terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Biografia do prof. Jose V. da Pina Martins, sucinta e cronológica. No centenário do seu nascimento, 1920-2020.

Dois notáveis erasmianos, à esquerda, Marcel Bataillon e à direita Pina Martins.
O prof. José Vitorino de Pina Martins nasceu em 18 de Janeiro de 1920, começo da noite, em Penalva de Alva, concelho de Oliveira do Hospital, distrito de Coimbra,  filho de António Vitorino de Abrantes Martins e de Maria Olímpia Faria de Pina. Educado num ambiente cristão católico e culto, desde muito novo, aos 4 anos, sentiu o amor pelos livros graças à biblioteca familiar, onde uma edição minúscula dos Lusíadas o encantou, começando depois a ler Connan Doyle e Júlio Verne. 
Na instrução primária recebeu o magistério inspirador  da professora D. Felicina Guilherme Hall, residente na aldeia das Dez, que o estimulou no amor e compreensão da leitura, além de memorização de passagens mais belas dos Lusíadas, desde a proposição à batalha do Salado e à formossíma Inês de Castro.
Frequentou o Seminário de Coimbra, "foi uma boa escola", dirá, onde aprendeu latim e literatura, não chegando à filosofia. Só depois entrou na escola Secundária, no Colégio de Brás Garcia Mascarenhas, em Oliveira do Hospital, "uma excelente instituição e ensino". Os exames de 3º, 6º e 7º anos foram prestados no Liceu D. João III em Coimbra, tendo a nota mais alta, 20, em Latim.
Em 1941 publica o seu primeiro livro sob o pseudónimo de Duarte de Montalegre, A Pregunta de Pilatos. Poemas ascético-filosóficos, a que se seguem em 1942, ano em que entra na Faculdade de Letras Juventude e Educação, e em 1943 duas obras: Angústia, poemas,  e o ensaio O Amor redenção do mundo moderno.  Alguns deles tinham sido publicados na conimbricense revista de cultura e formação católica Estudos, 1942.
A apreciação por carta de Teixeira de Pascoaes à sua primeira obra é elogiosa: «Li os seus poemas com o maior prazer espiritual. São cantos nascidos e não feitos, denunciando o ímpeto espontâneo da inspiração, que é, julgo eu,  a característica dos poetas autênticos...». Serão ainda vários os livros que publicará sob o pseudónimo de Duarte Montalegre, talvez custeados pela orientação  prestadas nas disciplinas de Latim, Filosofia e Literatura Portuguesa em alguns colégios de Coimbra.
Participou no movimento estudantil Coimbra que gravitava à volta da revista de cultura e formação católica Estudos, onde além dos artigos que publicou podemos ler por exemplo que na semana de estudos da Juventude Universitária Católica, realizada de 19 a 23 em Coimbra,  com nomes que se tornarão bem conhecidos como Francisco Sousa Tavares, Barrilaro Ruas (então presidente do C.A.D.C.) e Rui Cinati. Pina Martins intervém em três das sessões.
Em 1946, o prof. Joaquim de Carvalho convida-o a assistir na Universidade a uma conferência de Marcel Bataillon sobre Erasmo e fica muito impressionado com a qualidade do autor e do tema; quase trinta anos mais tarde, em 29-6-1973, em Paris, na avenue Jena, retomará essa amizade. Quanto a Erasmo e os Humanistas a semente também floresceu...

Em 1947 licencia-se em Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra com a tese Miséria e Grandeza do Homem em "Les Pensées" de Blaise Pascal. Algumas publicações posteriores ecoarão a simpatia pelo existencialismo cristão e a fé de Pascal. 

Destacará, nos "excelentes" professores, Joaquim de Carvalho (certamente o seu principal iniciador), Rebelo Gonçalves, Damião Peres, Lopes de Almeida, Costa Pimpão, Paulo Quintela. Nos investigadores, Mário Brandão e Torquato de Sousa Soares.  Entre os condiscípulos havia os alunos exemplares destinados a professores, tais Américo Ramalho, Maria Helena Rocha Pereira e José de Castro Nunes, e os que pela sua cultura e talento literário prometiam, tais como Virgílio Ferreira, Fernando Namora, Carlos de Oliveira, Dario Martins de Almeida. Ou ainda Joaquim Veríssimo Serrão, João Antunes Varela, Gonçalves Rodrigues e Magalhães Vilhena. 
Dos amigos mais próximos referirá primeiro Amândio César, "um verdadeiro devorador de livros, e de textos poéticos modernos", e que "como poeta afirmava-se na sinceridade e autenticidade", sendo "profundamente religioso". Este por sua vez corresponderá numa dedicatória dum livro, em 1951: «Para o Duarte Montalegre - ao Querido amigo e ao Intelectual mais alto da minha geração, com um xi do Amândio». E, depois, seus bons amigo também, Dario Martins de Almeida, Henrique Barrilaro Ruas e Eduardo Lourenço.
De 1948 a 1955 foi leitor de Português em Itália, na Universidade de Roma La Sapienza, tendo frequentado o curso de Biblioteconomia do Vaticano,  seguindo  na disciplina de Storia del Libro as lições de Lamberto Donati um grande conhecedor do livro ilustrado do Renascimento. Na Universidade de Bolonha estudou as relações históricas entre Itália e Portugal no século XVIII (à volta de Ludovico Antonio Muratori), sob o magistério de Carlo Calcaterra. 
Em 30.III.54, aos microfones da Radio Vaticano, faz um sábio apelo em prol da libertação de Ezra Pound, detido há oito anos pelos norte-americanos, que será publicado por Leo Magnino (que fora leitor de Italiano em Coimbra), na versão inglesa de Olivia Rosseti Agreste, e no qual põe em causa  os Estados Unidos da América quanto a seguirem o que apregoam:«os princípios da liberdade humana e dignidade, e a supremacia dos valores espirituais». A História dar-lhe-á razão, tanto na altura, já que o Parlamento Italiano fez então mais pressão para a sua libertação (de um manicómio e conseguiu-a), como hoje em que a opressão dos direitos humanos e da dignidade humana é a política corrente ou vigente do império norte-americano.
Publica em Braga em 1954, sob o nome de Duarte Montalegre, o  livro de poesia Rio Interior, "dedicado a memória de Teixeira de Pascoaes", com uma ilustração de Martins da Costa, contendo no interior um poema dedicado à Primula, a sua mulher, italiana.  
Em 1955 é transferido para o leitorado de português da Universidade de Poitiers, em França, onde trabalhou com Raymond Cantel. 
Em 1957 inscreveu na Universidade de Paris III (Sorbonne Nouvelle) as suas teses de doutoramento, nas quais trabalhou sob orientação de Léon Bourdon e Robert Ricard. 
Em 1961 foi convidado para assistente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, regressando em 1962, e rege as cadeiras de História da Cultura Moderna (1962), de História da Cultura Clássica (1962-1963), de História da Literatura Portuguesa II (1963-1964) e de Literatura Italiana (1963-1972), valorizando o estudo da história do livro e das fontes antigas.
São desta época (1964) os seus Ensaios de Literatura Europeia, publicados nas Edições Panorama, ainda sob o pseudónimo de Duarte Montalegre, e onde escreve sobre  S. Francisco, Marco Polo, Leopardi, André Gide, Bernanos, Jacques Maritain, Giovanni Papini, Ezra Pound, Endre Ady, Luigi Salvini, Jose Maria Valverde, Ribeiro Couto (poeta brasileiro a quem dedicará outros estudos), Jorge de Lima, Werner Bergengreuen, Giusuppe Ungaretti, Luigi Fantappié, Raffaele Spinelli, a este autor tendo dedicado também publicações individuais.
Em 1965 com Paulo Quintela, Vitorino Nemésio e Justino Mendes de Almeida dirige as celebrações universitárias do centenário de Gil Vicente. 
Em 1970 conclui uma das suas magníficas obras, que publicará em 1972, Sá de Miranda e a Cultura do Renascimento. I. Bibliografia, catalogando e comentando cerca de 1300 livros ou documentos mirandianos, muito deles reproduzidos. Das várias pessoas que de algum modo o ajudaram avultam investigadores como Gonçalves Rodrigues, Eugenio Asensio, Victor Buescu, Martim de Albuquerque, José Adriano Carvalho, e os livreiros Alfonso Cassuto, Américo F. Marques, António Tavares Carvalho, Ernesto Martins, Almarjão, João Rodrigues Pires e José Telles da Silva, a quem agradece.
Autógrafo de Sá de Miranda, e gravura a água forte e ponta seca de Martins da Costa.
Em 1972 dirige na Biblioteca Nacional a Exposição acerca d' Os Lusíadas,  sendo o responsável de Os Lusíadas (1572-1972). Catálogo da Exposição Bibliográfica, Iconográfica e Medalhística de Camões.  Prefácio de Manuel Lopes de Almeida. Introdução, selecção e notas bibliográficas de J. V. de Pina Martins. Lisboa, Imprensa Nacional, 1972. Cerca de 800 páginas, um trabalho gigantesco.
De 1972 a 1983 é Director do Centro Cultural Português, da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris, onde além de receber, com grande hospitalidade,  com a sua mulher Primula, os investigadores,  publicou mais de uma centena de edições de carácter científico no campo das letras humanas, num mecenato muito valioso, promovendo e participando em numerosas conferências, exposições e colóquios. Na colecção
Civilização Portuguesa começa a editar livros de grande sabedoria humanista, os dois primeiros sendo de Marcel Bataillon, Études sur le Portugal au temps de l'Humanisme, e de Eugenio Asensio, Estudios Portugueses, ambos no ano de 1974 e prefaciados por ele. Nos Arquivos do Centro Cultural Português de Paris organizará e publicará doze grossos volumes de alto valor cultural, três deles de homenagem a três grandes almas da "lusofilia universitária": Marcel Bataillon (em 1975), Leon Bourdon (em 1982) e Raymond Cantel (em 1983).
Viu contudo gorado o seu projecto de publicação em francês de uma biblioteca essencial da literatura portuguesa que a UNESCO e a Fundação Gulbenkian queriam publicar, por oposição da engenheira Lurdes Pintassilgo, então a representante Portuguesa,  perda  da divulgação da tradição cultural portuguesa algo  que sempre  lamentará. Já  em boa cooperação com a Universidade de Paris VIII instituiu cursos de Língua e Cultura Portuguesas no Centro  Cultural Português, em Paris, da Fundação Calouste Gulbenkian, que em 1983  tinham 178 alunos. 
Em 1973 identifica, estuda e publica o Tratado de Confissom (Chaves, 8 de Agosto de 1489), com "fac-símile, leitura diplomática e estudo bibliográfico", do primeiro livro impresso em português com caracteres góticos provindos de Espanha, a partir da descoberta que um livreiro alfarrabista, Tarcísio Trindade, fizera no norte de Portugal, em 1965.
Em 19 de Dezembro de 1974 defende durante seis horas as  teses de Doctorat d'État na Universidade de Paris III (Sorbonne Nouvelle), perante um júri presidido por Marcel Bataillon, do Collège de France, composto por Eugenio Asensio, Robert Ricard, Paul Teyssier, Raymond Cantel e André Saint-Lu, tendo alcançado com unanimidade a mais alta classificação. Será em 1976 que sairão nas Presses Universitaires de France, sob o título: Jean Pic de la Mirandole, un portrait inconu de l'humaniste. Une édition très rare de ses Conclusiones.
De 1974 a 1983 fundou e dirigiu com Jean Aubin o Centre de Recherches sur le Portugal de La Renaissance, na École pratique des Hautes Études (IVe section - Études historiques et philologiques), onde ensinou durante nove anos, dirigindo a cadeira de Civilização Portuguesa como chargé de conférences. 
Em 1975, a partir da ideia da então leitora de português em Roma, Elsa Gonçalves, coordenou, em Roma, sob a égide da Accademia Nazionale dei Lincei, do Instituto de Alta Cultura e da Fundação Calouste Gulbenkian a mostra bibliográfica sobre Camões e il Rinascimento Italiano para a qual redigiu igualmente o  catálogo, co-prefaciado com Luciana Stegagno Picchio, e no qual estavam descritos os 64 incunábulos e quinhentistas italianos expostos e considerados como fontes da poesia de Camões, «uomo del Rinascimento, formato dall'Umanesimo e attento a tutti gli interessi culturali e storici di un'epoca in cui l'uomo guarda alla realtà concreta del mundo», que «non esalta solo la storia del Portogallo, glorificando la scoperta della via marittima per le Indie: esalta sopratutto l'uomo capace di trionfare di ciò che la leggenda gli presentava come ostacole insuperabile, come prospettiva catastrofica».
Em 1976 esteve a pronunciar conferências no King's College de Londres e a dirigir um seminário em Oxford sobre o Humanismo português e sobre Giovanni Pico della Mirandola.
Em 1980 viaja ao México com seu grande amigo Eugenio Asensio, onde proferem conferências camonianas no Colégio do México, e peregrinam tanto Teotihuacan como o santuário de Nossa Senhora de Guadalupe. De tal resultará a publicação em 1982, com Asensio, do Luis de Camões. El Humanismo en su obra poética. Los Lusiadas y las Rimas en la Poesia Española (1580-1660), onde a dado momento afirma: «Por lo que toca al neoplatonismo, aunque los poemas de Camões especialmente los poemas líricos, no dejan lugar a duda, el mismo poeta nos dejó un testimonio claro en el monologo del personaje central de una de sus piezas, el Auto llamado Filomeno. En él, se habla de Platón, del Bembo, de Garcilaso, de Laura y de sonetos». 
Regressa a Portugal em 1983, já que fora convidado a ocupar o lugar de professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e a ser  Director do Serviço de Educação da Fundação Calouste Gulbenkian, actividade em que se exerce um mecenato cultural de teor social e humanista inigualável na história da Fundação e das múltiplas entidades culturais que necessitavam de apoios.
De 1985 a 1990 foi o Professor-Bibliotecário da Biblioteca Central da Faculdade de Letras, enriquecendo-a em vários aspectos. Em 1990, a Bibliotecária Assessora principal Lydia Pimentel elabora a bibliografia do seu antecessor, expondo 99 obras na Biblioteca: 16 de estudos bibliográficos, 59 de estudos críticos, 15 prefácios, 6 testemunhos e 3 traduções. Após algumas peripécias virá a ser esta  Biblioteca da Faculdade de Letras a possuidora dos livros antigos do prof. Pina Martins. Já em 1998, para uma pequena exposição na Biblioteca Nacional, Manuel Cadafaz de Matos cataloga, prefacia e descreve 129 Trabalhos Científicos de um grande investigador, José Vitorino de Pina Martins.
 Pertenceu à Academia das Ciências de Lisboa como académico associado desde Abril de 1977, proferindo a sua primeira comunicação nas comemorações sobre Thomas More, em Junho do mesmo ano. E foi eleito sócio efectivo em 1985, nesse ano sendo o Secretário geral do 1º Simpósio Nacional sobre O Humanismo Português 1500-1600 (de que sairão as notáveis comunicações,  em 700 páginas em 1988, a sua sendo sobre Sá de Miranda e a recepção no século XVI de um Dolce still nuovo renovado), tendo sido várias vezes eleito para exercer magistralmente os cargos de Presidente e Vice-Presidente da sua Classe de Letras, e de Presidente e Vice-Presidente da própria Academia, além de Inspector da magnífica Biblioteca, que bastante protegeu e valorizou, tendo publicado comunicações suas e de outros académicos.
 A época que mais o atraiu e investigou foi o  Renascimento, mas tanto recuando nas raízes como prolongando-o nas  frutificações, caracterizando-o na sua 1ª fase, a do auge do Humanismo, como «a reinvidicação da dignidade da humanitas e o primado do homem na cidade terrena, e a descoberta dos valores essenciais que o interessam através das letras humanas e o estudo das fontes antigas»,  a qual termina com o Concílio de Trento; já a sua segunda fase é mais naturalista, utópica e científica, representada respectivamente por Giordano Bruno, Tommaso Campanela e Galileu Galilei, "o último dos grandes pensadores do Renascimento".
Em 1987 orienta uma exposição do qual sairá um catálogo bibliográfico bem ilustrado, onde são descritos 335 cimélios, escrevendo a introdução e as  notas, intitulado Erasmo na Biblioteca Nacional séc. XVI.

Os principais autores que amou, investigou e ensinou foram Giovanni Pico della Mirandola, Thomas More, Erasmo, Damião de Góis, Sá de Miranda, e tinha deles imagens nas paredes da sua biblioteca. E em seguida, dos italianos antigos, Dante, Petrarca (estes dois bastante), Bocacio, Lorenzo Valla, Marsilio Ficino, Angelo Poliziano, Cristoforo Landino, Girolamo Benivieni, Sadoleto, Doni, Baldassar Castiglioni e Tommaso Campanela. Dos mais recentes Giacommo Leopardi (1789-1837), «porventura, depois de Dante e Petrarca, a maior figura da poesia italiana de todos os tempos». 
Já dos outros europeus nomeemos John Collet, John Fisher, Guillaume Budé, Lefèvre D'Étaples, Étienne Dolet, Reuchlin, Nebrija, Arias Montano, Garcilaso de La Vega (da qual noticiou a descoberta de uma edição desconhecida adquirida na olisiponense Livraria Antiquária do Calhariz) e já no séc. XVII, Pascal.  Dos portugueses, além de Sá de Miranda (1481-1558) e Camões (1525-1580), destacaram-se Gil Vicente (1465-1536) João de Barros (1496-1570), André de Resende (1500-1573), Bernardim Ribeiro (1482-1552), D. Jerónimo Osório (1506-1580), Frei Heitor Pinto (1528-1584), D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666), Luís António Verney (1713-1792), Almeida Garret (1799-1854) e Antero de Quental (1842-1891).
Dos seus contemporâneos homenageou vários com textos, nomeadamente Joaquim de Carvalho, Vitorino Nemésio, Victor Buesco, Fernando de Mello Moser (grande amigo e co-autor de um catálogo e exposição dedicada a Thomas More), Jacinto do Prado Coelho, Rómulo de Carvalho, Joaquim Veríssimo Serrão, Maria de Lourdes Belchior, Delfim Santos,  Félix A. Ribeiro e  seu mais querido amigo Eugenio Asensio (com quem convive desde 1965, em peripatéticas conversas e animadas buscas e trocas de livros raros), o notável descobridor em bibliotecas de exemplares de edições perdidas de Jorge Ferreira de Vasconcelos e D. Gaspar de Leão e que tão bem as estudou e partilhou. Publica mesmo em 1990, em 110 páginas uma sucinta biografia e encómio: Eugenio Assensio doutor Honoris Causa pela Universidade de Lisboa.

Eugenio Asensio, notável investigador e seu íntimo amigo...

Orientou vários seminários e conferências públicas e apresentou comunicações em numerosos congressos em Universidades da Europa e da América e em encontros internacionais que tiveram lugar em Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Itália, Alemanha, Bélgica, Holanda, Suíça, Polônia, Hungria, Canadá, EUA, México e Brasil. 
Entre as suas principais obras, e mais volumosas, destacaremos Humanismo e Erasmismo na cultura Portuguesa do séc. XVI. Estudo e e textos. Paris, Fundação Calouste Gulbenkian, 1973 e Humanisme et Renaissance. De L'Italie au Portugal. Les deux regards de Janus, 2 vols., impressos pela Fundação Calouste Gulbenkian em Paris, 1989, contendo 25 anos de estudos sobre os principais autores e obras de humanistas italianos e portugueses, em 1000 páginas muito bem ilustradas e anotadas.
Nesse mesmo ano de 1989 levava a Chaves "vinte e dois livros antigos de espiritualidade (1502-1592)" imprimindo a Câmara Municipal de Chaves um catálogo prefaciado e anotado por Pina Martins, Mostra Bibliográfica Comemorativa do Quinte Centenário do Tratado de Confissão (Chaves, 8 de Agosto de 1489), e concluía o seu estudo introdutório assim: «Portugal tem mais de oito séculos de existência. A sua unidade como Nação define-se como comunidade viva através da consciência colectiva da sua identidade histórica. É indispensável que todo o país saiba que a macrocefalia cultural pode vir a ser nociva para o equilíbrio moral da Pátria, como Francisco Sá de Miranda reconhecia, cerca de quatro décadas depois do aparecimento do Tratado de Confissom: Ao Reino cumpre ele/Ter a quem o seu mal [e bem] doa,/ Não passar tudo a Lisboa,/Que é grande o peso, e com ele/ Mete o barco na água a proa».
Em 1994, comemorando o V Centenário da morte de Giovanni Pico della Mirandola cria uma Exposição bibliográfica na Biblioteca Nacional, com 80 obras, saindo o Catálogo com prefácio, catalogação e nota bibliográfica de Pina Martins e os índices por Margarida Cunha, tendo eu contribuído com duas edições modernas de Pico, como ele assinala na dedicatória: "Ao Dr. Pedro Teixeira da Mota, como homenagem à sua cultura, oferece Giovanni Pico..., catálogo onde também figuram obra suas, com um abraço afectuoso, Lisboa, 25.III.95, José V. de Pina Martins.»
Em Março de 1998 é o responsável pela exposição na Biblioteca Nacional das comemorações dos 500 anos da melhor edição (a 3ª) latina da Utopia, publicando A Utopia de Thomas More, e o Humanismo Utópico 1485-1998. Catálogo de ums síntese biblio-iconográfica, onde descreve sóbria e judiciosamente 112 cimélios da Biblioteca Nacional e da sua Biblioteca de Estudos Humanísticos. Foi coadjuvado pelas suas discípulas Maria Valentina Sul Mendes, especialista em incunábulos, e Margarida Cunha, especialista em encadernações antigas e manuelinas.
Em 1999 publica em homenagem a Maria de Lurdes Belchior e à cultura Hispânica uma descrição bibliográfica de 25 Livros  do século XVI impressos em Espanha da Biblioteca de Estudos Humanísticos de Lisboa.
 Numa linha de doutrinador futurante, contendo propostas para os nossos dias, publicou em 2005 a Utopia IIIrelato em diálogo sobre o modo de vida educação usos costumes em finais do século XX do povo cujas leis e civilização descreveu fielmente nos inícios do século XVI o insigne Thomas More. Em 2006 escreve um Estudo introdutório à Utopia Moriana, na Utopia de Thomas Morus,   na edição (bilingue)  crítica, tradução e notas de comentário por Aires de Nascimento (um dos nossos melhores humanistas contemporâneos). E em 2007,  como historiador do livro e das mentalidades, bibliófilo e memorialista, as Histórias de Livros para a História do Livro, onde relata as peripécias da sua vida itinerante de amante da Cultura e do Livro, suas descobertas bibliográficas e seus encontros e diálogos com alguns dos melhores investigadores, livreiros e bibliófilos europeus, dos quais nomearemos apenas dois dos investigadores do Humanismo que mais apreciou e com quem conviveu tão agradavelmente, Marcel Bataillon e Eugenio Asensio.
Na realidade a sua casa era uma biblioteca viva, com livros sempre a entrarem ou a saírem, no fundo um museu ou casa de musas, onde alguns mestres pontificavam pelas pinturas, gravuras e medalhas, e pelos livros que tinham escrito, publicado ou sobre quem outros tinham  escrito. Com efeito, não era onde vivia com a sua querida Primula (e durante alguns anos com sua filha Eva Maria), no 2º andar na  Rua Marquês da Fronteira, também ele com as paredes cheias de livros menos antigos, que estava a sua biblioteca, mas sim no  5º andar, transformado em templo de livros, e que aí se oferecia aos olhares ou mesmo manuseio de investigadores, bibliófilos e amigos, no fundo todos frágeis peregrinos face aos mais de seiscentos quinhentistas que habitavam nas duas amplas salas.
Na oriental pontificava uma grande pintura de Thomas More, com centenas de obras moreanas, e de outros humanistas ingleses, tais como John Fischer e  John Colet, bem como de  humanistas europeus; na parede a norte desta sala estavam as mais volumosas obras, de religião (tal como a Bíblia Poliglota Complutense, obra prima da tipografia espanhola, sob a protecção do cardeal Cisneros, ou alguns volumes da Bíblia Poliglota Plantiniana, de Arias Montano), de bibliografia, dicionários e outras de referência, enquanto a sul uma vasta e cheia secretária tinha as costas ao sol que entrava forte quando as persianas não eram baixadas.
 Já  na sala a Ocidente brilhava a belíssima pintura seiscentista de Giovanni Pico della Mirandola, rodeada de inúmeros cimélios quinhentistas raros do humanismo italiano e em particular de cerca de cem impressos por Aldo Manuzio, o sábio impressor onde Erasmo estagiou na sua aprendizagem do grego e que foi o inventor da letra itálica, que fez diminuir o tamanho dos livros, o que  agradou a Erasmo, pois por vezes os livros viajavam pesando dentro de barricas ou tonéis de vinhos. Pina Martins, em 1994, coadjuvado por duas suas valiosas discípulas e amigas da Biblioteca Nacional, Maria Valentina Sul Mendes e Margarida Cunha editou o Catálogo Edições Aldinas, Séculos XVI e XVI.
A norte desta sala ocidental estavam os livros portugueses dos séculos XVI, XVII e XVII, de humanismo e de história, com alguns de poesia peninsular, nomeadamente Sá de Miranda, Garcilaso de La Vega, Francisco de Sotto Mayor.
Tinha ainda uma espécie de andar superior com livros de estudo humanístico e literário não muito antigos,   acima destas duas salas nobre da sua biblioteca que desaguavam ainda para a cozinha e a dispensa  com livros que não lhe interessavam e que trocava ou vendia.
Era nestas duas salas   bem ornada das pinturas e guarnecida de duas boas secretárias e sofás que recebia Pina Martins afavelmente os que o procuravam para receber seus conselhos, para admirar os seus cimélios ou aqueles que ele convidava. 
Lembro-me neste sentido de uma celebração em pequeno grupo do dia de nascimento e morte de Platão, na linha do que a Academia Platónica florentina de Marsilio Ficino realizava todos os anos, realizada em 1996, pois a dedicatória de um livro assinala: «Ao Dr. Pedro Teixeira da Mota, como lembrança deste dia ficiano de 7.XI.99 em que dialogámos sobre o pensamento platónico na Biblioteca de Estudos Humanísticos, oferece Livros Quinhentistas sobre o Amor o seu amigo e colega de pesquisas bibliográficas, José V. de Pina Martins». 
Nesta apostilha bibliográfica considera o comentário de Marsilio Ficino Sopra lo Amore o ver'Convito di Platone, como a grande fonte dos tratados de Amor renascentistas, nomeadamente nos Dialoghi di Amore de Leão Hebreu (o que prova bastante neste livro), Gli Asolani, de Bembo,  Natura di Amore de Mario Equicola e  Cortegiano de Castiglione. O Amor em Marsilio Ficino surge-nos então como o meio da alma dotada da Verdade passar a estar formada de Verdade, e assim consciente e cosmicamente imortalizada e à Divindade religada... Assim seja...
Desencarnou no dia 28.IV.2010, em Lisboa, já com 90 anos, libertando-se na sua própria casa, a três metros das estantes de uma das divisões da sua biblioteca, do corpo físico já enfraquecido, partindo luminosamente para o mundo espiritual, como de algum modo foi dado a ver dois dias depois, no enterro, nas maravilhosas nuvens que se manifestaram no céu, coroando e infinitizando o zimbório e Basílica da Estrela.
Recentemente, no ano de 2021, Manuel Cadafaz de Matos deu há luz mais um número da sua valiosa Revista Portuguesa de História do Livro, dedicada em grande parte a ele e em que contribuímos os dois, publicando ainda o catálogo da sua biblioteca, hoje na Faculdade de Letras de Lisboa.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Comemorações do centenário do nascimento do prof. Pina Martins. 1º. "A Pregunta de Pilatos". 1941.

"Dirige oculus tuo in te ipsum"
O investigador e professor José Vitorino de Pina Martins, que se formou em Filologia Românicas na Universidade de Coimbra em 1947 e teve um notável percurso como leitor de português em Roma e Poitiers, professor universitário em Lisboa, director do centro cultural da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris, director dos serviços de Educação da mesma Fundação, Presidente e Vice-presidente da Academia de Ciências vários anos, organizador de dezenas exposições bibliográficas e biblio-iconográficas, participante e organizador de inúmeros colóquios, autor de centenas de conferências e publicações, nasceu em Penalva do Castelo em 18 de Janeiro de 1920, pelo que cumprindo-se agora o 1º centenário do seu nascimento certamente as nossas academias e universidades o irão celebrar na medida das suas capacidades. Eu, tendo dialogado e convivido com ele os seus últimos dezassete anos, e catalogado sucintamente a sua excelente biblioteca de Humanismo e de cultura portuguesa e italiana, deverei também participar e assim partilharei uma sua  biografia, páginas autobiográficas ainda inéditas e apreciações e transcrições de alguns textos mais significativos das suas obras.
A  primeira foi dada à luz em Coimbra 1941, quando tinha 21 anos. O pseudónimo utilizado foi Duarte Montalegre e com ele escreverá ainda mais alguns livros de poesia e ensaísmo juvenis.
                                        
Leva no frontispício A Pregunta de Pilatos poemas ascetico-filosoficos que foram escritos por Duarte Montalegre sendo escolar de Direito na Universidade de Coimbra. No verso indica que todos os exemplares serão numerados e rubricados pelo autor, já num requinte de amante do livro, o que confirmanos no nosso exemplar, havendo ainda um pequeno rectângulo com a indicação Edições Mensagem, certamente  sinal das forças anímicas, sonhos e aspirações intensas que em si se erguiam para o que ele viria a ser e a viver tão magistralmente ao longos dos anos, embora menos poética, católica e misticamente. 
As duas páginas seguintes, oferecidas a seu pais António Vitorino e sua mãe Maria Olímpia, expressam a Dedicatória:

«Não fora o vosso Amor
e eu não seria o ser que agora sou.

Junco altivo singrado sobre o mar,
- o mar da inquietação,
 

Meu ser vai procurando aquela luz
que o vosso beijo furtou ao meu anseio.

Vosso beijo fecundo de ansiedade
projectou-me no mar da imensidade.

E hoje, encarnação do vosso ser,
meu ser tenta sondar quem vos criou
e quem criou aquele que vos criou.
 

Da nau vogando ao longe,
abarquei com meus olhos o Infinito.

Nesse olhar foi meu ser ao Sol de Deus
desvairar-se de luz, de luz, de luz...

O Sol de Deus iluminou o meu olhar
e pôs nele centelhas vivas de inquietude.
 

E o sol fez de mim sol incandescente
a lucilar, a lucilar, eternamente...

Meus gritos de ansiedade e de furor
morreram, gemebundos, no momento
em que o sol se acendeu no firmamento.

Não fora o vosso Amor,
e eu não seria o ser que agora sou.

Desse beijo brotou meu duvidar
da minha dúvida surgiu a minha dor.

Da minha dor promanou a minha Fé.
Minha Fé, meu Duvidar e minha Dor,
Convergem no beijar do vosso Amor.


Que a luz do meu ser repouse alfim
na paz da vossa bênção paternal!»

Segue-se um excelente prefácio escrito em Vila Real de Santo António da autoria de Vitória Régia, pseudónimo da escritora algarvia Alda Silva Ferreira Mendes (n.1891, em Tavira), que leva como título Palavras ditadas pela Verdade ao meu coração e à minha consciência, e onde considera o livro um "pomo" - «a cativar os admiradores das Belas Letras e a principalmente a atrair para o deleite emocional, aqueles que, graças à Verdade, possuem o preciosíssimo Dom dum sexto sentido», revelando nestas palavras Alda o seu conhecimento tanto das Belas Letras do Humanismo como da espiritualidade, ao atribuir à Verdade vivida o dom merecido do corpo espiritual estar activo, ou seja, com o sexto sentido desperto ou mais intuitivo.
Antes dos poemas, que muito devem à sua sensibilidade e cosmovisão formada no Cristianismo e no Humanismo, com pequenas citações de alguns dos seus autores  no começo dos sete capítulos, tais como S. Agostinho, Petrarca e Malebranche e Byron, Pina Martins, aliás Duarte de Montalegre, escreve um antelóquio bastante biográfico e valioso que transcrevemos:
Pensei escrever em apêndice, um ensaio auto-crítico sobre o conteúdo metafísico, estético e humano da presente mensagem. Seria uma forma decisiva de libertá-la de análises mutiladoras, deformadoras. Ninguém melhor do que o autor, para, numa interpretação de auto-exegese, explanar o alcance emocional e intelectual dos meus poemas.
Circunstâncias, alheias ao meu querer, forçara-me a desistir do intento.
A presente mensagem descreve, através das ideias que contém, uma linha ascensional...
 A mocidade de hoje vive, intensamente, as angústias da jornada dolorosa para o porto anelado da Fé.
A poesia que escrevi não é, pois, individual, porquanto reflecte paisagens da alma da juventude hodierna.
De estrutura ascético-filosófica, ela esgarça-se, em volutas de Dor, para o céu de Deus.
Se houver uma sensibilidade, uma inteligência e uma convição, - uma alma em suma que me compreenda, e, depois de me compreender, ogive a sua prece ao Infinito, o que escrevi terá a sua razão pleníssima de ser.» 
Realce-se esta ascensionalidade do nosso ser em dor (e então na 2ª Grande Guerra quanta não seria em tantos jovens idealistas como o autor) para o céu ou realização e mundo espiritual, e a ogivação da nossa alma em prece de aspiração ao Divino Ser infinito e luminoso que nos abençoa. 
Que sejamos estas almas receptivas à Mensagem, à mente agindo sobre a matéria, em uníssono com Pina Martins...
Termine-se esta 1ª homenagem no centenário do seu nascimento, reproduzindo o poema com que coroa ou conclui a sua primeira dádiva bibliográfica à poesia e de certo modo à História do Livro e da Cultura em Portugal.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

O conflito entre a USA e o Irão, entre Trump e a alma de Soleimani. Impeachment de Trump? Lux, Pax, Amor.

8-I-2020. Embora Donald Trump, Michael Pompeo e o Pentágono tenham disfarçado, após a réplica de mísseis do Irão, o mal estar em que se encontram, por terem recebido uma inesperada e corajosa bofetada de quem tinham ameaçado com mortandade e a destruição dos monumentos, reforçaram as estrangulantes sanções económicas e a cruzada anti-iraniana, pediram ainda mais envolvimento da NATO e consideraram que o Irão teria recuado e que poderia ficar tudo por aqui. Será?
Esta narrativa, dada a tendência compulsiva de Trump e Pompeo de mentirem e serem traiçoeiros, pode ser então um disfarce para acções violentas próximas por algumas razões, tais como: 1º continuam os mesmos imperialistas opressivos e violentos, que querem mandar no mundo; 2º continuam a pensar que podem facilmente derrotar o Irão e mudá-lo para a obediência ao império da USA e do petrodolar; 3º, continuam a tentar disfarçar e desinformar sobre a morte traiçoeira do general Soleimani, o grande estratega da derrota dos terroristas apoiados por eles; 4º  terá havido mortos e feridos nos modestos ataques com mísseis dos iranianos às duas bases militares norte-americanas no Iraque.
Esta última razão poderia abrir mais uma brecha na credibilidade mundial de Trump, do Pentágono e dos Estados unidos, pois houve uma teatralidade grande na demorada e atrasada declaração oficial de reacção ao ataque muito inferior ao que poderia pensar face, à gravidade do assassínio de um dos maiores heróis da humanidade no século XXI, mas que consistiu numa espécie ponto de situação perante o mundo do que se passava com toda a razoabilidade e um aceitar de cessação da escalada de guerra, já que não houvera feridos ou mortos...
Mas se mentiram tão descarada e solenemente, confirmando  a manipulação e a opressão de informação da verdade, tal  poderia levar ao impeachment de Trump, se os democratas fossem melhores do que são, embora Tulsi Gabbard e Bernie Sanders sejam bons candidatos. 
Daí talvez toda a sua declaração retórica, duvidosa e possivelmente falsa, com o sobrolho esquerdo levantado, nomeadamente no início: "Enquanto eu for presidente, não permitiremos que o Irão possua armas nucleares...", vindo-lhe ao de cima outra das falsas ameaças aterrorizantes de armas de destruição maciça nas mãos de adversários, a que se pode juntar a também já muito evocada no caso mas nunca provada objectivamente, a de que o general Soleimani era o responsável da morte de centenas de norte-americanos e preparava-se para matar ainda mais. A menos que terroristas sejam sinónimo de norte-americanos, que infelizmente de certo ponto de vista é verdadeiro...
 Os próximos tempos esclarecerão alguns destes aspectos misteriosos, mas parece evidente que a luta vai continuar e a melhor forma de a acabar é os Estados Unidos retirarem-se do Iraque, que já não são desejados lá, bem como dos poços de óleo da Síria, onde são salteadores fora da lei e saqueadores, tanto mais que Trump afirmou que os Estados Unidos da América são os que têm mais óleo e gás do mundo e que não precisam do que é dos outros povos...
Haja pois mais coerência e verdade nos pretensamente mais poderosos que os povos se entenderão e o mundo melhorará, na graça dos mestres, espíritos celestiais e da Divindade, não só masculina e guerreira mas também feminina e receptiva, amorosa, e logo a ser cultivada e acolhida em nós. 
                                           Nour=Lux

sábado, 4 de janeiro de 2020

Declaração do líder do Irão, Ayatollah Seyyed Ali Khamenei, acerca do assassinato norte-americano do General Qassem Soleimani.

«No Nome de Deus!
Querida nação do Irão!
O grande e honrado comandante do Islão tornou-se celestial. Na noite passada, as imaculadas almas dos mártires abraçaram a alma pura de Qassen Soleimani. Depois de anos de luta corajosa e sincera contra os demónios e os seres maléficos do mundo e depois de anos de aspirar ao martírio no caminho de Deus, eis que o querido Soleimani atingiu esta majestosa posição e o seu sangue puro foi espalhado pelos mais vis dos seres humanos.
Eu felicito Hazrat Baqiyatullah [O último Imam, o Madhi] - possam as nossas almas sacrificar-se por ele - e a alma pura de Soleimani neste grande martírio e comunico as minhas condolências à nação Iraniana.
Ele foi um exemplo estelar dos que foram educados e nutridos no Islão e na escola do Imam Khomeini (RA). Passou toda a sua inteira vida lutando no caminho de Deus.
O martírio foi a sua recompensa pelos anos de esforços implacáveis. Com a sua partida e com o poder de Deus, o seu trabalho e caminho não cessará e uma  vingança
robusta espera os criminosos que tingiram as suas mãos com o sangue seu e o dos outros mártires no incidente da última noite [3-I-2020].
O Mártir Soleimani é a face internacional da resistência e todos os que têm uma conexão do coração com a resistência procurarão vingar o seu sangue
Todos os amigos - e também todos os inimigos - devem saber que o caminho da luta e da resistência continuará com motivação acrescida e a vitória certa espera os lutadores neste caminho abençoado.
A ausência do nosso querido e auto-sacrificado comandante é amarga mas a continuação da resistência e a sua vitória final será mais amarga para os assassinos e criminosos.
A nação Iraniana guardará no íntimo o nome e a memória do muito elevado mártir Tenente General Qassem Soleimani, em conjunto com os seus companheiros mártires, especialmente o grande combatente do Islão, o ilustre Sr. Abu Madhi al-Muhandis.
Declaro três dias de luto público no país e congratulo e manifesto as minhas condolências à sua ilustre mulher, às queridas crianças e a família.»
                            
Versão em inglês, recolhida do importante canal alternativo Press. tv., e que foi a seguida para a tradução portuguesa:
«In the Name of God
Dear nation of Iran!
The great and honorable commander of Islam became
 heavenly. Last night, the untainted souls of the martyrs embraced the pure soul of Qassem Soleimani. After years of sincere and courageous fight against the devils and evil-doers of the world and after years of wishing for martyrdom in the path of God, alas, dear Soleimani attained this lofty position and his pure blood was spilled by the vilest of human beings.
 I congratulate Hazrat Baqiyatullah- may our souls be sacrificed for him- and his [Soleimani’s] own pure soul on this great martyrdom and I express my condolences to the Iranian nation.
 He was a stellar example of those educated and nurtured in Islam and the school of Imam Khomeini (RA). He spent his entire life fighting in the path of God.
 Martyrdom was his reward for years of implacable efforts. With his departure and with God's power, his work and path will not cease and harsh revenge awaits those criminals who have tainted their filthy hands with his blood and the blood of the other martyrs of last night's incident. 
Martyr Soleimani is the international face of the resistance, and all who have a heart-felt connection to the resistance seek revenge for his blood.
All friends - and also all foes - should know that the path of fight and resistance continues with increased motivation and certain victory awaits the fighters on this blessed path. The absence of our dear and self-sacrificing commander is bitter, but the continuation of the resistance and its final victory will be bitterer for the murderers and criminals. 
The Iranian nation will cherish the name and memory of the towering martyr, Lieutenant General Qassem Soleimani, together with his fellow martyrs especially the great fighter of Islam the honorable Mr. Abu Mahdi al-Muhandis. I declare three days of public mourning in the country and I congratulate and express my condolences to his honorable wife, dear children and family.
 
 
                                                               Nour, Nour, Eschq...

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

USA assassina. USA, the worst and most criminal state and country of all history of Mankind

  Desde a segunda grande Guerra os Estados Unidos da América entraram num caminho de imperialismo sanguinário brutal, com milhões de mortos e feridos vítimas das suas bombas e mísseis... E pretendem ser civilizados e garantes da democracia... Uma arrogância inaudita, assente num dólar ilimitado que corrompe milhares....
A governação dos Estados Unidos da América ultrapassou todos os limites da criminalidade imperialista, opressiva, invejosa, mentirosa, traiçoeira, em suma, sem palavras que cubram o seu mal, a sua ganância pela  riqueza e contra o bem estar dos outros povos, e dos seus heróicos defensores, com o traiçoeiro assassínio do general Soleimani e seus próximos, perpetrado há dias...
Que Deus e o karma sejam misericordiosos para com os familiares dos que, pelo assassínio de lutadores heróicos contra o terrorismo, vão agora morrer nas naturais reacções: norte-americanos, iraquianos ou iranianos, e países limítrofes ou não....

USA has become the worst and most criminal state and country of all history of Mankind...
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3-I. 16:07
                        
Qassem Soleimani e Abu Mahdi al-Muhandis, dois heróicos lutadores contra o terrorismo e o imperialismo, assassinados cobardemente pelo Pentágono e Trump, liderando a USA, o maldito império da opressão, mentira, mortandade e mal.
Que as suas vidas e almas inspirem luminosamente muita gente para o triunfo da justiça, fraternidade e paz no mundo...
20:11
Um dos crimes mais graves do séc. XXI, que vai ter repercussões sérias apesar da desproporção de forças e de éticas, pois dum lado estão três países violentamente criminosos, anti-direitos humanos e racistas: USA, Israel e Arábia Saudita, e apoiados pelos numerosos governos neo-liberais de todo o mundo, vendidos ao petrodolar. Por exemplo, a Inglaterra e a Alemanha já se congratularam com a morte do grande combatente do terrorismo no Médio Oriente, ou não tivessem eles tanto lucrado com isso, ou não fossem eles governos cobardes apoiantes secretamente de facções de terroristas...

Um momento, uma situação trágica para milhões de pessoas, sobretudo shiias, que Qassem Soleimani viam como o libertador do terrorismo e um resistente à arrogância imperialista norte-americana, um modelo de virtudes corajosas...
                       

20:38
A USA imperialista e criminosa do Pentágono e do Trump, invejosa das vitórias do general Soleimani, frustrada pela derrota do terrorismo e pelo fracasso das sanções económicas, regressa à sua matriz e linguagem que conhece: fora da lei, oprimir, mentir, invadir, roubar, matar, assassinar..
Como reagirão os prudentes dirigentes do Irão ou os mais destroçados dos companheiros do heróico estratega Soleimani é um mistério a começar a desenrolar-se...
Lux Dei... Nour... Longa e feliz vida ao Irão...

                             
23:30
Há muito tempo que não sentia a minha alma tão triste, nem observava o corpo a caminhar tão lentamente, tal o impacto do assassínio do principal obreiro da derrota dos terroristas na Síria e no Iraque. Onde e como estará agora o general Soleimani (nascido a 11-III-1957) em corpo espiritual? 
                               
Terá sido recebido pelo fundador dos Shiaa, o Imam Ali, o marido de Fátima, a filha do profeta, como esta imagem invoca? Estará ele a apertar o pescoço ao Donald Trump, a Mike Pompeo, e aos que o mataram cobardemente? Estará ele a animar ou inspirar os lutadores pela liberdade no Médio Oriente? Estará ele com os mestres e místicos iranianos, como Rumi, Sohrawardi, Ruzbehan, Nur Ali Shah ou mesmo com Majzoub Ali Shah, cabeça ou Qutb (coluna) de uma importante confraria, a Ni'matullahi tariqat, e que eu conheci, desencarnado há dias com 92 anos em Teerão? Ou será antes o seu Anjo da Guarda que o estará a guiar?
Também me interrogo acerca fragilidade do poder pensamento humano, tão valorizado nas mistificações da new age, das canalizações, da cura quântica, pois quantos milhões de iranianos não estarão desejando a morte justa de Trump, Pompeo e os outros, e eles sobrevivem incólumes, se calhar sem precisarem de muitos comprimidos para dormir? Gananciosos, gordos, como rãs a imitarem bois da fábula de La Fontaine, quando arrebentarão eles e a hybris norte-americana?

Já Erasmo comentara a morte de um notável, o príncipe Filipe o Belo, em 1506, com o famoso dito Homo bulla est, que depois desenvolveu nos seus Adágios o "ser humano é uma bolha de ar", frágil, a qualquer hora pode rebentar. Lamentemos os que fazem explodir antes de tempo e cobardemente vidas quentes, inteligentes e sagradas. Lamentemos os violentos, corruptores e criminosos. Ou ainda os que não cumprem e antes obstaculizam a missão espiritual nossa de religação luminosa à Divindade, como tanto fazem o neo-liberalismo e o imperialismo sobretudo norte-americano... 
Saibamos utilizar o tempo da nossa passagem na terra o melhor possível na verdade, na não-violência (mas sabendo responder a ela correctamente), na justiça, no estudo, na criatividade, no trabalho harmonioso, no amor, na preservação dos eco-sistemas, na religação ao Divino. 

Com Qassem Soleimani, com Desiderio Erasmo, com o Imam Ali, com os mestres e a Divindade...
                               
Dia 4-I-2019
  I- Esperemos, oremos, desejemos que a sinistra e criminosa USA seja expulsa do Iraque e se retire da exploração do petróleo da Síria....
II- O decorativo secretário geral das Nações Unidas António Guterres, muito calado, sem condenar o assassinato, sem elogiar o heróico vencedor de muito do terrorismo, apenas pedindo às partes que se contenham... Até brada aos céus, mas compreende-se pois recebe dinheiro da Arábia Saudita e de outras fontes corruptoras...
III - Muitas pessoas, comentadores, políticos, mais ou menos ouvidos, dizem-se preocupados com a situação e pedem calma mas, vendidos ao imperialismo norte-americano, louvam o acto criminoso de Trump por várias razões falsas e não condenam o assassinato do heróico general Soleimani que tanto contribuira para deter o terrorismo na Síria, no Iraque e no mundo. Vergonhoso...

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Dos Mistérios sagrados do Amor. Estar em amor a partir do coração, perseverantemente.

Eis-me num daqueles momentos em que desejamos partilhar da alma mais profunda ou luminosa o melhor que temos, concebemos e somos, seres de luz e amor, de coragem e alegria, para o mundo, a escrita, o futuro...
Que palavras e ideias deveremos arrancar das entranhas de nós próprios, ou captarmos nas intuições subtis, e lançarmos no seio e alma dos que nos escutam ou lêem? 
Subo ao alto do monte granítico que me está mais próximo, contemplo os horizontes conhecidos mas tão distantes, para além de nuvens e da claridade e obscuridade que se desdobram em sucessão sugestiva do horizonte infinito, e consciencializo-me que terão de ser palavras verdadeiramente mágicas as que poderão tocar algumas das almas que me  ouvirem e sentirem.
Terei de ser um arpoador dos mundos subtis, um timoneiro da barca para o paraíso, etimologicamente de pardes, o jardim distante persa, tentando abrir e passar ideias e sentimentos, palavras e forças que despertem e alinhem, centrem e fortifiquem as pessoas... 
 - Se já estás no Caminho, então avança, parte, não te prendas com pessoas e grupos, modas e noticiários: sê tu, a sós e com a Divindade e suas faces, os Mestres, os Anjos e, depois, sim, partilha o que souberes, reúne-te com alguns seres mas sem te envolveres demasiado horizontalmente, num mundo onde reina tanta confusão e mistificação, tanta oposição e tanta diferença de vibrações e sensibilidades, interesses e níveis evolutivos...
Se encontrares quem ames e que te ama, e se queiram um ao outro em amor por momentos dias, meses ou anos, então avança no mistério mágico e despertante do amor e da união.
 Só com uns poucos de seres mais afins pode brotar o amor plenamente, em grande reciprocidade  de entrega e adesão, mas quando se intui isso como possível, devemos avançar em tal encontro auspicioso de almas e dialogar e aprofundar as afinidades electivas e seus trabalhos criativos o mais possível, sondando ou invocando os mistérios da Unidade e do Amor Divino, e frutificando-os beneficamente...
Quaisquer que sejam os resultados ou efeitos de tal encontro ou tentativa sincera, o Amor-Sabedoria só poderá aumentar em nós e na Terra, seja negativamente pela compreensão da incompatibilidade de génios, seja positivamente pela fruição do estado de Amor e dos seus frutos de sabedoria e bondade, criatividade e felicidade desabrochados com tal pessoa.
Quando sentimos a corrente do Amor passar entre dois seres, quando estamos mesmo em Amor reciprocamente com alguém, quantas energias divinas brotam de nós e se espalham pelo universo, com efeitos subtis, quais borboletas e joaninhas, na multidimensionalidade dos seres e ambientes?
Acolhe pois tais possibilidades de ser amor, de amares ou então procurares a amada ou o amado, por mais que te tenhas desiludido de tais encontros ou frutificações.
O amor é unitivo. Mesmo o gostar de alguém ou algo, objecto, trabalho ou ser  é uma manifestação da energia bipolar unitiva do Cosmos, ainda que em graus menores mas que se podem depois aprofundar e que são sempre fontes de realização e evolução espiritual, ao serem como tal  consciencializados e assimilados.
Quando estamos com alguém, de acordo com a intensidade dos fogos dos nossos centros de força subtis tocados pelo Amor, brotarão os raios e ligações unitivas que afeiçoam e embelezam, curam e unem os seres e, seguindo os níveis mais ressoantes e afins, a eclosão das chispa intensificadora da corrente de empatia ou unitiva do Amor pode ser mais ou menos desvendadora da nossa natureza espiritual.
Arquétipos femininos de tal intensificação são as musas, sibilas e sacerdotizas que ao longo dos séculos tanto inspiraram a poesis, a intuição, a criatividade, a heroicidade, o amor, a adoração...
 
Foi dito "onde dois ou três se reunirem em meu Nome, eu estarei presente", mas não é fácil amar-nos a três, ou estar em amor em grupo, pois o Nome em que nos reunimos é o do Amor em si mesmo, mas também o do Mestre, enquanto um ser realizado do Amor, ou mesmo no nome ou presença do Espírito divino em nós, enquanto centelha do Sol do Amor primordial.
Este amar a três pode perturbar, quando por exemplo um par normal encontra um ser já mais consciente do Amor, e este no seu relacionar-se, liga e unifica com tanta intensidade, que um dos outros dois pode sentir-se algo ultrapassado. No caso então devemos expressar o amor num interesse sentido e manifestado igualmente para os dois, respeitando os laços já existentes. Nos grupos se passa o mesmo: se prestamos demasiada atenção a alguém, se lhe damos mais a correnteza do amor, os outros podem sentir-se em carência ou mesmo frustrados e até com rápidos sentimentos de inveja...
Mais fácil é certamente estarmos a  dois, na comunhão com o Amor divino, e felizes os que conseguem contemplar-se olhos nos olhos, mãos nas mãos, ou mesmo peito com peito, e penetrarem nos seus níveis mais elevados e espirituais, sentindo algo mais do coração ardente e da Unidade, e assim se erguerem unindo a terra e o céu, como hierofantes nas hierogamias dos antigos Mistérios. 
E depois aprofundarem tal, lutando criativamente com persistência, numa relação estável ou mesmo familiar...
Mas também a sós, quando cerramos os olhos e meditamos, centrando-nos e tentando entrar no nosso interior, no coração espiritual e no Amor, poderemos sentir tal energia bem como a comunhão no corpo místico que nos une tanto com os seres que mais amamos, vivos ou já partidos, humanos ou celestiais, como com o próprio coração espiritual do Ser Divino.
Cultivemos então mais estas possibilidades de comunhão no Amor com gratidão, e irradiemos as melhores energias para o ambiente e para a Humanidade, ainda tão subjugada por entidades e seres violentos, egoístas e imperialistas que tanto perturbam e fazem sofrer seres e povos sem fim.
É por isto tudo que o amor entre dois seres, numa família, num grupo, numa povoação, numa poesia, numa dança, numa música, numa acção generosa, numa peregrinação, numa lavoura, numa causa ou na meditação regular é tão importante para o Todo e para todos. Saber estar em amor a partir do coração, perseverante, salutar e criativamente, fundamental!
                                       
 Consigamos então nós corajosamente estar e ser cada vez mais o fogo do Amor Divino vivo, fortalecendo o corpo espiritual consciencial nosso e planetário e irradiando para o Mundo e Cosmos multidimensional...