonatas, trios, cenas dramáticas, novelletas, aplaudidas em toda a Europa, montam a centenas, notando-se entre elas como sublimes, Karanus, Noite Santa, Mensagem da Primavera, Sião, Hamlet e Miguel Ângelo.
Mas, de todas essas obras que representam trabalho de meio século, de toda essa dedicação ao estudo, de todo esse desvelo pela arte onde se consumiram, e consomem ainda, os lucros adquiridos, as pensões estabelecidas, os valores ofertados? Nas habitações as mais indigentes, nas escolas as mais modestas, nas famílias as mais infelizes! E, contudo, o notável artista podia ter um palácio deslumbrante, guarnecido de cristais e de veludos os mais custosos, um lar, onde resfolgando da sua glória, respirasse um ar tépido, suave e acariciador.
Um dia, um grupo de músicos notáveis [a orquestra feminina dirigida pela pianista e maestrina Josephine Amann, a directora musical da Gazeta Musical] que percorria a Europa aportara a Copenhaga. Um concerto anunciara-se, entre os trechos escolhidos figurava o celebre Trio em mi-majeur de Beethoven. A nossa leitora de certo sabe que no decurso dessa jóia musical existe, no décimo compasso, um si-bemol difícil a uma execução clara e precisa. Pois Niels Gade, para quem a arte não tem recônditos, conhecendo de sobejo o famoso trio, e muito melhor o barranco acima apontado, procurou a pianista a quem estava distribuída a espinhosa tarefa de vibrar a nota, e perguntou, se nunca lhe falhara a execução naquele ponto.
- Nunca, lhe respondeu a artista.
- E quantas vezes tem tocado o trio do nosso imortal Beethoven?
- Inúmeras, meu caro mestre.
- Admiro-a, simplesmente, exclamou Niels Gade.
Horas depois, na sala de Santa Cecília, a composição do primeiro dos maestros alemães, parecia deslizar soberba, correta, tal como o autor a imaginara; mas de súbito, um som vibrante, estrídulo, desarmonioso, quebrara o encanto daquele esplêndido trecho! Nos lábios de Gade perpassara um sorriso de benevolência, nas faces da artista transparecera a lividez do desespero! Ao despedirem-se, ela parecia vergada ao peso de um desgosto irremediável; ele, afável, carinhoso, nem se quer demonstrava o triunfo da sua previsão.
- Não desanime, disse Gade, ao próprio Rubinstein, vi eu, mais de uma ocasião, vacilar nessa nota.
- Foi a primeira vez, juro-lhe, e creia que foi a última.
Efectivamente Joséfine Amann nunca mais tocou o Trio em mi-majeur de Beethoven.
Esta é uma pequeníssima amostra da ciência musical desse homem, que embora na velhice, na idade em que muitos talentos se julgam mortos para o sentimento e a paixão, sabe desprender a alma do letargo em que a reputam entorpecida, tão ardente, como nos primeiros dias da sua adolescência. Gino. »
Anote-se que Josephine Amann, que viveu infelizmente apenas 40 anos entre 1848 e 1877, ao confidenciar a Higino da Costa Paulino, com quem dirigia a Gazeta Musical, este episódio acaba por alertar-nos também passados tantos anos de tal erro, para a necessidade de humildade e constante plena atenção, o Ora et labora antigo.
Uns meses depois de este pormenor da sua vida ter sido imortalizado, era publicada para o último número, 24, do primeiro ano da Gazeta Musical, escrito por Ana Maria Ribeiro de Sá, uma curta biografia dela. Acrescentemos (hoje, 25-XII-2019) uma breve referência a ela num capítulo dedicado a Bulhão Pato (colaborador da Gazeta), das Realidades e Fantasias, 1882, do Visconde de Benalcanfor: «Lisboa, obrigada ao regimen musical de madame Amann e à diurética cerveja de Viena de Áustria, no restaurante do Passeio, é um tema tão extremamente singelo, que desperta a vontade de quaisquer variações. Pois variemos: fujamos até Sintra...»
Cheios de esperança de realização de amplos projectos no segundo ano da revista estavam todos, mas eis de repente Josephine partindo para o além, para grande desgosto de Eban Hamann, seu marido, de Higino, e de Ana Maria Ribeiro de Sá.
Já Niels Gade viveu bastante anos mais pois se nascera em Copenhaga, em 22-II-1817, e numa família de músicos, foi só a 21-XII-1890 que deixará a terra, depois de uma vida amplamente realizada, tendo sido protegido por Mendellson, convivido com Robert Schumann, Cornelius Giurtt e Robert Franz e dirigido por mais de 40 anos a Sociedade Musical de Copenhage, servindo por igual número de anos, como organista, as Igreja de Nossa Senhora e de Olmen, além de ser co-director do Conservatório de Copenhaga.
Protegeu e influenciou por sua vez a nova geração de compositores, entre os quais se destacaram Edward Grieg, Karl Nielsen, Otto Malling e outros. Casou-se uma segunda vez, após a morte da sua primeira mulher e viveu uma vida modesta e muito exemplar, tal como Higino soube retratar tão bem.
A sua música tem certa grandiosidade e recria épocas, ambientes ou eventos heroicos, nobres, belos...
Terminemos até com a descrição dada por Higino da Costa Paulino da felicidade, algo novecentista e romântica (com a tão difícil " embriaguez da natureza moral"), transcrevendo-a de novo, para tentarmos trabalhar os opostos iniciáticos, apresentados originalmente por ele: «Diz-se que a felicidade é a esperança sem o temor, a energia sem a inquietação, a glória sem a calúnia, o amor sem a inconstância, a imaginação que aformoseia o que possui, e afeia o que perdeu, que é enfim a embriaguez da natureza moral, o bem de todos os estados, de todos os talentos, de todos os prazeres separados do mal que os acompanha; se assim é, Niels Gade deve ser um dos mortais mais dignos dessa suprema ventura!»
Possamos nós também chegar a uma maior comunhão com o Bem, isto é, com o Ser e Fonte divina do todos e do nosso íntimo ser, que é Amor; e que pela nossa maior permanência de ligação a tal estado profundo consciencial vençamos energética e luminosamente inquietações e calúnias, desfrutando harmoniosa e gratamente da beleza do que nos rodeia e do que criamos, tal como Niels Gade, Josefine Amann e Higino da Costa Paulino tanto realizaram musicalmente e nas suas vidas interiores, familiares e sociais, e ainda hoje nos inspiram...
Pintura musical do mestre alemão Bô Yin Râ, muito boa para contemplação
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